Capitulo 13
Acontecimentos Premeditados - Cap 13
Eu voltei para a delegacia na segunda definitivamente melhor do que sai na sexta, uma parte disso foi por ter esfriado minha cabeça, mas outra parte foi pelo sábado e a manhã de domingo delicioso ao lado da Bruna. Sábado à noite fomos lá no restaurante vietnamita e depois eu acabei dormindo na casa dela. Quando acordei as 5 da manhã para poder voltar para casa, me trocar e ir correr, em um fato inédito em todos esses anos nessa indústria vital, o Cantão cancelou nossa corrida. A princípio achei bem estranho, mas depois desbaratinei e voltei a dormir de conchinha com ela, o que foi delicioso. Há mais de dois anos eu não consigo dormir leve e calma como consegui essa noite e o mais importante, sem medicação.
Vim pra delegacia andando de casa, que sensação deliciosa, poder acordar mais tarde, me trocar e arrumar com calma e não pegar trânsito. Foram três quarteirões entre o meu prédio e a delegacia, trajeto que fiz ouvindo música e sentindo o ar gelado da manhã de segunda batendo no meu rosto. Entrei na delegacia pelo portão lateral e segui o mesmo ritual de sempre, vestiário, copa, minha mesa.
Para a minha sorte a copa estava praticamente vazia, tirando apenas o Florêncio, investigador e da senhora que faz o café. Eu entrei devagar, desejando um café quentinho e fresco, minha casa está tão zona ainda que nem café ou coador tenho.
- Bom dia, Bom dia. - estiquei a mão pra ele e fui até a senhora e dei um beijo.
- Tá com a cara boa Flávia.
- Descansei no final de semana - falei enquanto pegava minha caneca no apoio para copos.
- Só tem duas coisas que fazem bem assim pro rosto: esteticista ou mulher. Se te conheço, é mulher.
- Que isso Florencio. Nem te dou chance de errar.
- Eu te conheço Flávia. E aí, é daqui?
- Chega de mulher desse DP. - respondi pegando o café que saia fumegando da garrafa térmica, na pia da copa.
- Chega porque não sobrou nenhuma, já passou o rodo em todas.
- Também, mas até que sobrou umas duas ou três que dá pra investir por aqui hein?!
- Cara, um dia quero ser igual você. Olhou, pegou.
- Que isso. Levo uns dias até conquistar.
- Mas e aí, é daqui?
- Negativo, conheci em outro lugar. Mas está me fazendo bem.
- Dá pra ver, você está até mais leve.
- Não força a barra não, posso voltar a ser má. - dei um sorriso e uma risadinha, o Florêncio é um dos rapazes gente boa que eu tenho contato na delegacia, não é da minha equipe, mas é um cara tranquilo, que me respeita como sou. Fui na mocinha que prepara o café conversar com ela - Preciso te dar o dinheiro da vaquinha do café não preciso?!
- Se a senhora quiser já pode dar.
- Senhora está no céu - coloquei a mão no bolso para pegar o dinheiro que eu já tinha separado. Peguei uma oncinha e dei de lado, para a senhora - Esse é o do café e o que sobrar é pra senhora tomar um café também ok?!
- Não precisa.
- Claro que precisa, a senhora atende a gente super bem aqui. Fica pra comprar um doce depois. Eu vou subindo que o dia tá cheio - ela me agradeceu com um aceno de cabeça, ficou um pouco sem graça, mas eu sei nessa vida o que uma caixinha ajuda na hora que as contas estão apertadas. Já segurei muita coisa em casa com a caixinha da época da feira e do mercado. Enchi minha caneca mais uma vez.
- Vai pegar o depoimento daqueles dois hoje?! - o Florêncio perguntou.
- Se o Cantão estiver livre hoje mesmo. Vou subindo que o dia é curto pra tanta coisa - sacodi a cabeça me despedindo dos dois e fui subindo os três lances de escada até a minha mesa, realmente eu estou me sentindo mais leve, mais calma. Pode ter sido especialmente por ter conseguido dormir do sábado pro domingo, porque em casa, de domingo pra segunda, os pesadelos com a Fabi voltaram do mesmo modo de sempre, mas pelo menos uma noite eu dormi bem.
Sentei na mesa, liguei o computador, mais um gole de café, peguei os documentos do caso, mais um gole. quando já estava tudo organizado e o café finalizado, fui ver se o delegado já estava presente, assim que entrei no corredor da sala dele, o Cantão já esticou a mão pedindo para eu entrar na sala dele.
- Bom dia sapatão.
- Fala bonitão. Como você está? - não temos o hábitos de nos abraçar ou dar as mãos, tirando situações formais.
- Bem. E você hein? Como foi o final de semana? O encontro com a Bruna?
- Se tivesse ido correr comigo ontem saberia. Porque você desmarcou? - ele fez uma cara de perdido, portanto de mentira.
- Eu estava cansado.
- Cansado?
- É Flávia, me erra!
- Tá bom, quem sou eu na fila do pão não é mesmo?
