Pirenópolis
Pérola
Sentada na frente do McDonald da 114 Sul, esperava a van que iria me levar para Pirenópolis. Eles queriam me buscar em casa, mas eu não podia deixar que papai os vissem. E não teria como usar roupas comuns.
— Miga, já sabe quem tá no elenco dessa série? – Depois que levei todos os meus documentos e descobri que iria trabalhar na produção de uma minissérie aplicando teste de Covid, Fabrício perguntava todo dia se eu sabia quem estaria nessa produção. Não sabia nada, nem para qual emissora ou streaming era.
— Bricio, ainda não! Te falei que quando eu souber te conto.
— Conta mesmo! Coloquei crédito no seu celular só pra isso! – Falou rindo. – Será que vai ter algum bofe espetáculo? Ai, miga... tira foto!
— Ai, amigo… só você…
Uma van chegou e uma menina de cabelo roxo saiu.
— Pérola? – Acenei em concordância – Meu nome é Cacau. Sou assistente de produção. Bora?
Fabrício me abraçou com lágrimas nos olhos fazendo cena como sempre. Falou que estava orgulhoso de mim.
— Voa, passarinha voaaa!! – Comecei a rir e entrei no veículo, não sem antes dar minha mala ao motorista que colocou na parte traseira.
Tudo parecia um sonho. Meus longos cabelos negros ondulados estavam como sempre em um rabo de cavalo bem preso e hoje vestia uma calça nova com uma camiseta em gola V verde. E pela primeira vez na vida me achei bonita.
— Pérola, a gente vai passar no hotel para pegar o resto do pessoal. Se você precisar de qualquer coisa, me avisa. – disse Cacau sem tirar os olhos do celular, respondendo várias mensagens ao mesmo tempo.
— Ok. – Estava louca de curiosidade para saber qual seria a série e o elenco.
O carro parou na frente de um hotel no setor de hotéis e várias pessoas começaram a entrar.
— Oi!!! Ameiiii seu cabelo! – Um rapaz se sentou ao meu lado. – Sério, mona, me fala que xampu você usa? – Segurou meu rabo de cavalo. E sem me deixar responder continuou. – Olha, Vivi, sente o peso disso! – Agora a moça que se sentou atrás de mim também tocava meu cabelo. Me sentia como um ratinho de experimento científico.
— Para, Viado! A moça tá envergonhada! Liga não, garota, o Lipe é assim mesmo. – Uma terceira menina, cheia de piercings e cabelo rosa, falou. – Prazer, meu nome é Beta e sou figurinista, esses são o Lipe e a Vivi, da equipe de maquiagem. Desculpe meus amigos, mas eles são assim mesmo, sem noção.
— Tudo bem, não me importo.
— Aí, você deixa eu fazer um penteado qualquer hora? Sei que as diárias vão ser longas, mas acho que vai sobrar um tempinho na pousada para a gente. – Lipe continuava tagarelando. – E qual teu nome mesmo?
— Pérola, mas pode me chamar de Pê ou Pepê.
— Gente, estou apaixonada! Se eu fosse hétera daria em cima de você! Vivi, olha essa pele!
— Para, Lipe... a menina não sabe onde se enfiar. – Realmente se a minha pele não fosse escura, com certeza estaria completamente vermelha.
— Tá bom, vamos mudar de assunto. A produção já passou a ordem do dia de amanhã? – Perguntou para um homem sentado mais à frente.
— Sim, tá no grupo do whats, começamos às 6 da manhã. – Não quis me intrometer, mas quando chegar na pousada com Wi-fi vou ver se estou nesse grupo. O crédito que Brício me colocou não deu nem para começo.
Aos poucos as conversas foram se extinguindo e todos começaram a cochilar. Nem com reza iria conseguir dormir. Tudo era novo para mim. A estrada, a paisagem avermelhada pela falta de chuva, as lojas, o Outlet e até mesmo o Jerivá, restaurante que fizemos lanche, para mim era novidade.
— Menina, não vai comer nada? – Lipe perguntou. Como dizer que eu não tinha dinheiro?
— Não tenho muita fome não.
— Então pega algo para depois. A gente pode gastar trinta reais, é só dar a comanda pro Neto que é assistente da produção. – Reconheci o rapaz de mais cedo. Comida grátis? Nunca vou deixar passar. Peguei uma água sem gás e um saco de peta, sobrou até uns trocados para comprar bala.
