Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 31 - Cara a cara.
As minhas férias haviam acabado, as coisas pareciam novamente nos trilhos. Hoje a noite iriamos a festa de aniversário do pai de Rafaela e então passei no shopping rapidamente para comprar um presente. Rafa disse que o pai adorava relógios e eu segui a sua dica. Desde que Nicole conheceu o irmão, eles resolveram estreitar ainda mais os laços e estavam sempre em contato. Patrick continuava preso, uma reunião foi marcada para que decidíssemos o futuro das ações, pois a justiça havia congelado os seus bens.
Precisávamos recuperar as ações, o hospital deixou de ser alvo da impressa, entretanto, ainda assim precisávamos resolver o quanto antes toda essa bagunça.
— Rafa disse que a festa é bem simples, então podemos ir simples. – Ana olhava para algumas peças de roupa sobre a cama.
— Então shortinho e blusinha?
— Acho perfeito. – Enrolei a toalha na cabeça. — Você me parece estranha ultimamente. Tá acontecendo algo? Você e a Antonella estão bem?
— Tem algo fervilhando na minha cabeça, na verdade. – Peguei o hidratante.
— Me conta...
Sentei na poltrona e passei a aplicar o produto.
— Eu... – Ela respirou fundo e isso me fez encará-la. — Eu quero muito...
— Ana... – Franzi o cenho. — Fala.
— Eu quero fazer amor com a Antonella, mas eu não faço a menor ideia de como abordar isso.
Ergui as sobrancelhas.
— Você intimidada? – Não pude deixar de rir.
— Para, Lara! Eu tô apavorada. A Antonella tem muito mais experiência e eu ainda sou uma virjona.
Ri ainda mais.
— Ana, por Deus. – Fiz um esforço tremendo para parar. — Escuta, não há manual. Vocês já tentaram alguma vez?
— Não. A Antonella me respeita ao extremo e apesar de achar isso muito fofo, eu quero que ela me toque.
— Então cria um momento. E principalmente, deixa claro pra ela o que você deseja... – Ana mordeu o lábio.
— Seduzi-la?
— Com toda a certeza... – Ela se jogou na cama.
— Como é com você e a...
— Não, não vou falar sobre isso... – Fiquei de pé.
— Mas, Lara...
— Não!
— É pra pesquisar. – Isso me arrancou outra gargalhada.
— Pesquisa na prática, Ana. Agora se arruma, precisamos pegar a Yas ainda. – Fui até o pequeno closet.
— Você é má!
A ouvi gritar.
Depois de mais de meia hora, Antonella chegou e deixamos o apartamento, a noite estava muito bonita. Yas, Rafa e Nicole nos esperavam na calçada. Assim que estacionei, a minha ruiva linda entrou, colocou Tigrão sobre as pernas de Ana e me deu um selinho longo.
— Oi, namorada. – O meu sorriso foi enorme.
— Oi, namorada. – Respondi com o mesmo tom.
— Procurem um quarto. – Antonella falou.
— Não dá ideia, Antonella. – Yas respondeu.
— E essa gravatinha, hein? Você é o gatinho mais lindo que existe. – Tigrão miou, como se o bichano houvesse entendido o elogio.
— Vamos, o carro da Rafa já tá dobrando a esquina... – Falei.
O trajeto todo foi muito tranquilo, uma radio tocava musicas nacionais, Yas segurava a minha mão e sempre que podia, deixava um beijo no dorso. Chegamos à casa dos pais da Rafa quarenta minutos depois e da rua podíamos ouvir muito barulho.
— Pessoal, a minha família é muito barulhenta, então só relevem.
Rafa nem abriu o portão, não foi preciso, uma mulher que lembrava muito ela apareceu.
— Menina, achei que não vinha mais. – Ela abraçou a Rafa. — Crianças, bem-vindas a festa mais animada que existe.
Sorri.
— Mãe, essa é a Lara, namorada da Yas...
— Venha aqui, criança. Que mulher linda e cheirosa... – Ela me abraçou. — Essa menina tá cuidando bem de você?
— Sim, dona Marta, a Yas é maravilhosa...