- Aff, nem vou dar corda pra você. Depois eu quero detalhes.
- No almoço, pode ser?
- Fechado. E aí, vamos interrogar aqueles dois? - ele voltou a ficar animado e interessado.
- Sim, vim aqui pra isso. Que horas? Como você cancelou ontem, não alinhamos as perguntas. Você revisou o caso? - me senti a irmã mais velha perguntando se fez a lição de casa.
- Dei uma olhada.
- Cantão?! - olhei firme pra ele, para pegar na mentira mesmo. Ele estava todo engomadinho, de camisa polo preta, bem apertada nos braços bombados dele.
- Tá bom, eu não estudei.
- Gabriel, esse caso é importante. Preciso de um delegado lá no interrogatório.
- Me erra Flávia, não deu tempo de eu estudar - olhou para a mesa, como se tentasse me distrair.
- Tudo bem, quer fazer outro dia?
- Você se preparou? Acha que pode puxar o interrogatório?
- Sim. - respondi direta sem pestanejar.
- Então prepara os dois bundões e você puxa, eu fico só dando apoio emocional e validando como delegado, pode ser?
- Tem certeza?
- Você já fez tanto isso e faz tão bem que só precisa do título para fechar como delegada, pra mim você já é uma.
- Então desce daqui 10 minutos na sala do interrogatório. Quero começar pelo que não fugiu. Acho que ele tem mais cara de bobão, medroso. Quero explorar ele e depois ver o que dá com o segundo.
- O interrogatório é seu, manda bala. Vai precisar da Bia?
- Só para a montagem da câmera para gravar a abordagem - falei levantando da cadeira.
- Tá. Chama ela lá e pode já descer e pegar o cara. Eu já chego, só vou finalizar isso aqui e desco.
- Fechado chefe - Sai da sala dele e fui direto ao laboratório de perícia, onde fica a Bia e o resto da equipe de imagem. Chamei ela rapidinho, sem grandes conversas. Uma das coisas que mais gosto de fazer e ao mesmo tempo é uma das mais difíceis é o depoimento e o interrogatório. É o momento que eu preciso ser firme, dura, ágil, sem nenhum tipo de filtro social, pessoal ou ideológico, apenas ser profissional, fria e direta. Contudo, muitas das coisas que ouço dentro das quatro paredes da sala de interrogatório é cruel, nauseante, as vezes de partir o coração, de doer a alma. A maior parte das vezes eu saio bem carregada do procedimento, não só fisicamente, mas emocionalmente.
A Bia foi direto para a sala de interrogatório para montar os equipamentos de filmagem do depoimento, enquanto eu fui para a parte onde os presos ficam, as celas, no subsolo do DP. O lugar não é bonito, muito menos confortável, cheira a mofo, mas tenho que me concentrar na postura militar. Assim que entrei falei com o carcereiro que estava na frente, cuidando de tudo, para saber onde estava o suspeito que eu iria iniciar, um tal de “Belks”. Como eu inicialmente pedi para o Cantão os dois suspeitos que pegamos lá no Heliópolis estavam em celas diferente e em compartimentos diferentes, como foram detidos na sexta e hoje é segunda, a distância física deles é essencial para pegarmos bons detalhes no interrogatório.
Cheguei perto do isolamento do primeiro suspeito, acompanhada do carcereiro. O menino estava dormindo no banco de cimento e se assustou com nossa chegada. O carcereiro bateu com as chaves na grade para acordá-lo, justificando o susto.
- Bom dia jovem, preciso pegar seu depoimento. Vamos subir pra sala do interrogatório.
- Sim dona.
- Passa a algema nele que vou levar lá pra cima, faz favor - falei pro carcereiro, ele foi bem delicado, no sentido irônico da frase em colocar a algema no menino. Digo menino porque tem uma cara de molecote, mas pelo menos mais de 18 eu sei que tem. Depois de colocada, eu passei minha mão pelo espaço entre os dois braços e a algema, ficando mais fácil para conduzi-lo. - Jovem, sem gracinha por favor. Vamos sair daqui e subir um lance de escada até a sala do interrogatório. Se me ajudar eu te ajudo. Estamos combinados?
- Sim dona.
- Fica de cabeça abaixada enquanto estamos andando. Sem acelerar o passo, eu vou te conduzir - o menino ficou em silêncio - Se eu falo alguma coisa você responde jovem.
- Entendido dona.
- Agora sim. - fui puxando ele para fora do primeiro pavimento de celas, depois pelo corredor e o primeiro lance de escada, depois mais um corredor, até a sala de interrogatório. O menino foi direitinho, não ficou agitado nem nada. Era meio o que eu esperava mesmo, por isso quero começar por ele, o fato de ter ficado no carro e não ter fugido, mostra que ele é mais temeroso - Entra aí jovem. Senta na cadeira. - assim que ele sentou e se acomodou, se assim posso dizer, eu soltei a algema da parte de trás do corpo dele, ele esticou as mãos e eu prendi novamente em um suporte na mesa, permitindo ele ficar com as mãos pra frente e gesticular enquanto interrogo - Agora vamos esperar a chegada do delegado. Enquanto isso você fica de boa, ok?!
