Amada Amanda por thays_
Capitulo 7
Eu e Amanda conversávamos baixinho em sua cama ainda naquele mesmo dia. Caia uma chuva torrencial do lado de fora. As luzes estavam apagadas.
- Mas você ia sozinha ao médico? Fez esse processo de terapia hormonal particular?
- Não, da pra fazer o acompanhamento todo pelo SUS. Minha mãe ia comigo escondida do meu pai, eu ainda era menor de idade. Comecei não propriamente de fato com os hormônios porque ainda era proibido para menores de 18, só em 2020 que autorizaram pra pessoas com 16 começarem.
- Mas como foi pra ela? Ela te apoiava?
- Depois de minha primeira tentativa de suicídio ela simplesmente aceitou que não tinha mais o que fazer. Ou ela me ajudava escondida do meu pai ou então ela me perdia. – Ela fez uma pausa - Ou eu me tornava uma mulher de fato ou eu não conseguiria mais continuar vivendo. Na minha cabeça ou era 8 ou 80. Acho que essa foi a pior fase da minha vida. A pior de todas.
- Você tinha quantos anos?
- Uns 14, 15.
Aquilo formou um nó absurdo em minha garganta. Uma criança praticamente...
Ela continuou:
- Não era isso que ela queria pra mim, mas ela resolveu me ajudar pra não me perder. Eu me lembro de chorar dizendo a ela que tinha nascido no corpo errado e ninguém me entendia. Pensavam que eu tinha alguma doença mental, passei em vários psicólogos, psiquiatras, padres, pastores... Era simplesmente desesperador. Eu me sentia completamente sozinha no mundo. Realmente comecei a cogitar que tivesse algo de muito errado comigo, que Deus tinha bugado quando resolveu me jogar aqui na Terra, só podia ser.
- Amanda... você é perfeita... Não tem nada de errado contigo. Nada. Nada.
Ela beijou meus lábios suavemente.
- Eu sei, agora eu sei. Mas naquela época eu me sentia realmente um alien. Por isso te disse ontem sobre a internet ter me ajudado muito a conhecer muitas meninas como eu. Foi ótimo pra minha saúde mental. Mas o primordial foi ter o apoio da minha mãe, mesmo que discreto naquela época. Atualmente somos muito próximas, nosso convívio melhorou tipo 100%, nada que o tempo não dê um jeito, sabe.
- Mas com que idade que você sentiu que estava se sentindo melhor?
- Depois que meu pai morreu melhorou muito. E quando pude realmente começar a ser vista socialmente como mulher. Finalmente comecei a viver a vida como sempre quis. Eu sempre gostei muito de estudar, descobrir coisas novas, aprendi muita coisa de linguagem de programação sozinha, então quando consegui meu primeiro emprego já tinha certa experiência. Ter meu próprio dinheiro também ajudou demais.
- Eles sabiam de você?
- Sim, logo quando entrei já me assumi como trans, mas só porque eu ainda não tinha arrumado toda a papelada na justiça de mudança de nome. Felizmente ou infelizmente sempre fui muito passável. Acho que por mais que tenha sido muito difícil algumas partes de minha vida, ainda sim consigo ser privilegiada por isso.
- Como assim passável?
- Passável como uma mulher cis.
- Mas por que infelizmente? Isso não é algo bom? Não é o que você sempre quis?
- Sim, claro, isso é ótimo. Mas num mundo ideal não deveria ser assim, sabe? A sociedade machista que a gente vive valoriza muito mais a aparência que uma mulher tem do que o que ela tem a oferecer. Eu sou muito privilegiada por ser branca, razoavelmente bonita, pertencer à classe média. Muitas meninas trans não têm a mesma oportunidade na vida como eu por não se enquadrarem nesses parâmetros.
- Concordo plenamente. Ser uma pessoa trans já é algo muito desafiador por si só. Só discordo de uma coisa.
- Que coisa?
Fiz uma pausa dramática.
- A parte do razoavelmente bonita.
Ela riu.
- Pensei que ia falar algo super sério.
