Nunca Te Amarei -- Capítulo 17

 

O apartamento em que Jefferson mora fica no primeiro andar. Luciana suava frio só de pensar no amigo abrindo a porta pelado.

-- Eu moro com o meu amigo Jefferson -- ela explicou -- Eu não estou com a chave, por isso tenho que chamá-lo.

Kristen balançou os ombros sem dar muita importância. Luciana tocou a campainha. Houve um longo silêncio, o que a deixou um tanto preocupada. Teria acontecido alguma coisa? Ia tocar de novo, quando a porta se abriu e Jefferson apareceu só de cueca. 

-- Luciana? -- ele olhou para Kristen -- Ahhhhhhhh... -- berrou e saiu correndo.

-- Entra -- Luciana convidou-a com voz trêmula -- Desculpa.

-- Pela visão do inferno? Ah, tudo bem, já vi piores -- no momento Kristen parecia mais interessada no apartamento do que em Jefferson de cueca. Aliviada, viu o olhar dela passear por tudo.

-- Bem legal o apartamento de vocês.

-- Nisso eu concordo com você -- atirou a bolsa em uma cadeira -- É simples, mas é aconchegante.

Kristen escutava, parada, mãos enfiadas nos bolsos.

-- Me dá licença um minuto? Vou ver se o Jefferson não escoou pelo ralo do banheiro.

Kristen balançou a cabeça e sentou-se no sofá.

Luciana encontrou o amigo espiando por uma fresta da porta.

-- Que história é essa de nosso apartamento? Tá querendo tomar posse do que é meu é?

-- Queria que eu a levasse para o meu apartamento e sentasse na sala com a mãe, o Dudu e a Laura?

-- Que história é essa de agarrar a Donati e roubar um beijo? Tá louca?

-- Isso é mentira! Quem te contou essa besteira?

-- Não é mentira, fiquei sabendo de fonte segura. O informante só não falou que vocês estavam vindo pra cá. Que vergonha! Como vou encará-la na empresa?

-- Larga de ser bobo.

-- Vocês estão pensando em trans*r aqui no meu apartamento?

-- Cala a boca! E vê se não deixa furo.

Respirando com dificuldade ela retornou a sala.

-- Desculpa, novamente.

-- Será que agora pode dedicar toda a sua atenção à minha pessoa?

-- Carência?

-- Muita -- ela respondeu, olhando para as mãos sobre o colo.

Luciana examinou aquele rosto. Gostava das sobrancelhas clarinhas, da mesma cor dos cabelos, o nariz pequeno, as faces delicadas. Ela olhou para Luciana e a pegou encarando a boca, que havia explorado a dela com ardor no quarto de seu apartamento.

-- O Jefferson me disse que o seu João Vitor logo foi embora -- disse para disfarçar a vergonha de ser surpreendida ao examiná-la. 

-- E a sua irmã?

-- O que tem ela?

-- Ela que ligou, não foi isso o que você disse?

-- Foi -- Luciana estava tão enrolada com suas mentiras que já não sabia mais o que era verdade -- Ela já foi embora.

-- Hum, menos mal -- ela disse, um pouco confusa.

Enquanto preparava o café, sentiu que Kristen a observava, mas não tinha coragem de se virar para olhar.

Kristen aproximou-se.

-- Vamos para Xangri-lá -- ela disse numa voz quente que Luciana ainda não tinha ouvido -- Posso garantir que você não vai se arrepender -- Kristen a virou para que a encarasse -- Então, o que me diz?

-- Com certeza será melhor que um fim de semana fazendo hora extra -- ela sussurrou, sorrindo.

O desejo que Kristen via brilhar nos olhos de Luciana era real. 

Luciana sentiu uma intensa emoção no fundo do seu coração; no entanto, não podia continuar com algo predestinado à tragédia.

No sábado de manhã, Kristen acordou cedo.

-- Estou com pressa -- ela enfiou um pedaço de pão na boca, tomou um gole café, mais um pedaço de pão, mais um gole de café...

-- Que coisa horrível, vou filmar essa cena e enviar para a senhora Donatella.

-- Envia, tô nem aí com o que a Donatella pensa.

-- Pelo jeito se deu bem com a nervosinha, você está louca para apanhar.

