Capitulo 18
Capítulo 18 - Flávia
Eu ouvi o barulho da porta abrindo e antes mesmo de eu virar o corpo o Mike já estava pulando na minha perna, me cheirando. Lembrei claramente da frase da Bruna - “Não mexe no cachorro, ele não sabe segurar o xixi”, então nem olhei pra ele, mas olhei pra ela. Ela estava em pé, com a mão apoiada no encosto do sofá que acabamos de nos beijar, com a cabeça baixa, olhando para o chão. Ainda lá da mesa eu lancei:
- Tudo bem, Bru? - e larguei o que eu estava fazendo e fui em direção a ela. Parece que o fato de eu ter perguntado isso fez ela começar a chorar, porque surgiu uns soluços. Ela não está bem, desde que ela chegou nos Estados Unidos está falando pouco comigo, hoje no aeroporto praticamente não olhou no meu olho. Ainda não juntei todo o quebra cabeça, mas já´tenho boas peças conectadas. Me aproximei dela, com delicadeza passei minha mão direita pelo queixo dela, levantando o rosto da Bruna, fazendo ela olhar no meu rosto. Ela desviou mais uma vez o olhar. - Vem cá senta um pouquinho aqui no sofá comigo.
A Bruna não se mexeu, voltou a olhar pra baixo. Não sou muito conhecedora das linguagens corporais, mais o pouco que sei, dá pra perceber que a dela é verdadeira e está associada a vergonha, asco. Não sei se dela ou de mim.
- Porque está chorando? - Essa frase foi o suficiente para fazer ela perder o filtro de vez, as lágrimas que eram sutis se tornaram copiosas, ao mesmo tempo que ela desviava novamente o olhar para o chão. Não está bem, claro. Passei meus braços pelo ombro dela, abraçando-a e aproximando sua cabeça do peito. Segurei firme, em pe, naquela mesma posição, apenas dando segurança e espaço para ela soltar o que lhe machucava. Fiquei olhando para o nada, em um ponto sem importância do apartamento, mas sentindo minha cabeça pulsar em facadas.
Ficamos ali paradas, eu apenas sentindo o corpo da Bruna colado ao meu, segundos ou minutos, até ela levantar o rosto e olhar pra mim. Seu olhar se mantinha com a expressão de vergonha, mas com bons tons de verdade - Vem aqui Bru, vamos sentar um pouquinho - Houve um espaço sutil entre os corpos enquanto eu sentava no sofá, estiquei minha perna esquerda e dobrei a direita, dando o espaço do tórax pra ela se aninhar. A Bruna encostou o corpo no meu novamente, continuou chorando, mas aos poucos senti ela desacelerando a respiração, voltando ao eixo habitual.
- Quer conversar Bru? O que aconteceu lá no seu padrinho? - ela levantou a cabeça, ainda sem olhar pra mim.
- Não foi nada.
- Humm, pelo seu choro todo não foi nada mesmo né?! - ela olhou pra mim, sem perder a expressão de vergonha nas entrelinhas e me deu uma risadinha de deboche, como se falasse “palhaça”.
- Eu perdi minha paciência com meu padrinho hoje, ele acabou me falando algumas coisas, sai de lá para não brigar com ele.
- E o que ele falou?
- Nada importante, só destilou muito preconceito. Falou que eu sou irresponsável, sou uma executiva e como eu raspei meu cabelo assim? Não posso fazer isso, já sou mulher, sou lesbica e ainda raspo o cabelo assim? Segundo ele, vai ser difícil alguém me respeitar assim.
- Seu padastro é fluente em merd*s, quanta asneira em uma frase. O que tem a ver seu cabelo com sua competência? Sua sexualidade com tudo isso? Bem preconceituoso pra um jornalista.
- Eu acho que na verdade ele me criou tão apostando em eu ser a réplica dele, que quando sou eu é errado. Eu trabalho tão duro naquele jornal, vivi minha carreira toda lá. Às vezes só queria reconhecimento.