— Ah, não esperava menos dessa ruiva. E quem são vocês, meus amores?
— Essa é a Antonella e a Ana. Ana é a irmã da Lara, mamãe.
— Que meninas bonitas, filha. Alguma delas é a sua namorada? – Pude ver a face de Rafa ficar rubra.
— Mamãe, pelo amor de Deus. – Yas abafou o riso ao meu lado.
— O que? Você nunca traz nenhuma menina aqui. Tem certeza que gosta mesmo da coisa, filha?
— MÃE!
Não conseguimos segurar e rimos. Dona Marta deu um abraço apertado em Antonella e Ana, nos fazendo entrar em seguida. O quintal estava cheio, conhecemos o pai de Rafaela, seu Marcelo, tão simpático quanto a esposa. Ele fez a mesma pergunta sobre Antonella e Ana, deixando a filha muito envergonhada. Fomos colocadas em uma mesa no fundo. Havia muita cerveja e churrasco, as pessoas estavam felizes e o clima era aconchegante.
Nicole parecia ser muito intima da mãe de Rafa, as duas estavam cochichando há alguns minutos.
— A Nicole tomando suco em copo descartável com toda a certeza é algo muito novo pra mim. – Ana comentou. — Tô embasbacada.
— A primeira vez foi muito frustrante. – Rafa comentou e eu fiquei sem entender.
— Como assim?
Yas riu.
Ela passou a contar da primeira vez que Nicole esteve ali e também da sua queda na piscina.
— Ela dança também? – Perguntei.
— Sim, muitíssimo bem inclusive. – Yas sorriu.
— Ela foi a atração da festa. Desde então, ela virou xodó da minha família.
— E seu também, não é? – Ana fez a loira engasgar com o suco.
— Sua mãe fez suco de abacaxi. – Nicole se aproximou com um copo enorme de suco. — Rafa, você tá bem?
— Sim... – A loira limpou a garganta e olhou para nós como se implorasse para não dizermos nenhuma bobeira. — Senta um pouco...
— Boa noite, beldades. – Um homem muito loiro se aproximou.
Ele sorria, tocou no ombro de Nicole.
— Boa noite... – Respondemos.
— Pessoal, esse é o meu tio Alemão.
— É um prazer conhecer as amigas da minha sobrinha. Desculpa atrapalhar, mas eu queria muito falar com você, Nicole.
Ergui as sobrancelhas.
— Bem, eu... – Nicole olhou para Rafa e depois para nós. — Claro...
Ela ficou de pé.
— Tio, eu não acho que...
— Não se preocupe, Rafinha, eu cuido bem da sua amiga. – O homem sorriu.
Yas e eu nos olhamos rapidamente.
— Que isso? – Perguntei a minha namorada.
— Longa história, amor. Te conto depois... – Acenei em positivo.
— Ei, tia Rafa... – Um menino se aproximou da mesa. — Tio Alemão vai roubar a sua namorada.
Rafaela ficou vermelha.
— Você quer parar na piscina, tampinha?
O garotinho saiu correndo e rindo.
— Pestinha...
Rafa estava muito desconfortável, até mesmo deixou o suco e passou a tomar a cerveja que antes Yas bebericava. Os seus olhos não saiam nem por um momento dos dois, que pareciam em uma conversa muito animada. Nicole ria de algo que o homem falava.
— A conversa está mesmo boa. – Antonella, que estava sentada ao meu lado, me cutucou.
— Não sabia que a Nicole era bissexual. – Ana completou.
As duas estavam afiadas.
— Ela não é. – Rafa respondeu e logo em seguida tomou mais um generoso gole de cerveja.
— Rafa, vai com calma. Não faz nem quarenta minutos que estamos aqui. – Yas a olhou em repreensão.
— Ela tá morta de ciúmes. – Antonella cochichou em meu ouvido.
— O que tá fazendo? – Sussurrei.
— Tentando fazê-la agir. – A morena respondeu com um sorriso travesso.
Nicole voltava naquele momento.
— O seu tio é muito engraçado.
