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Meu Passado Com Você por Bibiset

Ver comentários: 2

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Palavras: 4287
Acessos: 1196   |  Postado em: 10/05/2023

Notas iniciais:

* Contém descrição sobre ferimentos de queimadura. 

Capitulo 23 - Tutorial do Camaleão

No dia seguinte Micaela correu para o estúdio para adiantar as coisas da semana, segunda feira sempre era atribulada, com clientes pedindo reuniões e projetos para serem entregues e conferidos. Acelerou Tiago o máximo que conseguiu, mas o garoto parecia mais lento que o normal, foi até a recepção e pediu para Fabíola que todas as ligações para ela fossem redirecionadas para o assistente. O garoto olhou para a chefe em estado de choque.

- Você só precisa ser educado, qualquer dúvida anote! Não tente adivinhar nada e nem esticar o assunto, só anote o recado e amanhã eu resolverei tudo, ok?

Ambos ficaram olhando apreensivos em sua direção, ela parecia apressada, mas mal sabiam que sua urgência era apenas para ir até uma loja de brinquedos.

Na parte da tarde, na sessão de fotos, acabou tendo um pequeno desentendimento com Isabella que pareceu não ficar feliz com a forma que ela conduzia as fotografias com a paciente. Na opinião da fisioterapeuta aquilo que ela propunha seria uma exposição desnecessária, enquanto tanto para a paciente quanto para Micaela seria algo interessante para se tentar. Helena era uma paciente adulta, com seus vinte anos e cicatrizes por quase oitenta por cento do corpo. Ela possuía enxertos extensos, os braços e pernas eram deformados pelas cicatrizes profundas, e ela não possuía os dedos dos pés e das mãos. Mas seu rosto era quase intacto ao acidente que sofrera, poucas cicatrizes no pescoço e queixo, o rosto era bastante expressivo e de uma alegria genuína que conquistou Micaela desde o momento em que começaram a sessão.

- Se você quiser pode se posicionar assim… - A morena concordou quando a paciente sugeriu a pose que gostaria de fazer. - Incomoda ou é dolorido?

- Não, eu acho que consigo…

Helena fez o que pediu, se posicionando para câmera, numa pose ainda melhor que instigou exclamações positivas da fotógrafa.

- Cuidado com seu pé, Helena. - Isabella preocupada quase saía em todas as fotos, os braços sempre a postos para apoiar a garota.

- Eu estou bem. - Helena sorria feliz, encantada com a forma como Micaela conduzia suas fotos, dando maior atenção para sua capacidade em se expressar corporalmente e não apenas para o rosto sem cicatrizes, como a maioria dos fotógrafos faria.

- Você está maravilhosa, continue assim Helena! - A morena clicava dezenas de vezes, também mudando de posição e ângulo da câmera. - Isa, por favor… Pode pegar aquele estojo para mim?

Micaela pediu sem olhá-la, focada em não perder nenhum movimento da outra. Isabella bufou indo pegar o estojo e entregando de qualquer jeito para ela.

- Isa… Tá tudo bem? - A morena parou imediatamente e franziu as sobrancelhas, colocando a câmera sobre o apoio.

- Tudo bem. - Isabella apenas deu de ombros, disfarçadamente olhando de lado para a paciente que observava tudo.

- Jura? - Ela se aproximou tocando em seu braço, os olhos buscando respostas nas íris azuis.

- Acho melhor não demorarmos, logo o pai de Helena virá buscá-la.

- Ok, mas vamos conversar depois, tudo bem? - A morena confirmou garantindo que não desistiria.

- Helena, agora a gente pode tentar aquela outra que você tinha sugerido no começo… - A morena puxou alguns tecidos de um baú, perguntando qual a garota mais gostava, oferecendo opções que ressaltavam seu tom de pele, juntamente com as marcas que traziam texturas interessantes para se explorar.

