Capitulo 24
Capítulo XXIV
Clarisse acordou com um peso sobre o estômago, por um instante achou que era uma azia, mas era Francine. Adormeceram no sofá com a TV ligada depois de algumas horas de beijos, carinhos e conversas.
Acordou a jovem, que usava sua barriga como travesseiro, e tomou o celular do chão, consultando as horas. Mais do que as horas, a tela exibia notificações de mensagens, todas de Sabrina.
— Ãhn? Que lugar é esse? — Francine sentou desorientada no sofá, Clarisse estava compenetrada lendo as mensagens, com um semblante preocupado.
Assim que terminou de ler as mensagens, ligou para a ex-esposa.
— Por que não me ligou, Sabrina?
— Achei que mensagens bastariam, você costuma ler as mensagens.
— Como ele está?
— Terminando de engessar, foi uma fratura simples.
— Estou indo praí agora.
— Não precisa. Estava dormindo até agora? Sabe que horas são?
— Você vai direto do hospital pra casa?
— Sim.
— Então vou pra sua casa.
— Tá bom, Jardel quer falar com você.
— Mãe? Não fica preocupada, tá?
— Del, como você está? Tá sentindo dor?
— Agora não, mas doeu bastante, foi um vacilo, dei mole na manobra.
— Você já vai pra casa, estou indo te ver, ok? Daqui a pouco vou aí te mimar um pouco.
— Vai almoçar com a gente? Passa o dia lá. — Pediu manhoso.
— Vou sim, vou passar o dia grudada em você.
Desligou o telefone e suspirou pesadamente encarando o tapete, levou alguns segundos para se dar conta de sua companhia, que a fitava meio constrangida.
— Desculpa, Fran, o Jardel quebrou o braço andando de skate, vou lá visitá-lo.
— Ele tá bem?
— Tá sim, tá ainda no hospital engessando, daqui a pouco vai pra casa. Me desculpe por te acordar desse jeito, podemos tomar café antes de sair.
— Não, tá de boas, eu só vou usar o banheiro rapidinho e vou pro ponto. — Disse já de pé.
— Eu vou te deixar na pensão, você não vai de ônibus. — Clarisse levantou do sofá e se aproximou da garota. — Vou tomar um banho e pegamos algo na cozinha pra comer no caminho, fechado?
— Uhum.
— Prometo um café da manhã decente em breve. — Clarisse entregou um beijo rápido e seguiu para seu quarto.
Uma hora e meia depois deixava Francine em sua morada coletiva, passava das onze da manhã.
— Te ligo à noite, tá bom? — A médica prometia.
— Se não der, tudo bem, a gente se fala durante a semana.
— Vem cá.
Clarisse a beijou com a mão espalmada em seu rosto. Finalizou devagar, com um sussurro no ouvido.
— Vou contar as horas pra ficar com você de novo.
Francine riu.
— Eu também, foi massa.
— Te cuida, docinho.
***
— Você está namorando, não está? — Sabrina a inquiriu assim que ficou a sós com a médica, após o almoço.
— Não vou falar sobre minha vida pessoal com você hoje, eu vim ficar com os meninos, não vim pra ter conversas desagradáveis com você. — Clarisse disse e fez menção de sair da sacada, Sabrina colocou a mão em seu ombro.
— Não quero brigar, só quero saber por que você está escondendo esse namoro. Você não escondeu os outros.
— Estou saindo com uma pessoa, só isso, não temos um relacionamento. Prometo te contar em primeira mão quando estiver namorando novamente.
— Não se envolva com encrencas, Cisse. — Sabrina parecia mais condescendente agora. — Não sei no que você está se metendo, mas não me parece coisa boa, você merece uma mulher à sua altura.
— Vou lembrar disso.
***
Amanda entrou no consultório de Clarisse no final da tarde, era o horário de sua consulta. Ostentava um sorrisinho curioso.
Já no final da sessão, finalmente ela saiu do assunto.
— Final de semana foi bom?
— Ãhn... Foi. — Clarisse foi surpreendida enquanto se deslocava da poltrona para a cadeira atrás da escrivaninha.
— Francinalva cozinha bem, né?
— Sim, Francine leva jeito pra coisa.
— Soube que não rolou refeição completa. — Deu uma risadinha. — Ela amarelou? É a cara dela isso.