- Bru, ele te criou para assumir o cargo dele, mas isso não te obriga a assumir, muito menos ser ele.
- Eu sei Flavinha, mas tem muito mais coisa em jogo. Não é um simples cargo.
- Eu imagino meu anjo, mas quero que saiba que tudo tem uma escolha. Você não é obrigada a seguir um destino que te deram. Você pode ser quem quiser ser.
- Desculpa eu te incomodar com essa história, você não tem nada a ver com isso.
- Claro que não, Bruna, não estou aqui com você? Então quero te ouvir. Foi só isso que aconteceu? - quero ligar as peças
- Foi sim Flavinha - olhou de novo pro chão.
- Então porque você está fugindo de mim?
- Não estou fugindo não.
- Essa semana que ficou fora quase não falou comigo, não está olhando pra mim - passei os dedos no queixo dela e delicadamente tracionei, acertando nossos olhares - Eu fiz alguma coisa?
- Aí Flávia! - Olhou de volta para o sofá - Você é maravilhosa, eu estou com vergonha das merd*s que fiz e morrendo de medo de você ir embora.
- O que você fez Bruna? - Falei calma, consistente, buscando mais uma vez o olhar dela.
- Eu não sei aproveitar nada de bom na minha vida, você vai me odiar.
- Matou alguém? - não imagino que nem de longe foi isso.
- Não! Claro que não!
- Entrou pra um cartel de drogas?
- Não!
- Arrancou os pedaços de um morto e jogou por São Paulo?
- Claro que não, Flávia - falou espantada, dessa vez olhando pra mim - credo.
- Então eu não vou nem te prender nem ir embora. O que aconteceu lá em São Francisco? Sua ex namorada estava lá? - eu joguei a possibilidade, algo que faz todas as peças encaixar. A Bruna por sua vez levantou o rosto e olhou pra mim, com as sobrancelhas elevadas, lábios entreabertos e os olhos abertos. Bingo. Ela está completamente surpresa em eu saber disso, na verdade eu não sabia, apenas peguei os detalhes e comecei a colar as peças.
- Quem te contou isso? - mudou a expressão em milésimos de segundo, voltando para a vergonha.
- Você me contou isso.
- Quando?
- Agora mesmo Bruna. Eu joguei um verde e você devolveu maduro. - ela estava envergonhada, mas mais que isso, agora estava com raiva, imagino que de ter escorregado no próprio depoimento. Voltou a olhar pro sofá, sem contato visual comigo. - Eu sou investigadora Bru, já tinha pego algumas peças no ar, você só confirmou.
- Andou me investigando Flávia? - olhou pra mim franzindo a testa e deixando os lábios apertados, com raiva, como se exigisse uma resposta. Me mantive calma, como habitualmente sou.
- Jamais Bruna, jamais. Você me deu todas as peças. - estiquei as mãos, tentando criar algum laço fixo, gosto dela, quero conversar. Respirei fundo e comecei a falar, com o máximo de delicadeza possível, apesar de não ser meu jeito - Quer ver?
- Quero, não acredito que sou tão dada assim.
- Quando te conheci, você estava brava porque brigou com sua chefe - fiz um entre aspas no chefe - anotei a mensagem, mas você estava mais estressada que uma habitual briga com chefe, mas ok. Quando fui lá no jornal te esperar, fiquei sentadinha na recepção e a moça da recepção não parava de me olhar e olhar lá pro fundo, mas algo quase desconfortável. Anotei essa mensagem tbm.
- Você presta atenção em todos esses detalhes?
- Bruna, eu tenho que pegar as mentiras dos bandidos no tom de voz, faz parte de mim prestar atenção nas vírgulas. Quando fomos lá no vietnamita a reserva estava no seu nome e em nome de Mayra, você ficou toda desconcertada, brava com o mocinho. Eu anotei essa informação. Enquanto comiamos, a tal Mayra te ligava constantemente e você não queria atender.