— É, deu pra perceber que vocês estavam em um papo muito engraçado. – Abri a boca de leve com a pequena explosão. — Não se importe em vir sentar conosco, pode ficar um pouco mais com ele.
Nicole ergueu as sobrancelhas e sob o olhar perplexo de todas, Rafa saiu da mesa.
— O que foi isso? – Nicole nos olhou.
— Eu vou lá... – Yasmin tentou levantar.
— Deixa que eu vou, amor. – Beijei a bochecha de Yas e sai.
Andei rapidamente para alcançar a loira na calçada, a rua estava totalmente vazia.
— Rafa... – Ela parou.
— Eu não consegui... – Ela bufou, passou as mãos sobre a cabeça de uma forma agoniada. — Não consegui me segurar. Droga, por que caramba falei aquilo?
— Por que não conversa com a Nicole? Não acha que tá na hora de pôr isso pra fora?
— Eu... eu não sei. – O seu olhar estava perdido. — Eu tô tão confusa, Lara, sinto que vou enlouquecer com tudo isso.
— Do que tem medo, Rafa? – Os olhos da loira se encheram de lágrimas.
— De me machucar outra vez, Lara. Eu não quero ser uma adulta traumatizada com relacionamentos amorosos, mas ainda assim...
— Rafa... – Nicole parou ao meu lado.
— Volta lá pra dentro, por favor. – A loira pediu. — Não quero que me veja assim.
— Não, eu quero entender o que aconteceu. Eu te chateei? Se for isso, me desculpe, eu não tive a menor intenção...
— Você parecia muito à vontade com o meu tio dando em cima de você. Te deixa com o ego inflado?
A loira cuspiu as palavras. Eu não sabia o que fazer.
— Pelo menos alguém repara em mim. – Nicole deu alguns passos à frente.
— Oi... – Yas surgiu ao meu lado.
— Devemos ir? – Perguntei baixinho.
— Já que você faz questão de me tratar como seu eu fosse uma criança... – Nicole acusou. — Como se eu não fosse uma mulher. Não me acha bonita? Não me acha bom o suficiente pra você?
— Eu não... – A loira parecia indignada. — Eu não te trato assim.
— Trata sim. Você faz questão de me colocar nesse lugar. Já fiz de tudo pra você me notar, porr*, cheguei ao cumulo de ficar de biquini no quintal pra ser notada! Você não me vê como mulher!
— Vamos ficar... – Yas respondeu finalmente.
— Eu só quero te proteger, ok? É só isso...
— Proteger do que, Rafa? Hein? Caramba, eu tô totalmente, completamente apaixonada por você. Será que nunca vai notar isso?
Rafaela pareceu ter levado um soco no estômago.
— O que...
— É isso que você ouviu. Eu sei, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo pra alguém gostar, eu sei que fiz coisas ruins, eu sei que não mereço alguém como você, eu sei...
As palavras de Nicole pareciam vindas de muito profundo.
— Não fala mais... – Rafa pediu. — Não fala isso de você...
— Eu gosto tanto de você, que chega a ser sufocante... – Nicole gesticulava. — Mas tá muito, muito claro que você nunca vai sentir o mesmo.
Rafa ficou muda, colocou as mãos na cabeça.
— Eu entendi a resposta, não precisa dizer nada. Eu vou embora... – Nicole deu as costas para a loira e quando iria passar por nós, Rafa a fez parar.
— Eu também me apaixonei por você!
Yas segurou a minha mão naquele momento.
— Eu não consigo parar de pensar em você a porr* de um dia sequer. Você mora na minha mente e eu tentei muito sumir com esses sentimentos, mas não consegui. Eu vejo você, eu desejo você e eu te acho sim a mulher mais linda que existe. E nesse exato momento estou morrendo de ciúmes!
A sua voz embargou.
— Eu tenho medo, Nicole, muito medo de me machucar. Eu deixei alguém incrível ir por causa dessa covardia...
— Eu não sou alguém incrível, Rafaela, mas mesmo assim te peço, não me deixa ir...
As duas estavam a poucos centímetros de distância, Nicole pegou as mãos de Rafa.