- Sim dona - olhei para a Bia, ela já havia montado um tripé e uma câmera, que permitiria eu filmar e registrar todo o interrogatório do suspeito.
- Prontinho Flávia. - A Bia me avisou que a câmera estava pronta, foi o primeiro momento que eu realmente reparei nela no dia, ela está pra baixo, com o olhar murcho, meio que triste. - Posso falar com você Flávia?
- Claro Bia. Estou esperando o delegado mesmo - olhei para o suspeito, ele estava sentado quieto na cadeira, temeroso, com um rosto apreensivo. Eu deixei ele na sala sozinho e sai, a sala tem vidros falsos, o que me permite ver o garoto todo o tempo pelo lado de fora, enquanto o oposto não é possível - está tudo bem Bia? Estou te achando meio pra baixo? - falei encostando no ombro dela, tentando passar uma proximidade, proteção.
- Estou cansada só - ela deu essa resposta aberta, propositalmente para eu não explorar. Mas o que eu conheço dela me diz que tem mais coisa. - Flávia, quanto sairia exatamente para eu dividir o apartamento com você?
- Eu não pensei exatamente Bia, mas você pode pagar a água, luz,gás e o pacote de telefone e internet. O mercado cada um paga o seu consumo e a gente divide certinho a geladeira. Não pensei mesmo. Pode ser assim e depois calculamos certinho pra dividir e tudo. Porque tem o IPTU e o condomínio ainda, mas podemos depois sentar e ver juntas essa divisão.
- ótimo. Quando posso mudar? - falou dispersa, como se pensasse em mil outras coisas ao mesmo tempo.
- Ah, eu já estou morando lá desde sábado como você sabe. Não tá muito diferente do que você viu no final de semana. O mais legal mesmo seria esperar eu limpar tudo e fazer a reforma, mas tudo depende da sua necessidade.
- Posso ir hoje?
- Hoje?!.... Hummm, pode. Mas eu ainda nem abri o quarto do meio pra limpar. Se você aceitar isso, pode ir sim.
- Perfeito. Posso já ir quando acabar o expediente de hoje.
- Eu tenho aula hoje, mas até você ir na sua casa pegar a mala, eu acho que dá tempo.
- A mala está no carro do Gabriel já. - eu não me assustei mas fui pega de surpresa.
- Ah… humm, tudo bem. Dependendo do horário eu vou lá com você ou caso não, eu já te entrego a chave e você vai indo. No almoço eu já faço uma cópia e te entrego, pelo menos a do apartamento. Depois fazemos a das portas e o sensor de segurança do portão.
- Tudo bem Flávia, fica tranquila. Vamos nos arrumando aos poucos. Obrigada por ter oferecido, mesmo.
- Que nada, foi uma mão lavando a outra. Fico feliz de ter aceito. Vai dar tudo certo. Olha quem chegou finalmente. - falei olhando o delegado finalmente aparecer no corredor da sala de interrogatório.
- Já terminou tudo aí Flávia?
- Se o ilustríssimo senhor tivesse vindo antes eu já teria terminado.
- Vai, vamos lá, que o dia é longo hoje. - falou pra mim e depois deu um beijo na bochecha da Bia, seguido de um carinho no braço. Eu entrei na sala novamente, principalmente para dar um espaço aos dois. Deve estar sendo duro para a Bia lidar com essas mudanças todas e algo específico acontecendo, algo que vou descobrir depois, mas sério a ponto dela estar visivelmente acabada. Retornei para a sala, o menino estava, óbvio, na mesma posição, só muda que mais agitado, ansioso.
- O Delegado chegou, nós já vamos começar, só ele entrar - quando falei isso o gabriel por coincidência acabou entrando na sala.
- Bom dia jovem!
- bom dia senhor.
- Pode começar Flávia - falou puxando uma das cadeiras e sentando do lado da câmera, mas como eu de frente para o suspeito. - Vou ligar a câmera.
- Você será interrogado frente aos fatos que motivaram sua situação aqui para esse departamento de polícia. Meu nome é Flávia Albuquerque, sou investigadora de polícia e esse ao meu lado é Gabriel Cantão, delegado de polícia. Você pode me dizer seu nome completo?
- Lucas belchior da Silva.
- O senhor tem algum codinome ou apelido pelo qual é chamado? - fui seguindo o protocolo inicial de falar já decoradas.
- Belck.
- Nome da mãe?
- Maria Belchior da Silva.
- Data de nascimento:09/12/2001
- O senhor está sendo acusado da morte de duas vítimas ainda não identificadas. Essa é sua oportunidade de dar sua versão dos fatos. O senhor tem o direito constitucional de responder ou não as questões aqui formuladas. Vou lhe fazer as perguntas e o senhor responde se achar prudente.
- Quem são as duas vítimas que estavam no carro ao qual o senhor era passageiro?
- Não sei delas dona.
- Você quem matou eles?