A sessão de fotos terminou cerca de vinte minutos depois e quando estavam a sós, a morena fechou a porta, perguntando com cuidado:

- Você refletiu? É isso, não é? Se arrependeu do que fizemos… - Ela perguntou quase retoricamente, os ombros já tensos.

- O quê? Não, claro que não. Ontem foi maravilhoso, por que eu estaria arrependida? - A mulher estranhou aquela pergunta, enquanto dobrava os tecidos que usaram, para guardá-los de volta ao baú. - … É só que… Eu tenho medo que…

- Eu também! - A morena interrompeu sua fala, se aproximando dela. - Era o que eu ia dizer ontem a noite… Tô apavorada! De não saber o que vai acontecer ou onde isso vai parar… - Micaela sentia um peso sair das costas, ao desabafar com ela.

Isabella pausou com um tecido entre as mãos, as sobrancelhas se uniram em dúvida, tentando entender o que a outra dizia.

- Espera… Então você também acha que essas fotos não terão uma boa repercussão? - Ela tentava entender então, como uma profissional como Micaela aceitara aquele trabalho, claro que dinheiro era o que movia qualquer negócio, porém acreditou realmente que ela fazia aquilo por outros motivos pessoais.

- O quê? Quais fotos? - A morena também franziu o cenho.

- Estas, ora! - A fisioterapeuta apontou ao redor.

- Por que eu acharia isso? Está sendo um dos trabalhos mais interessantes e inspiradores que já fiz em toda minha carreira. - Ela tentava entender onde diabos se perderam naquela conversa.

- Mas você mesma disse… Que estava com medo e que… Espera, estamos falando da mesma coisa?

Micaela riu um tanto nervosa. Não, não estavam.

- Esquece. - A morena balançou a cabeça ainda rindo da confusão ridícula e se apressou em guardar as coisas, para que pudessem buscar Lis na escolinha a tempo de irem para casa lanchar alguma coisa e irem para o parque.

- Do que tem medo, então? - Isabella perguntou segurando levemente seu cotovelo.

- De nada! E por que você acha que minhas fotos não terão boa repercussão? Isso é… um tanto ofensivo de se dizer, sabia?

- Não, você não entendeu.

- Não entendi mesmo. - E riu um tanto irônica mais uma vez.

- Mica, olha pra mim… - A morena parou olhando-a de frente, os braços cruzaram-se em sinal de defesa sem que percebesse.

- Do que tem medo? - A outra pegou em seu rosto, trazendo-a para perto, forçando os braços a descruzarem-se e tomarem o lugar nos bolsos da frente da calça.

- Me responde primeiro. Por que minhas fotos não teriam boa repercussão?

Travavam uma batalha de olhares, cada qual com suas dúvidas e aflições que não possuíam qualquer conexão, mas o laço estava criado e para que se desfizesse o mal entendido uma das duas teria que ceder. Isabella suspirou.

- Eu acho seu trabalho formidável! Espera, escuta… - A morena tentou sair de suas mãos. - Não tenho motivo ou interesse nenhum em mentir para você, simplesmente acho que tem um olhar além do plano material… Você enxerga com a alma e a foto em que estou com a Lis está do lado da minha cama por um motivo… Olhar para ela é mais do que relembrar um dia no passado, é a certeza de que ali foi flagrado algo que eu jamais poderia expressar em palavras, é a única foto que eu tenho que mostra isso. Você consegue captar isso tão facilmente e eu não tenho dúvidas de que é uma fotógrafa incrível. - Isabella a olhava no fundo dos olhos, a íris azuis despidas, de qualquer deboche ou ironia, transmitindo toda verdade que pensava.

- Certo, mas… - A morena acreditava nela, mas certa de que algo ainda a incomodava.

- Mas… Eu acredito no potencial das pessoas, sei que isso… - Ela agarrou a própria pele. - É só uma capa… Quando Diana me contou das fotos eu fiquei muito apreensiva, essas crianças, essas pessoas… Elas não são apenas, isso! - Pegou um folheto da clínica que estava em cima da mesa. Apontou a palavra que vinha como subtítulo da Ortosoul, Clínica para “queimados”.

