Penélope/Liz

— Acho completamente desnecessário ter que aguentar esse ar de felicidade, essa cara de quem fodeu a noite toda. - Comecei a rir e Pérola baixou os olhos constrangida. - Olha isso! Nem pisca! Cara lisa! Agora vou ter que ficar aguentando vocês se pegando nessa van até Brasília?

— É só você olhar pra frente, ué. A gente tá aqui no último banco exatamente pra isso. E para de besteira que quando você faz deliver no tinder eu aguento você me contar todos os mínimos detalhes, sem falar das fotos de piroca que não precisava compartilhar! - Pérola arregalou os olhos.

— Não fala da minha coleção!!!! Olha, Pérola, tenho de todos os tipos, formatos, cores… - ficou mostrando fotos de pintos para minha Preta que cada vez mais arregalava os olhos.

— Nossa, mas esse parece uma salsichinha de conserva. - Pérola disse tentando entender se era um p*nis ou uma verruga.

— Ah, tá, agora vai desvirtuar a menina, Cacau. - disse com falsa irritação. Na verdade estava amando que a Pê estava se soltando. - Para com essas sem vergonhices!

— Até parece que tu não tem no celular uma pasta secreta de nudes? Pérola essa aqui ganha um monte de nudes no privado. 

— Sério, dona Penélope? - Combinamos que em público ela iria me chamar com meu heterônimo. - Quero ver isso! Pode apagar! 

— Já apaguei, Preta, a Cacau que tá te enchendo o saco. A única pasta que eu tenho aqui são fotos suas, olha… - mostrei o book que tinha dela.

— Não muda de assunto. Quero saber direito isso de você estar recebendo nudes.

— Linda, sempre enviam, né. E quase nunca vejo as DMs, mas fica lá as bucet*s, os peitos, os pintos…

— Esses ela me manda com o @ do boy. - Cacau boca grande.

— Êeeee, dona Penélope…

— Amor, eu nem curto. É só pra zuar mesmo. E tem uns nudes terríveis. Às vezes olho uma manchinha, um nodulozinho e penso em avisar pra ver um dermatologista…

— Ai, que nojo, lembrei daquela que você me mostrou que parecia que tinha um segundo clit*ris abanando…

— Como é que é? - Pérola falou alto e vários rostos se viraram para nós.

— Melhor mudar de assunto. Puta que pariu, Cacau, quer me arrumar problema.

— Pérola, quando você for ao Rio pede pra ela te mostrar a coleção de pirocas de plástico que ela tem.

— Oi? Como assim. - Essa viagem vai ser interminável.

Pérola

A viagem de volta durou menos do que esperava. Cacau não parou um minuto de tagarelar e contar coisas engraçadas da infância dela e da Liz. Estava amando saber de tudo, e a atriz ficava retrucando e fingindo estar incomodada. Chegamos ao hotel na beira do Lago Paranoá e estávamos na recepção quando ouvi uma voz rouca falar.

— Até que enfim vocês chegaram! Eu tava pronta pra pegar um táxi e ir a um shopping, tô completamente entediada aqui nesse hotel. Já contei até os ladrilhos do banheiro… parece que tô com fogo no rabo… esses hormônios me deixam louca… - Ela agarrou Penélope e a abraçou. Luiza Nadge. Sempre a segui nas redes sociais. Mas virei fã quando ela fez um filme onde sua personagem era mãe da minha musa Penélope. Mesmo não aparentando, Luiza tinha mais de 40 anos e era uma atriz mundialmente famosa. Já fez muitos filmes, séries e era dona de uma marca de roupas chique, que tinha lojas nos shoppings mais exclusivos do mundo. Brício teria um filho ao saber que ela também estava na minissérie.

— Fecha a boca. - Cacau disse e percebi que estava olhando embasbacada para as duas.

— Ué, mas você veio sozinha? - Liz perguntou. - Cade AnaLu? Queria aproveitar e gravar algum conteúdo com ela.

— Tinha um evento e não conseguiu adiar. Já tô morrendo de saudade. Mas ela vai me encontrar aqui depois de amanhã. - Tinha lido nos sites que a esposa da atriz, cantora, produtora e influencer, era quase da minha idade e… pasmem… sua afilhada! Lembrei do pastor Elias falando a respeito e dizendo que as duas iriam para o inferno. Na época, pensei que por elas não terem relação de sangue, se amarem e as famílias estarem bem com isso, quem seria a gente pra julgar? Até falei com mamãe perguntando qual a diferença dela para o pastor Elias que casou com a sobrinha, essa de sangue, trinta anos mais nova. Mamãe pediu para que não falasse isso na frente do papai e desconversou.

