Esse capítulo ficou enorme, com o tamanho de 3 capítulos, e um tanto polêmico...
Bora pra montanha russa!
Capitulo 25
Capítulo XXV
— Porr*, Clarisse, tô há um mês e meio frequentando sua casa e você não me deixa dormir no seu quarto? Sempre tenho que ir pro quarto de seus pais, ou a gente dorme aqui no sofá, o que preciso fazer para conquistar esse direito? — Reclamava Francine após horas de pegação no sofá da sala, finalizando o discurso com um tapa no braço do sofá.
A médica ergueu-se e sentou-se calmamente, ainda processando aquele estouro de Francine.
— Você está iniciando uma crise explosiva? — Perguntou a observando.
— Não tô tendo crise nenhuma, só não entendo porque você tá me cozinhando em banho maria, me dá uns pegas mas não faz sex*, nem me deixa dormir na sua cama, é algum tipo de brincadeira que vocês coroas fazem?
Clarisse fechou o semblante e respondeu.
— Cuidado para não me ofender.
Já sentada, Francine bufou longamente, com os cotovelos nos joelhos esfregou o rosto.
— Não quero te ofender, só quero entender, você não tem tesão em mim?
— Tenho, bastante. Se contar a partir daquele Reveillon que não deu muito certo, estamos ficando há três meses, mas você veio na minha casa apenas cinco vezes, seis com hoje.
— Você está contando?
— Apenas tenha paciência.
— Então qual é o lance? Não sou digna para frequentar a cama de Doutora Clarisse? Pirralha demais? Qual meu defeito?
— É inexperiente.
— E daí? Você quer que eu morra virgem?
— Nós já conversamos sobre isso, mais de uma vez inclusive, eu tenho meu próprio tempo, Fran, eu não gosto de pular etapas.
— Porr*, haja etapas, hein? É tipo as olimpíadas do Faustão das coroas?
Clarisse levantou do sofá e apanhou o celular na mesa de centro.
— Eu vou dormir, seu quarto está arrumando. Boa noite.
***
Era final de março, fazia uma noite abafada, mas Clarisse estava dentro de uma sala com ar-condicionado geladíssimo, numa reunião do grupo de pesquisa na USP com sua colega médica pesquisadora Roberta, uma parceria que se iniciara quando Clarisse fez mestrado naquela instituição.
— Bom, pessoal, conforme conversamos nos e-mails do grupo, a partir de hoje teremos mais uma pesquisadora conosco, o nome dela é Mariana, acabou de terminar o mestrado em Londres, e é uma excelente pesquisadora na área pediátrica, e modéstia à parte, é tão bonita quanto a mãe. Sim, eu mesma. — Roberta riu, Mariana ergueu-se rapidamente de sua cadeira e cumprimentou a todos que estavam ali naquela mesa comprida, sentando timidamente em seguida.
— Meu Deus, você já tem filha adulta? Achei que Mariana tivesse uns quinze anos no máximo. — Surpreendeu-se Clarisse. — Prazer, Mariana, seja bem-vinda ao grupo.
— Faço trinta mês que vem, doutora Clarisse. — Mariana disse entre um sorriso.
A filha de Roberta realmente lembrava um pouco a sua mãe, mas tinha um sorriso aberto, muito simpático, quase convidativo para uma boa conversa.
— Ela é a mais velha, você havia conhecido a caçula, Fernanda, que está com 22 anos agora.
— Ah, sim, lembro de Fernanda, era criança quando ela vinha te visitar aqui nas aulas, não?
— Sim, na época que você fez mestrado, já faz tempo, Clarisse. — Roberta e Clarisse riram.
Após a reunião, Clarisse recolhia suas coisas sobre a mesa para dentro da valise de couro, quando foi abordada por Mariana, uma bonita garota de cabelos escuros curtos e olhos azuis.
— Eu li seus últimos artigos, fiquei impressionada com sua desenvoltura textual, você realmente sabe do que está falando, citei um artigo seu recentemente, inclusive.
— É mesmo? Fico feliz em saber. — Disse orgulhosa. — Adoraria ler.
— Admiro muito quem pesquisa e também trabalha na área como você, sua visão teórica é de um rico empirismo, acho espetacular.
— Podemos trocar alguns artigos na área, tenho lido uns papers ótimos, estou ajudando sua mãe a montar o estado da arte nesse segmento, estamos fazendo boas descobertas.
Mariana tomou as mãos de Clarisse.
— Temos que marcar um café com urgência, temos muitas figurinhas para trocar, principalmente com relação à prática com crianças, estou há anos mergulhada apenas na teoria.
— Podemos marcar, porém mudei de emprego ano passado, no momento estou lidando com adolescentes.
Clarisse segurou ao riso ao pensar “Na vida pessoal também”.
***
Saiu da USP passando das nove, parou na frente da pensão e aguardou Francine, que havia insistido para dormir em sua casa naquela segunda-feira.
A jovem sentou-se no banco do passageiro e roubou um beijo demorado na médica.
— Saudades de você, doutora. — Sorriu.
— Por que não deixou para ir amanhã para minha casa? Vamos chegar umas dez em Cotia.
— Achei que você saísse mais cedo dessa reunião.
— Não, esse é o horário que costuma terminar. Mas tudo bem, dá tempo de assistir um filminho com você. — Clarisse respondeu com um sorriso carinhoso, pousando a mão em sua coxa. — Também estava com saudades.
Chegando em casa, Clarisse largou suas coisas na sala e foi até Francine, colocando as mãos em seu rosto.
— Vou tomar um banho, fique à vontade. — Lhe beijou.
Francine tomou uma das mãos dela e beijou sua palma, estranhando o perfume.
— Esse cheiro não é seu, de quem é?
— Que cheiro, Francine?
— Nas suas mãos. — Levou novamente uma mão da médica ao rosto e cheirou. — De quem é esse perfume?
— Não tem perfume nenhum.
— Tem sim, e não é seu, você estava mesmo numa reunião de grupo de pesquisa?
— Claro que estava, por que eu mentiria para você?
— Então como explica esse cheiro nas mãos?
Clarisse pensou com a testa franzida por uns instantes, finalmente lembrando.
— Ah, deve ter sido quando Mariana pegou nas minhas mãos enquanto conversava comigo.
— Que Mariana??
— Filha de Roberta, ela agora também é pesquisadora do grupo.
— Mas por que raios ela pegou em suas mãos? — Francine disse já exaltada.
— Às vezes as pessoas pegam nas mãos das outras, pelo amor de Deus, que idiotice é essa agora?
— Idiotice para você né? Ninguém fica pegando nas minhas mãos, a não ser você! Vai, me fala a verdade, você tá se esfregando com essa Mariana? Quem tá comendo quem?
— Chega, você está vendo chifre em cabeça de cobra, eu estou te falando a verdade e você está me ofendendo duvidando de mim, não quero discutir, me deixe tomar meu banho em paz, faça um lanche para você na cozinha, depois a gente se fala, tá bom? Boa noite.
— Eu não entendi esse lance da cobra que você falou.
— É um ditado popular. — Clarisse suspirou. — Vou para o banho.
— Espera, não foge de mim.
— Não estou fugindo, só não quero continuar essa conversa descabida, já te disse que odeio cobranças, e odeio mais ainda falta de educação.
— Desculpa, não me deixa sozinha.
— Vá tomar seu banho e a gente se encontra na sala daqui a pouco.
— Eu já tomei banho.
— Então vá comer algo e depois escolha algo para assistirmos.
Francine sorriu e pulou em seu pescoço, lhe enchendo de beijos.
***
Três dias depois, Francine novamente insistiu para ver Clarisse, combinaram de sair para jantar em São Paulo mesmo.
— Amanhã você vai para minha casa passar o final de semana, isso tudo era saudade? — Perguntou Clarisse, de forma bem-humorada, estavam já dentro de um restaurante perto da pensão.
— Queria te ver hoje, tá osso.
— Como assim?
— Eu fico morrendo de saudades quando fico uns dias sem ver você. Mó grude né? Foi mal.
Um sinal de alerta acendeu em Clarisse.
