13.    Besos

 

- Ela concordou, mas, primeiro quer me ver, disse que ficou preocupada com o que aconteceu com a Ana. Podemos passar na minha casa?

 

- Claro, assim ela fica mais tranquila e você pode pegar o que precisar.

 

- Amanhã você trabalha em qual horário?

 

- Entro às dez e meia, tenho as duas últimas aulas.

 

- Você me deixa na Ana antes de ir trabalhar? Se não for te atrapalhar.

 

- Deixo sim e você não me atrapalha (parou no sinal e sorriu para ela).

 

- Teu sorriso é lindo!

 

- O seu é muito mais meu bem.

 

- Queria saber porque o Juninho foi transferido.

 

- Soube que ele ficou muito machucado e até desmaiou (revelou).

 

- Ainda estava escurecendo quando você me contou, eles foram agredidos a tarde, estavam indo fazer trabalho escolar.

 

- E eu achava que o bairro da escola era seguro.

 

- Você quer entrar?

 

- É melhor, talvez a sua mãe queira falar comigo.

 

- Obrigada! Prometo que não vou demorar.

 

Vanda abriu a porta assim que ouviu o barulho do portão.

 

- Filha, tirando o susto, você está bem? (Deu um beijo nela).

 

- Estou sim. Mãe temos que rezar pelo Juninho bateram muito nele.

 

- Vou rezar, imagino o desespero das mães deles. Prazer, Vanda.

 

- Boa noite! Prazer, Coraline. Entrei para cumprimentar a senhora.

 

- Senhora está no céu menina, deixa disso, entre e fique a vontade.

 

- Vou pegar as minhas coisas rapidinho e já volto.

 

- Quer um café? (Ofereceu assim que sentaram no sofá).

 

- Não, agradeço. Vanda, quero aproveitar para te dizer que respeito muito a tua filha, tenho um carinho enorme por ela (assumiu).

 

- Amaya gosta muito de você (afirmou e gostou da sinceridade dela).

 

- Eu também gosto muito dela. Peço desculpas por não ter vindo conversar antes contigo, não sabia ao certo como me portar.

 

- Amaya me contou do seu receio, por ela ser sua aluna e menor de idade. A vida apronta cada uma com a gente, saiba que não te julgo, infelizmente já me apaixonei por quem me fez sofrer, então o mais importante é que vocês sejam felizes. Você sendo uma boa pessoa para ela, da minha parte não precisa temer, vão ter o meu apoio. Qualquer dia desses vamos marcar um almoço aqui em casa?

 

- Tudo bem, vamos marcar sim e muito obrigada pelo voto de confiança.

 

Amaya retornou, se despediram e saíram.

 

- Sua mãe conversou numa boa comigo, ela é muito simpática.

 

- Espero que ela não tenha feito nenhum interrogatório.

 

- Não e aposto que a maioria dos pais fariam. Ela foi muito gentil.

 

- Ainda bem, rezei para que fosse assim, meu medo era você surtar.

 

- Superamos está fase, viu só não sai correndo e deu tudo certo.

 

- Gostei que você entrou. Ficou muito nervosa?

 

- Um pouco, ela me tranquilizou e você foi rápida. Que bom que ela não é preconceituosa. Agora vou te levar para conhecer a minha casa. Queria que fosse numa situação melhor, mas, tudo vai passar.

 

- Acho que o seu celular está vibrando.

 

- Por favor, pega na minha bolsa.

 

Realmente estava tocando e pediu para Amaya colocar no viva voz.

 

- Alô!

 

- Cor, você nunca se atrasa. O que houve?

 

- Mi, desculpa. Esqueci completamente, dois alunos sofreram ataques homofóbicos e apanharam na rua, até no hospital já fui. Diga para as meninas que tive problemas e não vou conseguir ir hoje.

 

- Mas você está bem amiga, precisa de algo?

 

- Estou sim, só peça desculpas por mim, não lembrei de avisar.

 

- Tranquilo. Você nunca falta, marcamos outro dia. Beijo!

 

A ligação foi encerrada e Amaya não estava se aguentando de curiosidade. Esperou por alguns minutos, porém, Coraline não disse nada, por isso, resolveu perguntar.

 

- Você tinha compromisso?

 

- Tinha, só que esqueci, era um happy hour com as minhas amigas.

 

- Quer me deixar em casa e ir encontra-las?

 

- Não. Deveria ter mandado mensagem avisando.