-- Sabe de uma coisa, dessa vez vou experimentar uma mulher de sangue quente. A minha última ficante era tão calma que às vezes sentia vontade de pôr um espelho diante de sua boca para ver se ela ainda respirava.

-- Está indo para onde?

-- Vou participar do circuito de surf em Xangri-lá.

-- Que sem graça!

-- Vai ser legal, vai a Luciana, a Letícia, o Dudu e o Jefferson.

Rick foi escorregando, escorregando até cair no chão.

-- Eu vou me suicidar! -- começou a espernear -- Eu vou enfiar um fio elétrico na boca.

Kristen se levantou olhando para o rapaz convulsionando no chão.

-- Que susto, pensei que fosse em outro lugar.

-- Não é justo, porque todo esse povo vai e eu não?

-- Porque fui chantageada pela Luciana ou levo o Jefferson ou ela não vai.

-- Eu também quero ir. 

-- Você vai ficar em casa e cuidar das plantinhas. 

-- Não vou ficar e não vou ficar, eu quero que as plantinhas morram.

Kristen pegou o celular e ligou para o Hangar.

-- Bom dia, comandante, o jatinho está pronto? Hum, claro. Sairemos às dez, então. Tudo bem.

Rick observava em silêncio. Assim que Kristen desligou, ele levantou-se e saiu de fininho. 

 

 

 

Eduardo correu e se jogou no colo de Luciana, o rosto iluminado de excitação.

-- Mamãe -- ele berrou -- Adivinha o que encontramos?

Luciana olhou para Laura sorrindo.

-- O que vocês encontraram?

-- Isso! -- ele mostrou o calção de banho com estampa do Naruto -- Nós encontramos na gaveta do armário.

Luciana e Laura trocaram olhares.

-- Você já terminou de arrumar a sua mochila?

Ele balançou com força a cabeça em afirmativa.

-- A Kiss, mamãe?

-- Daqui a pouco a gente se encontra com ela -- respondeu, com o coração em pedaços, inclinou a cabeça até receber seu beijo -- Busca a sandália que a tia Jaqueline te deu no Natal.

-- Tá, mamãe -- ele saiu correndo em direção ao quarto.

Laura acompanhou com os olhos a empolgação do garoto.  

-- Ele está bem animado com a viagem -- comentou.

Luciana levantou a sobrancelha. 

-- Animado? Ele está em completo êxtase.

-- Não o culpo, depois que você falou que vão de avião, ele só fala nisso.

Luciana riu abertamente. Naquele momento, a porta foi aberta e ela olhou para Matilde que entrou na sala.

-- Você não ia trabalhar hoje? -- perguntou Matilde, olhando as bolsas no chão.

-- Não mãe, mudanças de planos. Hoje irei passar um dia de madame -- ela e Laura bateram uma na palma da outra.

-- E o seu João Vitor?

-- O que tem ele?

-- Ele está esperando você para trabalhar!

Luciana deu uma gargalhada.

-- Pois que espere o dia inteiro. 

-- Um dia a paciência do seu João se esgota e você será demitida.

Luciana deu de ombros, despreocupada. Se ela sonhasse quem estava por trás da viagem, mudaria de ideia rapidinho.

-- Você não toma juízo mesmo -- Matilde saiu da sala, irritada.

O celular de Luciana tocou. Ela abriu a bolsa para confirmar o número na tela. 

-- Vou atender lá dentro, já volto.

Luciana e os amigos chegaram ao aeroporto meia hora antes do horário combinado com Kristen. Se ela não estivesse algemada ao passado, do qual jamais conseguiria fugir, esse seria um dos dias mais felizes de sua vida. Trocou a bolsa de mão e, ao levantar a cabeça, avistou-a. Luciana reagiu imediatamente, seu corpo enrijeceu, o cérebro congelou de modo que não conseguiu se mover.

-- Olha lá a Kristen -- disse Jefferson, a Luciana.

Kristen caminhou na direção deles. Uma expressão divertida surgiu no rosto dela, mas desapareceu em seguida. 

-- O que você faz aqui Rick? Eu não disse para você ficar em casa?

Rick escondeu-se atrás de Luciana.

