Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 33 - Pagando o preço.
A saída de Patrick nos abalou totalmente, sabíamos que iria acontecer, entretanto, a sensação de impunidade foi inevitável. Desde que aconteceu, Nicole havia se fechado muito, o irmão sempre vinha ao hospital, os dois passavam horas conversando. Rafaela também disse que estava sendo impedida de entrar no mundo dela e isso estava nos preocupado muito. Patrick foi para um apartamento, segundo o que os advogados de Nicole informaram, ele ficaria sendo monitorado por tornozeleira eletrônica e estava proibido de se aproximar dos filhos e ou de qualquer membro das duas famílias.
Havia uma sensação ruim compartilhada por todas.
— A Rafa decidiu levar ela pra casa dos pais.
— Acho que isso pode funcionar, a Nicole precisa deixar alguém entrar.
— Estou preocupada, tenho medo que a Nicole possa fazer. – Yas.
— Acha que ela faria alguma loucura?
— Sim, eu acho. A Nicole, você viu como ela estava.
Ela ficou transtornada, o brilho que antes existia havia desaparecido.
Peguei um item na prateleira.
— Você quer o branco ou o preto dessa vez?
— Branco, mas com pedaços de biscoito. – Yas se agachou para pegar algo na prateleira debaixo.
Continuamos as nossas compras e depois de deixarmos o supermercado, passamos em uma adega no shopping. Compramos um vinho suave, Yas não resistiu e acabou levando alguns brinquedos para Tomas e Felipe.
— Isso, quero toda a vidraça limpa amanhã, então supervisione o trabalho da equipe que será mandada. – Ao chegarmos à portaria, Sandra falava com o porteiro. — Boa noite.
— Boa noite... – Yas e eu respondemos.
Vi na expressão de Yas que a implicância com Sandra continuava. Pegamos o elevador, o clima era estranho
— Vou dar uma festa, será na área de lazer. É aniversário de construção do edifício, posso contar com a presença de ambas?
— Pode sim, nós duas iremos. Certo, amor? – Yas guardou o celular.
— Certo...
Sandra riu.
— O que é engraçado?
— Você, minha cara, você é uma graça. Mal dá conta de esconder os ciúmes. – Aspirei o ar com calma.
— Talvez eu não queira esconder, mas não se ache tanto, pois o que sinto não é ciúmes. Lara jamais daria qualquer brecha a você...
— Hum, então você se acha... – Sandra riu ainda mais.
— Não, dona síndica, você é sem dúvidas uma mulher lindíssima, mas a Lara tem muito caráter e jamais te daria o mínimo de confiança. Só não gosto de você.
— Não me lembro de ter lhe feito algo.
— Você estava tentando se aproveitar da Lara na sua festa, ela estava bêbada...
— Jamais faria algo assim.
— Não foi o que pareceu.
— Está enganada sobre mim, senhorita. – Eu não sabia o que fazer.
— Olha, dona síndica, vamos encerrar aqui.
O elevador parou, Yas me deu a frente. Saímos, caminhando pelo corredor.
— Amor...
— Tudo bem, minha vida. Não estou irritada e nem nada parecido... – Ela beijou rapidamente os meus lábios. — Vamos, temos muita coisa pra fazer.
Ela me deu um sorriso e vi que realmente estava tudo bem.
Chegamos a meu apartamento, Ana não estava. Na realidade, estava sendo difícil encontrar a minha irmã em casa. Ela andava se dividindo entre a faculdade e a casa de Antonella.
— Vou cortar as batatas. – Yas foi pra cozinha.
— Vou deixar essas coisas no quarto e já volto. – Dei um beijo rápido em seus lábios.
Deixei as sacolas no meu quarto, tirei a blusa e coloquei algo mais confortável.
— Vou lavar os camarões e refogar.
— Amor, não achei a travessa...
— No armário debaixo, no canto direito.
Era domingo a tarde, Yas e eu decidimos passar a tarde na casa dos meus sogros e os meus pais, Ana e Antonella decidiram vir conosco. Estavamos em uma rede no quintal, Tomas estava no colo de Yas, enquanto Felipe estava comigo. Carla descansava, os gêmeos andavam exigindo muito dela. Hugo, mesmo jogando cartas com o meu pai e Alonso, de cinco em cinco minutos vinha ver os pequenos.