- Claro que não, isso é óbvio!

- Mas para essa sociedade fútil, sim! Tenho adultos aqui que nunca aceitaram tirar fotos, que encontram dificuldades em arranjar empregos, por que não se qualificam no perfil da empresa, mas é mais do que óbvio o motivo real.

- O ser humano pode ser podre, Isa…

- Sim, exato! E quando se coloca uma pessoa como Helena… - Ela se emocionava e pausou alguns segundos se recompondo, os olhos cheios d’agua. - Helena é a pessoa mais doce, mais divertida, mais inteligente… Seria uma excelente funcionária em QUALQUER empresa… Mas foi rejeitada dezenas de vezes, por que quando ela faz uma entrevista eles adoram o rosto bonito, mas rejeitam os braços, os dedos, o corpo… Ela não serviu para trabalhar em uma joalheria de renome, sabia? Segundo eles poderia ser prejudicial para as vendas e para os clientes terem contato com uma pessoa em situação tão…. Complicada e triste. “Não saberiam lidar com ela”, disseram.

A fisioterapeuta queria gritar de raiva, lembrando-se do dia que Helena chegara chorando em sua sessão de fisio, os olhos pequenos e inchados de tanto chorar. Ela fazia as sessões na clínica graças ao convênio médico pago pelo pai, mas Helena já era adulta, seu sonho era ser independente financeiramente do pai que já era aposentado.

- Esse mundo é cruel, Mica… - Isabella finalizou emocionada, o choro preso com dificuldade.

- Ei… - A morena abraçou seu corpo, acariciando suas costas. Beijou seus ombros antes de dizer baixinho, mas o suficiente para que ela escutasse. - Eu sempre tentei te dizer isso… Quando éramos jovens. Morria de medo desse mundo, Isa… Do que podia acontecer, mas eu estava errada…

Isabella saiu do abraço olhando em seus olhos, as lágrimas pesavam e se desprendiam em direção aos lábios, agora vermelhos.

- Não , você estava totalmente certa e eu aprendi, Mica. Tudo que disse foi importante pra mim de certa forma, mesmo me machucando de forma tão cruel tanto quanto o mundo lá fora. Eu entendi.

- Desculpa. - A morena queria poder expressar todo sentimento que tinha, mas não encontraria palavras para tanto.

- Não tem que pedir desculpas, você estava certa. Eu era uma inocente iludida… - Ela fungou. - Achava que poderia enfrentar tudo apenas com os sentimentos que eu tinha.

- E você pode! - A morena pegou em seu rosto. - Helena pode e DEVE enfrentar qualquer um, se sentir que consegue. Desistir não pode ser uma opção, nunca.

- Não podemos, Mica… - A fisioterapeuta respondeu convencida de suas conclusões. - Não quero iludir meus pacientes dizendo que serão capas de revista da Vogue quando eu sei a forma como são encarados na padaria da esquina de casa.

- Eu tive muita dificuldade em fazer você entender isso, no passado... De que o mundo era cruel e que precisávamos nos esconder dele, fugir. Mas com o tempo percebi que meu maior obstáculo era eu mesma. - A morena fitou os olhos azuis. - Meu maior inimigo se chamava Micaela. Era meu eu criança que não aceitava o divórcio dos pais, meu eu apaixonada pela filha da minha madrasta, meu eu filha de pais preconceituosos. Não eram ELES, entende? Era somente… eu.

- Como pode dizer isso? Você era uma locomotiva de emoções, você… Você enfrentava qualquer um, e eu te admirava por isso.

- Eu achava que enfrentava, mas eu era na verdade… Apenas excelente em me camuflar.

