Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 32 - Uma grande família.
Havia terminado uma cirurgia há pouco, depois de um longo banho no vestiário, decidi comer algo na lanchonete, o lugar estava quase vazio. Trocava mensagens com Yas, quando Nicole entrou. Ela vinha em minha direção, a expressão leve em seu rosto me fez sorrir. Ainda tinha crise de risos com Yasmin todas as vezes que tocávamos no assunto da festa.
Yas vivia jogando na cara de Rafaela a colcha com vômito.
— Que cara é essa? – Dei uma mordida no sanduiche.
— Rafa acabou de me ligar. – Ergui as sobrancelhas. — Às vezes parece que estou sonhando.
— Precisa parar de achar que não merece a felicidade, Nicole. – A morena mordeu o lábio. — Aproveita, sentimentos recíprocos são muito raros.
— Você tem razão, eu preciso convencer a mim mesma disso. – Nicole encarou as próprias mãos. — No fundo, ainda sinto um pouco de vergonha de tudo que fiz.
— Que tal esquecer isso hoje? Foque somente no que tá acontecendo agora. Vamos combinar assim?
— Você não existe, Lara. Combinado. – Apertamos as mãos. — Dá pra acreditar? Ela sente o mesmo. Até mesmo me chamou pra jantar hoje...
Não pude deixar de rir.
— O que? Do que tá rindo?
— Desculpa, mas é engraçado ver uma mulher até ontem tão dona de si tendo um treco. Acho que ainda preciso te desvincular da imagem de séria que você tinha.
— Eu era insuportável, não é? – A sua expressão foi engraçada.
— É... um pouco.
— Não precisa me poupar.
— Sim, muito insuportável...
Rimos.
— Sabe, Lara, eu estava pensando. – Nicole cruzou os dedos sobre a mesa. — Pensando em como minha vida se dividi, existe uma Nicole antes e depois de vocês e... e eu estou extremamente grata pela pessoa que sou agora. Vocês são...
— Suas amigas, somos suas amigas. – Busquei sua mão.
— Sim, grandes e insubstituíveis amigas. Graças a vocês, a Rafa surgiu na minha vida. Eu sinto uma paz sem tamanho quando tô com ela. Sinto-me uma adolescente em seu primeiro amor. A gente combinou em ir devagar...
— Vocês não poderiam de escolhido forma melhor. Sabe, fico feliz, muito feliz... – Cocei a cabeça. — Aprendi a gostar de você, menina. Yas e eu vamos sempre estar aqui pra você. Ah, não esqueça de levar flores pra sua namorada.
Nicole sorriu.
— Na verdade, eu comprei isso... – Ela enfiou a mão no bolso e tirou de lá uma caixinha azul de veludo. — Já faz um tempo que comprei, mas hoje vou poder entregar sem reservas.
Abri a caixinha e havia um cordão lindo, delicado. O pingente em forma de trevo era um charme.
— Esse trevo...
— É o que a Rafa representa em minha vida. – Encarei Nicole. — Sorte...
Não fiquei imune ao sorriso genuíno da morena. Continuamos a conversar, ela relembrando de como Rafaela a recebeu no dia em que decidiu nos ajudar, dos bate-bocas sem sentindo, muitos deles terminados por Yas.
Um laço genuíno se formou entre nós.
Estava de saída do hospital, quando avistei Caterine, desde o dia que ela ajudou a Yas, não conseguimos conversar. Podia ser impressão minha, mas ela demonstrava uma postura diferente. Não sei o que havia se passado, mas com certeza, foi uma mudança boa.
— Oi...
— Oi, Cat.
— Não precisa ficar retraída, eu vim em missão de paz. – Ela sorriu. — Como tá a sua namorada?
— Ela tá bem melhor, vai superar isso tudo em breve.
— Não deve tá sendo nada fácil isso tudo, ela é uma mulher muito forte.
— Ela é... – Sorri. — Yas é muito forte, corajosa...
— E sortuda, ela tem uma mulher incrível ao lado. Você foi até outro país por ela, a trouxe de volta. Espero que ela fique bem, vocês merecem paz depois de tantas coisas ruins...
— Você está falando sério?
Cat sorriu.
— Muito sério, Lara.