— As meninas na pediatria ficaram loucas com eles. – Antonella registrava algumas fotos.
Ana estava lendo um livro, o seu foco era admirável.
— É porque eles são umas delicias. Olha pra essas mãozinhas. Que pequenininhas, meu Deus. – Felipe brincava com um dos ursinhos que ganhou.
— Por que a Rafa e Nicole não vieram? – Ana perguntou.
— As duas foram pra casa dos pais da Rafa, a dona Marta pediu para elas passarem uns dias com ela. – Yas respondeu.
— Não deve tá sendo nada fácil, a Nicole precisa mesmo desse momento. Encontrei a Paola outro dia, conversamos um pouco, ela tá assustada. – Antonella sentou ao lado de Ana.
— Olha, o Claudio. – Falei assim que avistei o homem chegando ao jardim.
Ele cumprimentou os nossos pais.
— Ei? – Yas o chamou e ao nos ver, Claudio abriu um largo sorriso.
— Que bom ver vocês, meninas. – Ele cumprimentou a cada uma de nós.
O seu olhar caiu sobre os pequenos.
— Eles são adoráveis.
— Quer pegar? – Yas perguntou.
— Oh, eu não sei se consigo, ele é tão pequeno.
— Pegue... – Yas levantou e entregou Tomas a Claudio.
— Oh, Deus...
Claudio ficou todo bobo, sentou no gramado e passou a brincar com o Tomas, enquanto conversava conosco. Ele parecia muito mais leve, havia algo de diferente no homem a nossa frente.
— Eu tenho uma novidade pra compartilhar... – Claudio fez o Tomas dormir.
— Acho que já sei o que é. – Ana falou e olhamos para ela. — Eu te sigo no Instagram.
Claudio riu baixinho.
— E eu não sou chegada, mas você tá de parabéns, Claudio...
— Você é uma graça, menina. – Ana riu, deixando o livro de lado. — E obrigado, eu tenho um bom gosto.
— Agora fiquei muito curiosa... – Yas sentou no gramado.
— Então, como a Ana viu, eu finalmente consegui me desprender do que me segurava, dos medos, das opiniões alheias... – Ele sorriu. — Falei a minha ex esposa sobre minha sexualidade...
Fiquei genuinamente surpresa.
— Ela teve uma reação muito diferente do que imaginei. Sabe, Yasmin, Lara, vocês me inspiraram muito. Ver um pouco da relação de vocês me fez querer viver algo assim, algo sem reservas...
Ele ficou emocionado.
— Minha ex esposa me disse que já sabia há algum tempo e que já havia preparado os nossos filhos para o dia em que eu compartilharia com eles. Foi como se um mundo inteiro houvesse saído das minhas costas.
— Claudio, eu estou tão feliz por você. – Yas sorriu.
— Essa notícia é maravilhosa, Claudio. Ah, eu sei exatamente como está se sentindo... – Lembrei-me do dia em que Yas e eu iniciamos o namoro falso. — A melhor lembrança da minha vida vai ser sempre a de ter criado coragem e ter a Yas do meu lado, mesmo não sendo real naquela época, me faz feliz saber que foi com a mulher que amo...
— Quem disse que não era? Eu já estava louca pra te beijar logo depois de ser atropelada na clínica.
Não seguramos o riso, Yas veio até a mim e beijou demoradamente a minha testa.
— Foi a melhor escolha que fiz, Lara. A melhor de todas... – Trocamos um sorriso.
— Eu amo ver essa conexão. – Claudio falou. — Vocês são com toda a certeza a minha meta.
— E quando vamos conhecer o carinha que você estava ontem? – Ana perguntou.
— Amor... – Antonella a repreendeu.
— Logo, ainda estamos nos conhecendo, mas ele é um cara maravilhoso. – Dava para sentir a leveza de Claudio.
— Bem que você poderia voltar pro hospital, sentimos muito a sua falta...
— A senhorita Nicole está fazendo um ótimo trabalho, um passarinho me contou. Ela foi a minha casa há uns meses, me pediu perdão. Ela é outra pessoa.