Entrelacei nossos corpos. Sussurrei:
- Mas é super sério... Você é absurdamente linda...
- Não sou tudo isso...
- Já se olhou no espelho?
Ela riu, buscou meus lábios e iniciou um beijo bem lento, sua mão em meu rosto, correu os dedos por meu cabelo, minha orelha.
- Eu também te acho uma gracinha...
- Me senti uma menininha com um vestido rosa agora. Toda graciosa.
- E um laço na cabeça.
- É. Isso mesmo.
Nós rimos.
- Já te disse minha teoria sobre você... – Ela disse.
- Que teoria?
- Que você só paga de durona...
- Eu não pago de durona...
- Ah não? – Ela riu.
- Eu sou durona...
Nós rimos.
Ela começou a me beijar de uma forma muito, mas muito gostosa... suas mãos em minha nuca, meu corpo inteiro arrepiado. Era difícil segurar os gemidos com sua língua em minha boca. Minha mão tímida começou a escalar seu corpo por baixo de sua camiseta, sentindo sua pele macia, quente. Subindo aos poucos, rodeando aonde eu queria de fato chegar. O beijo aumentou ainda mais as proporções quando alcancei seu seio.
Segurei-a em minha mão, sentindo seu mamilo rígido entre meus dedos, brincando, atiçando. Ela segurou minha nuca e me levou de encontro a eles, talvez com tanta urgência quanto eu. Levantei completamente sua camiseta, minha boca deixando um rastro de beijos por seu abdômen, seu colo. Subi, eu estava no paraíso com aquele belo par de seios em minha frente... Uma pena que estava tudo escuro, pois queria enxergar cada pedaço de pele dela. Coloquei um em minha boca, minha língua em seu mamilo, ora sugando, ora lambendo, sua mão em meus cabelos, ela gem*ndo baixinho aumentando ainda mais meu fogo.
Eu estava muito molhada. Escorrendo. O tesão era absurdo. Ela era muito gostosa. Eu a queria muito. Demorei longos e deliciosos minutos apenas me deliciando em seus seios, ora um, depois o outro, guiada por seus gemidos.
Depois desci minha mão por seu colo, sua barriga, pousando em seu baixo ventre. Nossas bocas não se desgrudavam. Então desci mais e ela segurou minha mão gentilmente.
- Eu não... – Ela se atrapalhou com as palavras.
- Desculpa... Eu sinto um tesão absurdo em você... é difícil controlar...
Ela gem*u, buscando meus lábios.
- Eu não sou operada... – Revelou num tom de voz tão baixo que mal consegui ouvir.
- Eu não me importo... Eu só preciso muito te sentir...
Ela então rolou por cima de mim, beijando minha boca de forma quente, lasciva... Desencostou-se de mim por alguns segundos como se estivesse arrumando alguma peça de roupa e quando tornou a encostar grudou nossos corpos de uma forma que... Gemi alto ao senti-la contra mim... Completamente pronta. Ela continuou me beijando.
- Não podemos fazer barulho... – Ela disse baixinho, sua voz completamente rouca. Eu estava em êxtase. Ela agora um pouco mais solta, era incontrolável o que eu sentia. Eu queria me esfregar inteira nela, aliviar essa dor que me consumia, esse desejo latente, pulsante, crescente.
Rolei novamente por cima dela. Por mais que ainda estivéssemos completamente vestidas, procurei e encontrei a posição perfeita. Eu estava com tanto, mas tanto tesão... Senti-la me querendo, me desejando, saber que embora nunca tivesse estado com uma mulher com um órgão diferente do meu, aquilo era um sinal nítido que ela também estava gostando, me desejando. E o principal, que estava assim por minha causa.
Eu não precisei de muito, aquilo me fez vir vergonhosamente rápido em cima dela. Foi um orgasmo forte, demorado, me deixando completamente mole e entregue. Ela correu os dedos por meu cabelo, beijou meu rosto, minha boca. Porr*. O que tinha acabado de acontecer?
