Capitulo 66
CAPÍTULO 66
DE VOLTA
Meu pai me apertava tanto que estava vendo a hora esmagar minha filha, com jeito me afastei um pouquinho, ainda mantendo o abraço e achando gostoso como ele falava comigo. Me senti de volta a minha infância, onde não existiam problemas, nem guerras a não ser as de lama que travava com meus primos e os lobinhos na beira do rio.
―Eu quase enlouqueço de medo e de sentimento de impotência a cada vez que vocês apareciam naquela praia dos infernos, correndo risco de vida e eu aqui sentado assistindo sem poder ajudar... ― ele falava de um fôlego só, parou abruptamente e ficou sem falar, olhando para Nalum que também o fitava intensamente. ―Pela semelhança, não preciso nem pergunta se essa coisinha linda é sua filha.
Me afastei deixando que ele olhasse para a neta pela primeira vez, e sorrindo mostrei o motivo do meu coração bater acelerado.
―Papai, apresento a você, Nalum. A pequena guerreira. ― E olhando dentro dos seus olhinhos azuis, falei suavemente. ― Filha, esse é seu avô, e o único pai que conhecerá. ―Nalum parece ter escutado ou sentido o cheiro diferente, pois abriu os olhos mais ainda e ficou olhando meu pai, que nessa hora se parecia muito comigo, estava sem voz, contendo o choro. Ele tirou imediatamente ela dos meus braços e ficou babando e conversando.
―Vocês viam a gente, papai? ―chequei mais perto com medo dele jogar a neta pra cima só para ver ela sorrir, ainda bem que ele estava muito emocionado para lembrar tal coisa
―Só quando caminhavam a céu aberto, quando entravam nas grutas ou montanhas não dava para ver, a aldrava falou que era por que vocês atravessavam portais para outros mundos. Mas vimos quando foi ferida, sua mãe quase morre.
―Espera papai, a mamãe está aqui também? Vocês entraram no rio? ―Meu receio era de que minha mãe ou irmãs tivessem sido modificadas pelas águas do rio.
―Não, só as gêmeas e a Celeste. Eu e sua mãe fomos transportados, a Winnie foi nos buscar. ―Meu pai já estava lá no fim do iate, fazendo cosquinha na criança que fazia barulhinhos na boca e babava, vi quando ele limpava sua boca com a roupinha dela.
― E quem diabos é Celeste. Por acaso eu tenho outra irmã? E a reserva ficou com quem?
―Com seu tio Anael, ele é o alfa até eu voltar e assumir. O que não pretendo fazer tão cedo, esse lado de vocês é mais interessante. E não, você não tem outra irmã, a Celeste apareceu na reserva dias antes de mandarem a gente vir ficar com vocês, ela veio me procurar e disse que tinha tido um sonho, e nele você a mandava vir procurar Nara Shiva ou ziam na nossa reserva.
A garota que eu salvei na ilha, então ela acordou e se lembrou, Celeste tinha tudo para ser a última criança modificada pelo desgraçado do Mascarenhas.
―Papai, onde está a Amkaly que eu ainda não vi?
―Saiu com as gêmeas, e Amkaly foram conhecer as ilhas. As meninas tem uma doença, não podem ficar sossegada que dizem que estão com tédio. ― Meu pai falava, mas sua atenção era toda para a bebê em seus braços, cobrindo-a de beijinhos.
―Quantos dias ela tem? E a outra mãe, morreu? ―Papai parou as brincadeirinhas olhando direto pra mim.
Confesso que fiquei gelada, sem saber o que responder, ainda bem que minha mãe chegou toda alvoroçada. ― Olha amor nossa neta.
Só foi olhar o que o papai tinha nos braços que ela parou ao seu lado esquecendo de mim e ao lado do meu pai enquanto falava.
―Nara, você também tem uma mãe. Filha como você está grandona! Cortou o cabelo, e esses músculos, menina você tá comendo o que para ter tantos músculos?