Continuamos a nossa conversa, que se prolongou pela tarde toda.
Em poucos dias aconteceria o aniversário de dona Amanda, convidei Nicole para comprarmos algo no shopping, Rafaela e Yas não puderam vir, estavam em uma reunião na clínica. Desde a proposta que recebeu, a minha namorada estava muito empenhada, compartilhou comigo suas ideias, suas metas.
Ela estava feliz e isso me fazia feliz.
— Yas poderia ter vindo conosco. Eu não faço a menor ideia do que comprar pra Amanda. – Paramos diante de uma vitrine.
— É difícil dar presente a alguém que já tem tudo. – Já estávamos ali há duas horas e não tivemos sucesso.
— Podemos optar pelo básico. Joias? – Nicole apontou para uma joalheria do outro lado.
— Vamos de joias...
Entramos na joalheria, vimos inumeras peças, até mesmo liguei para a minha mãe e pedi uma dica, então decidimos levar brincos. Dona Telma disse que a amiga adorava brincos. Deixamos a loja com a intenção de ir até a clínica buscar as meninas para comermos algo.
Ao chegarmos ao estacionamento, o telefone de Nicole tocou. Ao olhar a tela, ela deu um sorriso genuíno.
— Oi, Pedro... – Mas logo a sua expressão leve deu lugar a outra. — O que? Ai?
Fiquei em alerta.
— Tenta enrolar um pouco, tô chegando em alguns minutos... – Ela finalizou a chamada.
— O que aconteceu?
— O Patrick, ele tá na casa do Pedro... – Nicole passou as mãos sobre a cabeça. — Ele tá com o Kevin, tá tentando fugir.
— Precisamos ligar pra polícia. – Peguei meu celular.
— Vou até lá...
— Não, Nicole, é uma péssima ideia...
— Estamos mais próximo que a polícia, ele tá com os meus irmãos, vai levá-los a força pra outro país. Eu preciso ir até lá, Lara.
— Então eu vou com você.
— Não, você fica. Yas me odiaria se te colocasse em risco.
— Então não vai até lá. O seu pai, ele pode...
— Eu preciso fazer isso, não posso ficar aqui esperando.
— Nicole, vamos esperar a polícia, por favor...
— Não, Lara...
— Por que é tão teimosa?
— Porque ainda tenho medo, Lara. – Fiquei muda.
Nicole abriu a porta do carro.
— E quero viver uma vida normal, sem esses fantasmas. Preciso olhar na cara dele... - Entreguei as chaves a ela.
— Vou com você e não tem mais discussão.
Sentei no banco do carona.
— Quem tá sendo teimosa agora?
— Tenho uma denúncia para relatar... – Falei assim que fui atendida.
Nicole entrou no carro, fiz um gesto para ela dar partida e contrariada, ela o fez. O condomínio ficava apenas dez minutos do shopping, o trânsito tranquilo nos permitiu chegar rapidamente. Nicole parou a algumas casas de distância.
— Fica aqui...
— De jeito nenhum... – Estava tentando ligar para Yas, mas sem sucesso.
Deixei uma mensagem no aplicativo.
— Lara, por Deus...
— Não vou te deixar sozinha nessa. – Nicole suspirou ruidosamente.
— Vamos pela lateral, a porta dos fundos sempre tá aberta. – Concordei com um acenar de cabeça.
Caminhamos os poucos metros até a casa de Pedro, passamos pela lateral, direto para os fundos. Adentramos a porta, pudemos ouvir a voz de Patrick possivelmente vinda da sala. Nicole tentou ligar para o irmão, mas ele já não atendia.
— Merda!
— Patrick, por favor, volta pra sua casa... – Ouvimos a mãe de Pedro implorar.
— Papai, eu não quero ir.
— É o Kevin... – Nicole ficou agoniada. — Eu vou lá...
E sem esperar por uma resposta, Nicole saiu em disparada e eu fui atrás.
— Ora, então você veio. – Patrick abriu um sorriso asqueroso.
Pedro estava no sofá.
— Ele pegou o meu celular.
— Senta, querida filha. Sabe, eu estava mesmo querendo acertar algumas coisas com você. E veja só, vou matar dois coelhos com uma cajadada só. Lara, querida, se junte a nós... – Senti arrepios na espinha. — SENTEM!