— Temos que ir... – Falei a Yas.
Foi então que vimos Rafaela abraçar Nicole pela cintura e grudar os seus lábios nos dela, em um selinho mais demorado.
— Não quero te deixar ir...
Nicole segurou a face de Rafaela com ambas as mãos e as duas então se beijaram, submersas em um mundo só delas.
— Agora podemos ir...
Yas me puxou para dentro, deixando as duas a sós.
— E então? – Dona Marta estava sentada na nossa mesa, assim como o seu Marcelo.
Ambos esperavam por algo e não pude controlar o riso.
— Parece que agora vai... – Yas respondeu.
— Isso! – Os pais de Rafa comemoraram.
Gargalhei, achando o máximo a reação de ambos.
— Não sei pra quem a Rafaela puxou tão lenta. – Dona Marta falou, olhando para o marido.
— O que quer dizer com isso, Marta?
— Pelo amor de Deus, Marcelo...
Os dois passaram a trocar acusações, fazendo todos na mesa rir.
— Podemos dormir juntas hoje? Quero muito fazer amor com você. – Yasmin tocou a minha face, beijou a ponta do meu nariz.
— Estava pensando a mesma coisa. Quero ficar grudadinha com você a noite toda. – Ela me fez sentar sobre as suas coxas.
— Te amo, minha vida. Te amo, te amo...
— Eu te amo, Yas... amo muito.
— Ah, oi... – Rafaela e Nicole voltaram.
Nicole estava com uma expressão tão boba, enquanto a Rafa parecia muito envergonhada.
— Não tem nada pra dizer, Rafa? – Dona Marta ficou de pé.
Yas afundou o rosto na minha costa, rindo.
— O que... o que, mamãe?
— Ah, filha, a gente já tinha percebido que você e a menina Nicole se gostam.
— Eu gosto muito da sua filha, seu Marcelo. Se vocês me permitirem, eu quero tentar conquistá-la. – Nicole estava séria, mas sua fala despertou risadas de Yas.
— Amor...
— Desculpa...
— Filha, você tem todo o nosso apoio. Só cuida da nossa menina, a Rafaela é tudo o que temos nessa vida. – Rafaela levou a mão ao rosto.
— Vocês podem por favor para com isso.
Segurei o riso, mas Antonella, Ana e Yas não.
— Oh, Deus...
— Nicole, você quer dançar? – Alemão se aproximou.
— Não, tio, ela não quer. – Rafa falou séria.
— Desculpa, sobrinha.
— Isso aí, minha filha. Não o deixa arrastar asa pra cima da sua mulher...
— Papai!
— Vamos dançar? Eu adoro pagode. – Fiquei de pé.
— Sou bem mais ou menos, amor...
— Te ensino, então vem...
Puxei Yasmin e fizemos uma rodinha, onde Nicole dava um show. Ela e a loira não paravam de se olhar. O resto da noite foi maravilhosa, eu nunca havia ido a uma festa tão animada. Sem frescuras, sem regras, apenas diversão leve e boas risadas. Pessoas simples e calorosa, muito diferente das festas que passei a vida frequentando.
— Quero ch*par você...
— Então me ch*pe, amor, quero sua boca em mim...
Yas tirava a minha roupa com pressa, enquanto esbarrávamos nos móveis em meu quarto. Sentei na beirada na cama já despida, vendo a mulher que amo se agachar a minha frente. Yasmin me fez abrir ainda mais as pernas, segurei a coxa com mais força quando senti a língua macia passar vagarosamente sobre a minha intimidade. Pelo fogo que ardia em nós, aquela noite seria muito quente.
Acordei muito cedo naquela segunda, Lara ainda dormia quando deixei a sua cama. Havia recebido uma mensagem que acabou me deixando um pouco ansiosa. Encontrei Antonella na cozinha. A morena preparava o café da manhã. Sentei em uma das cadeiras altas da bancada.
— Você parece preocupada. – Ela colocou uma xícara com chá a minha frente.
— Recebi uma mensagem da Luna. A Camille quer que eu vá vê-la, acredita nisso? Quer me pedir perdão. – Ri sem humor.