— Grude não é legal, não estou falando isso para reclamar de você, só dando um conselho para que as coisas não piorem. — A médica pousou sua mão sobre a dela na mesa. — Por enquanto tá tudo bem, ok? Dá uma controlada nessa saudade. — Riu.
— Fica sussa.
Terminavam suas refeições, Francine resolveu arriscar, armou-se de seu sorriso mais safado.
— Doutora, que acha da gente ir para um motel quando sair daqui?
Clarisse se engasgou com a água. Porém a ideia lhe despertou uma boa quantidade inesperada de excitação.
— Eu não frequento motéis.
— Mas sei de um nos Jardins que é mó chique, tem champanhe e tudo, deve ser bem limpinho.
— Como sabe desse motel?
— Amanda me falou, ela conhece um monte de motel.
Clarisse repousou devagar sua taça na mesa, ganhando tempo para pensar em uma resposta.
— Hoje não, ok? Vou te deixar na pensão.
— Ainda é o lance das etapas? — Francine respondeu chateada.
— Tipo isso.
— Então tá... Amanhã ainda tá de pé? Eu ir pra sua casa e tal.
— Sim, busco você no trabalho.
***
Era sexta à noite e a jovem skatista estava animada na cozinha da casa de Clarisse preparando uma janta para elas, ouvia música num pequeno aparelho de som e às vezes dava um gole no vinho tinto que estava usando para preparar um dos pratos. Já a anfitriã estava dentro do ateliê/escritório envolta em papéis e contas, fazendo inúmeros cálculos financeiros, as despesas com os filhos haviam aumentado pois Sabrina exigira que ela assumisse mais algumas contas, além disso a festa de aniversário de João seria dentro de dois dias e Clarisse havia bancado praticamente tudo.
— Comida na mesa! — Francine entrou no ateliê pegando Clarisse de sobressalto.
— Não me mata do coração assim. — Clarisse disse com a mão no peito.
— Tomou susto? — Riu alto.
— Eu sou uma senhora idosa, tenha mais cuidado com meu coração. — Disse e levantou-se.
— Deixe comigo. — Francine respondeu com um sorriso sarcástico. — Vem comer, tá pronto.
Depois da janta, Francine já dominava o controle da TV da sala, Clarisse voltava do banheiro quando parou abruptamente na sala.
— Isso está passando na TV?? — Clarisse questionou perplexa, na TV passava um filme pornô.
— Não, eu trouxe um DVD, peguei da coleção de Matheus, você curte? — Francine perguntou animada.
— Não, eu não curto.
— Porr*, você é mó vacilona, você não curte nada que é bom. — Disse emburrada, parou o filme e atirou o controle no sofá com força.
— Você deveria ter me perguntado antes de colocar esse troço aí para passar. — Clarisse respondeu já sem paciência, de pé em frente ao sofá.
— Brother, eu só queria ajudar, criar um clima, tá ligada? Não fiz por mal.
— Tá bom, entendi, podemos assistir outra coisa? — Sentou-se no sofá menor.
— Posso tomar o resto do vinho?
— Não deveria, né? Mas vai lá, pode pegar.
Já de volta com a garrafa de vinho que estava pela metade, a jovem sentou no grande sofá, ao lado do sofá onde estava Clarisse.
— Quer?
— Não, obrigada. Você vai beber assim no gargalo?
— Algo contra?
— A garrafa pode estar suja.
— Minha saliva vai matar todos os micróbios. — Disse e deu um grande gole na garrafa.
— Esse filme tá começando agora, é um bom filme, quer ver?
— Que filme é?
— O código da Vinci, já viu?
— Não. Mas se você diz que é bom, então deve ser. Vou sentar aí pertinho de você.
Francine disse e largou a garrafa no chão, indo na direção do pequeno sofá onde estava Clarisse. A garrafa virou em cima do tapete bege felpudo.
— O tapete, Francine! — Berrou.
— Que?
A médica correu para erguer a garrafa e olhou com desalento a mancha no tapete.
— Não mexa nisso, vou buscar material de limpeza. — Ordenou.
Clarisse desistiu de tentar tirar a mancha, apenas enrolou o tapete e colocou na área de serviço. Voltou à sala, o filme já estava pela metade.
— Se a mancha não sair daí você compra outro tapete. — Francine disse.
— Dinheiro não dá em árvore.
— Foi mal, se precisar comprar outro eu pago, pode me cobrar, dou um jeito.
Clarisse virou-se para ela no sofá, suspirou e tentou melhorar o humor.
— Fique tranquila, é só um tapete, me desculpe por ter gritado com você.
— Que nada, eu que tô te devendo uns dez pedidos de desculpas hoje.
— Se serve de consolo, seu jantar estava maravilhoso.
— Tava mesmo? — Animou-se.
— Acho que foi um dos melhores que já comi, estava tudo no ponto.
— Eu me preparei para a ocasião. — Disse se gabando.
— Vem cá, deita aqui comigo, vamos ver o resto do filme.
Quando o filme terminou, Francine virou-se e ficou de frente para Clarisse, lascou um beijo longo e empolgado, que foi correspondido, aos poucos as desavenças da noite foram ficando pelo caminho e passaram alguns bons minutos se curtindo.
Clarisse foi pega de surpresa quando Francine deslizou a mão para dentro da calcinha dela, indo com toda sede do mundo ao pote, os dedos foram rápidos e certeiros ao objetivo e a médica segurou seu braço.
— Hey, o que está fazendo??
— Você sabe o que estou fazendo. — Francine respondeu com safadeza.
— Por gentileza, tire sua mão daí.
— Pronto, já tirei.
Clarisse sentou-se, exasperando.
— Se chateou? — Francine perguntou de mansinho, baixando sua blusa e também se sentando.
— Não. Vou pegar água, quer?
— Quero.
Enquanto Clarisse estava na cozinha, a tela do celular da médica acendeu com uma mensagem recebida, Francine se inclinou para frente e viu quem era o remetente da mensagem. Clarisse, ao voltar com dois copos de água, percebeu a garota com seu celular em mãos.
— Alguém me ligou? — Clarisse disse colocando os dois copos sobre a mesa de centro.
— É a Mariana do seu grupo de pesquisa? Te mandando mensagens essa hora? — Mostrou a tela bloqueada do celular com a indicação de chegada de uma mensagem de Mariana.
Clarisse apenas ergueu a mão pedindo o aparelho, desbloqueou e leu a mensagem.
— Sim, é a própria. Me passando bibliografia.
— Com certeza.
— Você está duvidando de mim? Quer ler a mensagem?
— Não, cada um faz o que quiser da sua vida, sua amiga deve estar trabalhando bastante às onze horas de uma sexta-feira à noite, não é?
— Se você não estivesse aqui, provavelmente eu estaria fazendo a mesma coisa.
— Quer que eu vá embora? Estou atrapalhando os estudos de vocês duas?
Clarisse colocou o celular ao seu lado, esfregou a testa e os olhos.
— Por que você está tão determinada a me tirar do sério?
— Estou conseguindo?
— Acho que você deveria ir dormir.
— Não estou com sono.
— Vá lá, tome um banho quente, se masturbe, tenha um ótimo orgasmo, e durma.
— Só assim para eu ter um orgasmo, né? Eu acho que nem teria me envolvido com você se soubesse que você é toda coisada assim.
— Coisada?
— É, toda estranha, com umas manias, acho que você é brocha, ou tá entrando na menopausa, sei lá, já deve estar na época, você já tem quarenta.
— Você é livre para fazer sex* com quem você quiser, Francine, por que está perdendo tempo comigo? Por que você não está lá na rua trans*ndo com quem você quiser? Eu não me importo.
— É, eu já imaginava.
— O que?
— Eu achava que a gente tinha um relacionamento, mas só fui otária, né? Você deve tá ficando com outras pessoas, já estão te comendo e eu aqui fazendo papel de trouxa.
— Eu nunca falei que tínhamos um relacionamento.
— Ah, Clarisse, a gente tá ficando há três meses, eu pensei que a gente tava namorando e tal.