— Eu não obedeço mais a merd* das suas ordens, Patrick. — Nicole falou, sua voz soou firme.
— Vamos ver se não vai me obedecer. — Patrick retirou uma arma da cintura.
— EU DISSE SENTEM!
Ele berrou, apontando a arma para nós. Kevin chorava agarrado a mãe de Pedro. Fizemos o que ele mandou, as minhas mãos suavam muito. Olhei para Nicole e o seu corpo tremia.
— Não sabe o que passei naquela espelunca, Nicole. Como teve a audácia de me denunciar? Achou mesmo que iria ficar por isso mesmo? Hein?
— Eu não me arrependo e ainda espero que o senhor morra morfando em uma cela...
— Tá muito valente, não? Acha que essas suas amigas vão te proteger? Ninguém vai te proteger do que eu pretendo fazer com você. Todas as surras que te dei vão parecer mínimas comparado ao que tenho para você. Não estava nos meus planos, mas você vem comigo.
— Papai, por favor, me ouça...
— Cala a boca, Pedro. Eu estou muito desapontado com você. Te dei tudo, te dei todo o amor e você me virou as costas?
— Você é um bandido! Você espancava a Nicole, Patrick, a sua própria filha. Seu sangue! – Pedro estava desesperado.
Eu também tentava manter a calma.
— Ela não é a minha filha. – Patrick olhou com desprezo para Nicole. — Tem o meu sangue, mas não é minha filha. Falta culhões...
— Patrick, por Deus, deixa essas crianças irem. Eu vou com você, mas pelo amor de Deus, não faz nada com essas meninas. – Busquei a mão de Nicole.
Ela estava tremendo.
— Desculpa, Lara... – Ouvi o seu sussurro.
— Senhor, as malas estão todas no carro. – Um homem surgiu na sala. — Já podemos ir.
— Vamos levar mais essa aqui...
— Senhor, acho melhor não, só nos atrasaria...
— Então, vou dar um fim agora mesmo.
Patrick sorriu.
— Hora de irmos, minha família. – Ele olhou para nós. — Quanto a vocês...
E então apontou sua arma para nós.
— Espero que ardem no inferno, onde é o lugar de vocês...
Em frações de segundos, vi Pedro voar em Patrick e um disparo foi feito, mas não atingiu ninguém. Os dois começaram uma luta corporal. Pedro tentava tirar a arma de Patrick. No momento em que Nicole tentou ir ao socorro do irmão, outro disparo foi ouvido.
Leila gritou.
— O que você fez? Olha o que você fez...
Pedro sangrava na região do abdômen.
— Filho, filho... – Patrick se agachou, rasgou a blusa de Pedro.
— Não, não, não... – Nicole passava as mãos sobre a cabeça.
— Se afasta... – Tirei a minha blusa, fiz pressão no ferimento. — Precisamos de uma ambulância.
— Dói... – Pedro sussurrou.
— Não era pra ser assim, filho, não era...
— Senhor, precisamos ir, a polícia... – O grandalhão alertou.
— Isso tudo é culpa de vocês...
Ouvimos as sirenes.
— Não termina aqui. Vou até o inferno atrás de você, sua bastarda.
— Senhor, estão cercando o local...
Patrick ficou de pé, olhava para Pedro e para Kevin.
O homem que estava com ele saiu o arrastando pelas portas dos fundos.
— Pressiona aqui, Nicole. – Tentei manter a calma, precisava ser fria naquele momento.
Peguei o meu celular e liguei para uma ambulância.
O carro mal parou e eu desci desesperada, havia muitos carros da polícia e uma ambulância chegava naquele momento. Temi o pior, o meu coração acelerou, um sentimento ruim tomou conta do meu peito. O Samu entrou com uma maca, tentei passar pela polícia, mas não me deixaram.
— Merda! Me deixem passar.
— Senhorita, não podemos. Fique atrás da faixa.
— Yas, a Lara... – Rafa apontou.
Olhei para a porta.
Ela estava toda ensanguentada e conduzia a equipe do samu, olhei para a maca e Pedro estava sobre ela, a sua blusa rasgada estava encharcada de sangue, Nicole vinha logo atrás, amparando o irmão mais novo e a mãe de Pedro.