— Amanda, aqui não é lugar para esse tipo de conversa. — A repreendeu de forma séria enquanto preenchia a receita.
— A doutora não pratica mais esse esporte?
— Ela pediu para você fazer essas perguntas?
— Não, ela nem sonha que estou falando disso, só fiquei curiosa mesmo, se fosse comigo eu ia ficar bolada.
— Vamos deixar minha vida pessoal de fora de nossas consultas, ok? Vou mudar a dose do ansiolítico, não tenho aqui, você pode pegar de graça no...
— Por que você não a levou num motel ontem? Que coisa careta sair pra jantar e depois cada uma vai pro seu lado, ela tá doida pra trans*r com a doutora.
Clarisse parou de escrever a receita e lançou uma reprimenda com o olhar.
— Se você insistir nisso terei que te dar uma advertência.
— Opa, deixa quieto, me dá só a receita mesmo.
***
— Você vai sair hoje? — Clarisse preparava o jantar para os filhos naquele sábado à noite, enquanto eles assistiam TV na sala.
— Daqui a pouco, tô me arrumando. — Respondeu Francine no telefone.
— Ah, desculpe, a gente se fala depois.
— Não, o pancadão começa mais tarde, posso falar agora.
— Só liguei pra jogar um pouco de papo fora.
— O que você está fazendo agora?
— Arroz e nuggets para os meninos jantarem.
— Então você também cozinha.
— Sim, arroz e nuggets. E mais umas dez coisas.
— Faz arroz e nuggets pra mim semana que vem?
— Quer jantar aqui no próximo final de semana?
— Se você puder, queria sim.
— Curtiu aquela noite?
— Porr*, muito. Sabe, gostei desse negócio de te beijar na horizontal.
Clarisse segurou o riso.
— Fran, você conta tudo da sua vida pessoal pra Amanda, não é?
— Não, só algumas coisas.
— É que na...
— Ela falou merd*, não foi? Eu vou encher aquela biscate de esporro, eu vou...
— Provavelmente ela estava jogando verde.
— Jogando o que?
— Jogando verde pra colher maduro. É uma expressão, acho que ela estava especulando. Mas eu gostaria de te pedir para não falar sobre nós com outras pessoas, tem como?
— Falei só umas coisas pra ela, desculpa, vou evitar.
— Sei que ela é sua melhor amiga e vocês deve conversar sobre tudo, mas tente manter nossa vida íntima só entre nós, tá bom?
— Temos uma vida íntima?
Clarisse percebeu um tom de cobrança.
— Você já está frequentando a minha casa, então eu diria que sim.
— Relaxa, doutora, só estava te enchendo o saco, pra não perder o hábito. — Riu. — Vou terminar de me arrumar, tá? Te dou notícias quando voltar do rolê.
— Cuidado na rua, principalmente na volta, não ande em ruas desertas.
— Tá beleza, já sou mocinha.
— E juízo.
— Daí você tá me pedindo demais. — Riu novamente. — Boa diversão com tuas crias, fica bem.
***
Algumas semanas depois, Clarisse estava sentada na arquibancada do campo de futebol em companhia do filho Jardel, assistiam a um jogo de futebol onde um dos jogadores era João. Já estava no segundo tempo e o jogo seguia no zero a zero.
— Tá no jogo do seu filho? — Perguntou Francine do outro lado da linha.
— Sim, debaixo desse sol agradável, Jardel está aqui comigo e ele está me contando tudo sobre o império Asteca.
— Por que?
— Tem prova de história essa semana. Por falar nisso, como estão seus estudos?
— Peguei uma apostila do Enem emprestada, tô estudando por ela. Sei que parece que não estudo quando vou na sua casa, mas é que quando estou lá prefiro ficar com você, daí eu deixo pra estudar durante a semana.
— Eu sei, por falar nisso, você já pensou naquele assunto?
Francine hesitou em responder, na verdade não sabia exatamente do que ela estava falando.
— Depende, aquele lance que você me pediu para ser mais paciente sobre...
— Não, não isso. Sobre a festinha de aniversário de João mês que vem. Você vai?
— Mas sua ex vai estar lá. Seus filhos também. Eles vão me odiar e sua ex vai bater em você, talvez bata em mim também.