- Como sabia que era ela?
- Porque estava Mayra Jornal na tela do seu celular a todo tempo.
- Poderia ser a minha chefe, que briguei aquele dia.
- Sim Bru, poderia ser sim. Mas aí entra a arte da investigação, você levaria sua crush no mesmo restaurante que sua chefe? - falei suave, como em uma conversa habitual, que não deixava de ser - Mas aí quando eu cansei e pedi pra você atender, você atendeu com um “Se não for sobre a edição não tenho nada pra falar com você”. Nesse momento você tinha passado o durex em algumas peças, mas faltava o super bonder.
- Todo mundo é dado assim de informação? - ela mantinha a expressão de raiva por ter se exposto, mas mantinha-se calma na conversa.
- Sim, cada um carrega sua história em si próprio. Todos somos fáceis de ler, o que muda é querer ler ou saber ler. Por exemplo, você ganhou que eu era agente só de olhar pra mim, ganhou que eu era da civil por um conhecimento prévio, você tem esse dom de ler também, faz parte da sua profissão de jornalista.
- Mas como você chegou que a Mayra apareceu em São Francisco e mais ainda, como ela era minha ex namorada.
- Você me contou tudo, Bru - fiz um carinho no rosto dela, tentando acalmar a expressão de vergonha dela - Quando vim aqui na sua casa, você errou meu nome e me chamou de Mayra, foi mais um durex nas pecinhas.
- Eu errei seu nome? - a vergonha dela subiu na escala, ela ficou com o rosto vermelho, eu queria era dar risada da carinha dela
- Errou Bru, quando veio me apresentar o apartamento. Sem contar que você tinha dito que não poderia ir no rugby comigo porque tinha que entregar algumas coisas, sobrou um cigarro e você trocou meu nome. Juntos isso tudo mostra que foi recente…. hum e digo mais, conturbado.
- Desculpa Flávia, um milhão de desculpas. Minha vida está um redemoinho maluco e você caiu nele, acalmando muito da correnteza, mas ela não parou de girar.
- Bru, nem era esperado parar de girar, quando se conhece alguém sua vida não para, o passado não é apagado. O que aconteceu em São Francisco?
- A Mayra estava tentando falar comigo de todas as maneiras possíveis, e eu falando apenas as coisas profissionais, deixando ela no vácuo, só atendendo no horário de trabalho e tudo mais. Ela pediu para o Antonio, meu padrinho e nosso chefe, para ir aos Estados Unidos tentar conversar comigo. Eu só soube disso quando cheguei na porta do apartamento do jornal e ela estava lá, sentada, com olheiras, sem uma mala, só com o documento e a jaqueta dela - ela respirou fundo - e reclamando da minha demora.
- Na boa, a garota viajou 8 horas para se reconciliar com você e reclamou da sua demora? Ela levou pelo menos uma água pra você que viajou 8 horas dentro de uma lata voadora?
- Não Flavinha, esse tipo de preocupação e cuidado só você tem. Por isso quando te vi no aeroporto com o copo de café, minha vergonha piorou. A Mayra nunca me levou e buscou no aeroporto, nunca arrumou a mesa de comermos, nunca me esperou para comer. Por isso eu me sinto tão mal, você é linda, atenciosa, cuida de mim.
- Mas eu não sou ela - completei.
- Oi?!
- Eu não sou ela, não adianta eu ser tudo isso, se quem você quer é ela. - respirei fundo, essa é uma verdade crua e que dói.
- Infelizmente meu erro foi esse.
- Qual?
- Não saber o quanto eu te queria até correr o risco de te perder. Quando me dei conta de tudo, eu estava na cama com uma, mas completamente pensando em outra. - ela falou baixo, quase inaudivel, olhando para o chão, bem longe da Bruna editora, firme, posuda e destemida.