-- Olha só como ela me trata. Eu sou praticamente um escravo naquele apartamento.

Kristen franziu o cenho.

-- Eu vou te matar.

Luciana interviu.

-- Ele é meu convidado.

-- O que? Acabou de chegar e já quer sentar na janela?

-- É pegar ou largar, né Letícia. 

-- Kiss... -- Eduardo abriu os braços para ela -- Surf Kiss.

A inocência do garoto, fez o humor de Kristen mudar.

-- Sim cara, surf é tudo de bom! -- disse espalhando o cabelo do garoto.

O estômago de Luciana revirou enquanto ela observava aquela bela figura feminina. Ela estava vestida com roupas casuais, uma bermuda jeans desbotada e uma camiseta de algodão branca. Ela poderia até afetar sua mente, mas não afetaria seu coração. Não deveria estar ali, Luciana disse a si mesma, mas não tinha como não ir, como negar a Eduardo a oportunidade de um final de semana inesquecível.

O trepidar do avião enquanto decolava enviava vibrações por todo o corpo de Luciana. Tão logo o jato particular estabilizou, a tripulação serviu drinques e aperitivos. 

-- Quanto tempo de voo daqui até Xangri-lá, Kris? -- perguntou Letícia.

-- Aproximadamente, duas horas.

Kristen espiou pela janela do jato particular, os olhos verdes ocultos pelos óculos de sol ao observar o brilho do mar distante, enquanto sobrevoavam o litoral norte gaúcho e se dirigiam ao pequeno aeroporto da cidade de Xangri-lá. Uma olhada no relógio confirmou que em menos de vinte minutos aterrissariam no balneário. 

Luciana apanhou uma revista que Jefferson lhe estendeu com um sorriso.

-- Desde quando leio colunas sociais? -- indagou, incrédula. 

-- Pensei que depois de agarrar a princesa Donati e roubar-lhe um beijo, gostaria de pesquisar mais sobre a sociedade carioca. 

Luciana fuzilou o amigo com o olhar, mas ele não deu a mínima para a expressão de censura, já estava acostumado.

-- Para de falar que eu a agarrei, já disse que é mentira.

Jefferson olhou para as próprias unhas.

-- Sei não.

O jato aterrissou e em menos de meia hora todos estavam dentro da van de transporte.

Quando saíram do aeroporto sentiram o calor de um dia de grande verão no sul do país. Luciana sentiu o cheiro das folhagens, ouviu os pássaros e viu a poeira que levantou quando a van estacionou.

-- Chegamos -- avisou Kristen, apontando para o calçadão.

-- Finalmente! -- Luciana, colocou a mochila nas costas e pegou as bolsas de Eduardo. À medida que atravessavam o calçadão, ela já podia ver bares com toldos coloridos e barracas com vendedores ambulantes.

-- Podemos ir caminhando, os chalés ficam bem próximo daqui -- disse Kristen ao pegar as bolsas dela, mas Luciana segurou a mochila. 

-- Pode deixar que eu levo. 

--Tem coisas de valor aí? -- ela perguntou enquanto percorriam o caminho ao longo da marina. 

-- De certa forma, sim. Minhas roupas íntimas -- ela respondeu sorrindo. De fato, os chalés eram bem próximos, mas o sol quente deixou Luciana suada e cansada. 

Quando chegaram no conjunto de três chalés, Kristen examinou as chaves com os números para depois perguntar.

-- Bem, como nos dividiremos?

Letícia deu um passo à frente.

-- Eu ficarei com você -- ela disse, entrelaçando seus dedos com os de Kristen.

-- Eu e o Rick ficaremos no último chalé -- disse Jefferson -- Nós temos muito o que conversar.

-- Verdade -- confirmou, Rick.

-- Você não se importa, né Lú? -- perguntou Jefferson, com certa preocupação.

-- Será que não vai se sentir muito sozinha? -- perguntou Kristen.

Luciana balançou a cabeça discordando. 

-- Longe disso. A paz e o isolamento é exatamente o que procuro -- ela respondeu com firmeza, pois na verdade, não estaria sozinha, Eduardo lhe faria companhia. 

Kristen olhou para ela, erguendo as sobrancelhas daquele jeito que Luciana odiava.