— Lara me disse que você não tá tão bem assim. – Encarei Antonella. — Ela disse que você tem pesadelos a noite e suas mãos, elas vivem tremendo.
Aspirei o ar com calma.
— O que tá querendo dizer?
— Que talvez você precise olhar nos olhos daquela mulher uma última vez e dizer a si mesma que ela não pode mais te machucar. – Fechei os olhos, toquei a minha cicatriz. — E ela não pode, Yas.
— Lara não me deixaria ir, eu também não sei se quero isso. – Fui sincera. — E se eu realmente estiver quebrada? E se não houver conserto?
— Minha deusa, você é uma das mulheres mais fortes que conheço, você não tá quebrada. Não deixa essa mulher viva em tua vida, não dê espaço pra ela...
— Eu vou com você. – Olhei imediatamente para trás.
Lara me olhava com uma expressão extremamente séria. Ela ouviu a tudo?
— Amor, não é preciso...
— Eu vou com você, Yas. Se isso for te deixar dormir bem a noite, então vamos fazer. – Mordi a bochecha por dentro.
— Não quero que se sujeite a ver aquela mulher...
— Também preciso olhá-la na cara, sinto que não vou conseguir seguir sem isso. – Soltei o ar com calma. — E você mais do que ninguém necessita disso, amor.
Talvez seja o que devo fazer, se isso ajudar a exorcizar os fantasmas que vivem a me assombrar.
— Tudo bem, amor. Antes vou falar com os meus pais, eles precisam saber disso. Vai ser um pouco mais difícil de convencê-los.
— Vou estar junto, vou garantir a eles que vou cuidar de você. – Yas se aproximou e eu a abracei pela cintura.
— Bom dia... – Ana entrou na cozinha, ela aparentava muito cansaço.
— Você tá bem? – Lara foi até a ela. — Ana, você tá ardendo em febre.
— O que? – Antonella se aproximou, preocupada, passou a medir a temperatura da namorada. — Ana, você precisa de um banho gelado.
— Vou comprar remédio. – Fiquei de pé.
— Traz paracetamol, amor. – Lara me deu um selinho.
Deixei o apartamento e no momento em que coloquei os pés na calçada, pude sentir o meu coração acelerar, olhei para os lados, senti como se tudo estivesse acontecendo outra vez. Sentei na estreita calçada, puxei o ar com calma.
“Você tem o controle, você tem controle...”
— Yasmin. – Olhei para cima e dei de cara com a última pessoa que gostaria de ver. — O que você tá sentindo?
Caterine se agachou a minha frente, segurou as minhas mãos.
— Deus, você tá gelada. – Ela abriu a sua bolsa e tirou de lá o celular. Discou o número de alguém. — Lara? Lara, a Yasmin tá aqui embaixo e parece estar muito mal.
— Não...
— Sim, não demora... – Ela finalizou a ligação.
Franzi o cenho.
— Não precisa me olhar dessa forma, eu não estou aprontando nada. – Os seus fios estavam mais longos.
— Não é como se você gostasse de mim...
— É, eu sei. Já foi assim, mas agora... agora não é mais.
— E por que eu deveria acreditar?
— Te julguei errado, eu queria de volta algo que já não era mais meu há muito tempo.
— Nunca mais será seu. – Ela riu.
— Sim, eu sei bem que é assim. – Amenizei a minha expressão.
— Amor, amor, o que aconteceu? – Lara se ajoelhou a minha frente, tocou a minha face. — Yas...
— Amor, se acalma. – Peguei suas mãos entre as minhas. — Já passou.
Sim, definitivamente, eu teria que olhar Camille nos olhos e me convencer de uma vez que ela não poderá mais fazer mal algum.
— Vamos subir...
— O remédio da Ana, preciso comprar. – Fiquei de pé.
— Eu vou com você... – Lara olhou para Caterine. — Cat, desculpa, eu não...
— Tá tudo bem, Lara. Eu volto outra hora. Pode ser? – Caterine me olhou rapidamente.