- Você transou com ela Bruna? - em nenhum momento eu levantei o tom de voz, apenas me mantive calma.
- Sim, não tenho orgulho do que fiz e vou entender se você for embora agora, eu errei, tenho que arcar com isso.
Não sei quem é essa Mayra, mas a minha vontade é bater nela. Mas mais ainda é a raiva que tenho de mim, a dificuldade que tenho de me soltar, de desapegar da Fabi.
- Olha pra mim, por favor - ela levantou o rosto com certa dificuldade, seus olhos estavam levemente avermelhados, com certa quantidade de lágrimas prontas para cair - Você quer que eu vá embora Bruna?
Ela estava surpresa pela minha resposta ou questionamento, as lágrimas que estavam prontas a cair caíram realmente, como se minha pergunta fosse a solução dos problemas dela. apenas sacudiu a cabeça para os lados, em negação.
- Então eu não vou ir, só vou embora se você pedir Bruna - ela se escorregou pra mais perto de mim, no sofá mesmo, me abraçando de um jeito desajeitado. Pude sentir seu corpo quente, quase que febril, mostrando seu metabolismo agitado por essa conversa. Passei minha mão por seus ombros, permitindo meus braços te protegerem e os cabelos receberem carinho, ficamos ali naquela posição por um breve período, enquanto minha cabeça pulsava mais e mais anunciando uma nova crise que estava chegando.
Enquanto a Bruna soltava o peso dela no meu peito, sua respiração se tornava mais sofrida, ao mesmo tempo que sua musculatura ficava mais relaxada. Ela chorou, não sei se de vergonha, raiva, emoção, não sei. Apenas voltei a ver seu rosto quando falou: Não está brava comigo Flavinha?
- Não, não estou brava. Não posso dizer que gostei de saber que você estava com sua ex e muito menos de saber que você transou com ela, mas não estou brava.
- Como consegue ser tão madura?
- Não é maturidade, é direito.
- Oi?!
- Não acertamos as regras do jogo, não colocamos as cartas na mesa, apenas jogamos. Quem cala…
- Consente?!
- Não fala nada. Quem cala, não fala nada. Não determinamos nenhuma regra, não posso te cobrar ou te punir por uma regra inexistente. Confesso que não gostei de você ter saído com sua ex, mas não me sinto traída, não definimos nem o que somos e se somos algo. Só não quero que se repita Bruna, a regra existe a partir de agora e é a regra de exclusividade, monogamia ou o nome que quiser - mantive o tom de voz calmo, mas firme- Você ter saído com ela me deixa na dúvida de até onde posso confiar e me prender em você, foi um fim de namoro recente, talvez mal resolvido. Meu medo é me soltar e perceber o quanto errei.
- Te garanto que eu não quero essa sensação de vergonha mais nenhuma vez na vida Flavinha, não quero isso, não quero sentir que vou perder alguém tão boa como você.
- Porque não quis continuar hoje mais cedo? Quando a gente estava se pegando gostoso?
- Eu sou viciada em sex* Fla, sou mesmo, um dos motivos de eu ter caido na da Mayra foi isso. Eu e você não chegamos nesse momento nenhuma vez, eu estava querendo, estava com raiva, mas quando acabou foi tudo sem sentido. Não queria que você avançasse em algo que faz tanta questão de ser importante, sem saber as minhas cagadas. Não posso fazer isso com você.
- Como consegue ser tão madura? - falei em um tom de brincadeira, usando a mesma frase dela. A Bruna me mostrou a língua, em deboche a brincadeira, aproximou o rosto de mim e me deu um selinho. Quando se afastou, continuamos - obrigada por ter sido sincera comigo. Quero isso da gente, sinceridade. E não quero mais você trans*ndo com a Mayra por favor. Ou com qualquer outra pessoa.
- estava com tanto medo da sua reação Flávia. Acho que nunca me perdoaria por perder você de bobagem.