- Matei não, eu “num mato”.
- Quem matou então?
- “Sei não, só mexo com os presunto”
- O senhor tem conhecimento que no carro onde foi detido tinha 2 corpos? - preciso da confirmação gravada.
- Sim, não sabia quantos tinha, mas sabia que tinha.
- Como não sabia dos corpos? - tenho que apertar o prego para conseguir o que preciso.
- Eu sabia que tinha corpo, quantos eu não tinha ideia.
- E quem te contou que tinha corpo no carro? Porque você estava naquele carro?
- O Migalha que me deu a linha.
- Quem É Migalha?
- É o “motô”, o outro cara que “cês” pegaram.
- Humm. Porque você estava no carro se sabia que tinha corpo lá?!
- Ta “trampano” né dona?! - falou um pouco mais agressivo.
- Olha o tom senhor. Qual é seu trabalho exatamente?
- Eu dou um sumiço nos corpos.
- Humm. Mas quem te fala dos corpos?
- O Migalha dona.
- Ele chega em você e fala, ei vamos ali dar um sumiço em um presunto?
- Não, ele passa em casa e fala que tem trabalho.
- Passa na sua casa? E você sempre está em casa?
- Sim, fico esperando ele.
- Todo dia?
- Sim.
- Então você não sai de casa? Nunca?
- Saio.
- Mas você acabou de me dizer que passa o dia todo em casa.
- Fico em casa no dia de ”trampa”. Aí o Migalha passa lá e me fala que tem trabalho.
- E o trabalho é sumir com os corpos?
- sim.
- Que dia da semana você trabalha?
- Ai eu não sei dona - começou a fugir das respostas. Engrossei um pouco mais da voz, para impor minha presença. Dependendo do suspeito essa é uma técnica muito eficaz.
- Como você não sabe qual dia trabalha senhor?
- Tem os dias que ele passa lá em casa e avisa.
- É isso que eu quero saber. Tem dia certo para levar os corpos? É toda segunda? Toda sexta?
- Não dona, o Migalha avisa um dia antes. Ele passa lá em casa ou lá no campinho e fala que amanhã tem trampo. Ai no dia do amanhã eu fico de encolha em casa, só esperando.
- Hum, ok. E em geral você trabalha quantas vezes por semana? - eu estava a todo tempo fazendo anotações no papel, para me guiar. O Gabriel estava perdido ao meu lado, não por não prestar atenção ou nada, mas simplesmente por não ter estudado, não saber sobre o que se trata quase.
- Depende, tem “veiz” que um dia na semana, outros dois ou três.
- Sempre são dois corpos?
- As “veiz”, mas o normal é um só.
- Porque eles estavam vazios por dentro?
- Ai “sei não dona”.
- Você não sabe o porque?
- Sei não dona, mas sempre vem assim, levinho.
- O que é levinho?
- Tudo vazio.
- Quem faz isso com os corpos?
- Sei não dona.
- Quem te paga pelo serviço?
- Sei não.
- Como não sabe? Como você recebe o dinheiro? Ou você faz de graça?
- Não sei quem dá o “cascaio”. Tipo assim dona, hoje, no carro, tinha o pagamento do presunto da semana passada. Aí no próximo “trampo ia te o cascaio de hoje”.
- Só deixam o dinheiro no carro? Você não sabe quem é?
- Dona, eu só sumo com os presunto. Na “veiz” seguinte o Migalha separa a grana e me dá meu pedaço. Eu só falo com o Migalha.
- Quanto você recebe por corpo?
- Sei não dona, o Migalha que dá o “cascaio”.
- Mas quanto você recebe do Migalha?
- “ As veiz depende”, tem dia que ele dá mais, tem dia que ele dá menos.
- Quanto?
- Dá “uns milão”.
- Mil reais por corpo?
- Não. Dá mil reais por viagem.
- Se tiver mais de um corpo o preço é o mesmo?
- É o que falei dona, “milão por viagem”
- Quem te deu a letra desse emprego? - me cansa um pouco ficar explorando algo que o próprio preso nem deveria estar fazendo, mas gosto de achar peças dos quebra cabeças que eles deixam por aí.
- Uns “brodi” ai
- Jovem, facilita pra mim, dá a informação completa, não fica fazendo eu insistir duas, três vezes na mesma coisa. Eu tenho mais caso pra resolver hoje e você de palhaçada com a minha cara - falei bem firme, interrogar suspeito é um eterno cabo de guerra para ver quem vai soltar primeiro - Quem te falou do emprego?
- Quando eu tava pra sair da febem eu precisava de um trampo. Um parça lá deu meu nome pro Migalha. O Migalha que colou na minha casa pra “nois” trampa.
- Qual o nome do cara da Febem?
- Sei não dona, não sei mesmo. Ele chegou no dia que eu tava dando linha, só cantou a letra. Eu sai e ele ficou.
- Você puxou cadeia por qual crime? - perguntei
- Furto armado.
- Nunca tinha mexido com ocultação de cadáver?