— Não estamos namorando, nunca estivemos, você se iludiu sozinha.
Francine não respondeu porque um enorme nó surgiu em sua garganta, apenas balançou a cabeça concordando.
— Eu não deveria prestar satisfações, mas vou fazer isso: não fiquei com ninguém além de você esse ano. Ninguém. — Completou Clarisse.
— Então por que você não quer fazer nada comigo? Por que não posso dormir com você em seu quarto? O que preciso fazer para ter o direito de entrar lá?
— Você não tem experiência alguma, você é jovem demais, é inexperiente de tudo, não quero colocar a carroça na frente dos bois, não quero você na minha cama agora, e pronto.
Francine enxugou os olhos com a barra da camiseta, tentou se recompor.
— Então se eu tivesse experiência, já teria entrado no seu quarto?
— Não sei, provavelmente sim.
— Não entendo sua cabeça, acho que nunca vou entender. Mas agora tudo ficou claro, doutora, obrigada por me explicar, eu tava pagando de otária, a culpa é toda minha.
A jovem levantou do sofá e foi até o quarto dos pais de Clarisse buscar sua mochila, voltou para a sala e pegou seu celular que estava no braço do sofá.
— Aonde você vai?
— Vou picar a mula. — Disse e foi para à porta da frente
— Vai embora? Deixe de besteira, você não precisa ir embora, ainda mais a essa hora. — Clarisse foi atrás dela.
— Eu nem deveria ter vindo, na real não sei o que tô fazendo aqui. — Sorriu com tristeza e abriu a porta, que Clarisse prontamente segurou.
— Durma aqui, amanhã a gente conversa, tá bom?
— Me deixa, sério.
— Fique. Vá deitar e relaxe, feche essa porta.
— Você não manda em mim.
Francine disse e saiu pela porta.
***
Ia dar meia-noite, e Clarisse continuava tentando ligar para o celular de Francine, mas ninguém atendia. Mandou uma dezena de mensagens, sem respostas. Se arrependia agora de não ter ido atrás dela pela rua, pelo menos sabia que ela teria dinheiro para um táxi, se precisasse.
Estava chateada e um tanto preocupada, repetia para si que Francine já era adulta e sabia se cuidar sozinha. Aquela noite havia sido uma sequência de erros e palavras mordazes, mas a agonia estava longe de terminar. Andava do ateliê para a sala, e para a cozinha, e para o banheiro, até que com o passar do tempo o cansaço bateu forte e tentou dormir, tomou um remédio e desfaleceu na cama, já próximo das duas da manhã.
Quarenta minutos depois acordou ainda zonza, com o barulho do interfone, precisou de alguns segundos para a alma voltar ao corpo e entender o que estava acontecendo, saiu meio cambaleante da cama e foi até a cozinha atender.
— Voltei, posso entrar?
Clarisse reconheceu a voz e não respondeu, apenas apertou o botão para abrir o portão, e se dirigiu à porta da sala.
Ao abrir a porta surpreendeu-se com o estado de Francine, descalça, visivelmente entorpecida, parecia que havia farreado intensamente.
— Voltei!
— Entra. Aconteceu algo com você?
— Tô ótima, doutora. — Jogou a mochila no sofá e chamou a médica para perto.
— Não vou me aproximar de você, dá para ver que está alterada e precisando urgentemente de um banho.
Francine resmungou algo e então foi na direção de Clarisse.
— Não quero encostar em você, doutora, só quero te mostrar uma coisa, você vai se amarrar. — Riu.
— O que é? — Respondeu impaciente.
A garota abriu a calça e a baixou, juntamente da calcinha.
— O que você está fazendo??
— Olha aqui, chega mais perto, olha. — Francine disse mostrando uma mancha de sangue em sua calcinha.
— Meu Deus, alguém te machucou?? O que aconteceu? — Clarisse estava pálida e chocada.
— Ninguém me machucou, agora eu sou experiente, já posso dormir na sua cama, não foi esse o combinado?
Clarisse, totalmente incrédula do que via e ouvia, deu dois passos lentos para trás.
— Francine, o que você fez? — Perguntou com a voz forte.
— Perdi a virgindade, agora você não tem mais desculpas. — Falou e caiu com um joelho no chão, mal se aguentava de pé.
Clarisse correu até ela e a ergueu, em seguida olhou de perto a calcinha e a subiu, por fim ergueu a calça dela, fechando o botão e zíper. Tentava se acalmar para lidar com a situação, não sabia nem o que pensar.
— Por favor, me diga que tudo isso é uma brincadeira de mal gosto, e que isso aí não é sangue.
— Não tem brincadeira nenhuma, você não estava falando sério hoje? Estou falando sério também, resolvi meu problema com você.
— Por Cristo, Francine, você fez isso mesmo? Você fez sex* com alguém? Te machucaram?
— Não me machuquei, eu fiz por vontade própria, peguei o cara e mandei ver, agora sou adulta o suficiente para você? — Disse cambaleante.
— Mas tem sangue aí! O que aconteceu? Quem fez isso?
— Doutora Clarisse, a senhora é médica e não sabe que quando a mulher perde a virgindade geralmente acaba saindo sangue? Foi isso que aconteceu, não foi nada demais. E aí, posso dormir na sua cama?
— Quem fez isso?
— Não vou dizer.
— Matheus?
— Não, não foi ele, mas não vou falar quem foi, belezinha, doc? Segura a onda.
— Usou preservativo?
— Sim. Acho que sim.
— Acha??
— Acho que usou.
— Meu Deus...
Clarisse ainda não conseguia acreditar, sentiu uma tontura e sentou no braço do sofá.
— O que você usou? Cocaína?
— Entre outras coisas. — Respondeu orgulhosa.
— Álcool, maconha?
— Com certeza muito álcool, muuuito álcool. E duas carreiras. — Ergueu as mãos com dois dedos erguidos, como num V de vitória.
Clarisse ficou novamente de pé e se aproximou dela.
— Vou levar você ao hospital, vamos ver o que aconteceu.
— Porr*, doutora, já falei que não me machuquei! Você já fez sex* com homem, sabe como é, e você já foi virgem um dia, sei que foi no século passado, mas você deve lembrar.
— Mas o que você tem na cabeça?? Por que foi fazer isso? — Desesperava-se.
— Achei que você ia ficar feliz. — Respondeu Francine, confusa.
— Você foi absurdamente irresponsável! Não consigo acreditar que você fez isso! Que idiotice, Francine!
— Você está brigando comigo?
— É claro que estou! Olha o que você fez com você mesma? É seu corpo, como pode fazer isso?
— Fazendo, ué.
— Não acredito... Não é possível... — Clarisse passou os dedos pelos cabelos, atônita.
— Bom, eu ia perguntar se ainda tinha algum vinho aí, mas pelo visto você não gostou do meu retorno e não quer minha ilustre companhia, então é hora de dar tchau. Tchaaau.
Francine foi até o sofá e quase caiu em cima dele, pegou a mochila e a deixou cair.
— Você não vai a lugar algum hoje, nem que eu precise trancar a casa inteira, e mesmo que você me denuncie por cárcere privado, daqui você não sai. Eu deveria ter sido mais enérgica quando você saiu da primeira vez, deveria ter impedido de sair, agora você estaria emburrada, mas sã e salva. — Clarisse foi até a porta, chaveou e tirou a chave.
— Eita, você está brava mesmo. — Cambaleou e caiu sentada no chão.
Clarisse respirou profundamente algumas vezes antes de ir até onde Francine estava sentada no chão, se agachou à sua frente.
— Você está sentindo alguma coisa? Alguma dor no peito, dor de cabeça, náuseas? Sente algo doendo?
— Eu tô bem, só estou meio tonta porque tomei umas coisas aí. — Francine ergueu o rosto encarando a médica. — Eu não deveria ter voltado, é melhor que eu vá pra casa agora, estou te deixando brava, e você é legal demais para ficar brava. Destranca a porta?
— Não.
Clarisse se levantou e ajudou Francine a ficar de pé.
— Vem, vou te ajudar a tomar banho, depois você vai dormir e vai acordar melhor. — Disse a conduzindo pelo braço até o banheiro do quarto dos pais.