-- Então tá, se você está dizendo -- ela segurou a mão de Eduardo -- Vamos Dudu, quero mostrar a minha prancha de surf.

-- Ebaaa... -- o garoto saiu pulando.

-- Ei, ei, ele vai ficar comigo.

Kristen virou-se surpreendida.

-- O menino tem que ficar com a mãe, não é mesmo Letícia?

-- É -- respondeu Letícia, engolindo em seco. Já havia até esquecido que tinha um filho para cuidar.

Eduardo puxou Kristen pela roupa.

-- Vamos Kiss, vamos. 

-- Viu, ele quer ficar comigo -- um sorriso de satisfação surgiu nos lábios bem feitos de Kristen.

Luciana lançou um olhar tão venenoso ao seu encontro que quase a transformou em pedra.

--Traidor! -- Luciana saiu pisando forte na areia fofa, sentindo-se traída pelo próprio filho -- Mas não tem problema, eu me viro muito bem sozinha.

Ela pousou a mochila na varanda, com espreguiçadeiras, uma mesa, e abriu a porta. Em seguida, entrou para examinar o chalé que consistia de três cômodos, grande e ventilado, de piso branco e paredes pintadas de amarelo. A decoração de bom gosto se resumia a um sofá, cortinas azuis, duas camas com colchas brancas e um armário. Mais adiante havia a cozinha e o banheiro. Tudo estava tão limpo e tranquilo que parecia um santuário para Luciana. Ela desfez as bolsas, depois tomou um banho de chuveiro, vestiu um short e uma camiseta e deitou na cama para descansar um pouco. A primeira bateria seria disputada apenas à tarde, então, ainda tinha algumas horas para tirar um cochilo.

As duas horas Jefferson enviou uma mensagem para o celular de Luciana, dizendo que as disputas já haviam começado. Ela deu um pulo da cama, ajeitou-se em frente ao espelho e saiu do chalé. No caminho encontrou-se com um rapaz cabeludo com uma prancha debaixo do braço.

-- Ei moço, onde fica a praia que está acontecendo o circuito de surf?

-- Ao lado do cais. Mas se descer por aqui diminui bastante a distância -- ele apontou para uma trilha entre os pinheiros, nos fundos dos chalés. 

-- Obrigada pela ajuda. 

Finalmente, munida de óculos escuros e toalha, Luciana partiu para assistir Kristen surfar. E ela estava certa. A praia era linda, uma recompensa e tanto poder pisar naquela areia. Luciana olhou em total encantamento para a praia onde o mar variava do verde-esmeralda até o azul-celeste. A vegetação chegava bem pertinho do mar. 

Ao longe viu os amigos em pé na areia, com os olhos atentos na direção do mar.  

-- E aí? -- ela perguntou, aproximando-se do grupo -- A Kristen já entrou no mar?

-- Já -- respondeu Jefferson, empolgado -- Se ela receber um oito agora, já estará na final de amanhã.

Eduardo pulava na areia torcendo e berrando por sua ídola.

-- Kiss! Kiss!

Luciana balançou a cabeça indignada.

-- Eu mereço! O destino realmente nos surpreende.

Jefferson tocou de leve no ombro da amiga.

-- Tanto para o bem como para o mal.

Luciana fez um trejeito com a boca.

-- Sabe de uma coisa, não entendo nada de surf. Então, vou aproveitar para pegar um bronze.

Jefferson deu de ombros e voltou a acompanhar a performance de Kristen. 

Luciana escolheu o lugar onde havia uma pedra e logo tratou de tirar a bermuda jeans, a camiseta, lambuzou-se de filtro solar e acomodou-se sobre uma toalha. 

Cerca de uma hora depois da paz absoluta, os amigos se aproximaram e se instalaram ao seu lado, munidos de cervejas, refrigerantes e salgadinhos. Foi o fim da sua tranquilidade. 

Kristen olhou para Luciana e sorriu ao ver que ela estava de bruços tostando ao sol. A tola estava se arriscando a ter uma insolação, para dizer o mínimo. Pensou.

-- Se crua já é gostosa, imagina assada! -- Kristen comentou, ainda sorrindo -- Quer uma bebida?