— O que... – Rafaela não concluiu sua fala, ela driblou os policiais e correu em direção a eles.
O choque momentâneo passou, fui até Lara.
— Amor, fica com eles, eu vou pro hospital. – Foi somente o que ela disse, antes de entrar na ambulância.
Não fiz nenhuma pergunta, não era momento. Kevin soluçava muito, Nicole o abraçou, tentava acalmá-lo, enquanto Rafaela tentava o mesmo com a mãe de Pedro.
— Preciso ir para o hospital, o meu filho, eu tenho que estar perto dele...
— Precisamos que alguém preste depoimento. – Uma policial falou.
— Acho que no momento, não há como. Olhe para elas...
— Eu vou pro hospital, mas não posso levar o Kevin. – Nicole também estava suja de sangue, o seu olhar estava vazio.
— Eu o levo pra minha casa. – Rafaela falou.
As duas se olharam por alguns segundos, então Nicole a abraçou.
— Vou ligar pra sua mãe, ela deve estar desesperada. – Peguei o meu celular.
Liguei para Paola, ela estava a caminho.
— Leva o meu carro, Yas, eu espero a Paola aqui.
— Tá bom, então eu levarei as duas...
Peguei as chaves.
O caminho foi silencioso, Nicole chorava baixinho, eu nem podia imaginar o que estava passando em sua cabeça, ou talvez pudesse. Ambas tínhamos muito passado para superar. Chegamos ao hospital poucos minutos depois, fomos direcionadas a uma recepção e lá informadas que Pedro estava na sala de cirurgia.
Nicole andava de um lado para o outro, Leila parecia orar. Mandei uma mensagem para os meus pais.
— Yas... – Olhei e o meu coração se acalmou.
— Lara... – Fui até ela e a abracei. — Você tá bem? Lara, eu...
A minha voz cortou.
— Eu estou bem, amor. Se acalma... – Segurei o seu rosto entre as minhas mãos, analisei cada mínimo lugar. — Estou bem.
— Lara, como ele tá? Esses idiotas não disseram mais nada.
— É uma cirurgia delicada, ele perdeu muito sangue. Também não posso passar nenhuma informação segura, Nicole. Infelizmente, o que nos resta é esperar...
— Isso tudo é culpa minha... – Nicole sentou no chão.
— O que tá dizendo, filha? Não... – Leila se agachou diante dela.
— É sim, se eu não tivesse o denunciado, se... Lara, eu coloquei você em risco. Deus, você poderia ter se machucado. Yas, me perdoa, eu coloquei a Lara em perigo...
— Não é verdade, Nicole. Eu escolhi ir e se não tivéssemos chego a tempo, o Patrick teria levado os seus irmãos a força.
Eu não estava entendendo, mas decidi apenas não atrapalhar. A preocupação havia se amenizado, procuraria uma explicação depois. Fui até o bebedouro, peguei um copo generoso com água.
— Toma, beba tudo...
Ela me olhou, os olhos castanhos estavam vermelhos e inchados.
— Desculpa, Yas...
— Não importa o que tenha acontecido, eu sei que você não teve culpa...
— Filha, escute as suas amigas. – Nicole levou o copo aos lábios.
Lara e eu sentamos ao seu lado no chão, os minutos se passaram, expliquei vagamente a minha família aonde estava e pouco que sabia. Rafaela havia mandando mensagem, ela estava com Paola e Kevin em sua casa.
— Boa noite...
Uma mulher loira e alta, se aproximou.
— Boa noite... – Respondemos.
— Sou a delegada Samara, estou encarregada do caso. – Franzi o cenho. — Sei que é um momento delicado, mas trago notícias. Com qual de vocês...
— Comigo! – Nicole ficou de pé, não deixando a delegada terminar. — Sou Nicole, filha dele.
— Senhorita Nicole, vim até aqui informar que o senhor Patrick se envolveu em um grave acidente durante a tentativa de fuga. Ele foi encaminhado para o hospital...
— O que aconteceu?
— O carro bateu em outro veículo, o motorista que conduzia o veículo em fuga morreu no local...