Um carro conhecido se aproximou e parou próximo, Yas deixou o banco do passageiro e o seu olhar caiu sobre nós, se demorou em Caterine. Rafa deixou a direção do veículo e ambas se aproximaram.
— Oi, amor. – Ela me deu um selinho. — Olá, Caterine.
— Olá, ruiva.
— Oi e tchau... – Rafa não esperou nenhum segundo.
Ela foi em direção a entrada.
— A Nicole tá na ala da pediatria com a Antonella. – Falei.
— Obrigada, Lara... – Rafa gritou de longe.
O silêncio caiu sobre nós.
— Então, podemos ir a um lugar? Eu queria conversar com vocês. – Cat pediu.
— Não vai tentar nenhuma gracinha? – Yas perguntou e eu segurei para não rir.
— Prometo. É uma conversa pacifica...
— Vamos no meu carro. – Peguei as chaves.
— Seu carro?
Cat olhou para o carro de Yas.
— Na verdade, da Yas...
— O seu, ainda não saiu da oficina?
— Perda total, o mecânico disse que não valeria a pena consertar.
— Entendo...
— Vamos?
— Sim, vamos.
Chegamos a um restaurante japonês, o clima na mesa continuava estranho, um pouco tenso eu diria. Fizemos os nossos pedidos, o meu corpo começava a dar sinais de cansaço. Deitei sobre o ombro de Yas, que automaticamente segurou as minhas mãos.
— Cansadinha?
— Muito. – Fechei os olhos. — Queria dormir umas trinta horas seguidas.
— Não vou te garantir as trinta horas, mas ao menos uma ótima noite de sono, isso com certeza.
— Promete? – Fiz drama.
— Sim, eu prometo. Vamos tomar um banho quente e depois dormir. – Sorri.
— É tudo o que mais desejo.
Cat limpou a garganta.
— É verdade, você tá aí... – Yas falou com implicância.
— Eu mereço essa, eu sei disso. – Mas Cat apenas mantinha a expressão tranquila, sorridente.
— O que quer nos dizer? – Fui direto ao ponto.
— Eu queria ter feito isso já há um tempo, mas confesso que estava muito envergonhada. – Foquei minha atenção nela. — Yasmin, me desculpe por todas as bobagens que eu falei. Demorou muito pra ficha cair, eu não sou aquela pessoa e hoje consigo ver as coisas com clareza.
Yas apertou as minhas mãos.
— Estava cega de ciúmes, de rancor, de inveja também. O meu tempo com a Lara já passou, eu descontei em você toda a minha frustração. Tudo o que a Lara fez por você, eu, com toda certeza também faria por alguém quem amo. Tentei impor os meus achismos, eu realmente sinto muito. E sinto muito por tudo o que você passou, não deve ter sido nada fácil.
— Você não estava errada sobre tudo, Caterine. Coloquei a Lara em risco, acredite, passei algum tempo me torturando com isso, mas hoje sei que... – Yas riu, a gente se encarou. — Vou soar muito melosa...
— Hoje você sabe que eu sou sua e você é minha, nenhuma interferência vai mudar isso. – Yas sorriu.
— Olha, eu ainda estou aqui. Ok? – Não pudemos deixar de rir.
— Eu te desculpo, Caterine. E obrigada por me ajudar no outro dia, não sei o que poderia ter acontecido se não houvesse aparecido.
— Não, não precisa agradecer. Só trata de fazer a Lara muito feliz e case com ela...
— Tá no topo da lista.
— E se cuida também, Yasmin, cuida do seu psicológico. Como disse a Lara, você é uma mulher forte.
— Eu... eu já estou cuidando disso. Sei que não será simples, mas farei o que for necessário. Obrigada pelo conselho, Caterine.
— Paz selada então? – Cat estendeu a mão para Yas.
— Sim, podemos fazer isso. – E ela aceitou o cumprimento.
— Então, podemos comer? Estou faminta e louca pra ir pra casa. Sem ofensa, Cat...
— Eu entendo, você deve ter tido um dia cansativo. Então, vamos aproveitar a comida.
O jantar terminou com um clima muito leve, Cat pegou um carrinho de aplicativo e disse que faria uma visita em breve. Yas assumiu o volante, eu estava muito cansada e acabei dormindo no banco do carona.
Aquela noite, Yas cuidou de mim, tomamos banho juntas e dormimos agarradas, tudo o que eu precisava.