Eu estava agradecida, porém orgulhosa demais para dizer.
— Sim, você pode sim. Obrigada por te me avisado.
— Cuida da sua ruiva, eu já vou indo... – A mulher se afastou.
— Teve lembranças ruins? – Lara me analisava com preocupação.
— Foi involuntário, quando percebi... – Mordi a bochecha por dentro.
— Tudo bem, meu amor. Vem cá. – Fui envolvida em um abraço apertado. — Tô aqui com você, minha linda.
Fechei os olhos, me permiti ficar um pouco ali.
Fomos a farmácia, Ana ficou de cama com Antonella ao seu lado. Lara avisou a mãe que a irmã estava doente e em pouco mais de meia hora, Telma e Joaquim apareceram. Fui para casa em um carro de aplicativo, Lara ainda tentou me convencer de que me levaria, mas não aceitei.
— Cheguei... – Deixei as minhas chaves sobre um pequeno cômodo.
— Tô na cozinha. – Nicole respondeu.
Me aproximei, ela cortava alguns legumes. Fiquei escorada na geladeira, a olhando.
— Fala logo... – Não segurei a risada.
— Como foi depois? – Ouvi o seu suspiro.
— Eu ainda não acredito que falei mesmo tudo. – Nicole passou as mãos sobre a testa. — Deus, eu estava tremendo, senti como se fosse vomitar...
Ri alto.
— Para!
— Desculpa! Continua...
— Nunca me senti tão fora do controle, Yas, nem quando o meu pai... – Ela se virou. — Não era daquela forma que eu queria dizer, eu nem sei se realmente diria um dia.
— Ainda bem que disse... – Nicole sorriu. — Ela precisava de um empurrão, a Rafa é uma mulher extraordinária, mas foi muito machucada por uma grande filha da puta. Tenha paciência e principalmente, não a faça sofrer.
— Você me quebraria?
— Pode ter certeza que sim. – Nicole riu.
— Ah, ela vomitou na sua cama.
— O que?
— Eu limpei tudo, troquei a colcha. – Nicole deu de ombros.
— Mas por que na minha cama?
— Quando chegamos ontem, ela bateu o pé que queria dormir na sua cama. Eu nunca havia a visto daquela forma. Não pude contradizer, a sua amiga fica muito assustadora quando tá daquele jeito...
Respirei fundo.
— Tá me devendo uma colcha nova...
— Eu? Mas...
A deixei na cozinha, fui para o meu quarto e tomei um longo banho.
— Toc, toc... – Rafaela entrou em meu quarto.
— Trouxe uma canja. – Nicole estava junto.
— Obrigada. – Nicole me entregou.
O cheiro estava ótimo.
— Falamos com a Lara.
— Eu já tô melhor.
— Por que não nos disse nada? – Nicole cruzou os braços.
Ela e a loira me olhavam com desagrado.
— Não quero estragar essa paz.
— Você não pode me esconder essas coisas. Eu sou a sua amiga desde sempre. – Mordi a bochecha por dentro.
— Minhas mães estão me dando bronca?
Rafaela e Nicole se olharam. A pele pálida de Rafa a denunciava sempre.
— Depois me dão bronca, me diz que tá feliz. Eu quero saber como tá se sentindo. – Rafa coçou a cabeça.
— Passei muita vergonha ontem...
— Não, você deu um passo importante. Olha pra mim... – A loira teve a mão afagada por Nicole. — Vai ser feliz, dá uma chance real.
— Eu tô dando, eu... eu gosto dessa fresca.
— Ei?
Rafa riu, abraçou Nicole.
— Força do habito.
A duas ficaram se encarando. Me senti orgulhosa.
— Ok, já chega. Vamos parar com tanta melação. Quem vai pagar minha colcha?
Nicole apontou imediatamente para Rafaela.
Alguns dias se passaram, falei com os meus pais sobre a visita a Camille e como era de se esperar, eles foram completamente contra, entretanto, eu os convenci que precisava daquilo, precisava fechar aquela ferida. Chegamos a São Paulo há alguns minutos e nos encaminhávamos para um hotel. Lara estava ao meu lado, não me deixou um segundo sequer.