— Tá bom, mas não vou tirar a roupa.
— Você não pode tomar banho com roupas.
— Mas não quero que você me veja nua.
— Eu olho para o lado, não se preocupe.
Entraram no banheiro e Francine foi logo tentando tirar a camisa, quase caindo. Clarisse abriu o chuveiro e em seguida foi ajudar a tirar a peça de roupa.
— Vira para a parede, coloca as duas mãos lá para se apoiar.
— Você vai me revistar? Ui, ui, vamos brincar de polícia e ladrão. — Riu.
— Não, eu vou tirar sua roupa.
— Tá bom, mas não olha para a minha bunda, tá?
— Não vou olhar.
Tirou suas calças, calcinha, o top, e mandou entrar no box. Cambaleando, Francine entrou no box e prontamente o fechou, não deixando Clarisse entrar.
— Você não quer ajuda?
— Não, eu consigo tomar banho sozinha, pode ir dormir, gata.
A psiquiatra hesitou alguns segundos, não tinha certeza se era boa ideia deixá-la sozinha.
— Quando terminar o banho, você vai dormir?
— Vou sim.
— Vai dormir aqui nesse quarto, nessa casa?
— Vooooou!
— Quer algum remédio?
— Você ainda tem vinho?
Coçou os olhos, com desânimo e sono.
— Vou deixar uma toalha para você aqui em cima da tampa do vaso e uma muda de roupa sobre a cama. Quando terminar, vá dormir, amanhã a gente conversa.
— Ui, fiquei com medinho.
Finalmente desistiu daquela indivídua e foi para seu quarto dormir. Ainda estava sob efeito do remédio, adormeceu em alguns minutos. Por volta das seis da manhã, acordou com batidas na porta do quarto.
— Entra. — Clarisse disse e acendeu o abajur ao lado, sentou-se.
Uma Francine completamente diferente da última versão com quem ela havia lidado entrava devagar no quarto, cabisbaixa.
— Desculpa te acordar, eu queria te pedir desculpas antes de ir embora. — Disse em voz baixa, abraçando o próprio corpo, esfregando a mão no braço.
Clarisse nada falou, apenas coçou os olhos e suspirou com cansaço.
— Eu sei que fiz merd* ontem, te peço desculpas por tudo.
— Você lembra o que fez?
— Lembro. — Respondeu olhando para o chão. — Não lembro de tudo, mas sei o que fiz.
— Você está bem?
Francine sacudiu a cabeça, em confirmação.
— Eu sei que a porta da frente tá trancada, e que eu poderia sair por outras portas ou janelas, mas seria falta de educação sair sem avisar e sem pedir desculpas, já errei demais com você.
Clarisse não disse nada. Francine prosseguiu.
— Vou nessa, me desculpa por tudo.
— Espera.
— Eu não tô mais bêbada nem nada, já consigo sair e pegar o ônibus.
— Vem cá.
Francine não respondeu, só olhou a médica com a testa franzida, em confusão. Clarisse levantou uma parte do edredom e reiterou o pedido.
— Vem, vem deitar aqui.
Não entendeu direito o que estava acontecendo, mas depois de alguns segundos de indecisão atendeu o pedido e deitou-se ao lado de Clarisse, que a cobriu e depois virou-se para desligar o abajur. A médica ajeitou-se na cama, virou para o lado e puxou Francine para perto de si, a abraçando.
— Ainda é cedo, dorme mais um pouco. — Clarisse disse baixinho em seu ouvido.
Francine levou míseros dez segundos para corresponder ao abraço de forma apertada e começar a chorar.
— Não chore, está tudo bem com você. — Disse enquanto acariciava seus cabelos.
O choro aumentou.
— Pssss... Acalme-se, você está em segurança agora, você está bem, isso que importa, tá bom?
— Eu sempre estrago tudo. — Francine disse de forma abafada entre soluços.
Clarisse também estava com vontade de chorar, mas se esforçou para se manter serena e acalmar a garota. Não falou mais nada, deixou Francine extravasar sua tristeza com o choro e tratou apenas de lhe fazer afagos.
Soltou o abraço e deitou-se de costas.
— Deita aqui comigo, deita sua cabeça aqui no meu ombro.
Francine obedeceu em silêncio, mas continuava chorando.
— Respira fundo... Tenta descansar a mente, feche os olhos, respire devagar... Eu tô aqui com você, fica tranquila. — Disse baixinho.
Aos poucos Francine foi deixando de lado o desespero e encontrando paz. A respiração desacelerou, e alguns minutos depois Clarisse percebeu que ela finalmente havia adormecido.
O sol já brilhava lá fora há algumas horas, Clarisse acordou, interrompeu o espreguiçamento quando se lembrou do que estava acontecendo.
— Francine. — Murmurou ao perceber que ela não estava mais ali.
— Francine? — Falou alto, a chamando, mas ninguém respondeu.
Levantou-se da cama e olhou no banheiro, vazio. Foi até o quarto dos pais e encontrou a aventureira dormindo profundamente de bruços, ficou aliviada com a cena.
Após um banho longo e reflexivo, fez café e tomou lentamente do lado de fora de casa, sentada no banco na varanda, que ficava de frente para a piscina, era um dia fresco de abril em Cotia. Repassou mentalmente o que havia acontecido naquela noite, tudo que foi dito e tudo que foi atirado impensadamente, magoando ambas.
Viu na tela do celular que passava alguns minutos das nove e também uma mensagem de bom dia de Claudia, ligou para Miriam, precisava conversar com alguém.
— Te acordei?
— Não, estou dirigindo.
— Ah, ligo depois.
— Não, está no viva voz, dê oi para Claudia, ela está do meu lado.
— Bom dia, Claudinha, onde estão indo num sábado de manhã? Piquenique?
— Comprar umas plantas num horto na cidade vizinha.
— Nosso apartamento vai virar uma selva amazônica, mas o que eu não faço para ver essa mulher feliz, não é mesmo? — Disse Miriam.
— Você não faz nada além da obrigação, dona Miriam. — Respondeu Clarisse.
— E então, como estão os preparativos para a festinha do Joca?
Clarisse havia esquecido completamente que a festa de João seria no dia seguinte.
— Tudo organizado, com semanas e semanas de antecedência, você conhece Sabrina, sabe como são as coisas com ela.
— Quer almoçar com a gente hoje?
— Não, agradeço. Na verdade, preciso de uns conselhos, aconteceu uma coisa bastante chata ontem.
— Envolve a pirralha? — Perguntou Miriam.
— Envolve.
— Não sei por que ainda pergunto... O que ela aprontou?
Clarisse contou todo o ocorrido da noite e madrugada, a bronca veio a galope.
— Pelo amor de Deus, larga essa fedelha, Clarisse, já te falei mil vezes. — Miriam se manifestou.
— Tenha calma, é tudo muito recente, você precisa pensar com calma em tudo que foi dito e o que aconteceu. — Claudia apaziguava.
— Bom, eu não faço ideia do que fazer agora, provavelmente ela vai querer ir embora quando acordar, não posso prendê-la aqui, já prendi ontem.
— Você acha que ela está falando a verdade? — Perguntou Miriam.
Clarisse suspirou.
— Ela já mentiu antes, mas em coisas pequenas, eu não sei, ela me pareceu sincera. Você acha que ela pode ter inventado isso? Que na verdade nada aconteceu?
— Pelo contrário. — Disse taxativa Miriam. — Ela pode ter sofrido algum abuso e está escondendo de você.
Clarisse arregalou os olhos.
— Caramba, Miriam, não fala uma coisa dessas, agora tô em pânico.
— Calma, querida. — Disse Claudia. — Hoje Francine acordará sem estar sob efeito dos entorpecentes, não seja invasiva, mas converse com ela, a deixe à vontade.
— Acho que ela precisa ser examinada. — Sugeriu Miriam.
— Você tá dizendo que eu deveria examiná-la? Não acho uma boa ideia.
— Claro que não, cabeça de vento, leve ao médico.
— Você acha necessário?