— Eu quero falar sobre a Ana com você, Lara. – Antonella parou a esteira. — Queria ter conversado antes, mas não sabia nem por onde começar.
Descemos do aparelho e sentamos.
— O que aconteceu?
— A sua irmã, ela tá me deixando maluca. – Franzi o cenho.
— Em que sentido? Antonella, fala de uma vez. Desde quando sente vergonha de mim? Nos conhecemos há anos.
— Justamente por isso, Lara, você me conhece muito bem e sabe tudo o que já fiz na vida, de todas as...
— Suas experiências sexuais? – Antonella levou a mão a face.
— Sim... – A minha amiga aspirou o ar de forma ruidosa. — Ah, Lara, eu não me sinto nenhum pouco digna de ser a primeira mulher na vida da Ana.
— Antonella, há uns meses, nem você e nem a Ana faziam ideia que iriam ficar juntas, todos nós temos passado. O que você viveu antes, tenho certeza que não importa pra ela.
— E se importar?
— Ana tá tentando te seduzir, essa é a sua resposta...
— Como você...
Ri baixinho.
— Ela queria conselhos e eu os dei. – Antonella me encarou desacreditada.
— Lara, você... Deus... – Minha amiga riu.
— Cunhadinha, você é a melhor escolha pra minha irmã. Confio em você de olhos fechados. Só faz ela se sentir a mulher mais amada desse mundo. – Beijei a testa levemente suada. — Agora vamos terminar, preciso de um bom banho e ver a minha namorada.
— Não acredito que a incentivou a me seduzir... – Ri da indignação de Antonella.
— Vai dizer que não tá funcionando?
— Sim, está funcionando perfeitamente bem. Ontem mesmo tive que sair correndo do quarto quando ela entrou só de calcinha...
Gargalhei.
— Sua idiota, não ria da minha desgraça...
— Deixa de ser mole, Antonella.
— Mole, é? Você vai ver quem é mole...
Antonella se jogou sobre mim, caímos as duas no chão da academia, rolando como duas crianças. Não conseguia parar de rir e as pessoas ao redor nos olhavam como se fossemos duas idiotas.
E éramos.
Um mês depois.
O dia havia começado muito agitado, os filhos de Hugo decidiram que aquele seria o momento para nascerem. Fazia meia hora que Carla havia dado entrada no hospital e toda a família de Yas estava na ala da maternidade. Pelo que pude entender, os gêmeos nasceriam de cesárea e um mês antes do previsto. Terminei uma cirurgia há pouco e estava na sala de descanso. Yas havia chego há pouco, totalmente elétrica.
A minha namorada estava irradiando felicidade.
— Doutora Lara, você não vai ver o nascimento? – Letícia perguntou.
— Não, é um momento todo deles, eu vou mais tarde. – Sorri.
— Mas você é a madrinha...
— Eu realmente não quero incomodar, mas assim que eles nascerem, irei até lá.
— Deve ser muito emocionante gerar uma vida. – A garota se acomodou em um sofá.
— Deseja ter filhos? – Tentei manter o diálogo.
Não havia motivos para climão.
— Na verdade, não. Não me vejo como mãe, então vou deixar isso para as meninas que sonham com isso. – Franzi o cenho.
— Bem, é muito corajoso da sua parte. Nós mulheres já nascemos com fardo de termos de ser mães, toda uma responsabilidade.
— É frustrante. – Letícia me olhou. — O meu pai não entendeu de primeira, disse que queria netos e um monte de bobeira.
— Seu pai é um ótimo homem e um profissional esplendido, vai saber lidar com isso...
Ouvimos duas batidas na porta.
— Com licença.
— Entra, Lídia. Aconteceu alguma coisa?
— Não, doutora, só vim te informar que os seus afilhados vão nascer a qualquer minuto. A Carla já foi sedada, o seu cunhado tá fazendo a diversão de todos. Ele me pediu pra chamá-la, assim como a sua namorada.
Sorri, sentindo o meu rosto esquentar.
— Então irei até lá. — Levantei, arrumei o cabelo, tirei o jaleco e coloquei os óculos de descanso. — Vamos, Lídia. Tchau, Letícia.
— Até depois, doutora.