 

- Acabei estragando seus planos para esta noite.

 

- A culpa nem foi sua. O que foi? Parece que ficou brava.

 

- Quando você sai com as suas amigas, fica com outras mulheres?

 

- Não. No meu aniversário, te contei beijei aquela moça, já passou cinco meses, estava tentando fugir do que vinha sentindo por você, mas, depois que assumi meus sentimentos, não fiquei com mais ninguém.

 

- Pensei que talvez você estivesse saindo com alguém, não sei.

 

- Eu cumpro a minha palavra, te falei que me comportaria. Lembra?

 

Ela balançou a cabeça em concordância e ficou calada até chegarem.

 

- Seja bem-vinda! Vamos pedir uma pizza?

 

- Não estou com fome.

 

- Precisa comer alguma coisa (falou e puxou ela para um abraço).

 

Ficaram abraçadas por alguns minutos e depois sentaram no sofá.

 

- Se eu pedir a pizza, você come ao menos uma fatia?

 

Conseguiu convence-la, escolheram o sabor e fez o pedido.

 

- Coraline, você não está cansada desse chove, não molha?

 

- Não vejo desta forma. Nós estamos bem e nos conhecendo.

 

- Eu não quero mais ser só sua amiga. Você está me enrolando muito, por isso, fico até pensando bobagem. Quero tomar iniciativa, mas, você pode me achar precipitada e fico sem saber como agir (reclamou).

 

- Anjo e se eu te beijar, melhora? (Perguntou segurando na mão dela).

 

A resposta foi um beijo delicioso, que as duas queriam a bastante tempo, estavam aos poucos superando os medos e as barreiras.

 

- Bem melhor, eu estava doida para te beijar e quero muito teu carinho.

 

- Linda! Você vem enfrentando dias difíceis e vem sendo tão forte.

 

- Agradeço por estar ao meu lado, tem me auxiliado tanto.

 

- Preciso pegar roupas de cama e arrumar o quarto de hóspedes.

 

- Não, eu me nego, sozinha já durmo na minha cama, nem venha com essa. Estou sensível, carente e doida para dormir de conchinha contigo.

 

- Mas...

 

- Shhh (a silenciou com outro beijo).

 

Logo a pizza chegou, comeram e tomaram coca-cola.

 

- Preciso de um banho.

 

- Vem vou pegar uma toalha para você.

 

Apanhou a mochila dela que estava no sofá e seguiram de mãos dadas.

 

- Teu quarto é lindo, estava curiosa para conhecer o teu cantinho.

 

- Já tem um tempo que vinha criando coragem para te convidar.

 

- Você tem uma cama de casal e não quer compartilhar comigo?

 

- Não é isso, eu só fico um pouco sem jeito e perdida. Foi bom ter falado com a sua mãe, fiquei mais aliviada. É uma situação totalmente nova, não quero que tenhamos pressa e o melhor é que a gente consiga aproveitar bem cada etapa de forma leve e feliz. O banheiro é ali, fique a vontade, vou tomar banho no outro quarto e já volto para dormirmos.

 

Após o banho, Amaya aguardou por ela sentada na poltrona perto da janela, estava começando a chover.

 

- Trouxe água, Amaya você precisa de algo?

 

- Não, obrigada, estou bem. Vamos deitar?

 

- Sim, precisamos descansar e essa chuvinha é ótima para dormir.

 

- Verdade. Você faz meu coração acelerar (contou ao se deitar).

 

- O meu fica parecendo uma escola de samba quando estou com você.

 

- Boa noite e bom descanso!

 

- Muito obrigada. Durma bem.

 

Trocaram beijos e dormiram de conchinha. Era madrugada quando a mais nova teve um pesadelo e acordou chorando.

 

- Anjo, o que foi? O que aconteceu? (Questionou sonolenta).

 

- Eu tive um pesadelo, que a Ana tinha morrido (contou chorando).

 

- Calma, já passou e ela está bem. Não vai acontecer mais nada de ruim. Você está triste e assustada com tudo isso. Quer água?

 

- Por favor!

 

Coraline conseguiu acalma-la e voltaram a dormir até as oito da manhã.

 

- Bom dia! É muito bom acordar ao seu lado (deu um selinho nela).

 

- Bom dia! Meu bem, apesar do pesadelo conseguiu dormir bem?

 

- Sim, adorei dormir com você, me desculpa por ter te acordado.