Nicole passou as mãos sobre a cabeça.
— Obrigada por vir até aqui, delegada.
— Aguardarei sua ida até a delegacia e a dos demais envolvidos. Por enquanto, desejo que tudo ocorra bem.
— Obrigada mais uma vez...
A delegada se afastou.
Um silêncio doloroso foi imposto, o cansaço da espera fez com que Leila adormecesse. Nicole estava há horas olhando para o mesmo lugar, Lara e eu apenas respeitávamos aquele momento.
Quando vi Lara suja de sangue, por um momento, por milésimo de segundo, senti como se o meu peito houvesse sido perfurado.
— Rafa... – Nicole levantou assim que a viu.
Ela foi até a loira, afundando o seu rosto na curva do seu pescoço.
— Tá tudo bem agora, meu amor. Tá tudo bem...
— A gente ainda não tem notícia dele. – Rafa a fez olhá-la.
— Ele vai ficar bem. Por favor, se apoiei em mim... eu vou ficar com você aqui, o tempo que for preciso.
— Você é tão boa pra mim. Rafa, eu te amo tanto...
Lara e eu nos olhamos, para depois olharmos outra vez para as duas. Rafaela pareceu em choque no primeiro momento, para em seguida abrir um sorriso e eu sorri junto.
— Eu sei que combinamos de ir de devagar, mas...
— Eu também te amo.
Nicole deu um passo para trás, colocou as mãos na cintura de uma forma engraçada.
— Oh... – A morena pareceu tentar assimilar o que ouviu.
Rafa sorriu e a puxou.
— Você é adorável, Nicole. Eu amo você...
— E eu amo você, Rafaela.
Rafa me olhou por alguns segundos e eu apenas acenei em positivo.
— Eles estão na minha casa, estão seguros.
— Obrigada...
— Senhoras, boa noite. Desculpem não ter vindo antes, tive uma pequena emergência. – Uma mulher se aproximou.
Ela retirou a máscara.
— Como está o meu filho, doutora? – Leila ficou de pé.
— Ele precisou de uma transfusão de sangue, mas por sorte, a bala não atingiu nenhum ponto crítico. O paciente está no quarto, está sedado e fora de perigo. – O alívio foi imediato. — Iremos monitorá-lo, mas estou confiante que em poucos dias poderá deixar o hospital. Provavelmente acordará somente amanhã devido à forte medição...
— Graças a Deus!
— E doutora Lara, a sua ajuda foi de extrema importância. Ele perderia muito mais sangue se não houve estancado o ferimento. Bem, nos falamos amanhã. Boa noite...
— Boa noite... – A médica se foi.
Leila, pegando a minha mulher de surpresa, a abraçou.
— Obrigada, querida, obrigada. Vou ser grata até o ultimo dia da minha vida.
Lara pareceu ficar envergonhada e eu achei o ápice da fofura.
— Deus, que alívio... – Nicole riu, entre lágrimas.
Dona Leila disse que iria ficar no hospital, mesmo Nicole se oferecendo. Depois de muita conversa, a morena deu o braço a torcer. Decidimos ir para casa, passei um longo tempo com Lara no banheiro, tirar todo aquele sangue foi difícil. Falamos com os seus pais, eles viram tudo pelo noticiário e não pouparam palavras para repreendê-la por não ter ligado. Joaquim e Telma até mesmo queriam vir até a minha casa, porém os convenci que seria melhor no dia seguinte.
Lara acabou adormecendo, então a deixei de descansar e fui para a sala, onde Rafa e Nicole estavam. Paola e Kevin estavam na casa de Rafaela, a loira fez questão que eles passassem a noite ali depois daquele terrível susto.
— Pensei que já estava dormindo. – Nicole falou.
Tigrão estava entre suas pernas.
— Não consigo, tudo o que aconteceu hoje está me deixando inquieta. – Sentei.
— Acho que te devo uma explicação.
— Não posso mentir, estou mesmo tentando entender o que aconteceu...
— Recebi uma ligação do Pedro, o meu pai estava em sua casa, ele iria fugir com eles... – Nicole passou as mãos sobre a cabeça. — Acabei arrastando a Lara...
— Conheço a Lara, sei que ela não te deixou ir sozinha... – Nicole me encarou.