- Gostosa, é pra ser leve, se for pesado não tem graça.
- Gostosa?
- Ah, já que fechamos essa história de exclusividade, no mínimo te chamar de gostosa eu posso. Pq vou falar, gostosa você é. - ela ficou vermelha, envergonhada, abriu um sorriso tão lindo, olhando pra baixo. Passei a mão pelo pescoço dela de imediato, aproximando nosso corpo mais ainda. Passei meu nariz no dela, brincando com o encostar dos lábios, provocando às vezes com a língua. Desci para o pescoço, cafungando o cheiro dela. A Bruna se arrepiou tão forte,que entendi que tenho efeito sobre ela, só depende de eu me soltar. Voltei subindo o pescoço e mordi a pontinha da orelha dela. Ela passou o braço em volta do meu tórax e apertou, lasciva, solta. - arrepiou?
- hum hum - puxei o ar mais uma vez, na pontinha do ouvido dela, e falei:
- só faço isso porque você é gostosa. - e soltei uma gargalhada. Ela me acompanhou, não aguentou e gargalhou junto. Na mesma velocidade da gargalhada veio a pontada na cabeça, cacete. Levei rápido a mão às têmporas e apertei os olhos.
- está doendo? - colocando a mão no meu rosto, fazendo carinho.
- deu uma pontada agora - respirei fundo - acho que vou embora Bru, preciso descansar. Tá doendo.
Ela ficou seria rapidamente, da água pro vinho. - você não vai embora! Até parece que vou deixar você dirigir… uma moto… - deu ênfase- com crise de enxaqueca essa hora da noite.
- ė rapidinho até em casa.
- não, Flávia. Não vai embora. - firme madura, voltando ao jeito editora dela.
- e vou fazer o que? Ficar aqui dando trabalho?
- trabalho você não dá, mas se quiser dar outra coisa?! - olhou pra mim com a sobrancelha levantada, a blusa de alcinha mostrando a lateral do peito e o lábio entreaberto, exposto, ousado, expectante. Fiquei sem graça, acho que olhei pro chão na mesma hora. Ela sorriu, levantou do sofá, ficou de costas pra mim, arrumou a calça, mostrando estar sem nada por baixo - vem comer alguma coisa, já deve ter esfriado.
- Tô super enjoada, não vou conseguir comer. - não menti.
- Quer ir ao hospital de novo?
- não precisa, só preciso deitar um pouquinho de olho fechado e me acalmar. Já já passa a crise.
- Quer deitar no meu colo? - falou ainda em pé na minha frente.
- não precisa Bru. Vai ajeitar suas coisas que eu fico aqui quietinha. Já já melhora a dor. - ela concordou com um aceno de cabeça, mas me ignorou com fervor. Sentou de novo no sofá, com as pernas dobradas em índio e ofereceu com o olhar seu colo. Não me opus, não neguei o carrinho, apoiei a cabeça na coxa dela e em seguida fechei o olho. A luz nesse momento é estupidamente incomoda.
Não sei quanto tempo se passou, mas acordei perdida em tempo e espaço. Onde estou? Apesar de já ter dormido na casa dela, ainda é tudo muito novo. A dor de cabeça estava bem mais leve, como não senti ela levantando do sofá? Falando nela, onde a Bruna está? Levantei com calma, e dei uma olhada ao redor. Acreditem, ela estava dormindo na mesa de trabalho dela, com o rosto em cima do computador fechado. Olhei no relógio, já era quase meia noite, bem justificado, pensa como ela está cansada. Cheguei pertinho dela com calma, por trás. Afastei com delicadeza o cabelo para o lado, mostrando o pescoço. O sono estava pesado, nem se mexeu, encostei o nariz bem pertinho do ouvido dela e respirei fundo, com a intenção de acordar ela, mas mais ainda de sentir o cheiro gostoso do perfume. Soube que ela acordou quando sua respiração acelerou e um “hum” foi ouvido. Como não se mexeu nem levantou eu continuei ali curvada, mas beijando calmamente o pescoço dela, em forma de carinho.
