Capitulo 67
CAPÍTULO 67
ASAS
Minha mãe ficou mais assustada quando me viu com a espada, do que eu quando ouvi seu grito.
―Guarda isso menina, ninguém está em perigo, eu estou é escandalizada com a sua tatuagem de asas que se meche toda, posso pegar. ―Quando ela falou já estava pegando e fazendo círculos ao meu redor passando a mão com delicadeza, de cima abaixo. Eu sentia um leve tremor nos músculos na costa, como se minúsculas terminações nervosas estivessem sendo estimuladas com o toque da minha mãe.
― É macio como penas de verdades, em alguns cantos espeta como se tivesse nascendo canhão sabe o que é canhão?...
Eu balancei a cabeça negativamente, gostando do carinho que minha mãe fazia.
―É uma penugem mais grossa que nasce nas asas dos pássaros e depois vira pena, na parte de cima, me dá sua mão e coloca aqui por cima dos ombros.
Minha mãe segurou a ponta dos meus dedos e passou por onde ela falava para eu sentir. Realmente estava arranhando.
―Está arranhando mamãe, tem muito? ―Além de arranhar, coçava e incomodava quando a roupa batia em cima das pontas.
― Tem por toda parte, a Gilisinha, aliás, ela diz que se chama Angel, como ia dizendo quando ela nasceu tinha desse mesmo jeito, só a cor era diferente o dela era mais claro, agora as asas estão completas da cor de ouro. Mas a magia as esconde só abrem quando a garota quer, a Celeste está fazendo roupas incríveis com magia no tecido que encobre as asas da visão de predadores. Acho que com você vai ser do mesmo jeito, como foi que conseguiu as suas?
Puxei minha mãe para a cama e me sentei a seu lado.
―Quando eu morri, a mãe da Nalum apareceu e me reivindicou, era a única forma de me trazer de volta a vida, ela fez todo o ritual e minha alma e loba aceitou completamos o laco, com isso nos tornamos parceira de almas, ela é um anjo hibrido, eu ganhei suas asas e ela a cor dos meus olhos em certos momentos.
―E cadê a mãe da sua filha? Se vocês são companheiras de alma, como explica o fato você ser laçada com a Amkaly? já pensou o que vai dizer, e se ela não aceitar a sua filha? ―minha mãe ficou em pé andando de um lado a outro.
―A mãe da Nalum não é dessa época, é do futuro, ela não pode vir comigo, eu vou contar a verdade para Amkaly. Tentei me conectar com ela e não consegui. Depois ela não tem que aceitar ou deixar de aceita minha filha, quando ela não quis engravidar eu entendi e respeitei, espero que ela não me ponha para escolher porque eu vou sempre optar pela Nalum, sempre.
―Mas filha, você é laçada com a Amkaly, quer queira ou não isso foi uma traição. Já imaginou seu pai sair para uma jornada e voltar com um filho homem nos braços, avisado que foi reivindicado por uma loba? Eu arrancava as bolas dele e expulsava ele de casa. ― Pelo visto a dona Nádia já tinha tomado partido.
―Mãe. Escuta, minha loba escolheu a Amkaly para ser minha parceira, mas ela nunca me reivindicou e nem quis que eu a reivindicasse, ela achava que era besteira, e eu respeitava por ela ter tido outra educação, e também porque eu nunca me interessei por outra loba. ―Minha mãe já foi humana, ela entendia os medos da Amkaly.
―Eu a entendo, com seu pai foi diferente, o lobo dele me escolheu, mas foi ele que me reivindicou depois de me ver toda noite com um homem diferente...
―Mâeeee...não precisa entrar em detalhes eu já entendi, e não quero saber do que a senhora fazia antes do meu pai. ―Coloquei as mãos em conchas nos ouvidos fingindo pudor e ela ria à vontade, fazendo a cama subir e descer acordando a Nalum que gem*u, coloquei ela deitada de bruços de bundinha pra cima e coloquei embaixo da cabecinha a roupa que Nyxs usava quando ela nasceu. Ela dormiu na hora.
―Nunca pensei em um dia ver você cheia de cuidado com um filho.
―Eu nunca pensei em um dia amar tanto um ser, que chega à dor de tanto amor. ―Minha mãe me encheu de beijos como fazia quando morava com ela, e pelo jeito eu seria da mesma forma com a minha pequena, tirei a roupa da mão dela e comecei a me vestir.