Voltamos para a van e entramos em uma rua da cidade de Abadiânia onde aquele médium espírita tinha o centro dele. Aquele homem que abusava das fiéis. O pastor Elias falou sobre o assunto, dizendo que quem era espírita fazia pacto com o demônio. Não acreditava nisso. A minha vizinha, dona Chica, era espírita e, mesmo tendo tão pouco quanto a gente, sempre dividia quando estávamos passando fome. Mas meu pai, depois disso, proibiu que minha mãe falasse com a velha senhora. No fundo do meu peito achava isso tão errado! As pessoas deveriam ser livres para ter fé no que acredita. E homens maus existem em todas as religiões, não dá para generalizar. Ainda mais depois que conheci mais de perto o centro espírita com a dona Cila. Falando nisso, nem tive tempo de ver os vídeos.
Hoje faz uma semana que não conseguia falar com a Liz. Pelo que ela me falou iria ficar uns dias no turno da noite e não conseguiria conversar. Era engraçado, mas estava morrendo de saudade. Desde quando ela me enviou uma foto dela, as coisas entre nós mudaram um pouco. Ficamos mais soltas, e até pareciamos namoradas. Era um quentinho no coração quando eu falava com ela. A garota sempre colocava meu ego para cima. Não que me importasse com isso, mas era bom, era gostoso me sentir desejada. Nunca isso tinha acontecido na minha vida. Tá certo que nunca dei intimidade a ninguém.
Chegamos na cidade de Pirenópolis e estava achando tudo lindo demais. A arquitetura era linda demais. Aquelas casinhas, todas pintadinhas com cores felizes... as montanhas ao redor. Tudo maravilhoso demais. Tirei fotos para mandar para a minha mãe.
Na “Pousada Dona Oliria”, estava boa parte da produção. Pelo que entendi o elenco e direção ficaria no Vila do Comendador um resort chique. Nem imagino como seria, porque a pousada para mim era um trem chique demais. Me sentia aquelas princesas de filme da Disney. Tinha um sabonetinho e uma miniaturazinha de xampu cheirosão. Tirei uma foto para mandar para minha mãe. O quarto tinha duas camas, uma TV e uma geladeira pequeneninha, coisa mais fofa. Chique demais! Jurava ter outras palavras no vocabulário do que apenas DEMAIS, mas tudo estava tão perfeito. Parecia que um novo mundo estava se abrindo a minha frente.
Cacau iria dividir o quarto comigo. Nunca tinha dormido no mesmo quarto com alguém estranho. E fiquei imaginando o quanto vou morrer de vergonha.
— Pérola, vamos jantar com o resto do pessoal? A van vai nos pegar daqui há uma hora para levar ao restaurante. Bora? - Cacau perguntou.
— Vou sim, até porque não conheço nada por aqui. Só preciso organizar as minhas coisas para amanhã. – Neto tinha me dado duas caixas com o material que eu precisaria para amanhã, então queria deixar tudo arrumado. Terminei tudo mais rápido do que eu pensei.
Coloquei o Wi-Fi da pousada no meu celular e comecei a responder às mensagens do meu melhor amigo. Novamente, várias perguntas sobre quem eram os atores. Fabrício ficou pasmo por eu ainda não ter perguntado isso para o pessoal da produção. Me despedi do meu amigo e liguei para mamãe. Contei tudo a ela e pedi que falasse a todos que eu estava muito bem.
No restaurante, fui apresentada a várias pessoas da produção e soube que a maior parte do elenco ficaria em um resort chique, e que pouco ficaria com a gente. Tentei perguntar quem seriam os atores, mas ainda estava muito tímida e quase não falei. A minha companheira de quarto não largava o celular e mesmo no horário de folga estava resolvendo vários pepinos.
— Você vai ver que a produção de uma minissérie é uma loucura, com várias pessoas. E trabalho 24 horas por dia.
— Nossa, Cacau, não imaginava. E amanhã como vai ser?
— Como o seu trabalho é o primeiro que deve ser realizado, antes até mesmo do café, sugiro que você tome um achocolatado e coma uns biscoitos. Vamos passar ali no mercado e você compra, depois me passa a nota tá?
Não consegui concordar porque ela já estava falando com outra pessoa. Terminei de jantar e fui para a van esperando para voltar à pousada. Era estranho como estava exausta sem ter feito nada.
Cheguei no meu quarto e fui tomar um banho. O chuveiro era simples, mas a água saia quentinha demais. Lavei meu cabelo com o xampu cheiroso. Escovei os dentes e sentei na cama esperando meu cabelo secar, porque se dormia com ele molhado ficava igual a um leão que tomou choque elétrico.
Liz: Oi, linda, saudade de vc (emoji triste) tá ai?
Eu: Lizzzz, que sdd! Tenho tanta coisa pra contar para vc!