— Por que não liga para Beth? Ela é a pessoa mais adequada para cuidar disso, além de nossa amiga ela é nossa ginecologista, você pode abrir o jogo com ela numa boa.
— Você me deu uma ótima ideia, cabeça de minhoca. Vou fazer isso.
Após conversar com Beth por telefone e combinar de aparecer no consultório logo mais, foi acordar Francine, ainda teria que convencê-la a ir nesta consulta.
Entrou no quarto, a observou dormir por alguns segundos, e então abriu as cortinas e a janela.
— Que porr* é essa, apaga a luz. — Resmungou Francine se cobrindo com o edredom.
Clarisse sentou-se na ponta da cama, puxou um pouco o edredom para destampar a cabeça dela.
— Bom dia, preciso conversar uma coisa com você.
Francine abriu os olhos com dificuldade por conta da claridade, e nada respondeu, apenas encarou a médica.
— Já está sóbria?
— Tô. — Bocejou. — Tô morrendo.
— Que?
— Ressaca dos infernos.
— Tá sentindo o que?
— Meu estômago parece que foi revirado do avesso. Minha cabeça tem uma britadeira dentro. — Bocejou. — E tô morrendo de vergonha de você, me sentindo o pior ser humano do mundo.
— Quer algo?
— Dormir mais um pouquinho, depois vou embora, pode ser?
— Infelizmente a resposta é não para seus dois pedidos.
Francine sentou-se na cama com trejeitos doloridos.
— Dá pra fechar a cortina? Minha cabeça vai explodir.
Clarisse fechou as cortinas e voltou a sentar na cama.
— Você se recorda de tudo que me contou ontem?
— Mais ou menos, sei que te contei o lance lá que fiz.
— Tudo que você me contou é verdade? Não omitiu nada?
— Peraí, você quer detalhes? Daí não, né, é humilhação demais ter que dar detalhes para você.
— Não, não é nada disso. Escute, você estava bastante embriagada, alguém pode ter se aproveitado de você, tem certeza que foi tudo consensual?
— Sim, eu já te disse.
— Então não houve nenhum ato violento ou abusivo?
— Clarisse, se tivesse acontecido algo assim eu teria te contado logo de cara, você é a única pessoa que confio, eu tô falando a verdade, não me orgulho do que fiz, mas foi isso aí mesmo, coisa de gente idiota, bola pra frente. — Colocou as mãos na cabeça fazendo uma careta. — Você tem algum remédio pra dor de cabeça?
— Vou buscar.
A médica retornou com remédios e um copo de água, dessa vez não sentou, ficou de pé próximo dela.
— Uma coisa que me preocupa é que você não tem certeza se usaram preservativo, eu conversei com uma amiga, a Beth, nos formamos juntas na faculdade...
— Você tá espalhando esse lance para outras pessoas?
— Me deixe terminar de falar. A Beth é minha ginecologista, e ela sugeriu que você fosse lá consultar com ela hoje, ela tem um horário vago às onze, e eu gostaria muito que você fosse.
— Pra que?
— Ela é ginecologista, eu não sou, vocês podem ter uma conversa a sós, tirar umas dúvidas, talvez ela te examine, mas posso te garantir que a Beth é uma excelente médica.
— Hmmm... Não tô a fim de ir, não.
— Você me disse dia desses que nunca foi num ginecologista, eu acho que hoje é um dia propício para sua primeira consulta, eu te garanto que será uma consulta rápida e tranquila, a Beth é super querida, ela vai te tratar muito bem.
— Você tá grilada, né?
— Um pouco.
Francine levantou da cama e se dirigiu ao banheiro, parou na porta e se virou.
— Dá tempo de tomar um banho?
— Sim, vou me trocar e te espero lá fora.
Próximo ao meio-dia Francine saiu do consultório de Doutora Elizabeth, com alguns papéis em mãos, trajava seu moletom branco e largo. A ginecologista também surgiu na porta e foi logo cumprimentar a colega.
— Cisse, que bom te ver!
— Oi querida, como estão todos? E Sofia?
— Ah, está tão tagarela, já entrou na escolinha e tudo. Vem cá, entra um pouco, não tenho consulta agora.
— Já volto. — Clarisse disse para Francine e entrou no consultório.
Após algumas amenidades, Clarisse entrou no assunto.
— Como foi a consulta com a Fran, tudo tranquilo?
— Sim, conversamos bastante, tiramos dúvidas, foi tudo ok.
— Examinou?
— Examinei, e passei requisição para alguns exames, porque acho interessante ela fazer um checkup.
— Ela disse com quem esteve ontem? Sabe, o nome do cara que esteve com ela?
— Disse sim. E obviamente não vou te contar porque a consulta é sigilosa, Doutora Clarisse.
— Eu sei, é que eu queria ter ideia de quem foi, mas ok... E ela está bem?
— Tudo ótimo, a examinei e tudo condiz com o que ela contou, fique tranquila. Receitei uma pílula do dia seguinte, recomendo que ela tome o quanto antes.
— Acha necessário?
— Acho que é o mais seguro a fazer, já expliquei a ela os efeitos colaterais, náuseas, dor de cabeça, diarreia... etc.
— Vou comprar quando sairmos. E um PEP (medicamento para quem se expôs ao vírus HIV), não acha que precisa também?
— Ela disse que não, e não posso explicar o motivo que ela deu.
— Tudo bem, já entendi.
Despediu-se e saiu do consultório, encontrando Francine a olhando de forma tensa.
— Vamos?
Francine apenas balançou a cabeça.
Enquanto aguardavam o elevador, a médica dava uma olhada nos papéis com as requisições e receitas. Percebeu que ela ainda parecia tensa.
— Fran, a conversa que você teve com a Doutora Beth é confidencial, ok? Ela não me contou nada, fique tranquilo quanto a isso.
— Ok.
— Era isso que estava te preocupando?
— Também.
— E o que mais?
— Você sabe...
— Não sei, não.
— Você disse que hoje teríamos uma conversa.
— Se você não quiser, vou respeitar sua vontade. Mas não acha que precisamos conversar o quanto antes? As coisas que aconteceram ontem foram bem sérias.
— Eu sei, acho que te devo essa conversa, quer agora?
— Não, depois. Vamos na farmácia agora e depois almoçar.
Clarisse estacionou na lateral de um restaurante um tanto rústico, onde havia árvores e um riacho passando por trás do local, era agradável e sossegado. Francine estava morta de fome e um tanto quieta, não trocaram quase nenhuma palavra. Ao sair do resturante, Francine não foi na direção do carro, foi até uma cerca lateral de onde era possível ver o riacho e um moinho de madeira por onde a água passava.
— Essa paisagem é linda, não é? — Puxou assunto Clarisse, também debruçada na cerca ao lado dela.
— Sim, dá vontade de entrar nessa água, é tão limpinha.
Ficaram algum tempo lado a lado contemplando o lugar, em silêncio, que foi interrompido por Francine.
— Quer conversar agora?
— Não, em casa.
— Eu imagino o porquê você quer ter essa conversa em casa. — Francine sorriu e saiu andando para o carro.
Clarisse ficou ali parada em confusão, mas desistiu de tentar entender e foi também para o carro.
Chegando em casa, foram até a cozinha, onde Clarisse providenciou um copo d’água e o comprimido que havia comprado.
— Beth te explicou os efeitos colaterais, certo?
— Sim, vou ficar pior do que já estou, porém com cólicas e possíveis sangramentos.
— Ou talvez não tenha nenhum efeito, depende de pessoa para pessoa.
— Você já tomou isso?
— Não, essa é uma das vantagens de ser lésbica. Quer sorvete? É de creme de avelã.
— Quero.
Clarisse serviu duas taças e foi saindo da cozinha com elas em mãos.
— Vem comigo.
Sentaram na mesa redonda que havia ao lado da piscina, com um imenso guarda-sol protegendo, depois que Clarisse limpou tudo com papel toalha.
— Você é corajosa por me dar uma taça de vidro. — Sorriu Francine. — Nossa, esse sorvete é muito bom.
— Se quiser pode pegar mais lá na geladeira.