— Lu, essa é a Pérola, ela trabalha na produção, na testagem para covid. - Liz segurou minha mão demonstrando que estávamos juntas.

— Oi, eu sou muito sua fã. Desculpa estar tremendo… - disse e tinha certeza que a minha mão estava suada. A atriz esnobou a minha mão e me puxou para um abraço apertado e dois beijinhos. "Ai, MEU DEUS!”

— Que isso, menina, treme não! - Riu e beijou a Cacau. - Vocês estão terminando o check in? Bora pra piscina então? Pelo amor de Deus, preciso de companhia…

— Tenho compromisso. - Cacau sorriu mostrando o aplicativo de namoro aberto. - Vou encontrar um boy.

— Esse é real, né? Cuidado com isso, tá? Não quero ter que ir na polícia atrás de você, garota! Eu hein!

— Pode deixar, mãe. - Riu. - Vamos nos encontrar aqui perto no Pontão. A luz do dia. Várias pessoas em volta.

— Tá, qualquer coisa você liga, tá? - Nunca tinha visto a Liz tão preocupada com a amiga, depois vou perguntar por quê. -  Lu, a gente te encontra lá na piscina daqui meia hora… 

— Perfeito!

Liz não aceitou que eu ficasse em outro hotel, ou até mesmo em outro quarto com a Cacau. Subimos no elevador e ela não largava a minha mão. Não estava acostumada com essa situação e como estávamos em Brasília meu medo de encontrar alguém conhecido havia aumentado. Outra coisa era que não era acostumada com o ambiente onde estávamos. Lá em Pirenópolis quase não fiquei no hotel chique em que Liz estava hospedada. Já ali ficaria um mês inteiro. As minhas roupas não eram para um lugar desses. Assim que estivermos sozinhas vou falar com Liz e pedir para ir para outro lugar.

— Tudo bem, princesa? - Liz perguntou dentro do elevador.

— Aham. - O pequeno ambiente estava lotado e não quis falar nada. - Liz, por que a Luiza falou em hormônios? Ela tá na menopausa? - Perguntei baixo e a Liz deu uma gargalhada.

— Não! Elas estão tentando fertilização. Então vão ver se conseguem óvulos viáveis da Luiza.

— Ah… - Que coisa linda, elas vão ter filhos!   

Chegando ao quarto reparei que não era tão grande quanto o do outro hotel mas era tão luxuoso quanto e tinha uma sacada com cadeiras e vista para o lago. Era um sonho! Cacau ficou em outro quarto e ela me confidenciou que estava nesse hotel só porque a Liz fazia questão de arcar com as despesas, porque apenas o elenco e a direção estariam hospedados ali.

— Linda. - Liz me abraçou enquanto admirava o lago da espaçosa sacada. - O que foi? Porque você ficou tão quieta e pensativa de repente?

— Liz… é melhor que eu vá para outro lugar. Aqui tudo é muito chique… eu não tenho roupa pra isso, você sabe.

— Não, nem pensar… 

— Liz, olha essas pessoas... Só gente de dinheiro… As minhas roupas são baratas e, pra mim, ainda foi um custo comprar. Você sabe disso…

— Amor… então temos duas opções. Ou eu vou comprar roupas com você…

— Não… não, de jeito nenhum.

— Ou nós duas vamos pra um hotel onde você se sinta confortável.

— Não, Liz… imagina o assédio em cima de você… e precisa de segurança…

— Então vamos comprar roupas…

— Compras!!!!! Eu vou também!!!! - Tomei um susto quando vi só a cabeça da Luiza aparecer entre as duas sacadas. “Ai, que vergonha!” - Ainda bem que nem troquei de roupa!!

— Luiza, sua louca!

— Ai, me desculpe por estar escutando, mas acha que eu não reparei no seu jeito com essa menina linda lá embaixo? Então estava eu aqui tentando falar com a minha esposa e ouvi vocês!

Penélope

Luiza decidiu que iríamos à filial da Domain, e agora estava enchendo a minha menina com roupas para experimentar. Pérola tentou novamente dizer que não, mas ficou envergonhada por minha amiga estar ali. 

— Pérola, olha! Amei a cor dessa blusa! Vai ficar linda em você. Experimenta! - Sem deixar que a menina respondesse, Luiza jogou a peça em cima dela abrindo o provador. - Vou olhar os sapatos! - Falou saindo.

— Liz, pelo amor de Deus, é muita coisa.