- Humm, que jeito gostoso de acordar. Posso querer mais disso. - falou com um tom leve, como se sorrisse com as palavras. Esticou o pescoço para ambos os lados e depois levantou. Olhei todos os movimentos dela, secando. Confesso que estou gostando dessa nova sensação, nova não, mas a sensação de poder ter alguém perto de novo. Que a Fabi me perdoe por ter seguido em frente. - Comeu Flávia?
- ainda não, você parou antes. - sim, eu lancei essa.
- péssimo, péssimo - ela respondeu rindo, sacudindo a cabeça para os lados. Seguiu com a roupa minúscula, rebol*ndo, até a mesa onde estavam os alimentos encomendados. Ela olhou pra mim, e por sinais não verbais ela ofereceu mais uma vez a comida e eu neguei. Realmente não estava com fome. - Vamos deitar então? Amanhã você trabalha?
- Não, estou com o atestado que a médica deu. - acenou com a cabeça como se calculasse todos os fatores e variáveis. Esticou a mãozinha, me chamando para o quarto dela. Por um segundo eu travei de novo, vou dormir mais uma vez com ela, mas em um momento bem diferente da vez passada. Não que definimos namoro, na verdade acho que nem precisa, mas ela saiu com a ex, falou que gosta de mim, eu estou bem mais solta, com um pouco menos de medo, mas acabei de travar de novo. Não sei se quero segurar essa mão e dormir com ela.
- Melhor eu dormir aqui não é Bru?
- Não, principalmente depois de hoje. - ela falou calma, carinhosa. Se aproximou de mim e segurou a minha mão, sem eu ter ofertado, me olhou com ternura, entendi que vai ser no meu tempo, ali naquele momento, naquele gesto. Aceitei a intimação dela e a segui, na verdade acompanhei. O quarto dela se mantinha na mesma organização que da vez anterior, apenas com algumas peças soltas na cadeira. A Bruna se aproximou de mim, com tranquilidade, eu estava visivelmente tensa, soltou minha mão e passou pelos meus ombros, ficando quase na ponta dos pés. Aproximou mais o corpo, o rosto, pude sentir a respiração dela. Passei minha mão por sua cintura, estreitando, colando. Ficamos nessa posição por alguns segundos, mas pareceram horas. Ela esticou a mão e passou pelo meu pescoço, massageando minha nuca, sempre sutil, leve, fechei os olhos, me permitindo sentir esse momento, mas ainda me mantendo tensa e receosa. Quando nossos lábios finalmente se encontraram eu flutuei, a maciez da boca, o gosto adocicado, pela primeira em muito tempo uma sensação de calma e paz me preencheu, foi tomando conta de mim. A imagem da Fabi sumiu por alguns segundos. Nossos lábios foram se afastando, enquanto a Bruna claramente sorria. - Eu vou esperar esse seu tempo Flávia, prometo isso. - e em milésimos a calma sumiu e Bruna voltou a ser Bruna- vou tomar um banho e vou voltar sem roupa. Lide com isso.
Ela entrou no banheiro, como sempre rebol*ndo e mostrando tudo e um pouco mais, vou falar que adorei essa ousadia dela. Tipo água e vinho, eu tímida e travada e ela esbanjando sedução. Tirei o tênis e sentei na cama dela, espero que não se importe por eu deitar com a roupa da rua, não tenho outra agora. Quase posso ouvir a Fabi resmungando sobre bactérias e contaminação, ela era mestre em me dar essas broncas “ a cama é limpa e você sentou no chão hoje Flávia” ou “ tira o tênis da cama, sua mãe não te ensinou nada”. Nesses momentos eu sempre fazia munganga, careta para ela, levantava e enchia ela de beijo ou cócegas até ela ficar leve de novo, como amei aquela mulher, como fui feliz ao lado dela.