A morena sorriu com uma expressão de pêsame pelo que fora um dia. Isabella tentava absorver suas palavras, sua maneira singular de pensar. Ela adorava quando Micaela falava… Sua voz possuía o poder incrível de acalmá-la, o hálito quente e saboroso que saía de seus lábios era recebido com ânsia por ela, na vontade absurda de beijá-la a todo segundo. Simplesmente beijá-la até que o dia terminasse. Que dormissem abraçadas como ontem, sem mundo cruel, só elas. Mas o tempo, o mundo, as pessoas… São coisas irrefreáveis e impossíveis de se controlar. Não há como fugir de algo que você também faz parte e a hora avançada lhes tirava a oportunidade de continuarem aquele assunto tão profundo, quando perceberam que já precisavam ir embora, a conversa mais uma vez ficou para depois.

Chegaram na escolinha de Lis com uma Isabella pensativa. Após saírem da clínica no carro da morena, se dirigiram direto para lá. A garota correu em direção à Micaela pulando em seu colo, a mochilinha saltitando em suas costas, o uniforme imundo de parquinho, o rosto radiante por ter a morena buscando-a ali.

- Hoje eu fiz isso, olha! - Ela mostrou um papel enrugado de tanta tinta guache.

- Uau!!! Você pintou?

- Ahaaam.

- Oi né, filha… Mereço um abraço também? - Isabella puxou a criança para o colo beijando seu rosto e cabelos. Uma cena que Micaela gostaria de gravar para sempre na mente, como sempre.

Foram para casa da fisioterapeuta, fizeram um lanche rápido e logo estavam a caminho do parque, agora no carro da morena. Lis chegou já correndo pelo local, explorando o parquinho e a pista de skate que naquele horário estava lotada.

- Lis, calma… Devagar! - Isabella se desdobrava em acompanhar as pernas pequeninas e ágeis da outra.

- Eu comprei uma coisa pra ela… - A morena mordeu o lábio preocupada no que ela iria pensar sobre. - É um patins para crianças, achei que ela poderia ter alguma atividade que a distraísse… Para não pensar tanto em guloseimas. Mas super entendo se você não aceitar.

Isabella sorria enquanto ela falava, com vontade de agarrá-la ali mesmo e se embrenharem no mato daquele lugar, saciar a sede que estava pela abstinência das horas sem sentir sua boca.

- Isa… Fala alguma coisa. - Micaela preocupava-se, cutucando-a disfarçadamente.

- Boba! - Isabella beliscou sua cintura. - Lis já é caidinha por você, se continuar mimando ela com presentes assim… Tá perdida, sabia?

Para corroborar com a mãe a garota voltava correndo saltitando.

- Tia Mi, tia Miiii…

- Auuuu! - Micaela soltou quando ela a abraçou pela cintura num impulso quase lhe tirando o fôlego. Lis era uma criança ainda, mas possuía uma força descomunal pra sua idade, provavelmente herança do pai desengonçado.

- A “Tia Mi” tem uma coisa pra te dar. - A morena anunciou ansiosa para dar logo o presente.

Minutos depois, alguns gritos entusiasmados puderam ser ouvidos por todo o parque, quiçá bairro. Isabella gritava de volta pedindo calma, uma Micaela sorridente desembrulhava tudo e tentava colocar o patins nos pés inquietos de Lis. Perceberam que a joelheira tinha que colocar antes, então tira o patins, coloca joelheiras, volta a colocar o patins. Cotoveleiras e luvas! Pausa para acalmar a ansiedade da criança. Pronto.

- Opa, faltou o capacete!

Muito bem equipada, entusiasmada e… Lá se vai o primeiro tombo. Felizmente nenhum choro, só ansiedade para descer na rampa de skate quase infartando a pobre mãe que tentava convencê-la a primeiro aprender a ficar em pé sobre as rodinhas. Andaram de mãos dadas, Lis no meio e adultas nas pontas. Pouco a pouco ela se acostumava e deslizava mais confiante, seguindo as dicas da morena que andara muito de skate, bicicleta e patins na infância.

- Sua mãe morria de medo quando andava de bicicleta comigo, Lis. - Micaela confidenciou.