O hospital estava muito movimentado, a ala da pediatria estava cheia de novos bebês. Antonella certamente estaria abarrotada de trabalho. Quando me aproximei da recepção, vi Yas sentada no chão. Ela brincava com um garotinho, os dois pareciam totalmente entretidos com o brinquedo de montar.
— Filha... – Amanda me abraçou.
— Nora querida, que bom que veio. – Alonso repetiu o ato.
— A Yas tá ali há vários minutos. – Ela ainda não havia me visto.
— Os dois estão em uma espécie de disputa pra ver quem monta mais rápido.
Mordi a bochecha por dentro.
“Uma criançona.”
— Me disseram que o Hugo tá fazendo a alegria das enfermeiras.
— Sim, depois de ter desmaiado duas vezes. – Abafei o riso.
— Então é isso.
— Aquele menino tá quase surtando e deixou a gente igual.
— A última vez que fiquei nervoso assim foi quando o Hugo nasceu. – Alonso sentou.
— Eu disse, tia, eu ganhei. Sou melhor que você. – O menino se gabou.
Yas passou as mãos sobre o rosto e então me olhou.
— Amor... – Ela ficou de pé e veio até a mim, me abraçando forte.
— O que estava fazendo? – Yas riu.
— Só me distraindo. – Os olhos verdes me examinaram. — Estava com saudade.
— Gente, nasceu... – Hugo apareceu todo afoito. — Eles são lindos. São lindos...
Yas apertou a minha mão.
— Vai lá, meu amor...
— Mas e você?
— Eu te espero aqui... – Beijei a sua bochecha rapidamente.
— Não sai daqui, Lara...
Ela me beijou de volta e os quatro sumiram pela porta que dava acesso a ala.
— Por que não entra? – Antonella sentou ao meu lado.
— Acho que é um momento deles.
— Então te faço companhia...
— Eu agradeço. – Antonella parecia cansada.
— Não deveria começar a pensar em férias? – A minha amiga deitou em meu ombro.
— Sim, na verdade comecei a pensar sobre. Estou muito cansada e quase não pude ver a Ana essa semana.
— Entendo bem, o mesmo comigo. – Fechei os olhos.
— Podemos cochilar um pouco?
Ri baixinho.
— Acho que ninguém vai notar...
Os meus pais entraram primeiro, estavam tão ansiosos quanto eu. Fiquei do lado de fora, andei pelo pequeno espaço, esfreguei as mãos freneticamente. A minha mente trabalhava a todo segundo na realidade de que agora existia duas novas pessoas em nossas vidas, duas pessoinhas que até uns meses atrás simplesmente não estavam aqui.
— Tia Yas, já pode entrar, os teus sobrinhos estão ansiosos pra te conhecer.
Hugo surgiu na porta, ele estava com uma expressão totalmente relaxada, estava extremamente feliz.
— Meu irmão, eu estou tão feliz por você. Tão feliz! – Dei-lhe um forte abraço, demorado. — Eles têm muita sorte por terem um pai como você.
Os meus olhos lacrimejavam.
— Olha, senhorita Yasmin, eu também quero sentir essa sensação de ser tio, ouviu? Quero um tomatinho me pedindo a benção. — Ambos rimos, felicidade irradiava de nós.
— Tudo no seu devido tempo, mas sim, queremos multiplicar a família. Você vai ter um sobrinho ou sobrinha pra estragar...
— Pode apostar que irei mesmo. – Ele piscou. — Será uma mãe incrível, maninha. Agora, vem conhecer os novos membros da nossa família...
Abri a porta, as minhas mãos estavam levemente tremulas e eu me sentia uma verdadeira bobalhona. Olhei para o berço de acrílico e então vi aqueles seres tão pequenos, tão frágeis, dormindo confortavelmente.
O meu coração acelerou.
— Eles são tão lindos. — Senti uma emoção nunca experimentada antes, os meus olhos lacrimejaram, passei a rir igual idiota. — São lindos demais.
Fechei os olhos por uma fração de segundos e agradeci mentalmente a Deus por ter me dado a chance de poder estar vivendo tudo aquilo, por ter me deixado voltar para aquelas pessoas.
— Oi, Carla. – Ela estava comum sorriso de orelha a orelha.
— Oi, Yas...
— Eles são lindos. – Carla olhou para os pequenos.
Ainda bem que ela desistiu da ideia de entregar a guarda a Hugo.
— Eles sãos... – Os seus olhos se encheram de lágrimas.