- Não. Nunca trampei com isso.
- Porque foi trabalhar com isso se tinha a ficha limpa? Tinha “cabado” de fazer 18 anos.
- Ah dona, tem que ajudar a coroa né?! Dar uma grana pra ela.
- Vamos voltar ao assunto. Onde você iria colocar os corpos do carro?
- “Nois” sempre usava o matão do fundo, mais os verme mexeu lá esses dias. Nois ia jogar lá na pedreira mesmo.
- Mas o corpo vai boiar na água da pedreira.
- “Nois” enche os presunto de pedra e joga lá. Dá certo.
- Quantos corpos já jogou na pedreira?
- Alguns dona, não sei quantos.
- só jogou depois que o matão do fundo foi descoberto?
- Não, já joguei antes. Quando é corpo de gente importante o chefe manda o Migalha jogar na pedreira.
- Quem é o chefe?
- Não sei dona, nunca vi. Eu juro. Só quem fala com ele é o Migalha. Eu só conheço o Migalha mesmo.
- Gente importante é quem?
- É os presunto mais pesado. Eles não vem oco não. Não sei quem são os caras, mas tem tudo cara de gente chique. - anotei ao lado. Isso é importante, se tratando de tráfico de órgãos, os caras importantes devem ser os pacientes, clientes, alguém desse nível.
- Dos corpos que desenterramos la no matão do fundo, uma das vítimas foi enterrada viva, era o único que tinha coração ainda. O que você sabe?
- Não fui eu não dona, nunca enterrei ninguém vivo. Mas “ oiá” to pensando aqui, Teve um dia que o Migalha foi sozinho, só soube que ele tinha “trampado” porque eu vi ele devolvendo o carro. Ai eu colei nele, porque o esquema é nois junto. Mas aí ele falou que era um trampo especial pro chefe, que eu não tava escalado. Que ele fez sozinho. Pode ter sido nesse dia aí dona.
- isso aconteceu a quanto tempo?
- Putz… acho que umas duas ou três semanas - a data bate com os dados do legista.
- Mais algumas perguntas e já vamos terminar. O carro era sempre o Classic?
- não. Sempre alterna. Tem o Classic que vocês pegaram, tem o branquinho, que é um … hb20. Tem um outro também, não sei a marca dona, eu não sou ligada nesses lances de carro aí, mas é um prata, com a bunda amassada pra dentro, parecida com aqueles unos velho. São só esses que eu trabalhei. - olhei pro Gabriel, ele já estava no celular procurando mordê-los de carro para o menino identificar. Dois minutos depois o delegado mostrou a foto de um up, de imediato o menino confirmou o modelo do terceiro.
- No sumiço dos corpos é só você e o migalha? Mais alguém trabalha também?
- Que eu saiba só nós mesmo dona. Ninguém gosta de mexe com presunto.
- Tá certo, senhor. Quer acrescentar mais alguma coisa?
- Não fui eu a matar os dois caras não. Eu só cuido dos corpos. Eu juro.
- Tudo bem. Só isso?
- Sim, só isso.
- ok. O escrivão vai te dar o depoimento para o senhor assinar e depois retornaremos a sua cela. Ok?! - eu olhei rapidamente para o Cantão e em automático ele levantou da cadeira e juntos saímos da sala de interrogatório.
- o que achou Flávia?
- Foi bom, ele eu achava que seria tranquilo como foi, sem grandes embates ou coisa do tipo. Mas o próximo é mais maleado, mais brutal, ele vamos ter trabalho. Mas com o que esse aqui deu, posso explorar mais o outro cara. Quero pegar bem sobre a vítima que foi enterrada viva, pra mim essa é a linha pros mandantes, pros líderes.
- Acha que é algo local?
- Então, pode até ser. Mas eu acho difícil. Pensando que cada corpo tem órgão para muitos pacientes, ou eles tem muitas salas de cirurgia, com muitas equipes ou mandam órgãos para muitos lugares. E de onde vem tanto paciente para os transplantes? Essas coisas eu preciso descobrir, não acho que seja tão local assim, muito menos amador. Principalmente porque um paciente não precisa de todos os órgãos, uma pessoa precisa do rim, outra do coração, outra do osso. Uma vítima alimenta uns 5-6 pacientes. Precisa pelo menos de uma lista de pacientes esperando, porque não teria sentido tirar todos os órgãos se vai usar apenas um pedaço.
- Tem razão Flávia, deve ser algo maior, amplo.
- Você está disperso, o que está acontecendo? - perguntei do lado de fora da sala de interrogatório, enquanto via o suspeito lá dentro assinando seu depoimento.
- Estou preocupado. A Bia está diferente desde sexta, ela conversou com você?
- Ela falou comigo que vai lá para o meu apartamento, que aceita dividir comigo.
- Sim, achei estranho porque ela apareceu hoje já com a mala, está agitada, triste.
- cantão, pega leve com ela. Vocês se conhecem a pouco tempo, ela está ainda no momento de jogar as cartas boas e não os problemas dela. Deixa que com o tempo ela vai criar essa confiança e te mostrar o que está acontecendo.
