CAPÍTULO 65

ALDRA

―Chegou a hora de terminar o que veio fazer aqui, Nara Shiva. ― O anjo virou o rosto para o local onde eu estava, como se pudesse me ver só com o buraco dos olhos, e transmitia uma paz, que eu não sabia de onde vinha tanta resignação, seu corpo esquelético quase quebrando tomou posição.

― Não leve nada daqui a não ser o que criou ou fez, Nyxs. Quando esse mundo for liberto de toda maldade infringida a ele, tudo que existe aqui vai desaparecer junto. Todas vocês voltarão ao passado, e os seres que estão no portal voltarão para seus mundos.

― O que vai acontecer com a família que eu fiz aqui neste mundo, Irasfil? ―Nyxs embalando Nalum, apertou minha mão em busca de segurança.

― Quando o portal se abrir, você leva a sua filha Nara, e Nyxs você vai voltar como criança. Não vai lembrar de nada. Só no tempo certo, mas sempre vai sonhar que é adulta e tem uma filha, vai ver sua companheira em seus sonhos, mas nunca verá o seu rosto, lembrará do seu sorriso do sentimento que une vocês, mas não saberá de quem se trata, quando chegar a idade em que fez a reivindicação, na hora em que você olhar no rosto da Nara, se lembrará de tudo.

―Eu não vou participar da criação da minha filha, é isso que você está dizendo, que outra mulher vai criar, que ela vai chamar outra mulher de mãe? ―Nyxs chorava copiosamente, vendo seu desespero até eu comecei a chorar.

―Escute, minha filha. Você vai estar com ela sempre, enquanto ela cresce, vai acompanhar tudo, só não vai é saber que ela é sua filha, só em sonhos. Vocês vão sempre atravessar os portais juntas, quando chegar o momento de aprender a usar armas angelicais e quando atravessarem serão mãe e filhas, sempre que estiverem em mundos paralelos serão mãe e filha, em algunhas vezes, viajarão todas juntas.

― Irasfil, meu povo sabe que somos companheiras, inclusive a mãe da Amkaly que tem certeza que ela é quem vai ficar gravida da Nalum.

―Somente Esther e Ameth saberão a verdade, além de você. Gilles saberá por suas sombras, o resto ninguém se lembrará Amkaly não terá filhos, ela desobedeceu a uma ordem maior, e a vontade foi ouvida. Nyxs, entregue sua filha a Nara, está na hora dela ir só você vai ficar para trás por mais um segundo. Não tenha medo, vou estar com você. Depois você também volta pra seu mundo. Estou pronto, Nara. Pode enfiar a espada entre minhas asas e cortar de cima até embaixo, antes prenda a sua filha em seu braço e não a solte por nada.

Eu não sabia o que doía mais: O fato de ir embora, ou saber que ela iria ficar e quando voltasse não se lembraria de mim ou de tudo que vivemos. Eu não queria esquecer. Nyxs sentiu minha indecisão, e dessa vez, foi ela que apertou minha mão na hora que passou para os meus braços nossa filha que acordou e ficou olhando em seus olhos, Nyxs beijou a cabeça da filha, em seguida beijou meus lábios.

―Eu te amo mais que a mim mesma. ―Quando eu ia dizer que a amava, ela tapou minha boca ―Se disser isso eu não terei coragem de deixar você ir, daqui há alguns anos quando eu descobrir, me diga, vou estar esperando.

―Nara faça o que tem que ser feito, me liberte.

Eu sabia o que deveria fazer, e foi o que fiz. Enfiei a espada laevataein entre as suas asas e senti ela perfurando, quebrando os ossos e atingindo o coração do anjo, e tudo foi ficando branco congelado, uma luz imensa dourada ardeu nos meus olhos me cegando por segundos Nalum choramingou e abracei forte com um braço, com o outro guardava as duas espadas na aljava, estávamos voltando para casa.

              Ouvi um barulho, insuportável nos meus ouvidos busquei Nyxs com o olhar querendo segurar mais um pouco e uma luz clareou. Primeiro amarelo fraquinho e foi ficando da cor de ouro derretido. Quente muito quente.

Tentei abrir meus olhos e a luz forte me cegava um cheiro mais forte ainda me deixou tonta, tudo que eu não podia agora era desmaiar com a Nalum nos braços, me forcei a abrir os olhos.

Senti mãos me cutucando, eram mãos pequenas de criança, tentei abri os olhos e com esforço fui abrindo.

Minha nossa senhora, tinha tanta criança e de tantas cores e jeitos diferentes que eu não tinha noção de onde estava.

―Vamos crianças, vão perturbar a mãe de vocês. Vamos... passa. passa― Eu conhecia essa voz, mas não a dona dela.

― Mas mãe eu quero pegar a Nalum.

―Ela está dormindo, vá chamar a sua mãe.

Nalum choramingou e eu me sentei examinando, acho que ela está com fome ou com saudade da mãe, como eu ia fazer para amantar minha filha?

―Como está se sentindo, minha alfa?