Luciana a fuzilou com os olhos, mas se conformou e aceitou uma cerveja long neck estupidamente gelada.

-- Então, conseguiu se classificar ou levou uma surra logo na primeira onda? -- perguntou Luciana com um ligeiro tom de ironia na voz.

-- Me classifiquei em primeiro lugar -- respondeu Kristen, se controlando para não dizer um desaforo -- Amanhã será a final.

-- A Kriss fez bummm... mamãe -- exclamou o garoto, mergulhando na areia.

-- Hum -- Luciana resmungou com desdém -- A sua mãe está lá -- ela apontou para Letícia brincando na praia com Rick, correndo em ziguezague, lutando, pulando as ondas que quebravam na areia -- Vai lá com ela.

O garoto não entendeu, mas gostou da ideia e saiu correndo em direção a eles.

Kristen sentou-se ao seu lado com uma latinha de refrigerante na mão.

-- Vai ter um luau hoje a noite, vai com a gente? -- ela perguntou, antes de tomar um gole -- Vai ser bem maneiro.

Luciana estava tentada a aceitar, no entanto, o orgulho não permitiu.

-- Não, obrigada. Esqueceu que estou aqui obrigada! -- ela virou a cabeça para o lado e depois voltou a fitá-la -- Prefiro ficar na cabana assistindo televisão.

Kristen agitou os cabelos molhados e sacudiu os ombros.

-- Você é quem sabe, convidei só por educação, por mim tanto faz se você vai ou não -- disse ela, secamente. 

-- Pode falar o que quiser, senhorita Donati, mas não me fará mudar de idéia. 

-- Até parece que estou tentando fazer você mudar de ideia -- caçoou, levantando-se e dirigindo-se para junto dos amigos.

Como uma mocinha fascinada pela bandida, Luciana não pôde desviar os olhos daquele corpo bronzeado. Kristen levantou os braços e mergulhou na água clara e veio à tona do outro lado da onda.

-- Que tentação!

Ficou ali distraída, e quando percebeu já estava escuro. Recolheu suas coisas e retornou à cabana, tomou um banho de chuveiro, vestiu um short e uma camiseta para então ir à varanda. 

Espreguiçou-se e resolveu comer o que havia na geladeira do chalé. Ela ficou na varanda observando as luzes dos barcos e das casas no morro.

Ao se recostar na cadeira o vento trouxe um cheiro de comida e um som de música ao longe. Nesse momento arrependeu-se de ter recusado o convite da peste loira.

-- Fazer o que! Deve haver algo de bom na televisão, ainda é cedo e não estou com sono -- ela tirou a bermuda e a camiseta e deitou-se de calcinha e sutiã.

Enquanto isso na outra cabana...

-- Vai, vai, chuta, chuta, goooooooollllll!!!. Marceloooo!!! -- Kristen saiu pulando pelo quarto com Eduardo correndo atrás dela -- Golaçoooo!!! Ch*pa Flamengo!

-- "Supa Famengooo"!!! -- Eduardo comemorou junto, dando pulos de alegria.

-- Vem cá Dudu, canta comigo: Fluminense vai jogar, eu vou ficar louca da cabeça, nada me interessa, sou tricolor, sou tricolor, sou tricolor...

Leticia franziu a testa e foi até a porta.

-- Estou ouvindo gritos.

Kristen voltou a assistir ao jogo.

-- Deve ser algum tricolor louco da cabeça igual a nós, né Dudu?

-- É, Kiss.

-- Vou comprar vinte camisas do Fluminense para você e nós vamos juntos em todos os jogos da Libertadores no Maracanã.

--Tá bom, Kiss.

Leticia correu até a porta novamente.

-- Ouviu? Gritou novamente.

Kristen foi até a porta.

-- Agora ouvi.

-- Acho que é a Lú.

Kristen virou-se para ela.

-- Você acha?

-- Acho.

-- Coitada! -- ela retornou ao jogo.

Letícia abriu os braços.

-- Não vai fazer nada?

-- Mais tarde, agora vou assistir o jogo, ainda faltam dois gols para sermos campeões.

Naquele instante, ouviram novamente o grito de mulher. O grito era próximo, desesperado e assustador. Ao menos, assim parecia para Kristen e Letícia.