―A senhora nem tá olhando para mim, como é que sabe que tenho músculos? ― Fui para perto e a todo momento eles me empurravam de lado, para ficarem mais perto da criança
―Uma mãe não precisa olhar para saber como está o filho, ela sente, aliás, desde que soubemos que você vinha trazendo sua filha recém nascida, que Ananya vem trabalhando desenvolvendo um leite que seja idêntico ao leite materno, tem duas mamadeiras já pronta, posso levar ela para amamentar? ―Minha mãe já ia saindo com meu pai, Nalum gem*u como se não quisesse ir.
―Espera mamãe, é a primeira mamada dela de forma diferente, eu quero dar a mamadeira, venha até o quarto, vou me lavar e lavar sua neta, pergunte se alguém tem roupinha de recém-nascido, que possa me emprestar uma, minha filha não pode ficar enrolada com essa roupa para sempre.
Bem que poderia, era a roupa da mãe dela, ia mandar lavar e deixar como paninho para dormir. Ia ser bom dormir sentindo o cheiro da sua mãe.
―A Lillith tem todas as roupinhas da Nyxs, ela nunca jogou fora, e não coube nas gêmeas. Vou pegar uma. ―Era perfeito Nalum usar as roupas que foram da mãe, assim eles ficavam mais perto, o sentimento entre mãe e filho é único e passa rápido, quando os filhos saem do ninho e vão construir família, eu sentia saudade da minha mãe
― Vou no meu antigo quarto tomar um banho e tirar essa roupa quero comer muito.
―Vá meu anjo, depois a gente conversa. É o tempo que vocês duas se limpam.
―A Amkaly não sabia que eu chegar hoje? ―Realmente eu achava estranho o fato dela não estar presente.
―Com certeza não, mas todo mundo desconfiava, por que vimos quando encontraram o local onde estava o anjo, mas não tínhamos certeza. Agora, o que ela não sabe é que você ia trazer uma filha nos braços, porque só ficamos sabendo a sete luas.
―Então a Amkaly está fora há mais de uma semana? ―Eu não estava com raiva e nem tinha motivos para estar, eu fiquei fora cinco anos. Era bom que ela tivesse amigas para sair, tomar um porre, ouvir música brega, tudo isso fazia parte do crescimento da pessoa, ela não teve essa parte da vida.
―Ela achou a companhia certa com as gêmeas e a Celeste, todo final de semana elas descobrem um lugar diferente, além de terem a mesma sede de viver e liberdade. ―Mamãe passava a mão na cabecinha da Nalum e ela gostava do toque.
Dei mais um abraço apertado no meu pai e outro na minha mãe e fui para o quarto, tentei usar a comunicação com a Amkaly e nada ouvi do outro lado, só um vazio e escuridão onde antes tinha um fio para comunicação, era como se os fios tivessem sido quebrados. mais tarde eu tentaria quando estivesse mais calmo.
Abri a porta e entrei, estava tudo igual ou quase tudo a quando estive aqui. Deitei a Nalum na cama imensa e a virei para o lado onde eu estava, assim nós duas estávamos nos vendo o tempo todo, tirei toda minha roupa, coloquei as espadas na cadeira, enchi a banheira com água morna, tirei a roupa que cobria a Nalum e o cheiro impregnou no meu nariz, o cheiro da mãe da minha filha, da loba que me deu tudo e não me pediu nada em troca, Nyxs deu a vida dela para salvar a minha, me deu amor incondicional, e me deu uma filha a saudade apertou, queria que ela estivesse aqui conosco. Peguei minha bebê e fui para o banheiro, entramos e me deitei na água com ela em cima de min, morrendo de medo de afogar minha filha, lavei seus cabelos pretinhos já bem grandinhos com mechas cinzas, lavei só com água fiquei na dúvida se podia passar o sabonete, acabei optando por não passar nada, todos os produtos ali era para adultos.
―Tá com fominha, minha lindinha, a mamãe ta te matando de fome? Já a vovó traz sua comidinha, depois que meu amorzinho comer vai dormir, aí e a vez da mamãe comer um boi inteiro.
Ouvi batida na porta e mandei entrar, uma mãozinha colocou produtos de higiene infantil, não vi quem era, mais seja quem fosse deixou a Nalum agitada.
― São as coisas para limpar a guerreira, e na cama tem roupinhas minhas pra ela usar.
