***
AVISO DE GATILHO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA EXPLÍCITA.
***
Capitulo 11
Marina observava de longe enquanto Alice e Carlos Eduardo conversavam e riam na mesa da cozinha. Era inegável a beleza acima da média do médico e, apesar de Alice ter assegurado que ele tinha gosto para homens, ainda se sentia incomodada com a intimidade dos dois. Racionalmente sabia que não havia motivos para aquilo, mas emocionalmente não conseguia agir diferente. Alice despertava nela sentimentos que nunca havia experimentado antes, prova disso era o ciúme que alimentava de qualquer pessoa que despertasse a atenção da médica, como vinha acontecendo em relação a Sininho.
Foi tirada de seus devaneios por Saulo, que apareceu ao seu lado falando sem parar sobre algum animal que precisava de cuidados. Apesar de não estar com cabeça para aquele assunto naquele momento, achou melhor sair com ele do que continuar com a tortura causada pelos próprios pensamentos.
Alguns peões já estavam no curral, enquanto o médico veterinário examinava o animal. Assim que Marina se aproximou, todos abriram espaço para que ela passasse. Parou em frente a eles, deu uma olhada no bicho, que parecia inanimado, e perguntou na forma prática de sempre:
— E então, doutor Rodolfo?
O médico respondeu sem parar o exame:
— Me parece botulismo bovino, dona Marina.
As expressões visivelmente confusas de todos, fez com que ele completasse:
— Doença da vaca caída.
A resposta fez com que os rostos confusos se desfizessem. O veterinário começou a passar algumas instruções aos peões e logo depois iniciou o tratamento do animal doente, com Marina acompanhando tudo de perto. Mais tarde, depois que doutor Rodolfo se despediu informando que voltaria no dia seguinte para olhar o animal, Marina pediu que Santiago a acompanhasse até o escritório pois precisaria de um favor. O empregado respondeu rapidamente:
— Sim, senhora. Só vou deixar os cavalos prontos para a doutora e o namorado dela.
Marina, que já estava se dirigindo até a porteira do curral, parou e permaneceu de costas alguns segundos. Precisou respirar antes de se virar e perguntar devagar para Santiago:
— Os cavalos para quem?
Santiago percebeu que havia dito algo que não devia e imediatamente tentou consertar:
— A doutora Alice pediu para deixar dois cavalos, dona Marina...
Os outros peões já haviam parado as tarefas e prestavam atenção na conversa que se desenrolava.
Marina se aproximou de Santiago antes de dizer:
— E o segundo seria para quem?
O empregado engoliu em seco:
— O doutor da cidade grande.
Olhando para todos os empregados, disse em um tom de voz muito sério:
— Escutem aqui, todos… Nem eu, nem ninguém nessa fazenda, cuida da vida pessoal de vocês. Fora do serviço vocês podem se relacionar com quem quiserem, da forma que quiserem... Então, mesmo achando que não deveria ser preciso, vou deixar bem claro: Vocês também não têm que tomar conta da vida de ninguém. Se eu ouvir mais alguma fofoca, de quem quer que seja, o responsável vai para o olho da rua. Estamos entendidos?
*****
Sininho estava varrendo as folhas caídas no quintal, na frente da casa, quando ouviu o barulho dos cascos dos cavalos. Obviamente alguém estava se aproximando e essa era a deixa para que ela fugisse dali e voltasse quando não houvesse ninguém. Essa era a realidade de sua vida: se escondia das outras pessoas sempre que era possível, evitava ao máximo qualquer contato pessoal e passava mais tempo com os bichos do que com seres humanos.
Quando ia se virar, querendo fugir em direção ao seu quarto, percebeu que Marina a olhava da varanda. Hesitou parada sem saber se saía dali sem nenhuma justificativa, já que seu trabalho visivelmente não havia terminado, ou se, contra sua vontade, continuava varrendo e torcendo para que, quem quer que estivesse chegando, não notasse sua presença. Os instantes de hesitação foram suficientes para que o barulho ficasse mais alto e os dois cavalos se aproximassem mais, chegando frente à casa.
Marina desceu os degraus da varanda e foi ao encontro dos recém-chegados, dizendo antes que eles pudessem descer dos animais:
— Fizeram um bom passeio?
Foi Carlos Eduardo quem respondeu, com um sorriso no rosto, sem nem desconfiar do que o tom de Marina expressava:
— Um ótimo passeio. Esse lugar é realmente fantástico.