- Eu quero ajudar.
- E vai ajudar. De carinho, espaço, principalmente espaço, com o tempo ela se solta cara.
- Eu gosto dela.
- Acha que eu não sei?! Olha essa sua cara de bobão.
- Gosto mesmo.
- eu sei bonitão e tenho certeza que ela também está gostando muito de você. Mas de um tempo a ela, nunca deixamos de ter uma vida quando conhecemos alguém. Ela tem uma história, problemas antes de você. Vai com calma que ela se solta.
- Delegado?! - o escrivão que estava cuidando da transcrição do depoimento chamou o Cantão.
- Oi!
- Prontinho, ele já assinou.
- Perfeito. Flávia, vai direto ou quer uns 5 minutos?
- Vamos direto, enquanto eu pego o segundo suspeito, você não descola um café pra gente?
- Hahaha, palhaçada hein?! Que mordomia, já tá treinando pra ser delegada?
- Quem sabe não é mesmo? - retornei a sala de interrogatório.
- Jovem, vamos retornar a sua cela, preciso que se levante. Eu vou soltar sua algema e você vai colocar os braços pra trás para que eu possa colocar a outra. Sem gracinha, por favor. Ok?
Quinze minutos depois eu estava novamente na sala de interrogatório, aguardando o Cantão voltar com o café, mas desta vez acompanhada pelo segundo suspeito. Esse rapaz, como o esperado, já começou a dar trabalho da saída da cela, onde eu tive que praticamente puxar ele pelos braços, estou até com o corpo dolorido. Após as devidas apresentações e protocolos iniciais, começamos em definitivo o interrogatório do segundo suspeito.
-
Quem são as vítimas que estavam no carro que o senhor dirigia?
- Sei não, meu trampo é da um fim nos presuntos.
- Mas quem te entregou os corpos?
- Sei não senhora.
- Você acha um carro na rua, entra e sai dirigindo? Sem saber nada do carro?
- tem os carro certo pra nois entra né senhora. Só não sei quem é os presunto.
- Onde o senhor iria descartar esses dois corpos que estavam no carro?
- Lá na pedreira senhora.
- Sempre você descarta na pedreira?
- Não, eu gostava mais do matão do fundo, mas a senhora fuçou tudo lá, aí não dá mais pra usar.
- Lá no matão do fundo a equipe achou um corpo diferente dos outros, que tinha o coração dentro. Segundo a perícia ele foi enterrado vivo ainda. O que o senhor sabe?
- Ihh, sei nada não dona.
- O Belck falou que não trabalhou nesse serviço, mas viu o senhor com pá e no carro dos corpos no dia que bate com a morte pelo legista.
- Aquele moleque fumou antes de falar com vocês. “Mo X-9.”
- Porque o senhor não me ajuda? Se der as respostas que preciso, o juiz vai saber que o senhor colaborou no caso.
- O Caroço me ligou que tinha um trampo pra fazer, de ordem acima do Grilo, só sei disso senhora. Era um presunto que eu precisava sumir sozinho, era um trampo especial. Mas quando eu abri o carro lá no matão vi que o corno ainda respirava um tico, mandei terra pra cima, morreu por lá. O chefe manda eu só obedeço, não pergunto.
- Porque foi no matão e não na pedreira?
- uns moleque deu ruim lá na pedreira e tava cheio de coxinha de encolha lá.
- Quem era essa vítima? Esse cara?
- Sei não senhora.
- Quem era?
- Não sei senhora, os cara não me fala quem é. Só me fala quando tenho que pegar os corpos e se é raçudo ou se é patrão.
- Vamos com calma, quem são os raçudos?
- São os presunto levinho, que os cara limpa por dentro.
- E os patrão?
- são os cara que morre, de morte morrida, que vem cheio, pesado.
- Porque as vítimas vem vazias?
- Os chefe limpa lá, eu não tenho acesso.
- Mas onde fazem a limpeza? Esvaziam os corpos?
- Sei não dona, só sei se vem vazio ou cheio. É só isso que o Caroço me conta.
- Quem é caroço?!
- É o cara que me dá a letra se tem trampo ou não hoje.
- É quem te entrega os corpos?
- Ele me avisa que eu preciso ir pegar o carro, só isso. Não sei o que ele faz.
- E como ele te avisa que é dia de trabalho?
- Passa um rádio.
- Para qual telefone senhor?
- Aquele que vocês pegaram lá no dia, é um só pra isso. - abri a pasta com as fotos da sexta feira e achei a do celular
- É esses aqui?
- Sim, esse velhinho mesmo.
- Ok. E quem é o Grilo?
- É o chefe senhora.
- Chefe do que?
- Lá da favela senhora, ninguém faz nada, nem entra nem sai sem ele saber.
- Mas ele mexe com o que? Drogas? Armas? Trafico de orgaos? - quando falei trafico de orgaos, o suspeito automaticamente dobrou a boca, apertando forte, é isso.
- Sei não dona, só escondo os presunto.