Camille não estava na prisão, o maldito advogado conseguiu sua transferência para uma clínica psiquiátrica.
— Você tá sendo muito corajosa. – Luna levou a pequena xícara aos lábios.
— Não sei se é coragem, ou apenas um desejo imenso de vê-la presa naquele lugar. – Fui sincera.
— Seja qual for a motivação, exigi coragem. – Lara apertou a minha mão.
— Chegou a hora. – O advogado que nos acompanhava, avisou.
— Vou tá lá o tempo todo... – Minha mulher beijou a minha mão.
— Obrigada... – Sussurrei.
A clínica psiquiátrica ficava uma pouco afastada da capital, demorou quase uma hora para chegarmos e não posso mentir, o meu estômago revirava e as minhas mãos suavam bastante. Fomos acomodadas em uma sala particular, o advogado sumiu por alguns minutos e quando voltou, Camille estava bem atrás.
Os seus olhos foram em direção a Lara, pude ver o ódio presente neles.
— Pensei que viria só. – Sua voz me causou repugnância. — Você outra vez, Luna.
— Você não tá em posição de exigir alguma coisa, mamãe. Tem muita, muita sorte que a Yasmin aceitou vir.
— É, e trouxe a sua guarda-costas. – Camille sentou à nossa frente.
— Não vejo arrependimento algum em suas atitudes. – Lara falou, a sua voz não saiu amistosa.
— Você estragou o momento, querida... – Ela jamais iria mudar, não havia salvação para a mulher a minha frente.
— Lara também merece um pedido de desculpas, afinal você quase a matou. – Tentei soar menos irritada do que estava.
— Foi só uns arranhões... – A cretina teve a audácia de rir.
— Esses arranhões vão te custar o resto da sua vida. – Sorri, eu precisava extravasar, precisava arrancar da minha alma toda a merd* que essa infeliz deixou. — Não imagina o quanto é maravilhoso te ver aí...
— Eu vou sair daqui...
— Não, você não vai. Se sair, vai direto pra uma minúscula salinha, vai ver o dia através de uma janela, ter outras amigas pra compartilhar o resto da merd* da sua vida. – Continua, Yas, você está no controle. — E eu? Vou ficar com a mulher que amo, vou apagar da minha memoria o maldito dia em que te conheci.
— Você não vai, Yas, você vai se recordar de mim até o teu último suspiro, vai lembrar dos meses maravilhosos em que esteve sob os meus domínios e quando estiver em frente ao espelho e olhar pra essa cicatriz no seu ombro, vai sentir tudo de novo e de novo...
Lara apertou a minha mão.
— Essa mulherzinha aí? Ela vai enjoar de você, vai te abandonar e...
Tudo que seguiu foi absolutamente rápido, imprevisível. O som ecoou por toda a sala, chocando a todos. Camille foi parar no chão com a força do impacto.
— Eu adoraria poder te dar a surra que você merece, seu demônio, mas a justiça se encarrega do resto.
— Lara...
— Ela vai ser muito amada, vai ser cuidada, a porr* da sua existência vai ser só uma lembrança distante. Eu posso te garantir isso, sua vagabunda. A minha mulher vai ser muito feliz...
— Sua...
Camille tentou ir para cima de Lara, mas um dos enfermeiros entrou na sala e ela foi mobilizada. Eles nos mandaram sair, o advogado de Camille disse que entraria com um processo contra Lara.
— Obrigada, eu estava quase fazendo o mesmo. – Luna falou assim que entramos no carro.
Ainda estava boba com a atitude de Lara.
— Não chegou nem perto de ser o suficiente... – A sua face estava avermelhada.
A olhava com devoção, havia uma mistura engraçada de sentimentos em meu interior.
— Lara?
— Oi, amor... – Ela me encarou.
— Obrigada. – Sua expressão suavizou no mesmo momento. — Eu nem sei o que dizer.
— Você não precisar dizer nada, minha vida, eu só quero que a partir de hoje as coisas possam ser mais leves pra você e se em algum momento não estiver, eu vou tá lá por você.