— Não, tá de boas.
Depois de algumas colheradas, Clarisse iniciou a conversa.
— Onde você foi ontem à noite?
— Nossa, você é direta, hein?
— Foi num baile funk?
— Não, fui num rolê com o pessoal.
— Como voltou?
— Vim de carona com uns caras que moram nas bandas de cá.
— Cadê seus tênis?
— Boa pergunta. — Francine terminou o sorvete e empurrou a taça para o meio da mesa. — Não faço ideia.
— Não lembra em que momento tirou?
— Não, mas acho que pode ter ficado no carro.
— O carro que você veio de carona?
— Não.
Clarisse era ótima em captar entrelinhas e atos falhos, logo deduziu mais uma informação.
— Foi num carro?
— Que?
— Você transou dentro de um carro, não foi?
— Como sabe?
— Eu adivinho coisas. Amanda estava nesse rolê?
— Estava, com Lezinho.
— O namorado dela, certo?
— Eles tinham terminado, acho que pela terceira vez, mas tão ficando de novo, então sei lá o estado civil dela.
— Você saiu daqui decidida a fazer o que fez?
— É conversa ou interrogatório?
— Eu tenho algumas coisas para te falar, mas queria te fazer essas perguntas antes.
— Que coisas?
— Três coisas. — Clarisse percebeu que Francine estava cada vez mais tensa. — Mas você é adulta e sei que teremos uma conversa civilizada, sem ofensas, diferente do que fizemos ontem.
— Eu te chamei de brocha. — Francine disse baixinho.
— Não escutei o que você disse.
— Ontem eu te chamei de brocha, falei que você tava na menopausa, entre outras coisas ridículas, me desculpa.
— Desculpo.
— E eu não saí daqui decidida a dar pra alguém, eu só queria sair e encher a cara, mas daí surgiu a ideia e... Já era.
— Obrigada por me responder.
— Pode falar as coisas agora, prometo não te interromper. — Francine disse e tirou o moletom branco, ficando apenas de regata e top.
— É uma conversa, você pode me interromper quando quiser.
— Tá beleza.
Clarisse suspirou fundo e começou a falar.
— Eu pensei bastante em tudo que aconteceu ontem, hoje acordei e vim aqui pra fora colocar os pensamentos em ordem, ontem eu estava de cabeça quente, falei muita coisa sem pensar, e sei que você também fez isso.
— Fiz.
— Eu me dei conta que tenho uma grande parcela de culpa no que você fez, eu praticamente induzi você a sair e perder a virgindade, mesmo sem ter a menor ideia de que estava fazendo isso, e por isso eu queria te pedir desculpas.
Francine ficou um tanto confusa, não esperava por isso.
— Nada a ver, você não tem culpa, a culpa é só minha.
— Não, Fran, eu falei coisas horríveis para você, sem querer eu plantei a ideia na sua cabeça, e me sinto muito mal por isso, nós duas erramos e somos culpadas, quero que você saiba que agora tenho ciência disso e me arrependo das coisas que falei, me desculpe, eu sinto muito.
— Fica sussa.
— Significa sim?
— Sim. Olha, eu sei que te pedi desculpas ontem, mas queria pedir de novo, eu fiz merd* e assumo, eu lembro da sua cara quando te contei o que tinha acontecido, você ficou decepcionada comigo... Isso me mata, porque a última coisa que quero é te decepcionar, você é boa comigo, não merecia isso.
— Fique sussa também.
— Tá bom. — Respondeu com um leve sorrisinho. — Fechado. — Ergueu a mão fechada para um cumprimento de soquinhos, que foi atendido por Clarisse.
— Uma outra coisa que quero te falar é que também me dei conta de um outro fato hoje, enquanto pensava nisso tudo, e eu nunca tinha agido assim na minha vida, acho que foi por isso que demorei tanto para me dar conta.
— O que?
— Eu fui covarde com você, o fato de não assumir um relacionamento mesmo depois de três meses foi puramente medo do que os outros iam pensar ou falar, medo das consequências, e isso foi muito injusto com você, porque você não tem culpa de ter dezoito anos, esse tipo de iniciativa deveria vir de mim naturalmente, mas eu não fiz, eu congelei.
Francine ouviu tudo atentamente, e ficou em silêncio olhando para a mesa.
— Pode falar o que você acha, não vou me ofender. — Continuou Clarisse.
— Ontem você disse que eu me iludi sozinha. — Respondeu com a voz baixa, triste.
— Eu falei isso para te magoar, me desculpe, querida.
— Tranquilo. — Respondeu olhando para mesa novamente.
— Eu espero que não seja tarde demais.
— Para o que?
— Para te pedir em namoro. Você aceita?
— É de verdade ou é só...
— É de verdade. Me aceita como sua digníssima namorada?
Francine abriu um sorriso.
— Você tá de zoeira.
— Não tô.
Clarisse estendeu a palma da mão sobre a mesa, solicitando a mão da garota, porém Francine ainda parecia atordoada e não correspondeu, apenas olhou. A médica retirou a mão.
— Se você quiser uns dias para pensar, tudo bem por mim.
— Não, devolve a mão aqui. — Francine disse e segurou firme a mão dela. — Eu quero sim, desde que te conheci que eu quero, até parece que vou pedir uns dias pra pensar, não sou maluca. Quer dizer, só um pouquinho.
— Que bom. — Clarisse sorriu, trouxe a mão dela até os lábios e beijou.
— Novinha também gosta de namorar, Doutora Clarisse, pega a visão.
— Fechado? — Clarisse disse empunhando a mão fechada, aguardando o cumprimento dela, que veio.
— Fechou. Caralh*, isso é muto massa! — Francine não cabia em si.
— E por último...
— Eita, tem mais coisa? Vou infartar.
— Eu disse que eram três.
— Acho que sei qual é a terceira coisa.
— O que você acha que é?
— Você quer um nome.
— Não, não quero mais, é melhor assim, mas fácil pra enterrar esse assunto pra sempre.
— Então tá.
— Você ia me dizer o nome? — Perguntou de mansinho.
— Não. — Riu. — Mano, você é muito curiosa!
— Vamos colocar uma pedra nesse assunto a partir de agora?
— Bora. — Franziu o cenho. — A dor de cabeça voltou com tudo.
— Deve ser já efeito daquele remédio, vou pegar um analgésico pra você.
— Não, pelo amor de Deus, me fala a terceira coisa, dane-se a dor de cabeça, eu tô ansiosa pra caramba.
— Tá bom. Só queria te comunicar que a partir de agora sua vida sexual está inteiramente em suas mãos.
— Você falou isso ontem, que eu sou livre para sair e trans*r com quem quisesse na rua.
— O que estou dizendo hoje é que você não é livre para sair e trans*r com quem quiser na rua, a não ser que essa pessoa seja eu.
— Tem como resumir?
— Você decide quando quer ir pra cama comigo.
— Tipo, fazer sex*?
— É. Essa decisão está em suas mãos agora. Literalmente também.
— Mas se você não tem vontade, não posso decidir nada.
— Francine, faz séculos que tô morrendo de vontade de fazer sex* com você, as chances de eu estar a fim no momento que você estiver, são altíssimas.
— E por que não rolou até agora? Desculpa perguntar, é que eu queria entender porque antes não podia, e agora pode.
— Porque, mais uma vez, me dei conta que estava sendo uma grande covarde, eu achava que estava te protegendo, cuidando de você, mas na verdade eu só não queria assumir essa responsabilidade, puro egoísmo da minha parte.
— Você tirou o dia para perceber várias coisas.
— Finalmente, não é mesmo?
— Mas hoje eu não tô a fim, tô me sentindo muito mal, fisicamente e de cabeça também.
— Que seja num dia em que você esteja se sentindo bem, e claro, com bastante tesão.
— Fechado. — Riu erguendo a mão fechada novamente.
— É tão bom ouvir sua risada de novo. — Clarisse levantou da cadeira e foi para trás da cadeira de Francine, a abraçando, dando beijos em seu pescoço e ombro.
— Golpe baixo! Golpe baixo! — A jovem protestava.