— Filha... – A minha mãe se aproximou.
— Desculpe, dona Amanda, eu só estou feliz. Eles... – Sua voz embargou, ela não conseguiu concluir.
— A gente entende, filha. Eles têm muita sorte. – O meu pai reforçou.
— Eles têm, eles têm avôs maravilhosos, um pai incrível e uma tia incrível. – Ela não conseguiu segurar e a minha mãe foi ao seu consolo.
Não fiquei imune.
— Olha tia, o meu cabelo, olha como é lindo. — Hugo pegou um dos pequenos no colo. — E sente como eu sou cheiroso.
Peguei aquele serzinho nos braços, tão molinho, tão minúsculo. Olhei para o outro, ele dormia profundamente, ch*pava o dedinho.
— Bem-vindos a família, meus amores, a tia já está louca de vontade de ensinar um monte de coisas legais, vamos nos diverti muito juntos. Vamos pôr fogo nos bonecos do pai de vocês.
Carla e os meus pais gargalharam, Hugo fez cara feia.
— Fica longe da minha coleção, Yasmin...
— Ainda me deve pelas barbies sem cabeça, crianção...
— Você nem gostava tanto assim de boneca.
— Vocês dois, parem já... – Gargalhei.
Que sensação maravilhosa sentir aquilo.
— Eu já queria levá-los para casa, queria que eles dormissem no quarto que decoramos. — Minha mãe me abraçou pela cintura, estava com um sorriso imenso, toda boba com os netos.
Ela tocou nos poucos fios vermelhos.
— A senhora vai ter muito tempo com eles, mamãe, paciência dona Amanda.
— Me deu uma saudade de vocês, de quando eram pequenos. Como o tempo passa rápido.
— Pois agora vocês vão estar duplamente ocupados, não é seu Alonso? Porque tem essas coisinhas lindas pra bagunçar a casa. Você é muito cheiroso...
— Ainda tenho energia de sobra, esses moleques vão me ouvir reclamar das vezes em que vocês dois quase nos fizeram ter um infarto.
O riso foi geral.
— Pois aguarde mais um pouco, meu velho, a Yas ainda nos deve mais netos. – Mordi a bochecha por dentro.
— Vocês querem mais netos?
— Com toda a certeza, filha. Se for desejo da sua namorada, sua mãe e eu desejamos ter muitos ruivos pela casa...
O meu coração se agitou, uma felicidade singular se fez presente. Imaginar um futuro assim, uma criança vinda do meu ventre. Uma família com a Lara, um filho nosso.
Deus, esses pequenos me deixaram totalmente emotiva.
— Filha, a Lara não vai entrar? – O meu pai perguntou.
— Vai buscar ela, Yas. Lara precisa conhecer os afilhados. Vá, vá buscar a sua namorada.
— Segura ele, mãe. – Entreguei o pequeno para ela. — Vou buscar a minha mulher...
Deixei o quarto e quando cheguei a recepção, vi Lara sentada ao lado de Antonella, as duas cochilavam profundamente. Ela deveria estar exausta, o trabalho andava exigindo muito dela.
Não queria acordá-la.
— Olha a cara dessa tia, toda bobona. — Antonella falou, me fazendo sorrir.
Lara acabou acordando também.
— Oi, meu amor...
— Vim buscar a minha mulher, estão solicitando a sua presença. – Me agachei diante dela. — Você também, dona Antonella.
— Eu não quero atrapalhar, Yas.
— Você é minha amiga, Antonella, amiga da minha família. Não tô te dando escolha... – Ergui as sobrancelhas.
Antonella gargalhou.
— Sendo assim... – Ficamos de pé.
Chegamos ao quarto onde estavam os pequenos.
— Soube que aqui tem duas crianças que estão deixando todos babando. – Lara foi a frente.
— Lara, olha o cabelo desses meninos. – Antonella ficou admirada.
— Olha madrinha, vem ver como eu sou bonito. Olha como o seu afilhado é lindão...
— É lindão mesmo, Deus do céu... – Lara tocou o rosto do pequeno. — Hugo, eles são tão parecidos com você.
— A beleza da família precisa continuar, cunhadinha. — Hugo falou, fazendo Lara soltar um riso alto.
— Não acredito que carreguei por meses e todos os dois saíram a cara do pai. — Carla reclamou com humor, fazendo todos rirem.