 

- Não precisa se desculpar por isso, gosto muito do cheiro da tua pele.

 

- Eu te amo! Só não disse antes com medo de te assustar.

 

- Minha linda, eu também te amo e não vou mais fugir de nós.

 

- Era meu sonho ouvir isso. Será que estou sonhando?

 

- Vou te encher de beijos e fazer cócegas, vai ter certeza que acordou.

 

Começaram o dia neste clima gostoso e amoroso.

 

- Vamos tomar café? Vou colocar pães de queijo para assar.

 

Elas fizeram o desjejum e se arrumaram para sair.

 

- Posso vir te buscar para almoçarmos juntas?

 

- Claro! Bom trabalho e até logo (deu um selinho antes de sair do carro).

 

No trajeto Coraline ficou refletindo, desacreditada que vinha mudando tanto, deixando o amor falar mais alto que o medo, Amaya além de ser tão querida, também estava ensinando muito para ela, principalmente a lidar com mais leveza com a vida e por mais complicado que seja, se arrependeria muito se não seguisse seu coração.

 

♡

 

- Am, obrigada por vir me ver, estou precisando mesmo do teu ombro amigo, fiquei mal com o que aconteceu, toda amedrontada.

 

- É mesmo assustador amiga e não precisa me agradecer. Coraline vem me buscar na hora do almoço, mas, volto no sábado, durmo aqui na tua casa e fico mais tempo contigo. Se precisar de algo é só me ligar.

 

- Pode deixar e vocês duas hein, não se desgrudam mais. Feliz?

 

- Estou sim, estamos tão bem, ela parou de fugir, um amorzinho.

 

- Amiga que bom, você merece, ao menos isso bem né

 

- Nem me fale, que loucura. Tive até pesadelo na noite passada, preocupada contigo e teve notícias do Juninho?

 

- Amiga, eu mal dormi a noite, vi ele sendo espancado, fico pensando se ele estivesse sozinho, se eu não tivesse gritado por socorro poderia ter sido ainda pior, ninguém merece passar por isso. Hoje consegui falar por mensagem com a irmã dele, ela me contou que ele foi transferido para ser melhor atendido, que precisou passar por cirurgia, ela ficou de me ligar mais tarde para explicar tudo certinho.

 

- Vamos continuar rezando muito por ele, vai ficar tudo bem.

 

- Deus te ouça. Ele é forte, vai sair dessa e vamos superar isso.

 

♡

 

Amaya entrou no carro e foi surpreendida por Coraline, que lhe presenteou com um buquê, um mix de flores coloridas.

 

- Muito obrigada! É tão lindo, assim fico ainda mais apaixonada.

 

- Boa tarde! Princesa, fico feliz que você gostou. Podemos passar a tarde juntas e te levo para sua casa depois da escola, o que acha?

 

- Pode ser, vou avisar a minha avó, assim ela não fica preocupada.

 

- Certo, então vamos almoçar naquele restaurante perto da minha casa.

 

- Já vou mandar mensagem para minha mãe também para não esquecer. Se cozinharmos juntas? Preparar algo simples e rápido.

 

- Outro dia e mais cedo, porque já estou com fome e até ficar pronto.

 

- Primeira vez que ganho um buquê, vou tirar uma foto, mas, pode ficar tranquila que não vou te marcar e nem escrever nada comprometedor.

 

- Sem problemas, sei que você é cuidadosa. Por falar em cuidados, todos ficaram revoltados e a direção solicitou auxílio da polícia, informaram que a ronda escolar vai atuar nas imediações.

 

- Os pais da Ana querem até mudar ela de escola, acham mais seguro.

 

- Eu entendo a preocupação deles, foi um atentado muito grave.

 

- Vou conversar com a minha mãe, como a dona Carlota faleceu e agora não estou mais trabalhando, quero voltar para o período da manhã, acho mais seguro e volto a focar totalmente nos estudos.

 

- Faça isso sim, vai ser importante para sua segurança e vai ter mais tempo para estudar, assim consegue se dedicar. Agora vamos almoçar.

 

- Vamos, também estou com fome. Olha como ficou linda a foto.

 

- Adorei a legenda, gosto desta música da Mercedes Sosa.

Junto da bela foto do buquê de flores ela postou: "Gracias a la vida, que me ha dado tanto". Tradução: Agradeço à vida, que tem me dado tanto.

Fim do capítulo