―Filh,a o que você sente pela mãe da minha neta, eu pergunto porque um dia se ela bater na sua porta exigindo a filha ou você de volta, ela tem esse direito, você sabe né?
―Ela nunca faria isso mãe, ela sempre soube que seria minha companheira prometida pelos deuses, e queria me conquistar e fazer com que eu visse que era para ficarmos juntas, mas não teve tempo, ela não queria me reivindicar por que eu estava morrendo e eu não tinha como recusar , ela só fez por que era a coisa certa, na hora ela jurou que se Anúbis me desse outra vida, ela aceitaria viver só e me ver feliz com outra loba se essa fosse minha escolha. Mas eu aceitei e eu a reivindiquei, consciente do que estava fazendo. Mãe, a gente conversa só olhando uma nos olhos da outra, quando estamos abraçadas é como se nada mais existisse, eu amo a maneira como ela me olha, me faz carinho, sinto sede dos seus beijos do seu cheiro. Sinto falta de tudo dela... ― Nalum acordou resmungando e fui tirar ela da cama seus olhos ficaram me encarando me contando coisas, como a mãe dela fazia. Ouvi minha mãe limpando a garganta e me virei para o seu lado.
― Isso é amor Nara, é complemento de alma, você chora só em lembrar dela, o que liga vocês são tão indestrutíveis que sua filha sentiu a sua dor, não percebeu que está chorando de saudade da sua outra metade?
Só então eu percebi que estava chorando, sequei as lágrimas com uma das mãos e outra segurava Nalum, que me olhava fixo. E expliquei para minha mãe.
―Elas vão se encontrar em sonhos sempre e no presente, o Isriel prometeu que ela vai acompanhar o crescimento da filha, mesmo sem saber que é sua filha, até quando Nalum completar 20 anos. É quando a mãe dela vai estar alinhada no tempo e vai lembrar tudo que aconteceu. ―Troquei a fralda cheia de mijo e cocô, tapando o nariz minha mãe ria e veio me ajudar, eu já tinha merd* até nos olhos.
― Afasta, você está mais suja que a lindinha da vovó não é fofinha? ― Fiquei olhando, mas por pouco tempo, batidas na porta tiraram minha atenção, ouvi a voz da Ameth brigando com alguém, por fim entraram só Ameth e Esther, e ficaram paralisada olhando Nalum que estava toda virada para o lado delas examinando como se entendesse o que acontecia, Ameth como sempre era só lagrimas.
―Mamãe, traz a Nalum aqui. ―Ela pegou a criança e veio para perto de Esther e Ameth que ficaram só olhando.
―Meninas apresento a vocês a Nalum, minha filha e da minha companheira reivindicada, ela não pode vir, mas me permitiu trazer nossa filha que nasceu momentos antes de libertar o anjo, foi ele quem terminou o parto, e mandou que eu a trouxesse.
―Mamãe, leve a Nalum para todos conhecerem, acredito que estão se coçando com vontade de arrombar essa porta, antes passe na Ananya e peça para ela fazer um exame completo, para saber quantos dias minha filha tem, quando eu voltei ela tinha acabado de nascer e quando estávamos tomando banho eu a percebi batendo palminhas.
Quando dona Nádia saiu, as lobas parecem ter voltado a realidade, Ameth se abanava e Esther em pé sem fala.
―Já que vocês estão em estado de choque, lá vai a bomba, Nalum é minha filha e da Nyxs, elas vão ser criadas juntas, quase nunca vão se separar, mas não vão saber que são mãe e filha, ninguém deve saber, só vocês duas, a Aldra e eu. O restante esqueceu a parte do ritual, lembram que fui ferida, mas fui curada, e assim deve ser. Mesmo que Lilith ou Sandy entre na mente de vocês essas lembranças estão trancadas, A Nyxs vai sonhar com tudo que vivemos nos sonhos ela terá uma filha e laçada, mas nunca verá meu rosto e nem o da filha, só quando chegar o tempo. ―Quando terminei de falar aguardei, elas nem piscavam me olhando catatônica, acho que o golpe foi forte demais os olhos da Esther estava igual luz quando vai queimar, piscando direto e com aquele tremor nos lábios já conhecido de outras vezes, mas acredito que foi só o tempo dela assimilar.