Liz: Então fala, linda, terminei o trampo e agora sou toda tua… (emoji safado)
Senti as bochechas ficarem quentes e engoli em seco.
Eu: Minha?
Liz: Sempre, só vc estalar os dedos (emoji avião).
AI, MEU DEUS... não sabia o que falar. Essa coisa de flertar era nova pra mim.
Eu: Assim eu fico envergonhada... mas que seria maravilhoso a gente se conhecer... nossa, seria um sonho (emoji apaixonado).
Liz: Escuta essa música comigo? Tudo o que tem aí é vdd {link}
Cliquei no link e começou os acordes de “Partilhar” de Rubel e AnaVitória. Engoli em seco.
Eu: Será que um dia isso vai ser possível, Liz? Tipo, eu e vc?
Liz: Tenho certeza que um dia vai...
Eu: Tem tanta coisa entre a gente... não quero que vc fique presa a mim...
Liz: Tipo o que?
Eu: Tipo a distância, falta de grana, sua mãe, meus pais... eu não vou conseguir viver sem eles...
Liz: Fica tranquila, linda, que as coisas vão se resolver. E não se preocupe que não tô presa a você contra a vontade kkkk (emoji de música) Oooo não quero advogado quero regime fechado com você amorrr…
Cantou trecho de Regime Fechado música de Simone & Simaria
Eu: Besta!
Liz: Sua besta!
Abri um sorriso de orelha a orelha. Ficamos conversando amenidades e quando Cacau chegou me despedi e fui dormir.
No outro dia, já havia perdido as contas de quantos testes havia feito e nem eram 7 horas da manhã ainda. Neto me passou uma prancheta com uma planilha onde tinha o nome de todos envolvidos com a produção. Estávamos em um casarão onde seria o QG de toda equipe. Me deram uma mesa em um canto e um cooler para manter os testes. Falaram que iriam conseguir uma geladeirinha para que armazenasse os testes fechados.
Já tinha testado quase todo mundo. Só faltava o elenco que chegaria no meio da manhã. Cacau me chamou para tomar café na lanchonete ao lado, a Dona Sebastiana. Nunca vi tanta coisa apetitosa na minha vida. Agora que sabia o quanto poderia gastar, iria provar tudo o que podia.
A lanchonete estava lotada e nos sentamos em uma mesa onde outras pessoas da produção estavam. Alheia ao que se passava ao redor, tomava meu suco de cajá-manga e comia o biscoito de queijo que estava divino. Notava que várias pessoas entravam, alguns se sentavam na nossa mesa, e outros saiam. Estava ouvindo música com meu fone de ouvido e relendo a minha conversa com a Liz. "Aí, eu acho que estava me apaixonando!”
— Posso me sentar aqui? – Eu estava de boca cheia, entre uma mordida e outra, quando paralisei. Aquela voz... Olhei para cima e a vi. Penélope, de óculos escuros, em carne e osso na minha frente sorrindo para mim. Notei que estava sozinha na mesa e ela em pé esperando uma resposta.
Fim do capítulo
oi coisas lindas do meu core!!!
E agora? Me diz ai o que você faria se estivesse na situação da Pérola?
Correria? Se jogaria embaixo da mesa? Agarraria seu ídolo?
Conta aqui pra mim!
Ahhh e tenho uma playlist do Spoty do conto. Entra lá: https://open.spotify.com/playlist/4SY90wbji02EtN0Xcet48A?si=f20adaeb8801459b
E ja sabe né, não esquece de favoritar a autora que vos fala e comentar para deixar meu coração quentinho!
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Ester francisco
Em: 09/03/2023
" eu quero partilhar, eu quero partilhar, a vida boa com vc.."
Penélope querendo cuidar da Pérola.....fofo demais!!!
Que lindooo!! Cara, se eu estivesse no lugar da Pérola, acho que ia entrar em choque...kkkkkkkkk
Eu tô encantada com o desenrolar dessa história.. .
Ps: gostei da definição que a moça fez das personagens: um trisal de duas!!! Perfeito!!!!
Já gosteiiiii muito da Cacau!!!! Rsrsrsrs
Resposta do autor:
Simmm kkk trisal de duas hahahaha
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HelOliveira
Em: 02/03/2023
Não sei o que faria, mas a Pérola de boca cheia tenho até medo de imaginar tadinha.....
Fiquei mais ansiosa ainda pelo próximo...
Bjos
Resposta do autor:
simmm kkkk
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Rose SaintClair Em: 24/03/2023 Autora da história
Gosto mais da rosca hungara. Hehehe