— Pê, você sabe que eu não tenho nada com isso, né? Luiza que tá trazendo essas roupas…

— Liz, é tudo muito caro! Cada peça é mais do que o meu salário!

— E quem disse que você vai pagar? 

— Não, Liz, eu não aceito.

— Amor, não vai custar nada. Acertei com a Luiza que vou fazer uma parceria com a Domain. Então essas peças que você levar, vai entrar nisso. Fica tranquila. Troquei por vários posts.

A loja estava em polvorosa! As atendentes não sabiam o que fazer para agradar a “chefe”. Do lado de fora uma pequena multidão se aglomerou para tentar uma imagem de nós duas. Os seguranças na porta estavam cuidando do acesso. 

 — Penélope, você sabe que sempre te disse que era para você parar com esses namoros fakes com esses hetero top lixos. - Luiza disse enquanto bebia a taça de espumante que haviam lhe trazido. - Menina, você já tem idade suficiente para viver a sua vida do jeito que você quer.

 — Eu sei, Lu, mas até hoje sem foi confortável… - tomei um gole da minha taça. Sempre procurando com os olhos onde Pérola estava. Agora ela saía do provador vestindo uma saia e blusa que pareciam ter sido feitas para ela. Nossa, como ela era linda. - Nunca me apaixonei de verdade por ninguém. - Sorri para Pérola e disse que sim com a cabeça. A menina que estava a ajudando sorriu e entregou agora jeans e blusas para ela experimentar. -  Então não valia a pena perder tantas oportunidades saindo do armário.

 — E ela vale a pena?

 — Demais, Lu. Demais. - Suspirei. Sentia isso do fundo do meu coração.

 — Então deixa eu te dar um conselho. Na verdade, como a mãe da minha melhor amiga sempre diz: se conselho fosse bom não era dado de graça… - disse rindo. -  Olha, luta por ela. Se portas se fecharem, janelas vão se abrir.

 — O meu maior medo, Lu, é que ela não aguente a pressão por causa do pai dela.

 — Bom, aí já fica mais complicado. Sei que eu sou uma pessoa privilegiada por ter tido uma família e amigos que me acolheram desde cedo. Não consigo me imaginar tendo pais conservadores… acho que não seria a mesma pessoa que sou hoje.

 — E mesmo assim, Lu, tendo uma família de uma igreja ultraconservadora, essa menina é tão mente aberta! Sacas? Cara, ela tem uma empatia que poucas pessoas têm… Se colocando no lugar do outro, tendo uma palavra de carinho quando mais se precisa… 

 — Tu tá muito fudida! Tá completamente apaixonada! Só falta sair coraçõezinhos pelos teus olhos. Parece aqueles desenhos animados em que o bichinho flutua pelo ar! - Luiza começou a rir. - Então, minha amiga… mesmo não sendo fácil, continua firme! 

 — É tudo o que eu quero, Lu…

 — Bom, vamos ir lá fora tirar umas selfies? Jack, organiza uma fila por favor e diz que em 10 minutos a gente vai até lá. - Lu pediu ao seu segurança.

Fui até o provador e espiei a minha garota. Agora ela estava vestindo uma calça jeans e uma blusa que salientava os seus seios.

 — O que você achou, Liz? A minha bunda não fica muito enorme com essa calça?

 — Ficou linda, e a sua bunda tá maravilhosa. - Entrei no pequeno espaço e fechei a cortina. - E essa blusa, meu amor… acho que não vou deixar você sair com ela - Segurei seus seios beijando seu pescoço. - Acho que vou querer que você vista só pra mim, usando mais nada… - beijei seus lábios com fome.

 — Vamos parar com essa sapatice aqui? — Luiza abriu a cortina rindo. — Pérola, experimenta essas lingeries agora. - Pérola arregalou os olhos ao ver as peças de renda e seda. Mordi os lábios imaginando a minha garota vestindo aquelas peças - Penélope, seca a baba que tá escorrendo e escolhe pra ela umas roupas de banho. 

Ficamos ainda umas duas horas fazendo compras. Fiz questão de levá-la até uma loja de artigos esportivos para ela comprar algumas leggings e tênis. Depois fomos para o Pontão tomar um suco à beira do lago. Pérola havia encontrado uma daquelas máquinas de bichinho e estava tentando pegar um daqueles bichos deformados.

Fiquei admirando Pérola, toda feliz voltando até a mesa com um ursinho feio que ela conseguiu pegar, quando um menino pulou na frente dela e a tomou nos braços em um abraço apertado.

Fim do capítulo