- Você também queria ir na velocidade de uma moto! - A fisioterapeuta bufou refutando.

- E você se agarrava no guidão que nem uma carrapata! - A morena desenterrava aqueles momentos sem receios do que poderia vir junto com as lembranças divertidas delas.

Lis alheia à conversa das duas tentava voar com os patins, apoiando-se nas mãos da mãe e da Tia Mi.

- As rodinhas são feitas para rodar no “chão”, filha! - Isabella reclamou, como sempre, tentando mostrar o certo para ela. Toda pragmática.

- Tá na hora do upgrade, Lis! - Micaela pegou a garota no colo, sequestrando-a da mãe e correu.

- Micaelaaaa!!!

Quando chegaram na principal pista de skate, com uma Isabella ofegante logo atrás, Micaela sentiu a energia nostálgica da adolescência. Não possuía mais o “gás” de um jovem menor de idade, mas estava disposta a fazer o melhor para apresentar aquele mundo à Lis. Motivo? Ela não saberia descrever, sequer tentava refletir, foi com essa vontade apenas que puxou Lis por uma micro rampa que nada mais era que uma lombadinha para separar os espaços. Lis estava tão empolgada que não sentia medo, pelo contrário, estava segura demais e numa manobra que a morena não antecipou a criança caiu novamente, desta vez um pouco mais forte do que a primeira, mas sem machucar seriamente.

- LIS! - Isabella soltou correndo até ela, o coração aos pulos.

Lis começou a chorar assim que ouviu o grito da mãe, Micaela então interviu, mesmo sabendo que não tinha total direito de fazê-lo, contudo precisava acalmar as duas para que não se formasse um trauma ali.

- Isa, tá tudo bem… Posso falar com ela? - Tocou em seu ombro, transmitindo uma segurança e confiança que Isabella não pôde contestar.

Apenas anuiu com a cabeça e com o coração na mão deixou a filha ainda chorando no chão, enquanto Micaela se agachava e sentava-se do lado dela.

- Doeu? - A morena simplesmente perguntou, enxugando uma lágrima do rostinho sujo.

- Sim! - A menina fungou tristemente, os olhinhos negros perdidos.

- Sinto muito por isso, é bem ruim mesmo quando dói. Eu já machuquei esse braço numa queda de skate e doeu MUITO também. - Mostrou uma cicatriz no braço esquerdo.

- Saiu sangue? - A menina pegou seu braço olhando mais de perto.

- Sim, bastante… Levei alguns pontos, mas depois aprendi como fazer para não cair mais daquele jeito. A dor me fazia lembrar, sabe? E eu não queria desistir, então não podia ter medo de tentar de novo, mas do jeito certo…

A menina assentiu muitíssimo atenta.

- Tia Mi… Eu chorei, mas agora eu aprendi. - Lis disse com voz mais firme e sem choro, somente o rostinho sujo entregava suas lágrimas que por ali passaram.

- Jura Lis? Poxa que legal, muito corajoso da sua parte… Acho que você vai cair mais algumas vezes, o que é normal… Mas o importante é aprender com cada queda e não desistir. Olha lá aquele rapaz caindo, viu?

- Moçooooo!!! - De repente ela gritou em direção ao garoto que se levantava do chão limpando a calça larga. O skate deslizara para perto delas.

Ele apenas acenou para ela, num sorriso sem graça, mas ela insistiu na interação:

- Doeu???

Ele riu e balançou a cabeça afirmando. Ela então olhou para Tia Mica, confirmando sua versão depois que o garoto pegou o skate e saiu pedalando.

- Lá vai ele de novo… - A pequena murmurou mais para si mesma do que para as duas adultas que a assistiam. - Tia Mi, me ajuda a levantar?

- Claro, meu amor. - A morena pegou ela por baixo dos braços, colocando-a em pé novamente. A garotinha tremeu ligeiramente nos primeiros segundos, mas logo em seguida estava gargalhando com as cócegas que a morena fazia em suas costelinhas magras.