- você nunca trabalhou pra ele antes?
- Ah já, trabalho pro Grilo faz mó cota.
- O que já fez pra ele?
- Ah senhora, o que precisa.
- Pela sua ficha criminal, o senhor ficou detido 6 anos por aliciamento de pessoas e formação de quadrilha. O que faziam essas pessoas aliciadas?
- Sei não.
- Você oferecia como seu trabalho? Precisa oferecer algo.
- Sei não senhora, não quero responder mais nada.
- Vamos mudar o assunto então, ver se o senhor pode me ajudar. O carro que estava dirigindo é seu?
- Não senhora.
- De quem é então?
- Não sei, quem deixa ele pra mim é o Caroço, mas nem sei se é dele.
- Achamos no carro que o senhor dirigia duas caixas de fentanila e uma caixa de midazolam. O senhor tem conhecimento disso?
- Só soube quando a senhora tirou do carro.
- Mas o senhor sabe pra que serve? De quem é?
- Sei não senhora.
- E esse caderninho aqui? - mostrei a imagem do caderno achado no carro - É seu?
- Não senhora. Já falei que o carro não é meu.
- E me conta uma coisa, pra terminarmos, como é o Grilo?
- Como é o que?
- Você conhece ele?
- esbarrei com ele algumas vezes,
- Mas e como é? Bonitão? Sabe eu curto um cara assim, chefão com jeito de poder.
- Senhora, a senhora tem mais jeito de sapatão de quem gosta de bicho grilo.
- Mas não te contei os detalhes senhor, todo bicho grilo tem aquelas mulheres de responsa. E aí eu espicho o olho nelas, se me entende.
- O Grilo tem uma mina gente boa, tá pra ter um menino.
- Sério, tá grávida?
- Tá sim. Um meninão.
- Humm, e é pra quando?
- Sei não, acho que ela tá com uns quatro ou cinco “meis”, gente boa a Yasmin.
- Quem sabe né cara, você sai a tempo de ver o meninão nascer. Dá pra ver que você tem um xodó com ela.
- Ela é a filha da minha comadre, tem que cuidar né mesmo?!
- Qual comadre?
- A Francisca, filha do Tonhão.
- Claro! Menina boa não podemos deixar sozinha. O escrivão vai terminar aqui e já vai dar seu depoimento para a assinatura. O senhor quer acrescentar alguma coisa?
- Acho que não.
- Então perfeito, obrigada viu, quando o senhor terminar de assinar te levo para sua cela. Dá licença - olhei rápido pro Cantão, que estava segurando a risada dentro dele. Eu me mantive sorrindo, linda e fofa nesse chá das 5 com um dos suspeitos. Assim que sai da sala de interrogatório fechei o rosto e voltei ao meu normal. O Cantão por sua vez gargalhava, o cara estava com os olhos lacrimejando
- Quer um chazinho comadre?
- Quieto, eu estava trabalhando - falei começando a rir também.
- Cacete sapatão, tem ideia de como você é genial? Foi levando o cara no bate papo, no chá das 5 e descobriu quem é o chefe do rolê e como achar ele. Você é genial, sério. Vou até te pagar seu almoço hoje, você é genial.
- Cantão tem ideia do quanto de coisas que conseguimos hoje? O novelo começou a soltar. Eu quero pegar esses caras.
- Se tem alguém que pode pegar esses caras é você Flávia. Olha como você foi genial hoje. Já te falei, você tem um talento em puxar novelos, de ser sutil que nem imagina.
- Eu gosto do meu trabalho, só isso.
- Final de semana foi bom não?! Olha como você está? Está viva, criativa, com gás. A muito tempo não te vejo assim, com vontade.
- Me fez bem o final de semana, não vou negar.
- E como foi? Foi lá no restaurante com ela? - ficamos conversando encostados na parede, do lado de fora da sala de interrogatório.
- Ah, foi bem gostoso, uma comida diferente. Mas foi bom pra conversarmos bastante, nos conhecer mesmo.
- E você falou pra ela da Fabi?
- Sim e não. Ela me perguntou se já tinha namorado, quanto tempo, esse interrogatório básico, padrão. Eu falei que namorei 12 anos, tentei fugir do assunto na verdade.
- Um dia vai ter que contar tudo pra Bruna.
- Dá mais uns dias, deixa ela me conhecer melhor. Não quero ficar contando do meu passado assim, do nada. Fica parecendo que não superei.
- E superou?
- Você sabe que não Cantão, eu me sinto culpada por tudo que aconteceu. Mas vamos com calma.
- De todo modo eu fiquei muito feliz por você Flávia, você está viva! Sério, não te vejo assim a muito tempo. Está com cara de descansada, de bem com a vida. E rolou?
- Rolou o que?
- Você passou a noite lá com ela.
- Tá bem sabendo das coisas hein Cantão. Ela que te contou né?!
- Contou sim. Mas só falou isso, que você acabou dormindo lá, que ela insistiu. Você estava muito cansada, apagou no sofá.