— Pronto, parei.
Francine levantou da cadeira e foi logo passando os braços pelo pescoço dela com seu sorrisinho arteiro, a beijou por algum tempo.
Se abraçaram carinhosamente, selando em silêncio tudo que havia sido definido naquele início de tarde.
— Fran, só mais uma coisa.
— Não eram só três?
— Sim, é só uma coisa que quero deixar claro.
— Manda.
— Eu sou monogâmica e levemente ciumenta, então por gentileza, não fique com outras pessoas, ignore aquilo que falei ontem.
Francine correu seus dedos pelos cabelos de Clarisse.
— Medo de enfeitar a cabecinha, né Doutora? Relaxa, só quero você.
— Vamos entrar, vou pegar analgésico para você. — Disse e conduziu Francine pela mão para dentro de casa.
— Sabe o que eu quero fazer essa tarde?
— O que?
— Dormir. Muito.
— Ótimo, porque também preciso de um bom cochilo.
— Quero capotar, tô morrendo de sono e mal estar.
— Resolveremos isso. Já dormiu de conchinha?
Fim do capítulo
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Gio
Em: 09/03/2023
Sabe o que eu pensei?
Acabou de novo minha simpatia pelas personagens rsrsrs
Que foi isso? Ai ai
Não acho justo colocar o peso disso na Clarisse não, mas tipo, se orienta mulher... eu hein...
Cada um é responsável pelas próprias decisões, mas eu não estou simpatizando o jeito que elas "resolvem" os problemas que tem, tava ali lendo e pensei "Aí a Francine pensa, ah sim, agora eu posso deitar aqui na cama sim, validada minha teoria de girico"
Tem um nome pra esse tipo de relacionamento, tóxico.
Resposta do autor:
Vou torcer para quem um dia vc volte a simpatizar por pelo menos uma das protagonistas... rs
Exato, Francine ganhou a autorização q tanto queria, ou seja, acha q agiu certo.
Tóxico mesmo.
Abraços!

thays_
Em: 05/03/2023
Nunca em hipótese nenhuma imaginaria um desenrolar desse. Estou passada com esse capítulo. Realmente uma montanha russa de emoções. Acredito que existem duas questões muito importantes. Uma, a Clarisse também é uma pessoa com seus medos, receios, ainda mais pra alguém com TOC, tudo precisa ser absolutamente controlado na cabeça dela.
Duas, a Fran me pareceu um reflexo de todos seus amigos, um lado dela que eu não conhecia, mas ela é só uma garota com 18 anos. Eu me lembro de como eu era nessa idade, do quanto era importante fazer parte do meio. Já que todos os amigos dela têm vida sexual ativa, eles deviam estar pressionando ela do pq ainda não tinha rolado nada com a Clarisse.
Eu me lembro do qto me sentia pressionada pra beijar alguém pq ainda era bv e não importava quem fosse, só precisava beijar e pronto pra sair esse peso de cima de mim. Imagino que com a Fran talvez possa ter acontecido isso, ela só queria deixar de ser virgem, ponto final, vão parar de encher o saco dela.
Acho que as duas têm sua parcela se culpa nessa história, mas Clarisse por saber que Fran é mais imatura, deveria ter cuidado melhor dela, contudo eu tbm entendo que ela tem suas limitações emocionais que a impediram de agir de outra maneira.
Se em 2121 Sam e a Theo sofreram horrores pra ficarem juntas, já imagino o restante dessa história kkk ansiosa pelo próximo! E agradeço por ter criado todo esse mal estar e já ter resolvido ele num capítulo só pq eu não ai aguentar mais 1 semana pra descobrir o que ia acontecer kkk
Abraços!
Resposta do autor:
Oi Thays!
Fico feliz que consegui tirar todo mundo da zona de conforto e surpreender, essa é a ideia! rs
Análise acertadíssima q vc fez, Clarisse que ter o controle de tudo e Francine reflete suas amizades, até pq tem a necessidade de fazer parte de um grupo.
Eu tb ficava toda sem jeito qdo minhas amigas já tinham beijado alguém e eu ainda BV morrendo de vergonha... rs Tem essa pressão idiota da sociedade mesmo, mas a gente só entende isso qdo fica mais velha.
Que bom q vc já vem vacinada de 2121 pra essa história e sabendo q gosto de botar pra sofrer rs
Sobre o capítulo grande, realmente eu quis dar uma resolução antes de ir para o próximo capítulo, pq seria um saco esperar.
Abraços!!
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mtereza
Em: 03/03/2023
Impactante o capítulo e muito bom .O capítulo, no entanto me deixou em dúvidas se a relação delas é sadia e faz bem a ambas , no momento vejo que está fazendo muito mal a Fran . Sei que as consequências dessa noite ainda irão repercutir e afetar a relação . A Fran é muito sensível e influenciável e infelizmente também imatura , impulsiva e por vezes consequente e autodestrutiva . A Clarisse um pouco manipuladora e por vezes egocêntrica, fiquei muito incomodada com o capítulo e com sentimentos ruins pela dias rsrsrs. Acho que essa foi sua intenção nos instigar .
Resposta do autor:
Foi um capítulo para dar uma chacoalhada nas personagens e nas leitoras... rs
Aqui não tem vida mansa não rs
Sim, vc tem razão, nesse momento a relação delas é tóxica para ambas, vamos acompanhar esse desenrolar.
Sua descrição das duas protagonistas foi ótima, concordo com tudo q vc disse.
Abraços!
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patty-321
Em: 03/03/2023
Caraca,. Agora eu pirei , não sei qual das duas é mais doída pensei q a Clarisse fosse sair desse relacionamento já confuso e ela meteu um pedido de namoro. Doideira. A outra foi perder a virgindade sei lá com quem e a dra. É maluca pra aceitar, se bem que ela fez merda. Nem sei qual das duas é mais adolescente. RS. Enfim, ainda vai ficar ruim quando a chata da Sabrina conhecer a Fran. Eita confusao.
Resposta do autor:
Nessa história ninguém é lá muito equilibrado das ideias não... rs
Ambas ali erraram bastante uma com a outra, agora é levantar, sacodir a poeira e tomarem juízo nessa cabeça.
Abraços!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 03/03/2023
Foi tenso!
Resposta do autor:
Com tensão é mais legal... rs
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Tayluiz
Em: 03/03/2023
Olá, Cris!
Primeiramente, uauuuu, que capítulo enorme e maravilhoso, como sempre! Você é muito talentosa tanto na escrita, quanto na construção das personagens, pois elas são extremamente... Humanas. Os sentimentos e ações são autenticos, e é isso que torna a história incrível, além de todo o contexto, claro!
Fiquei um tanto curiosa quanto a motivação da Fran, que imediatamente de tornou outra personagem, totalmente atípica da que se apresenta nos outros capítulos. Acredito que Clarisse não conseguiu captar ali nas entrelinhas algo mais que possa ter ocorrido nestes últimos tempos,ja que ela parece muito alheia a vida da Fran desde que ela saiu do abrigo. Também refleti que nesta história, quase sempre estamos sob o ponto de vista de Clarisse e (como ela) fiquei muito curiosa imaginando qual seria o motivo dela ter recusado tomar o PEP, a pessoa na qual ela se relacionou é tão próxima assim ao ponto dela confiar tão cegamente? São tantas perguntas..
Estou muito, muito ansiosa por mais capítulos, é isso!
Um abraço e bom final de semana <3
Resposta do autor:
Oie Tay!
Obrigada pelas palavras carinhosas, vocês são meu maior apoio na escrita <3
Adorei que vc captou algo que nem eu tinha percebido, sobre Clarisse estar alheia à vida de Fran nesses últimos tempos, mas vc tem toda razão, e talvez para a adolescente isso soe como perda de interesse.
Apenas eu e Francine sabemos com quem ela fez sexo naquela noite... rs Mas quem sabe um dia Clarisse e vocês descubram.
Grande abraço!
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Christina
Em: 02/03/2023
Esse capítulo me fez chorar, não queria que a primeira vez da menina Francine tivesse sido dessa maneira, realmente um capítulo polêmico autora.