Isabella engoliu o choro por diversas vezes enquanto assistia a cena mais fofa que presenciara em toda infância da filha. Micaela conseguiu lidar com uma questão que seria um pesadelo caso ela fizesse o que estivera pensando em fazer; simplesmente mimar a pequena e dar colo. Provavelmente também arrancar o patins dos seus pés. Exageradamente.

Ficaram por mais uma hora no parque, pararam apenas para comer algo na lanchonete e alimentar o estômago de dragão da pequena. Entraram no carro exaustas, mas Lis foi a primeira a sucumbir ao sono, desmaiando na cadeirinha que colocaram no banco de trás. Os patins ao lado, em uma mochila própria para patins, que a morena também havia comprado. Chegaram na casa da fisioterapeuta em poucos minutos.

- Prontinho, entregues! - A morena estacionou desligando o veículo.

- …

- O quê foi? - Micaela estranhou a mudez da outra, tirou o cinto e se aproximou puxando com cuidado o queixo de Isabella que tinha um olhar perdido fixado nas chaves do apartamento.

- Você foi incrível hoje…

- Foi só um presente, Isa. - Ela quase se desculpou tentando entender o por quê aquilo a deixava pensativa.

- Não é isso. - Os olhos azuis a fitavam de forma estranha, Micaela se assustou franzindo o cenho novamente.

- O que foi então?

- Eu “aprendi” a te esquecer… A dor me fazia lembrar… De te esquecer.

Micaela sentiu o peito gelar com a frase que ela metaforizava, a mesma frase que havia dito para Lis quando ela caiu.

- Isa…

- Eu sei, eu sei… Não foi algo intencional, aconteceu. Éramos jovens… - Ela murmurou com o semblante voltando ao normal, um sorriso meio de lado tentando amenizar o clima.

- Eu jamais quis te magoar, eu te amava.

- Mas… Por quê nunca me disse isso na época? Por quê continuou distante? - Isabella perguntou de supetão encarando a morena, uma curiosidade insana pela resposta.

Micaela deu de ombros, sem saber como explicar para ela que a insegurança e falta de experiência faziam ela acreditar que nunca seria o suficiente para fazê-la feliz, para lhe dar segurança e uma família. Era mais fácil e cômodo pensar que não enfrentando os problemas que existiam, Isabella seria poupada deles, sem saber que na verdade quando não se enfrenta certos problemas, aparecem mais tantos outros a partir destes. Mas tudo que ela sempre quis fora poupar Isabella.

- Eu não queria que as coisas ficassem piores do que já estavam… Você era maravilhosa e eu me sentia uma “praga” que poderia estragar sua vida.

- Entendo. - A resposta satisfez a fisioterapeuta, que pela primeira vez compreendia pelo menos algumas atitudes da morena, enquanto jovem. - Uma pena, nós poderíamos ter sido muito felizes, Mica.

Ela falava sinceramente, numa realidade nua e crua ao qual estavam inseridas. Não havia choro ou ressentimentos desesperados. Apenas um pesar, iminente, que as envolvia.

- E ainda podemos... - A morena arfou depois de dizer o que lhe ía no peito já há alguns dias.

Isabella sorriu gentilmente para ela, puxou-a para um abraço acolhedor, como fazia com a filha quando a mesma tinha sonhos impossíveis ou desejos extravagantes. Micaela de alguma forma sentiu isso, então a afastou delicadamente, e olhando fundo em seus olhos perguntou:

- Você acha que não?

- Prefiro não pensar sobre isso, Mica. - Seu hálito doce atingiu Micaela, inebriando seus pensamentos.

A morena queria poder levá-la para cima e mostrar como ela deveria sim pensar nisso, a forma como ficaram de sábado para domingo era a justificativa para que ela tivesse todas as preferências que precisava para pensar sim sobre aquilo.

- Acha que não poderíamos ser felizes? - A morena insistiu e cruzou os braços, afastando-se um pouco levantou as sobrancelhas um tanto… Incomodada, um quase sorriso nervoso no rosto.