- Estava mesmo, não tinha condições saudáveis de dirigir pra casa. Foi bom ela ter forçado um pouquinho a barra, acho que isso ajudou a eu ficar lá. Bonitão, dormi bem pela primeira vez desde que tudo aconteceu, dormi mesmo. Acho que isso foi uma das coisas que me fez bem, dormir com qualidade.
- Imagino, ficar uma noite sem dormir bem já é pesado, imagina ficar três anos dormindo mal.
- Sim, eu dormi abraçadinha com ela, me deu uma sensação de paz, de aconchego. Me senti bem, mesmo.
- Fico feliz sapatão, você precisa seguir em frente, sabe o quanto te falo isso. Desde a Fabi já rolou né?!
- Rolou o que Gabriel? - ele estava mais sem graça que eu.
- Ah, você sabe Flávia. Lá e cá - eu queria dar risada da cara dele, que termo é esse?
- Não.
- Você está a dois anos sem sex*? - ele só não gritou porque estava em um lugar não reservado, moleque escandaloso.
- Sim, você sabe como eu sou careta.
- Mas e essas garotas doidas? Que ficam correndo atrás de você é porque?
- Sei lá, eu uso meu charme pra conquistar, devo ter uma pegada boa, mas tem o imaginário do depois, do conhecer minha casa, não sei. Ou eu que tenho dedo bem torto pra mulher.
- Não creio Flávia, jurava que você trans*va com todas elas e aí elas queriam mais.
- Não. Eu não dou nada além dos beijos, do primeiro encontro. Acho mesmo que é o imaginário, sei lá.
- Mas e a Isa? A delegada daqui que fica te perseguindo?
- A Isa saiu comigo duas vezes, ela é do tipo de mulher que não aceita perder, não aceita não como resposta. E eu ainda não esbarrei com ela essa semana, quero saber porque ela foi falar pra Bia que estava namorando comigo.
- Não soube disso.
- Claro que soube, te falei. Foi no dia que fui ao IML, semana passada, que a Bia estava estranha comigo. A Isa ficou assustando ela, falando que não era pra Bia chegar perto de mim, que eu pego toda mulher, que ninguém passa. E que eu estava com ela, a Isa.
- Duas perguntas, uma é porque ela está marcando território? E dois, porque marcando território com a Bia?
- Sei lá, deve ter reparado eu mais próxima da Bia e ter achado que eu estava investindo na Bia. A Isa não gosta de perder, ela vai me dar muito trabalho ainda, estou sentindo isso.
- Mas fala ai Flávia, dois anos zerada? Não tô acreditando. Por isso você é tão tensa.
- Hahaha, a vida não é só sex* Cantão.
- Mas 2 anos? Nem uma mãozinha lá?
- Dar meia vírgula de liberdade pra você é um problema hein?! Não fiquei dois anos sem vontade. Claro que rolou uma mãozinha, mas nunca mais foi a mesma coisa.
- Só mais uma pergunta e eu paro.
- Fala.
- Na maozinha só pensou na Fabi ou conseguiu pensar em outras pessoas?
- Senhor amado. Noção não tem mesmo.
- Sabe por que eu pergunto? Se conseguiu pensar em outra pessoa já é um passo bem grande.
- Já sim, foi estranho a primeira, depois foi sendo mais normal.
- Acho que o caminho com a Bruna vai ser meio assim também. Talvez a primeira seja bem estranho, mas depois você vai se soltando.
- Vou no meu tempo, ela é muito gente boa, conversei já sobre isso, parece que ela entendeu que eu vou devagar, mesmo ela colocando umas roupas micro.
- Um recado, esse é o padrão dela, não era pra te provocar não. Só vejo ela vestida quando estava trabalhando, era assim desde adolescente.
- Cara, colocou uma bermuda tão curta que dava pra ver a voltinha da bunda Cantão.
- Padrão Bruna, sério, padrão Bruna.
- Cantão, o papo tá bom, mas sabe meu chefe não gosta que eu fique por aí batendo papo enquanto tem caso para eu investigar.
- Um porre esse seu chefe.
- As vezes, mas o cara sabe o que faz não é mesmo?! - ele deu uma risadinha boba, como se concordasse. Esticou o braço e bateu nas minhas costas com um vai lá. Voltei à sala de interrogatório, onde o segundo suspeito já havia sido levado pelo carcereiro, conversei com o escrivão e peguei uma cópia do depoimento de cada um dos suspeitos. Preciso sentar na minha mesa agora e começar a traçar um mapa, identificar as pessoas e começar a responder às novas perguntas que surgiram. Como os pacientes descobrem da venda de órgãos? Como eles recebem os órgãos? Onde isso ocorre? Quem banca tudo isso? Aquela vítima enterrada viva, quem é? Porque sofreu isso? E mais uma outra dúzia de novos questionamentos.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/03/2023
Eita tá rolando as investigações o que será que vai acontecer?
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jakerj2709
Em: 14/03/2023
Olá autora tudo bem?Estou amando a história.....Parabéns!!!
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