Sentia meu rosto queimar, morta de vergonha. Ainda bem que estava escuro pra ela não conseguir ver minha cara. Meu coração disparado em meu peito. Puta merd*. Eu fiquei calada durante longos minutos tendo um colapso mental com uma mistura de prazer enorme que dominava meu corpo.
Eu ainda sentia meu centro pulsar de vontade, eu queria mais... precisava de mais... mas não consegui me mexer. Senti então seus braços me envolvendo e enfiei a cabeça em seu pescoço, queria me esconder em um buraco de tão envergonhada que estava.
- Você está bem? - Ela perguntou após o silêncio interminável. Seu tom de voz era preocupado.
- Sim.
- Não surta, por favor.
- Ta tudo bem.
Beijei seus lábios, mordiquei sua boca... Desci minha mão por seu abdômen, descendo devagar, querendo alcançá-la... Ainda sentia vergonha, mas o desejo era maior. Queria muito ouvi-la goz*ndo pra mim... Queria muito sentir seu corpo se contorcendo em baixo do meu... Ela me segurou.
- Eu estou bem...
Ela me ajeitou em seu peito agora dominando a situação toda. Eu não era do tipo que deitava no peito de ninguém. Mas eu simplesmente sentia que ela me permitia ser eu mesma. Como se ela não esperasse nada de mim. Não esperava que eu exercesse nenhum papel pré-determinado. Eu podia ser só eu. E eu estranhamente confiava nela. Isso sim me assustava. Aquilo tudo me deixava morrendo de medo.
O quão longe eu seria capaz de ir com Amanda? Seu carinho gostoso em meu cabelo fez com que eu me deixasse levar pelo sono. Ou talvez algo a mais que eu tinha medo de cogitar. Eu estava gostando dela. De verdade.
A manhã seguinte amanheceu quente e úmida, tal qual meu estado de espírito - se assim pudesse dizer - ao me lembrar da noite anterior.
Senti os braços de Amanda me envolvendo a cintura, suas pernas entrelaçadas as minhas. Ela me puxou pra perto, senti sua respiração em meu pescoço. Eu me virei de costas para ela e ela me abraçou de conchinha. Eu queria no mais íntimo do meu ser, ser tragada pra dentro dela. Aquela mulher era diferente de tudo que já vi, vivi, provei. Ainda não queria pensar direito em tudo o que aquilo significava. Em tudo o que ela significava. O que seria de mim depois disso. Mas se eu fosse pensar bem... Naquela altura eu já nem estava mais nem ai pra nada...
Ela cheirou meu cabelo, cheirou meu pescoço.
- Daqui a pouco o Rafa vai entrar igual um canhão procurando você... – Ela disse.
- "Duda, cara, acorda, vamos fazer tal coisa". – Engrossei a voz imitando ele.
Nós rimos, eu me virei de frente pra ela, envolvendo sua cintura.
- Quero muito que você conheça minha casa. Os dogs. - Soltei sem pensar. E aquilo estava ficando mais freqüente do que eu imaginava. Eu fazer coisas sem pensar. Deixar com que as coisas saíssem de minha boca, sem pensar, guiada por minhas emoções.
- Você cozinha?
- Não, mas sei pedir uma comida japonesa como ninguém.
Ela riu.
- Amo comida japonesa.
Ela fixou seus olhos nos meus, correu as mãos por meu rosto, meu nariz, minha boca, meu queixo. Beijei suas mãos, depois me aproximei, beijando seus lábios suavemente. Minhas mãos foram em direção a sua cintura.
- Você não quer agora? - Perguntei de súbito, seguindo meu impulso.
- O que?
- Vamos sair daqui. Vamos agora.
Ela ficou me olhando surpresa com um brilho no olhar.
- Mas e o Rafa, o pessoal?
- Amanhã já é quarta-feira de cinzas. Podemos aproveitar esse resto de carnaval... só nos duas... Na minha casa... – Fiz uma pausa e então pensei que talvez pudesse estar indo rápido demais. - Ou podemos ir pra praia, podemos ir almoçar em algum restaurante japonês, podemos sei lá... Ir pra aonde você quiser...