Sentei direito seja lá onde eu estivesse e fiquei encarando a dona da voz, aquilo só podia ser loucura. Na minha frente estava uma mulher belíssima de quase dois metros de altura muito parecida a atriz que fez o filme Cleópatra tudo, igual, acho que fiquei de boca aberta.

― Isso aí que está caindo no canto da sua boca é baba? ―ela sorria de canto, ironicamente, seu senso de humor não mudou com a transformação.

―É que achei você muito parecida com a ...

―Eu sei com a atriz que fez a primeira Cleópatra no cinema, era eu mesma, naquela época eu gostava de fugir e fingir ser outra coisa, eu queria parecer com a Melissadre para que minha Gilles não se sentisse só e fui treinar com a rainha do cinema.

―Onde está todo mundo, eu pensei que quando chegasse todos estariam me esperando. ―Era estranho o fato de estar só nós duas, a não ser que tivesse acontecido uma tragedia, e muita gente houvesse morrido, o raio lá na praia.

―Não aconteceu nada de ruim, estão todas bem pare de pensar besteira. ―Aldra interrompeu meus pensamentos

― Quando libertou o anjo, me libertou também, e uma daquelas pestinhas que estava aqui é a minha filha com a Morgana. O restante delas você vai conhecer com o tempo, a mãe de cada uma está mantendo-as presas nos quartos pra não perturbar a pequena guerreira, sua filha é linda, eu pedi para ficar a sós com você.

―Elas escutam mesmo estando distante, esqueceu?

―Por isso mesmo aqui estamos no vácuo o som não vai se propagar, tudo que for dito aqui só eu e você ouviremos.

―Aldrava não tirava os olhos de nós duas eu sentia o respeito e admiração que ela tinha além de sentir que ela tinha algo para dizer e estava com receio, mas eu também tinha, estava cheia de segredos e medos.

―Ester. Ameth e o pessoal já chegaram? Estão bem?

―Sim, estão nos quartos conhecendo os filhos que chegaram antes de você.

―Aldra, eu quero te fazer uma pergunta e não sei como fazer.

―A pessoa que você quer saber, está bem, está dormindo desde quando chegou, veio primeiro do que todo mundo. A viagem dela foi diferente da de vocês, lembra que eu disse na noite que começou a jornada que se precisasse, Nyxs iria te ajudar? ―Aldra sentou ao meu lado olhando de pertinho o bebe que dormia tranquila.

―Você falou que ela ou a menina da Agatha iria me ajudar.

―Engano seu, eu falei que ela ia te ajudar, quando foi preciso, ela adormeceu e Awa também. As duas entraram naquele mundo juntas e adultas, Nyxs te achou e ficou, a Awa veio embora.

―Acho que não entendi nada, explica direito. ―Aldra me olhou meio de banda segurei o riso por que era muito parecido como ela fazia sendo aldrava.

―Toda vez que você e sua companheira estavam juntas, aqui ela estava dormindo, Nyxs nunca saiu do barco, ela só dormia muito para encontrar você, tudo que vocês viveram para ela foi como sonhos, que ela não lembra.

―Quanto tempo passamos fora? ―t irei a aljava e as armas depositando no piso do barco.

― Cinco anos. As crianças tem quatro, a primogênita da Lilith tem sete e já vai para academia estudar, só vai voltar de ano em ano, nessa época já estaremos na reserva. As trigêmeas da GILLES, assim que completarem sete. Tem umas pessoas que sei que gostaria de ver. Mas quero que saiba que ninguém lembra do que houve com você lá na gruta, somente Esther e Ameth as outras lembram de tudo menos dessa parte.

―Aldra como é que vai ser minha vida na reserva vendo-a e sabendo do que vai acontecer no futuro?

―Vocês quase não vão se ver por causa das aulas, o tempo vai ser muito curto, elas vão ter que aprendera lutar com armas angelicais, humanas, demoníacas e magicas, a entender todas as línguas, conhecer venenos e curas, suportar dor ao extremo. Aprender a voar, a lutar nos ares, a ficar invisível. Como vê elas não terão tempo para ficar andando por aí, só terão um dia de folga e nesse dia, não se encontraram com frequência. E quando chegar à época, ela vai lembrar de tudo.

― Você sabia que seria assim? ―Troquei minha filha de braço que gem*u procurando peito

―Sempre soube, minha mãe contou dizendo ela que foi sem querer. Mas não acredito.

―Aldra, lá eu descobri que você não tem nada de demônio. Sua parte demônio morreu você e só anjo. ―Ela me olhou daquele jeito só dela e falou.

―Eu descobri quando minha filha nasceu e trouxe a marca de nascença dos anjos da minha família. Aliás, a senhora também tem a mesma marca no seu peito. ―Sorri ao lembrar como tinha adquirido a marca quando ouvi uma voz grossa, que fez meu coração apertar

―Ela acordou? ―a voz do meu pai ecoou dentro da embarcação, fiquei de pé com os olhos cheios d’Aqua e ficamos só assim um de frente para outro se encarando, eu corri e abracei meu pai, com jeito para não esmagar minha filha apertando com medo de perder ele de vista outra vez.

Fim do capítulo