- Isso é tão relativo… Você quer mesmo ter essa conversa agora? - Isabella riu beijando seus lábios de repente. - Desculpa ter tocado nesse assunto, só fiquei um pouco nostálgica…

- Nostálgica?! - Micaela levantou as sobrancelhas.

- Sim, por relembrar o passado, enfim…

- Então, sou… apenas “passado”? - Micaela riu, mas conteve-se percebendo que Lis já se remexia em seu cochilo, graças a conversa entre elas.

- Ah não, você não é desse tipo, né?! - A fisioterapeuta também riu apertando sua cintura. O fogo entre elas criando faíscas. Uma buscando diálogo, enquanto a outra se concentrava em buscar somente prazer sexual.

- E você já foi mais sensível, sabia? - A morena acusou apontando o dedo em sua direção.

- Aprendi a não ser mais. - Beijou a ponta do seu nariz querendo terminar logo aquela conversa, mas Micaela estava determinada e continuou;

- Então… “Isso”… - Apontou em sua direção e depois para ela mesma. - É só sex*? - Se referindo ao que tinham no momento.

- E tem coisa melhor? - Ela mordeu os lábios da outra roçando os dedos atrevidos por sua coxa e virilha.

Micaela não pôde discordar por questões óbvias, a excitação de ter a mão em sua perna a deixando lenta, com o pensamento quase travado. As unhas subindo e descendo, desenhando coisas abstratas que faziam seu ponto entre as pernas inchar na ânsia de talvez alcançar aquela mão, quem sabe decifrar as formas geométricas que seus dedos faziam, ali. Tão…

- Tudo bem! Podemos “ser”… só sex*. Se você prefere desta forma… Então, ok. - Em um lapso de sanidade ela respondeu, tentando garantir pelo menos algo com ela.

Isabella sorriu maliciosa sabendo que Micaela sempre fora uma pessoa difícil de discordar, ela tinha opiniões fortes, possuía um talento nato para persuasão, contudo literalmente “jogava a toalha”, quando o assunto era ir para cama com a fisioterapeuta, isso ela se lembrava bem. Sempre fora assim quando eram adolescentes, como um medo insano que brota no peito, era assim que Micaela reagia quando se tratava de assumir algo com ela, Isabella sabia que ela recuaria, então ficou satisfeita com a própria decisão, em manter o que tinham extremamente assim; no campo físico. Onde era mais seguro e de certa forma possuía mais controle. Afinal, era impossível para ela confiar que a morena não mudaria de ideia de repente.

- Sem pressão? - Isabella ainda perguntou se reaproximando, acreditando realmente que ela estava recuando naquele desejo ilusório de tentar algo além do sex* perfeito e seguro que estavam tendo.

- Totalmente! - A morena arfou quando a mão atrevida ainda repousada na perna encostou em sua virilha.

- Até mais, então… Mais uma vez, obrigada por tudo. - Ela beijou o canto dos lábios da outra retirando a mão e abrindo a porta do passageiro.

Como uma folha ao vento, ela se foi. Lis em seu colo, ainda cochilando. A mochila do patins pendurada em suas costas e uma piscada marota de agradecimento, antes dela entrar no condomínio pelo portão, deixando uma Micaela boquiaberta e sedenta para trás.

Fim do capítulo

Notas finais:

Mais um cap dessas duas cabeças duras experts em fugir de diálogos saudáveis. 

Beijos e até breve! 


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Comentários para 23 - Capitulo 23 - Tutorial do Camaleão :
mtereza
mtereza

Em: 15/05/2023

Amando as duas juntas finalmente 


Bibiset

Bibiset Em: 16/05/2023 Autora da história
Sim, finalmente s2


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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 11/05/2023

Eita Isabella deixou Micaela na kkkkkkk


Bibiset

Bibiset Em: 12/05/2023 Autora da história
Hahahahahahahha maldade non?!


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