Nessa lembrança toda me assustei com o toque do meu celular. Toque não, Grito, até doeu a cabeça. Olhei rápido a tela, Bia. Ela nunca me liga, no mínimo deve ser importante.
- Fala Bia, tudo bem? - Perguntei intrigada.
- Você me deve uma cerveja. É um churrasco. E comprar uma TV pro apartamento. - em um tom de voz tão exacerbado, acelerado.
- Não quer uma visita da rainha da Inglaterra também não?
- Não…. ela não entende de crimes e de pistas - ah…. agora faz sentido.
- O que você descobriu? Fala que descobriu algo, por favor, fala. - fiquei exacerbada também, ansiosa.
- A conexão que você queria.
- Vai Bia, fala logo, deixa de suspense! - nessa eu já estava sentada na beirada da cama, inclinada para frente, com atenção redobrada, virada para a parede.
- A clínica que teve o material hospitalar furtado tem um paciente, renal crônico, em diálise, riquíssimo e…..
- e…..
- e na fila do transplante.
- Tá Bia, mas é uma clínica de diálise, em um bairro nobre. Isso não fecha nada - olhei rápido para o lado, a porta do banheiro estava abrindo, levantei rapidamente e fui para a sala, tudo referente a uma operação é sigilosa, ainda mais para uma jornalista.
- Eu sei, mas aí vem tudo que você me deve. Esse cara por algum acaso - tom muito irônico agora, consigo imaginar a expressão da Bia nesse momento - é o sócio majoritário da empresa de equipamentos médicos que teve seus ventiladores e materiais cirúrgicos roubados.
- Hummm, faz bem mais sentido ainda. Isso já rende uma intimação para depoimento.
- E vou te contar mais ainda, duas semanas depois da clínica e os ventiladores terem sido roubados, o bonitão saiu da fila nacional de transplante.
- porque o puto fez um transplante através do tráfico de órgãos.
- Exatamente!!
- Sem palavras Bia, sem palavras, sério. Você é a melhor. Como não pensei nesse caminho? Não olhei os pacientes, liguei tudo, segurança, funcionário, dono, mas não pensei nos pacientes. Você é muito foda Bia, muito. Amanhã mesmo te pago sua cerveja e vemos um churrasco. Não acredito.
- eu sei, eu sei, eu sou o máximo - imagino ela vermelha tentando falar essa frase. Que garota esperta .
- um tesao de inteligência. Você falou com o delegado?
- Não, vou deixar pra você falar com ele, você que é a investigadora. Eu nem deveria estar vendo essas imagens.
- Amanhã cedinho eu vou na delegacia e conversarei com ele, você me salvou muito BIa, não tem ideia. Você é linda. - juro por tudo que quiserem falei sem nenhuma maldade, mas ela deve ter ficado roxa, só pelo silêncio que se fez.
- Está melhor da cabeça?
- Ainda dói bastante, qualquer estímulo dá uma pontada, mas está bem mais leve que hoje cedo.
- Você me assustou, Flávia, nunca te vi jogada como estava hoje.
- Falou quem me conhece a vida toda - ela deu uma risadinha fofa do outro lado.
- Ah, é verdade,mas enfim, cuidado, não me assuste mais assim.
- Vou tentar. - Sabe aquela sensação de que alguém está olhando pra você? Olhei rápido para trás e a Bruna estava na porta da sala, encostada no batente, com a mão na cintura. Senti um tiro com o olhar. Ela virou de costas e voltou para o quarto. Foi quase um “agora, Flávia!” - Bia, a Bruna está me esperando. Amanhã cedo eu te ligo e acertamos os detalhes.
- Tudo bem, não deixa ela brava não. Bom descanso.