-- É a Lú, com certeza é a Lú -- afirmou Letícia, convicta.

Kristen olhou para a televisão e mesmo com o coração apertado decidiu ir ver o que estava acontecendo.

-- Preciso de uma arma.

Leticia correu até a cozinha e trouxe uma colher de pau.

-- Pega.

Kristen revirou os olhos.

-- Se não tiver nenhum bandido lá, aproveito e bato um bolo para o café da manhã.

-- Vai logo, ela pode estar sendo estuprada.

Kristen estremeceu quando um novo grito foi ouvido vindo de onde ficava a cabana de Luciana. Olhou para Letícia com olhos esbugalhados.

-- Vou ajudá-la. 

Sem esperar resposta, Kristen ocultou-se na penumbra e alcançou a porta da cabana vizinha. Ao ouvir um novo grito de Luciana, segurou a colher de pau com firmeza e entrou.

-- Seja lá quem estiver aqui saia com as mãos para cima! -- berrou de forma dura -- Estou armada.

-- Socorro! -- Luciana estava agachada atrás do sofá. 

De repente, ela se pôs de pé e, com um grito, lançou-se para frente. Com passadas largas, jogou-se sobre Kristen.

-- Socorro, me ajude!

-- Calma. Vou ajudá-la -- ela murmurou, lutando para libertar-se dos braços de Luciana -- Onde ele está? 

Com outro grito, ela desabou de encontro a Kristen, que a sustentou nos braços.

-- No quarto, está no quarto -- ela disse -- Socorro -- ela implorou num fio de voz, erguendo os olhos para ela, ignorando estar apenas de calcinha e sutiã. Passou os braços em torno do pescoço de Kristen e segurou-se com força.

-- Espera aqui, eu vou dar um jeito nisso.

Caminhando com cuidado e máxima atenção, Kristen entrou no quarto e não encontrou nada.

-- Não tem nada no quarto -- ela disse, erguendo a colher.

Algo passou voando por cima da cabeça de Luciana e ela lançou-se para frente. Kristen caiu, tentando proteger o corpo da mulher com o seu. Por um momento, a consciência das curvas generosas invadiu-lhe os sentidos. Olhou para ela e descobriu que ela a fitava como se quisesse puxá-la para dentro de suas profundezas.

Algo atingiu-lhe o ombro. Ao sentir que era uma barata voadora, Kristen disfarçou e espremeu a barata. Sacudiu a camiseta e jogou ela pra longe.

Quando voltou a olhar para Luciana, Kristen descobriu que ela estava mole e pálida.

-- Ela está morta -- disse baixinho -- Eu salvei a sua vida. 

Luciana aconchegou a cabeça em seu peito, provocando-lhe um forte senso de proteção. Ela apertou-a contra si e curtiu o calor que emanava do corpo semi-nú.

-- Agora, pode, por favor, me soltar? -- berrou Luciana, afastando-se.

-- Não -- a voz de Kristen era firme -- Arrisquei a minha vida por você, mereço um premio.

-- Vai me manter aqui contra minha vontade? 

Kristen soltou uma risada.

-- Não resista a mim quando nós duas sabemos que não é o que quer. 

O pior era que ela estava certa. 

Descendo a palma da mão pela sedosa cascata do cabelo de Luciana, Kristen se inclinou para perto e, de súbito, o aroma do desejo misturado ao perfume particular dela fez o desejo dominá-la.

-- Vai me deixar beijá-la de novo? 

Luciana balançou a cabeça.

-- Não. Aquele beijo foi um erro.

-- Tem certeza?

-- Si-sim. 

A mão de Kristen desceu para envolver um seio entre os dedos.

-- Certeza absoluta? 

Confrontada pelo rosto de Kristen, seu corpo cálido contra o dela, Luciana sentiu sua determinação começar a se esvair. Hipnotizada pelos olhos verdes, ela se sentia incapaz de fazer qualquer coisa que não derreter-se na direção de Kristen enquanto ela continuava a brincar com seu mamilo.

-- Eu não posso -- sussurrou Luciana.

-- Sim, pode. Pois é tarde demais para pararmos. 

 

 

Fim do capítulo