— É a biologia, minha cara. Não há como fugir dela... – Antonella concluiu. — E eles são lindos. Parabéns Hugo, Carla.
— Obrigada, Antonella. Posso pensar em deixar você ser madrinha de um dos meus lindos filhos.
— Espera aí, eu achei que Lara e eu fossemos as madrinhas dos dois. Hugo, seu filho da mãe! – Ele riu.
— Não seja egoísta, irmãzinha. Tem que dividir esses gatões...
— Ana vai adorar ser a madrinha junto comigo. Aceito o convite...
Antonella mostrou a língua para mim.
Lara pegou um dos pequenos no colo e sentou na poltrona e Antonella segurou o outro serzinho. Hugo e eu ficamos afastados, assistindo toda há interação. Lara olhava com encantamento para ambos.
— Sua família, Hugo...
— Sim, a minha família, Yas... – O meu irmão buscou a minha mão. — Meus filhos, dá para acreditar?
Os olhos avermelhados denunciavam que ele iria chorar.
— Sabe o orgulho que sinto de você? – Toquei sua bochecha. — Maninho, obrigada pelo presente que nos deu.
— Você vai me fazer chorar...
Ri.
— Você já tá chorando bobão.
— Olha quem fala...
Nos abraçamos, entre risos e lágrimas de felicidade.
Depois de quase duas horas, deixamos o quarto. Carla precisava de descanso e os meninos de atenção, por terem nascido prematuros, ficariam mais alguns dias em observação, mas Antonella nos garantiu que ambos estavam bem, era tudo precaução. Cheguei em casa anestesiada, não havia discrição. Lara não pode me acompanhar, ainda teria algumas horas no plantão.
— Vim o mais rápido que pude... – Me assustei com a velocidade que Rafa entrou.
— Por Deus, Rafaela...
— Como eles são? Estão todos bem?
— Calma, eu vou te mostrar...
Peguei o meu celular e entreguei a ela.
— Yas, eles são tão lindos, tão pequenos... – Ela sorriu.
— Antonella pediu que eles ficassem para observação, talvez em dois dias ganhem alta. – A loira não ficou indiferente.
— Como se sente?
— Como se fossem meus filhos. Rafa, a sensação de tocá-los, de ter eles em meus braços foi tão... única.
— Quero conhecê-los. Quando podemos ir?
— Amanhã, o que acha?
— Amanhã então. Nicole pode ir comigo?
— Por que ainda pergunta? – Rafa mordeu o lábio.
— A Nicole ainda não se sente parte disso tudo. – Franzi o cenho, me ajeitei no sofá.
— Como assim?
— Ouvi ela conversando com a mãe. Ela gosta da gente, mas ainda tá remoendo muita coisa. Eu... eu gosto tanto dela, Yas. Tanto...
Rafa olhou para as próprias mãos.
— Tô indo com muita cautela, estamos nos conhecendo, mas eu sinto tanta necessidade de dizer a ela que...
— Rafa?
— Sim...
— Faz tudo no tempo que você julgar certo, eu entendo perfeitamente seus receios e principalmente, a origem deles.
— Quero que ela se sinta perdoada. – Fiz um gesto para ela vir até a mim.
— É algo que a própria Nicole terá que descobrir e o que podemos fazer é continuar exatamente o que estamos fazendo agora.
— Terei muita coisa pra pensar...
— Pensamos juntas, minha linda...
Dois dias depois.
— Eles já mamaram, estão dormindo. – Hugo surgiu na sala.
Estava todo sujo de talco.
— Vou levar a Carla pra tomar banho e comer algo. – Minha mãe ficou de pé.
— Eu agradeço, mamãe. – Ele sentou ao meu lado.
Os meninos chegaram a poucos minutos, o quarto decorado por minha mãe finalmente ganhou vida.
— Você tá bem? – Hugo estava de olhos fechados.
— Só um pouco cansado, mas feliz. Muito feliz... – Ele buscou a minha mão. — Obrigada por toda a ajuda, irmãzinha.
— Não fiz nada de extraordinário, Hugo.
— Fez sim, Yas, fez sim... – A sua voz foi sumindo.
O cansaço o venceu.