- Jamais, ela não pode ficar nervosa comigo não, amanhã te conto dela também. Beijo. - desliguei o telefone ao mesmo tempo que andava em direção ao quarto da Bruna. Ela estava sentada na cama, com uma calcinha mais larga, tipo uma cueca feminina, sei lá como explicar, com um frasco de creme na mão, passando calmamente na perna. Quando entrei no quarto ela apenas levantou a sobrancelha. Eu fiquei na porta do quarto, secando aquela situação, olhando cada detalhe dela.
- Quem era no telefone?
- Era a Bia, ela descobriu algo importante de uma missão nossa e precisava me falar.
- A essa hora? - aí senhor, ciúmes.
- Sim srta, porque é algo importante - fui me aproximando dela, enquanto fazia uma expressão de pouco caso, com os cabelos soltos, lateralizados. - e pode tirar essa carinha aí. Que não tem motivo algum.
- Não tenho saco com ela - foi a primeira vez que ela deixou explícito o mal estar com a Bia. O que eu não entendo, será que o mal estar é pela Bia estar com o Cantão?, Tentei não dar corda. Sentei atrás dela e aproximei meus lábios do pescoço dela, do lado sem cabelo. - Se eu encher você de beijo, vai tirar esse bico?
- hummm não sei não, vai ter que se esforçar mais um pouco. - mas nessa ela já estava rindo do próprio doce. Comecei a beijar o pescoço e ela contraiu, com cócegas dos beijos. Depois de alguns segundos nessa, minha cabeça já estava doendo mais um pouquinho, então passei meu braço sobre os ombros dela, abraçando -a por traz. Ela estava bem mais leve, mais solta.
A Bruna então se levantou, acertou os cabelos loiros, deixando o undercut aparecendo. Olhou intensamente para mim, procurando calor e tesão, mas deve ter visto minha fisionomia de dor, pq logo em seguida teve uma expressão saudosa, carinhosa
-Tá doendo né?! vem, vamos dormir. Você está com carinha de dor de novo. - apenas acenei confirmando. Ela então seguiu pela lateral da cama, eu acompanhei. - tira essa calça jeans e deita lá.
- mas eu não tenho outra roupa Bru.
- dorme sem calça. Eu vou dormir assim, confortável. Você quem sabe. - ela deitou e começou a mexer no celular, sem olhar pra mim, dando espaço para a minha escolha. Levantei da cama rapidamente e tirei a calça. Minha calcinha não era bonita, elegante ou sensual, mas pude sentir o olhar dela me secando. Subi na cama de novo, com uma certa vergonha e desconforto. Mas assim que deitei ela largou o celular e se aninhou, colocando a nuca no meu braço, pude sentir a perna dela tocando na minha. Propositalmente ela empinou o bumbum para se encaixar em mim, podia ver a expressão de provocação. Eu passei meu braço por baixo do dela, fazendo uma conchinha, enquanto o rosto colado no dela.
Eu fiquei assim, naquela posição, sentindo o corpo dela colado ao meu, sentindo o cheiro adocicado do cabelo, apenas sentindo. Ela passou a mão entre os meus dedos e colocou a mão por baixo da camiseta solta, direcionando minha mão aos seus seios. Eu travei, travei as quatro rodas, como sou idiota, ela tá claramente abrindo não só um espaço enorme como tudo. Mas por um lapso de permissividade apoiei as mãos no seio dela. Se eu tinha dúvida quanto à prótese, agora não tenho mais, eles são firmes, com os mamilos acordados, quentes. Macios. Delicados.
Fim do capítulo
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Petrolina Nova
Em: 03/10/2025
BORA FLÁVIA SE DIVERTIR UM POUCO, EU SEI QUE ENXAQUECA É MESMO HORRÍVEL, MAS DOER NESSAS HORAS É INJUSTIFICÁVEL.
Marta Andrade dos Santos
Em: 08/05/2023
Eita tá ficando quente em Flávia, e esses traficantes de órgãos tem que ser presos e a chave jagada no mar.
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