― Meu coração disparou quando soube quem estava na porta, eu tinha que aprender a vê-la e não ficar emocionada, aquela não era a mesma que se tornou minha companheira, aquela era uma desconhecida. Nalum só faltava cair dos meus braços cada vez que a garota falava, era como o anjo tinha dito ela ia estar sempre junto, enfiei todos os sentimentos dentro de um quarto escuro da mente tranquei e escondi a chave.
―Muito obrigada.
―Minha avó e minha mãe querem ver a guerreira, eu também quero. ―A voz falou do outro lado cheia de curiosidade como toda criança.
―Tudo bem, quando ela estiver limpinha e de barriguinha cheia, vocês podem ver. Agora vá, sua mãe deve estar preocupada.
―Está certo tchau alfa, tchau Nalum.
Nalum fazia gestos de ri e batia as mãozinhas desengonçadas, espera aí, batia as mãozinhas! isso era coisa para crianças de 60 a 90 dias de nascida.
― A mamãe vai mandar a tia Ananya examinar você para me dizer quantos meses você tem, tá bom? Vem, vamos passar esse shampoo neutro nesses cabelos lindos, esse sabonete vai ficar cheirosinha, agora vamos sair dessa água que está mais suja do que água de esgoto. ―Me enrolei na toalha da cintura para baixo. E fui no antigo quarto que tinha sido destinado para minha filha, ele não existia mais, aliás, não tinha outro cômodo a não ser o quarto amplo com cama de casal e o banheiro. O quarto da Nalum era como se nunca tivesse existido. Então realmente Amkaly não seria a mãe da minha filha.
O que antes era uma porta com runas e que dava acesso ao quarto infantil, agora era somente uma porta de decoração, com o mesmo trinco e runas, só que não abria nada. Mas a magia estava lá, eu senti. Nalum olhava a tudo com curiosidade.
―Esse era pra ser o seu quarto sabia? Mas a mamãe vai fazer um quarto lindo, com uma cama de princesa, igual eu vi.
Deitei Nalum na cama e coloquei uma fralda de pano e pus uma calcinha de babadinho e uma camiseta rosa com desenho de princesas da Disney, nos pés só um sapatinho de crochê amarelo, pronto ela estava linda, limpa e cheirosa, guardei o restante das roupas e produtos de limpeza na mochila que ganhei na casa da Gilles e coloquei em cima da cama. No guarda roupa não tinha nada que coubesse em mim, nada entrava e quando entrava rasgava me enrolei na toalha abri a porta e gritei.
―Mamãe.
Na mesma hora ela veio segurando um calção e uma camiseta do papai e duas mamadeiras de leite, peguei tudo e fui logo matar a fome da minha lobinha que nem estranhou, antes de mesmo de acabar já estava dormindo.
―Mamãe, eu quero me vestir. Com licença. ―Ela continuava sentada olhando pra mim.
―Não tem nada aí que eu nunca tenha visto.
Ela ria da forma como eu estava encabulada de trocar de roupa na frente dela principalmente, que os lobos não tem vergonha de ficar nu. Mas só que eu agora tinha uma coisa diferente entre as pernas, e isso ela nunca tinha visto. Eu pequei as roupas e já ia para o banheiro quando vi minha mãe de abraços abertos na porta, impedindo minha entrada. Se ela queria me ver nua ela ia ver puxei a toalha e me virei de frente.
―Minha nossa que coisa linda e maravilhosa e essa que você ganhou, seu pai vai ficar cheio de orgulho, ele sempre quis um filho homem.
― Acontece que eu sou hermafrodita, continuo tendo uma vagin* tá vendo.
―Não vejo nada, estou vendo um pauzão e duas bolas, e tenho certeza que mija em pé e quando trans* isso aí faz a festa de qualquer loba, então agora você é trans como dizem por aí.
Vesti só o calção, ele tinha suporte e servia como calcinha, gostei e achei muito confortável. Quando virei para estender a toalha na cadeira próxima, a cama minha mãe deu um grito me virei rápido já com a espada na mão achando que um ser queria raptar minha filha que dormia feito um anjinho.
Fim do capítulo
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