— Ninguém vai bater em ninguém. Olha, não se sinta obrigada a ir, só achei que poderia ser legal para você conhecer os meninos, mas talvez em uma ocasião mais calma, se você se sentir melhor assim.
— Então você não quer que eu vá?
Clarisse suspirou pesadamente antes de responder.
— Não foi o que falei, mas quero que você se sinta bem e não que tenha uma crise ou algo assim.
— Você tem vergonha de mim porque às vezes perco o controle?
— Francine, não invente, ok? Não é nada disso, só não quero que se sinta pressionada.
— Se eu não for a festa, não vou poder te ver? Eu posso ir e ficar do lado de fora da festa te esperando.
— Olha, esqueça a festa, você pode ir lá para casa na sexta ou no sábado, ok?
— Então você não vai à festa?
— Eu vou, e você pode ficar lá em casa vendo filmes ou sei lá o que você quiser fazer.
— Você está chateada? Você parece chateada.
— Não, Fran, só estrou tentando encaixar tudo, fique tranquila, não vou te pedir mais para ir na festa, e a gente vai se ver no final de semana, combinado?
— Fechou.
Após se despedirem, Clarisse percebeu Jardel a fitando, com seu braço ainda engessado.
— Mãe, sua namorada não quer ir na festa do João?
— Não é isso não, e ela não é minha namorada, só estamos saindo.
— Ela não quer conhecer a gente?
— Ela é tímida e cheia de receios, acha que ninguém vai gostar dela, mas é coisa normal da idade.
— Idade?
Clarisse não respondeu de pronto, o olhou em dúvida por uns segundos.
— Então... Essa pessoa que estou saindo, ela é um pouco mais nova, entende? É uma moça um pouco mais jovem do que eu.
— Um pouco quanto?
Clarisse desejou que Jardel não fosse esse garotinho tão curioso.
— Del, você promete que não vai contar nada disso para a Sabrina?
— Prometo.
— Promete mesmo?
— Sim, mãe.
— Ela tem dezoito.
— Dezoito o que?
— Anos.
— Sério, Mãe?! — Jardel bradou sem acreditar.
— Pelo amor de Deus, não conta isso para sua mãe.
— Mas por que você não namora alguém da sua idade?
— É complicado, querido. — Suspirou, olhou para o campo e passou o braço por cima dos ombros do filho. — Não sei se tem futuro, estou indo com calma. Mas não se preocupe com isso, ok? Está tudo sob controle. E não estou cometendo nenhum crime.
— O João já sabe?
— Não, mas pode falar com ele sobre isso, só não fale com sua mãe, ela não entenderia.
— Ela acha que você está namorando uma prostituta.
— Que??
— Escutei ela falando isso com Renata.
— Não era nem para você saber o que é isso, mas então vou deixar bem claro para você que não é nada disso que elas falaram. Vamos combinar o seguinte: se eu acabar namorando com a Francine, vou conversar com a Sabrina, ok? E se ela te perguntar algo, diga que não sabe de nada.
— Tá bom, mãe. Não gosto quando vocês brigam.
— Eu também não gosto, estou fazendo de tudo para evitar qualquer discussão.
— O João tem esperanças que vocês voltem algum dia, mas eu sei que isso não vai acontecer, na verdade prefiro vocês separadas mesmo, vocês não pareciam felizes quanto estavam casadas.
— Foram tempos difíceis, querido.
***
Era final de expediente de mais um dia de trabalho de Francine na empresa de telemarketing, tudo estava indo bem, estava feliz por não ter faltado ainda nenhum dia por conta de suas crises, já fazia algumas amizades. Porém um detalhe a incomodava: o supervisor do seu turno. Gilberto era um homem não atraente de quase cinquenta anos que tinha a má fama de dar em cima das funcionárias, e Francine não passava imune ao seu assédio, era na verdade a que mais Gilberto importunava.
O turno se findara, enquanto Francine olhava as mensagens em seu celular, que ficava trancado dentro dos armários dos funcionários, foi surpreendida pela mão de Gilberto em sua cintura.
— Conheci um restaurante aqui perto com chopp dobrado hoje, me acompanha? Não aceito não como resposta.