― O que vai fazer com a Amkaly? ―foi tudo que minha beta perguntou.
―Vou contar a verdade, só vou esconder o nome da loba que me trouxe de volta a vida para proteger integridade da garota e evitar situações constrangedoras no dia a dia. ―Esther em momento algum tirou os olhos dos meus, acredito que um passo em falso uma palavra usada de forma errada e ela esqueceria que era minha beta.
―E se ela ler na sua mente? ― Ameth resolveu voltar a vida.
―Descobri sem querer antes da viagem para resgatar o anjo que muitas vezes ela não conseguia entrar na minha mente, eu achava que era por que meus escudos estavam erguidos, mas descobri que não existe esse lance de escudo erguido quando a gente é parceira de alma eu a procurei pelo laço, e nem laço existe mais, está escuro, eu não a vejo mais.
Esther ficou pensando, ainda me encarando dei a ela o tempo necessário, depois falou.
―Pela as tradições da nossa raça, que por sinal vocês estão é cagando para tais tradições, o que aconteceu com você só aconteceu uma vez na história, e não foi nem na nossa história foi na história humana, quando a primeira mulher se recusou a ser a companheira do homem e para ele foi criada outra mulher acho que algo parecido e inverso aconteceu com você mesmo que sua loba tenha caído de amores pela loba da Amkaly, ela não aceitou o ritual porque não era ela a sua companheira, a sua ainda ia nascer, e sua loba sabia disso, tanto que não insistiu na reivindicação. Fale a verdade. A verdade num relacionamento é a coisa mais importante. Não precisa falar o nome da mãe da minha neta, vamos guardar esse segredo até quando for preciso.
―Mãe e se ela entender tudo e aceitar ser a consorte da alfa, também está dentro da nossa lei.
―Você aceita outra pessoa na sua vida e da Lili? ―Minha beta voltou a piscar, sua raiva estava a flor da pele.
―Sim, tanto eu quanto ela podemos ter amantes, longe da reserva e de nossas filhas, não podemos ficar com a mesma pessoa mais de três vezes, para não virar costume. E estamos bem com isso.
―Que história é essa Ameth? ― Pronto o pouco de sanidade que Esther tentava segurar esvaiu-se.
―Esther estou morrendo de fome, vamos comer, eu também quero conhecer o resto das crianças que vão ser o nosso exército. Eu soube que tem quatro crianças com asas falando nisso olha. ―Virei de costas e tirei a blusa senti mãos tocando a penugem.
―Caralh* está nascendo penas de verdade, vai precisar de uma magia própria pra esconder essa belezura, quando foi que isso aconteceu? ―Ameth perguntou.
―Acho que quando fizemos o ritual, eu ganhei as asas e a Nyxs a cor dos meus olhos em certos momentos. Já ia esquecendo lembra daquela moça que eu pedi para procurar a mim quando saísse do coma? Pois ela veio, está aqui entrou no rio e tudo.
Saímos conversando para os lados onde ficava o refeitório e de longe eu vi Nyxs com minha filha nos braços e minha mãe cheia de cuidados e mais um batalhão de crianças perto pedindo para segurar.
―É sobre isso que o anjo falou, o instinto materno vai ajudar mesmo ela sendo inocente.
―Filha vem aqui. ―Meu pai gritou lá do refeitório quando chegamos, tinha uma banda de boi saindo de um forno a lenha e muita cerveja em latinha na mesa.
―Papai eu não vou beber, tenho uma filha novinha para cuidar.
―Besteira, eu passei cinco anos de cu trancado com medo de não ver mais minha filha, agora que ela está aqui, vai beber sim, vai cantar e vai chorar, ali tem um violão vamos cantar brega até ficar sem voz.
―Mamãe se a Nalum estiver com sono traga ela pra mim, hoje eu quero dormir abraçada com minha filha. ―Falei com minha mãe pela nossa ligação, e pude vê-la confirmando.
Pequei o violão, afinei as cordas e um prato cheio de pedaços de carnes e duas cervejas apareceram na minha frente. Eu merecia essa festa, nós merecíamos, todas as lobas foram chegando e bebendo com suas parceiras, senti falta da minha, da cumplicidade e do afeto, mas me conformei tudo que realmente importava estava ali comigo, meus pais, minha alcateia e minha filha.
Fim do capítulo
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