Ela ficou me olhando com um sorriso divertido nos lábios, incrédula com minhas palavras.
- Você ta falando sério?
- Nunca falei tão sério na minha vida.
- O Rafa não vai ficar sei lá chateado? Por estarmos indo embora mais cedo?
- Depois a gente marca algum role com ele. Ele vai entender. Ele quem colocou a gente no mesmo quarto. Ele que arque com as conseqüências
Ela me beijou a boca sorrindo.
- Eu vou arrumar minhas coisas. Eu topo.
- Jura?!
Eu mal acreditei que era verdade, que ela tinha realmente aceitado. Nos levantamos e começamos a fazer nossas malas. Assim, do nada. Eu estava eufórica. Era realmente inacreditável.
Enquanto ela estava no banho fui conversar com Rafa. Ele ficou preocupado, se era por causa de Marcelo que estávamos indo embora. Eu disse que não, que não tinha nada a ver. Disse que apenas queríamos aproveitar o restante do feriado.
- Vocês estão me devendo duas agora.
Beijei seu rosto rindo e o abracei.
- Valeu.
Saímos da chácara por volta das 10:30. Nos despedimos dos outros. De Marcelo não fiz a mínima questão nem de olhar na cara. Fiquei até aliviada por sair do mesmo ambiente em que ele estava. Puta cara chato do caralh*.
Amanda tinha ido de carona com o Rafa pra chácara, então deixaria seu skate e algumas coisas com ele para não levarmos muito peso. Eu arrumei minhas coisas no bagageiro da moto para ter mais espaço para ela, sorte sempre ter um capacete extra. Pegamos a estrada de terra até chegarmos ao asfalto e a, finalmente, civilização. De lá partimos sentido São Paulo. Eu ainda não estava acreditando no que estávamos fazendo. Ainda não estava acreditando que ela tinha aceitado de verdade.
Eu que sempre andava acima dos limites de velocidade, agora estava tomando o maior cuidado do mundo na rodovia, mesmo que a viagem demorasse o dobro do tempo, eu não tinha pressa nenhuma ao lado daquela mulher. Eu me sentia tão em paz. Eu me sentia flutuando de tanta felicidade, de tantas possibilidades que pareciam se abrir a minha frente. Eu me sentia capaz de fazer qualquer coisa. Meu peito explodia de tanta alegria.
No meio do caminho paramos em um Graal, usamos o banheiro e esticamos um pouco as pernas. Eu estava acostumada a andar com a moto no dia a dia, mas ela não. Não queria deixá-la desconfortável no caminho. Não compramos nada por lá, pois tudo estava absurdamente caro como sempre.
- Não encontrei nenhum hotel no litoral com vagas disponíveis – Disse, olhando meu aplicativo de reservas, sentada em um dos bancos de madeira do lado de fora do estabelecimento. Havia inúmeros ônibus de turismo encostados e muitas pessoas indo e vindo.
- É terça-feira de Carnaval, imaginei que não encontraríamos nada mesmo. Deve estar uma loucura por lá. – Ela se sentou ao meu lado.
- Você está chateada? Queria muito ir à praia? – Perguntei um pouco receosa.
Ela sorriu e beijou meu rosto, com os braços em meus ombros.
- Claro que não, na verdade quero mais é conhecer os seus cachorros. Eu sou simples, Duda. Não preciso de muita coisa não.
Busquei seus lábios.
- Podemos deixar as coisas em casa, eu vejo se minha vizinha cuidou direitinho deles. Podemos ir num japonês lá na Liberdade. O que acha?
- Você que manda, gracinha.
Fim do capítulo
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jakerj2709
Em: 16/03/2023
CADA VEZ MAIS ENCANTADA COM AS MENINAS....PARABÉNS THAIS. GANHOU MAIS UMA FA.
thays_
Em: 23/03/2023
Autora da história
Obrigada! :DDD
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thays_ Em: 07/04/2023 Autora da história
As duas juntas pegam fogo