Francine virou-se para trás tirando a mão dele de seu corpo, com um semblante um tanto assustado e outro tanto enojado, recusou o convite de imediato.
— Não rola não, tenho compromisso hoje.
— Que horas é seu compromisso? Podemos ir lá tomar uns chopinhos e bater um papo, depois levo você até seu compromisso, fechado?
— Não, eu tenho que ir agora, fica pra outro dia, beleza?
Fran saiu de lá sem se despedir de ninguém, direto para o terminal rodoviário, onde pegaria o ônibus para Cotia, havia combinado de dormir na casa de Clarisse naquela terça-feira, já que não haviam se visto no final de semana.
Chegando ao destino final, foi logo dando um longo abraço apertado na médica, que estranhou um pouco, mas julgou ser saudade.
— Está tudo bem, docinho?
— Tá sim, bora jantar?
Fim do capítulo
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Gio
Em: 09/03/2023
Ihhh...
Esse lance de contar pro filho mas pedir segredo, vai dar problema...rsrsrs
Sabrina realmente é aquele tipo de pessoa especial viu, não se contenta em viver a própria vida, tem que viver a dos outros também, a dona da moral e dos bons costumes, preguiça eterna, quem dera fosse só uma personagem clichê forte nos estereótipos, mas não né, tem umas pessoas assim mesmo.
Sabe o que tô achando interessante?
Clarisse também é insegura, não tem as respostas e às vezes toma umas decisões muito bestas. Isso também é verdade kkkk
Estou apreciando mais isso agora, teve uns momentos que não achei que iria engajar na história porque não é muito meu tipo preferido, mas está dando certo Cris, acho que vou conseguir alcançar os capítulos essa semana =D

thays_
Em: 28/02/2023
Essa Sabrina é insuportável.
Os amigos da Fran vão acabar colocando as duas em um enrascada se ela não parar de contar tudo a eles sobre o que acontece com ela e Clarisse!
Resposta do autor:
Seria fácil demais para Clarisse se não tivesse uma ex chata... rs
E vc acertou sobre colocarem Fran em uma enrascada, só que serão duas enrascadas.
Abraços!
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Zaha
Em: 25/02/2023
Oieeeee,
Nosssa Sabrina dando uma de Sabrina!! Quero ver pegar fogo qndo ela souber a idade de Fran!!!!!!! Os xingamentos serao infinitos....
Gosto de Joao, menino esperto!!
Francine me fez rir na parte que ela e Clarisse estao falando sobre o aniversário do filho....n sei como ela consegue virar as coisas de cabeca pra baixo!! Ou seja, Clarisse diz pra ela ir, aí dps ela diz que n por algo, entao Clarisse concorda e diz pra ir num outro momento, entao ela já conclui que Clarisse n quer que va, que tem vergonha dela...é sério isso, mas dessa vez eu ri!!Num guentei!!
Bater...Sabrina é bem capaz...rsrs
Hum, olha esse infeliz acosando Fran!!! Espero que ela n deixe passar....
Amanda totalmente sem nocao gente! Que menina inconviniente!!
Beijusssssssssssssssssssssssss
Resposta do autor:
Será que Sabrina terá um ódio mortal de Francine? Sim ou com certeza? rs
Por sorte lidei bastante com adolescentes nos últimos anos e eles realmente essa capacidade de distorcer ou inventar coisas onde não tem, eu acompanhei de perto um namoro entre duas de 18 anos e era tanto drama...
Amanda é um caso de amor e ódio ne?
Abraços!
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Lea
Em: 24/02/2023
Como a Sabrina é irritante.
Como é inconveniente essa Amanda,esses amigos da Francine não são nada confiáveis. Quanta imaturidade.
Quanto a Francine, é melhor ela nem conhecer a Sabrina por enquanto. Do jeito que ela é insegura se a Sabrina falar um "a" para ela, é capaz dela fugir e nunca mais voltar.
E esse assédio,tem que ser denunciado!
Resposta do autor:
Olhando de perto, ali ninguém é muito normal não... rs
Acho q tá na hora de arranjar uns amigos novos para Francine né?
Esse assédio do supervisor vai evoluir.
Abraços!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 24/02/2023
Eita Fran se segura ou conta tudo pra Clarisse.
Resposta do autor:
Contar as coisas não é o forte de Francine... rs
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