Senti os meus olhos arderem.
— Você é um sonho, Lara. – Me escondi na curva de seu pescoço. — E muito forte também, me lembre de nunca mais te irritar.
Luna e Lara riam, até mesmo o advogado gargalhou.
Eu iria conseguir, Camille jamais voltaria a se aproximar de nós, tudo aquilo ficou no passado e se manterá lá. Há uma vida para viver, eu ganhei uma nova chance de corrigir os meus erros e exatamente o que farei.
Por mim, por minha família, por Lara, por meus amigos.
Fim do capítulo
Adiantando, porque a noite vou estar no trabalho.
Beijos, meninas.
Obrigada pelos comentarios e por ainda estarem aqui.
Amo vocês...
Comentar este capítulo:
HelOliveira
Em: 06/06/2023
Vamos estar aqui até o final e depois na próximo história...RS
Camille tá cada vez pior...tem morrer e nascer de novo pra aprender algo....
Luna é uma.figura...
Ana doebtinha tadinha...Antonella vai cuidar direitinho dela...
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Lea
Em: 05/06/2023
Poderia jurar que a Ana não era virgem,bom tudo indicava que não era. As aparências enganam. Com certeza a Antonella vai ser maravilhosa,quando acontecer. E a Lara tem total razão em que, conversar é o melhor jeito para resolver quase tudo.
Essa versão da Yasmin,fofiqueira,foi a hilário. Querendo saber em primeira mão o futuro destino amoroso das amigas. Impagável!
OS HOTS DA YASMIN COM A LARA,SÃO MEMÓRAVEIS!!
Terapia Yasmin,isso é inevitável!
Camille ainda não entendeu que,mexeu com a família errada. Lara com certeza não escutaria tanta anseira,calada!
Camille ainda vai fugir dessa clínica,e o pai vai ajudá-la.
Bjus,Tany ! Bjus, Letícia!
Tany
Em: 06/06/2023
Ana foi uma fofa em guardar esse momento pra alguém que ela iria amar tão intensamente, Com toda certeza Antonella vai fazer esse momento ser inesquecível. Yasmin sempre preocupada com as amigas, ela também quer que todas experimentem essa sensação maravilhosa de estar amando. Os hots são feito com todo carinho possível, elas merecem esse momento com toda atenção. Lara é muito corajosa, fez o que todas estavam com vontade haha.
Será que ainda teremos uma reviravolta com a Camille????
Beijos Léa, obrigada pelo comentário.
Logo termos cap novo
Tany
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Jeh RZk
Em: 05/06/2023
Estamos aqui e queremos finalizar essa história com vcs ?
Tany
Em: 06/06/2023
Tão bom saber que continuam com a gente, seguimos até o fim. Logo teremos mais um capítulo, muita coisa boa ainda pra acontecer
Abraços..
Tany
Tany
Em: 06/06/2023
Tão bom saber que continuam com a gente, seguimos até o fim. Logo teremos mais um capítulo, muita coisa boa ainda pra acontecer
Abraços..
Tany
Sem cadastro
Em: 06/06/2023
Tão bom saber que continuam com a gente, seguimos até o fim. Logo teremos mais um capítulo, muita coisa boa ainda pra acontecer
Abraços..
Tany
Sem cadastro
Em: 06/06/2023
Tão bom saber que continuam com a gente, seguimos até o fim. Logo teremos mais um capítulo, muita coisa boa ainda pra acontecer
Abraços..
Tany
Sem cadastro
Em: 06/06/2023
Tão bom saber que continuam com a gente, seguimos até o fim. Logo teremos mais um capítulo, muita coisa boa ainda pra acontecer
Abraços..
Tany
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Tany Em: 06/06/2023
Muito bom saber que continuam aqui acompanhando nosso trabalho e que irão está nos próximos. A gente fica muito feliz com o apoio de vocês.
Camille não vai mudar, a mulher tem um gênio ruim de mais. Nem a filha aguenta. Ser cuidada por quem amamos e bom de mais.
Obrigada pelo comentário querida.
Tany