— Seu irmão me surpreendeu muito. – O meu pai levantou, pegou a manta que o cobria e colocou sobre Hugo. — Eu sempre soube que havia criado um homem bom, mas não sabia o quanto.
Ele me olhou e sorriu.
— Não sei explicar o quanto estou feliz, minha filha. Vai soar repetitivo, mas o velho pai de vocês tem muito orgulho das crianças que vocês são. Deus me abençoou muito nessa vida. - Aspirei o ar com calma, a minha garganta se formou um nó.
— Senta aqui, velho. – E ele o fez.
Apoiei a cabeça em seu ombro, busquei sua mão e guardei na minha. Ficamos daquela forma, não havia mais nada a ser dito.
— Obrigada por vir aqui, Yasmin. – Sentei a frente do homem.
— Confesso que fiquei muito curiosa. – Ele sorriu.
— Não vou te enrolar, eu vou abrir uma nova clínica e queria te fazer o convite de ser a administradora. Dê uma olhada...
Peguei os papeis, li as primeiras linhas.
— Tá falando sério? Por que isso?
— Você ficou pouco tempo na clínica, Yasmin, mas deixou tudo muito organizado. Confesso que fiquei muito surpreso, não quero perder alguém como você. Futuramente, quem sabe viramos sócios? O que acha?
As palavras ditas por ele demoraram a fazer sentido.
— Eu estou... – Ri de nervoso. — Não sei o que dizer.
Ele riu.
— Pega esse documento, leva pra casa e quando se decidir, não hesite em me ligar. -Ficamos de pé. — Combinado?
— Combinado. – Demos um aperto de mãos.
Deixei a sala com uma sensação de recomeço.
— Ei, ruiva... – Rafaela se aproximou. — Que cara é essa?
— Acabou de acontecer uma coisa bem maluca...
O meu celular tocou, peguei o aparelho e vi o nome de Lara.
— Bom dia, namorada.
— Bom dia, meu amor. Yas, onde você está? – O tom de voz de Lara me fez gelar.
— No trabalho, amor. Aconteceu alguma coisa?
— Ele foi solto. – No mesmo instante senti todo o meu corpo pesar.
— Nicole já sabe?
Rafa tocou o meu ombro.
— Sim, ela tá trancada no escritório. Tentei ligar pra Rafa...
— Vamos até o hospital, amor.
— Vou esperar por você, amor.
A ligação foi encerrada.
— O que aconteceu?
— Patrick foi solto... – A expressão no rosto de Rafaela mudou imediatamente.
— Preciso ir até o hospital...
— Vou com você...
Aquele pesadelo de novo não.
Fim do capítulo
Boa tarde Meninas.
Mais um capítulo saindo..
Até o próximo.
Abraços, minhas queridas.
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HelOliveira
Em: 07/06/2023
Tava tudo muito bom sem o Patrick....só quero ver como vai ficar....Nicole vai precisar de muito apoio
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Lea
Em: 06/06/2023
E o amor dessa família se multiplicou. É Hugo, não é fácil cuidar de dois serzinhos.
Antonella apavorada,com medo de avançar com a namorada, hilário. Toma uns banhos gelados. Queria que,essa cena em especial fosse narrada.
Nicole precisa de muito amor e compreensão para aceitar de vez que,é inteiramente amada. Ela e a Rafaela vão se curar de todos os traumas vividos.
Esse crápula foi solto,mas agora a família que um dia ele teve e quase destruiu,tem quem os protejam!
Bjus de luz para vocês!
Tany
Em: 07/06/2023
A família cresceu, mais dois ruivos pra gente amar haha.
Antonella tá sendo muito maravilhosa esperando no tempo de Ana, esse momento é importante para as duas. Tudo no seu tempo.
O Amor transforma vidas, as duas vão aprender muito uma com a outra, vão encontrar forças uma na outra e isso é uma construção diária, Nicole e Rafa estão se permitindo viver isso.
Patrick acha que ainda pode algo sobre a vida da filha. Mas Nicole não está mais sozinha e nem tão fraca.
Beijos querida.
Tany
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Tany Em: 07/06/2023
Sim,, Nicole vai precisar ser forte pra lhe dar com o Patrick, ela ainda tá cheia de traumas. Ela tem ao lado pessoas maravilhosas sei que vai ter muito apoio, vai conseguir avançar.
Logo teremos mais um cap.
Um abraço.
Tany