Já conhecendo muito bem Marina, Alice foi mais perspicaz em captar o leve toque de ironia na voz, quando ela disse:
— Não posso discordar de você, doutor.
Ainda sem entender o motivo da leve irritação dela, Alice tratou de mudar de assunto, enquanto descia do cavalo:
— Estou morrendo de fome. O almoço já deve estar saindo... Vamos?
Depois do almoço, foi preciso que Alice se trancasse no escritório com Marina para tentar amenizar a cara fechada que a acompanhou durante toda a manhã:
— Eu já te disse milhares de vezes que ele é... Você sabe, ele tem gosto por homens, não por mulheres.
Alice acariciava as mãos de Marina enquanto tentava segurar o riso ao ver a cara fechada dela. Já havia perdido as contas de quantas vezes precisou dizer que Cadu era um grande amigo e que nada jamais aconteceria entre eles, pois o médico gostava de mulheres tanto quanto ela gostava de homens.
— Ainda bem que ele vai embora amanhã.
A resposta fez com que Alice enfim soltasse o riso preso na garganta. Marina a olhou feio antes de dizer:
— Pode rir, mas estou falando sério. Até gostei dele, mas não aguento mais os peões dizendo que ele é seu namorado.
Alice deu a volta na mesa e se sentou no colo dela. Segurou seu rosto entre as mãos antes de dizer, olhando-a nos olhos:
— Eles podem dizer o que quiserem... Mas minha namorada é você.
*****
Sininho foi até o celeiro buscar sacos de milho, a pedido de Saulo. Estava de costas para a porta, quando ouviu o barulho de alguém entrando. Ao se virar, encontrou Nestor, que sorria de uma forma que lhe causava arrepios:
— Precisa de ajuda, Sininho?
Apressadamente fez que não com a cabeça, pegou os sacos que havia encontrado até então e tentou caminhar até a porta, mas Nestor bloqueou a passagem. O homem continuou com aquele sorriso horrível no rosto enquanto falava com suavidade:
— Calma, parece até que você tem medo de mim.
Fez sinal indicando que queria sair, mas Nestor fechou a porta atrás deles. A atitude a fez tremer inteira, pois o celeiro era consideravelmente longe da casa e não sabia se alguém poderia ouvi-los ali. Olhou ao redor procurando qualquer coisa que pudesse usar para se defender, se fosse preciso, mas só encontrou um cabo de vassoura velho. Tentando parecer ter mais coragem do que realmente tinha naquele momento, deixou os sacos de milho na chão e apontou o pedaço de madeira para o homem. Percebeu que aquilo divertiu ainda mais Nestor, que aumentou o sorriso. O homem se aproximou devagar, levando Sininho realmente a se desesperar e numa tentativa atabalhoada de se proteger, mais por sorte do que por mérito, acabou acertando-o em cheio na cabeça. Aquilo fez com que o peão ficasse possesso de raiva, o sorriso deu lugar a uma expressão fechada de ódio. Completamente vulnerável, Sininho viu Nestor arrancar a madeira de suas mãos com a facilidade de quem tira doce da boca de uma criança. Ele tinha o dobro do seu tamanho e facilmente avançou contra ela, primeiro acertando uma bofetada em seu rosto, fazendo com que Sininho começasse a gritar por socorro desesperadamente, o que fez Nestor parar por alguns segundos com a surpresa, mas também fez com que ele ficasse com mais raiva ainda. Avançou sobre ela novamente, segurando-a pelo pescoço com as duas mãos:
— Sua vadia mentirosa.
Nestor a manipulava com tanta facilidade que Sininho parecia uma boneca em suas mãos. A empurrou tão forte que a fez bater o ombro direito em uma das vigas de madeira, por causa da dor soltou um grito, abafado pelo barulho de mais uma bofetada que lhe acertou o rosto. Quando olhou para cima, Nestor já estava novamente a segurando pelos braços enquanto dizia:
— Você quer gritar? Vou te dar motivos para gritar.
O soco que recebeu atingiu todo o lado esquerdo do seu rosto. A dor foi tão lancinante que achou que desmaiaria. Na verdade, não saberia dizer se realmente desmaiou, pois todos os sentidos ficaram confusos.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 25/05/2023
Esse Nestor é uma escroto.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]