— Coloquei ela em risco com a minha teimosia, Yas. Aquele tiro deveria ter sido em mim, mas o Pedro, ele me salvou. Meu Deus, se ele tivesse morrido, eu...
Ela parou o que estava dizendo, os seus olhos brilhavam em lágrimas.
— Não se martiriza, Nicole. – Me agachei diante dela, segurei as suas mãos. — Nada do que aconteceu hoje foi sua culpa. Aquele desgraçado vai morfar na cadeia, vai pagar por toda essa merd*.
— Não consigo não me sentir responsável, Yas.
— Amor, vai levar um tempo até você conseguir se livrar dessa sensação, mas saiba que não tá sozinha. Por favor, nos deixe ficar presente.
— A Rafa tá certa, Nicole. Você não tá mais só, você tem uma mãe, irmãos, tem a nós. Não se feche outra vez, usa da nossa amizade.
— Eu acabei deixando vocês de fora, eu sinto muito. Prometo me esforçar pra fazer diferente dessa vez.
— Vem cá... – A abracei. — Estamos a uma porta de distância, então trate de precisar de mim.
Nicole riu.
— Vou fazer um chá para nós. – Fiquei de pé.
Ficamos cerca de uma hora da sala, Nicole convidou Rafa para dormir ali. Depois de dar boa noite as duas, fui para o quarto. Deitei ao lado da minha mulher, ela parecia totalmente relaxada. Me aconcheguei a ela, fiz um breve agradecimento as forças divinas por tudo ter terminado bem.
No dia seguinte, fomos cedo para o hospital, Paola resolveu levar roupas limpas para Leila. Levamos também algo para ela comer e esperamos do lado de fora, decidimos respeitar o momento deles. Nicole recebeu uma ligação da delegada, ela pediu para que os envolvidos comparecessem a delegacia.
Ela me pediu para acompanhá-la, pois Rafaela havia ido trabalhar.
— Obrigada por ter vindo, senhorita. Soube que o seu irmão está fora de perigo...
— Sim, delegada, o Pedro vai ficar bem. – A delegada sentou.
— Quero recolher o seu depoimento e também lhe deixar a pá de tudo o que está acontecendo.
— Se dependesse de mim, delegada, que ele fosse para o inferno. – Nicole falou com rancor.
— Entendo perfeitamente, senhorita. O seu pai passou por uma cirurgia muito delicada, para a infelicidade dele, os médicos tiveram que optar por uma amputação.
— Amputação?
— A perna esquerda teve lesões gravíssimas, sem condições de um procedimento menos drástico. Ele está em coma induzido, os médicos me repassaram o estado... – Ela empurrou uma pasta para Nicole. — Está tudo nesses documentos.
— Se ele sobreviver, o que vai acontecer?
— Vai ser conduzido a prisão, dessa vez sem possibilidade de prisão domiciliar. O que vou dizer agora foge totalmente da minha conduta e dever como delegada, mas eu tive acesso ao seu caso, estamos monitorando o seu pai desde ele foi posto em liberdade. Acredite, senhorita Nicole, quando soube da decisão do juiz, fiquei raivosa. Sou mulher, vi todo o material sobre o seu caso, as fotos, os vídeos, senti ódio. Recebo muitos casos como o seu e a cada vez que um criminoso assim é colocado em liberdade, sinto que falhei.
A delegada ficou de pé.
— Mas farei tudo o que estiver ao meu alcance para que ele pague por toda a dor que causou...
— Conto com isso, delegada.
A voz de Nicole saiu insegura, seria um logo caminho até isso ser só passado.
Eu a entendia.
Fim do capítulo
Boa noite..
Capítulo pronto meninas, boa leitura.
Espero que estejam gostando, até o próximo.
Beijos minhas lindas.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 08/06/2023
Patrick se deu mal que apodreça.
Que fofo o momento de Rafa e Nicole.
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Tany Em: 09/06/2023
Patrick precisava pagar de alguma forma, que agora à justiça seja feita.
Rafa e Nicole estão tendo uma conexão muito legal, mais um casal fofo pra gente se apegar.
Obrigada pelo comentário.
Um abraço minha querida.
Tany