Uma historia envolvente, com duas personagens complexas e imperfeitas.
Resposta do autor:
Oh, me desculpe pelas sensações ruins, Christina... :( Prometo ter umas crenas mais felizes pra frente, viu?
Abraços!
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Rosangela451
Em: 02/03/2023
Oi Cristiane!
Primeiro quero dizer que fiquei super feliz em vê uma história sua novamente. Mesmo odiando histórias em andamento não pude deixar de começar a lê,afinal você tá no meu top 5 melhores autoras rsrsrs .
Comecei ontem a noite e hoje quando vi que tinha capítulo novo tive que lê. Confesso que parei uma 3 vezes durante o capítulo. Odiei Clarisse em vários momentos e não sei se ela merece essa menina .
Como vi alguns comentários.....também acho que ela tem pisado na bola com a mocinha.
Se Clarisse tivesse mais responsabilidade emocional a mocinha não tinha feito a burrada de sair feito louca e tudo mais .
Tomara que daqui pra frente ela assume realmente a Fran ou pule fora .
Não demore postar o próximo .....
Abraços!!!
Resposta do autor:
Oi Rosângela! Fico lisonjeada em estar entre suas preferidas, obrigada!
A questão dessa "crise" entre elas é se Clarisse vai reconhecer que estava errando e tomar as medidas certas, senão vai perder a moça skatista.
Grande abraço!
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Zaha
Em: 02/03/2023
Bom dia,
Nossa, como disse li ontem quase de madrugada ou foi de madrugada? RS. Assim que vc publicou, mas quando terminei, não tinha condições de escrever como acho que o capítulo merece. Estava desmaiando.
Vamos lá
WTF ??? Que capítulo massa, muito foda!!! Adorei ver as sombras das duas. Fran se.mostrou muito mais. Antes víamos mais as explosões, mas dessa vez, não só isso, se notou certos comportamentos dela que não tinha visto antes. Ela estava mais solta a confiante, TB muito sínica. Estranhei muitas atitudes dela, parecia outra pessoa. Pressionando Clarisse. Entendo os medos dela, mas para ser jovem e inexperiente, ela estava muito apresada, somado ao fato dos próprios pensamentos fantasiosos que as situações a levavam a maximizar ( esqueci a palavra).
Bem, os ciúmes de Fran. Sabia que a Mariana ia gerar problema, assim que a conheci. Porém eu não vi nada demais até agora...Mariana tocou na mão dela? Oxente, muitos se tocam e a mesma Fran tocava. A mesma Fran ligava pra ela a QQ hora. Pensa q pq era paciente podia falar QQ hora? Na verdade nem poderia ter contato, mas cada caso é um caso e somado aos sentimentos de Clarisse.
Então, achei que Fran estava mais alterada que o comum pelas dúvidas da falta de sexo . Ela vem de um lugar que isso tem pouca importância, então n entende pq Clarisse estava esperando. Clarisse estava e está demorando pormedos próprios, por ser delicada e saber que a primeira vez deve ser algo especial (ela pensa assim)...)MTS fatores. Mas Fran via de outra forma.
Fran atuou precipitada ( me preocupo se no foi com o cara do trabalho, mas como ela foi num baile funk...) Como um jovem saindo da adolescência faz... Ela entendeu que pq era virgem ,Clarisse n queria fazer nada, porém ela entendeu errado. Esse n era o fator principal e Clarisse falou, porém na discussão, Fran só deu atenção a uma parte a que ela já achava q era o motivo.
Clarisse perdeu a paciência, normal. Todos perdemos ,imagine numa situação como essa. Numa relação como essa com as duas tendo seus problemas, pois apesar de Psiquiatra, Clarisse TB sofre , tem TOC , mania de limpeza e isso n é menor. Ela pode se chatear. Ela n é mais a psiquiatra de Fran, ela agora tá totalmente envolvida emocionalmente e querendo ou n, já eram "namoradas"..apenas um rótulo que n foi dito... Ela é humana. Q tenha conhecimentos que um terapeuta - psiquiátrico deve ter não muda nada ..as pessoas acham que um terapeuta deve saber tudo e tem sempre a entender.. são os que mais tem conflitos... então, apesar que a briga foi cruel, dizendo coisas que feriram. O erro foi das duas. Claro que como mais experientr, Clarisse deve se policiar mais, prestar atenção, mas n deve carregar a culpa. Numa relação, os dois tem culpa. N importa se é jovem, se tem doença ou não!!! N devemos vitimizar a Fran pq ela tem algo. Sim, tem, é grave, mas ela tem a aprender a controlar ou não se acomodar pensando q pq tem algo o outro tem que aceitar suas atitudes.
A relação é de dois ,não de um...pode ter esquizofrenia, bipolaridade, borderline....n impede de ter uma boa relação se está medicado. Terá seus momentos, sim, terá que saber lidar e o outro TB, mas se pode. Cada um tem suas limitações, porém sem vitimizar as pessoas com patologias....
É isso, agora é resolver e bem, já n é virgem, já era. Agora é recomeçar e ter uma primeira vez de "verdade"! O importante é o q vai sentir. Fazer amor n é fazer sexo, então, ela ainda é virgem nisso e inexperiente....apenas houve coito... Sexo n é do isso...enfim!
Deixo um grande beijo e vc brocou!!
Resposta do autor:
Capítulo grande, grandes tretas! rs
Quando decidi ir por este caminho, a ideia era justamente essa, de incomodar o leitor, tirar da zona de conforto, dar um aviso "nessa história não seguiremos o esperado".
Achei bem interessante o termo que vc usou: as sombras das duas. De fato é como se aquele ser que habita nosso lado sombrio tivesse vindo à tona, em ambas as protagonistas. Mostraram seu lado feio.
Quem nunca falou algo no intuito de ofender que atire a primeira pedra.. rs
Francine entende que agora ela é exclusiva da atenção de Clarisse (bem coisa de cabeça de adolescente), mas isso só vai trazer frustrações, pq Clarisse não vai deixar de tocar a vida como sempre tocou por conta disso.
Mariana foi colocada na trama de forma cirúrgica pq terá papel importante na segunda etapa da história. (Sim, teremos o "anos depois...").
Na briga Francine só entendeu o que queria entender, na verdade ela tentou simpificar a situação para uma dicotomia "se eu for experiente posso ir para a cama dela", mas o buraco era mais embaixo, ela não levou em consideração que Clarisse tb tem inseguranças e receios, além de ser uma pessoa altamente sistemática.
Tb acredito no que vc disse sobre os que "analisam" serem os que mais tem problemas... rs A cabeça deve fervilhar né? Terapeuta não tem resposta para todos os enigmas da mente.
A impressão que tenho é que na cabeça de Francine de fato houve apenas uma situação física, e que ela ainda anseia pela relação sexual de verdade, onde há troca e bem querer. Melhor que seja assim.
Muitíssimo obrigada por ser comentário prolífico, um abraço!
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rrmsilva
Em: 02/03/2023
Engraçado como cada um entende as situações de formas diferentes, vi um comentário embaixo jogando toda responsabilidade na clarisse e super entendo mas a situação dela também não é nada fácil, se envolver com uma pessoa muito mais jovem e com várias questões internas, que veio de um abrigo e as grandes influências são amigos terríveis. Não acho que a relação consiga ir pra frente do jeito que está, Francine tem que amadurecer e lidar com suas questões se não a clarisse vai acabar virando mãe dela
Resposta do autor:
Olha, é bem complexo, inclusive na hora de criar as situações eu tento mostrar que todos erram e que todos enfrentam seus próprios demônios, porque acredito que os personagens ficam mais reais.
Muitas vezes me coloco no lugar de Clarisse, pq tenho a idade dela, e vejo que eu tb poderia fazer aquelas burradas, pq a inteligência emocional nem sempre aparece. E também me recordo de quanto tinha dezoito anos da quantidade de insegurança que eu sentia, eu prrecisava ser validada o tempo todo.
Concordo com vc, as coisas são será frutíferas nessa relação se houver uma evolução de atitudes de ambas as partes.
Grande abraço!
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