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Pecado (EM BREVE NO AMAZON) por Thaa

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Palavras: 5171
Acessos: 1257   |  Postado em: 27/02/2023

Capitulo 8

 

 

Capítulo 8

 

FRUSTRAÇÃO!

Esse era exatamente o sentimento que definia Maria Clara. Sua mente martelava. Seus lábios formigavam e seu coração escondido sob o peito retumbava numa marcha lenta, quase cadente.

A imagem de Luciana não saía da mente da jovem.

Pela médica, de repente, passara a nutrir uma admiração sem precedentes, sem cabimento algum.

Logo ela que tinha tanto pavor dessas coisas. 

Uma total insanidade!

Se a madre e o restante das freiras imaginassem tal coisa, seria excomungada. Não tinha dúvidas.

Respirou muito fundo, quase puxando todo o ar que habitava em seus frágeis pulmões.

Andava devagar pelos corredores mergulhados na penumbra. Iluminados apenas pela luz fraca de velhos lampiões que datavam de séculos antigos.

Uma corrente de ar fria deixava aquele lugar meio assustador, mas o que incomodava Maria Clara não era a escuridão que se abatia sobre ela e sobre aquelas paredes decrépitas, mas sim aquela admiração estranha e sem o menor sentido que passara a nutrir pela doutora Luciana.

Desde a primeira vez em que a viu não parara mais de pensar nela.

“Ai, meu Deus, o que está acontecendo comigo?”

“Por que não paro de pensar naquela mulher?”

“Eu quero matar Ester. Aquela garota só me mete em problemas, isso sim!”

“Não fosse ela jamais eu teria cruzado de novo com a chefe do pai dela.”

“E agora para acabar de completar eu nem sei onde ela está.”

“Se algo acontecer com aquela garota sem juízo, eu juro que não vou me perdoar.”

“Deusinho, eu peço por tudo o que é mais sagrado, traga a Ester de volta ao convento, sã e salva. Eu imploro.”

Pensava preocupada e à beira de um grito de desespero.

Ao chegar diante da porta do seu quarto, abriu e entrou logo. Almejava tomar um banho, mas temia fazer algum barulho estridente e acabar acordando as irmãs. Então apenas tirou os sapatos, a roupa, colocou sua camisola modelo século XVII e se enfiou debaixo das cobertas.

Com a cabeça sobre o macio travesseiro, perguntava-se em que lugar Ester se enfiara. Não conseguiria dormir sabendo que a maluca estava por algum lugar daquela cidade junto com aqueles amigos inescrupulosos dela. Nunca em sua vida se misturara com pessoas tão esquisitas quanto aquelas.

“Meu Deus, por favor, eu imploro, traga a Ester de volta bem para este convento.”

Suplicava com o coração aos prantos.

Não deveria ter ido com ela.

Deveria ter contado tudo para a Madre Superiora, quem sabe assim agora dormiria em paz.

Censurava-se mentalmente. 

Estava revoltada consigo mesma.

E não poderia ser o contrário.

Se Ester não gostava da vida no convento, então que fosse embora, ela não estava sendo obrigada ficar ali.

Em breve Maria Clara faria seus votos e, finalmente, tornar-se-ia uma freira.

Então não podia andar por aí burlando as regras do convento.

Seu destino era se tornar uma freira, servir aos necessitados, entregar-se a atividades filantrópicas de caridade, então, isso precisava estar bem claro na sua cabeça. 

A vida no mundo exterior deveria por si ser esquecida de uma vez por todas, inclusive a doutora Luciana Ferrazza.

 

***

 

Luciana entrou em casa Angel e as meninas já dormiam.

Já era tarde.

A médica subiu a escada da sala e foi para o seu quarto.

Abriu a gaveta do criado-mudo e pegou ali uma foto presa há muitos na moldura de um antigo porta-retrato.

Sérgio...

Olhava para o sorriso largo do falecido marido...para o rosto bonito...O porte charmoso, atlético...mas eram os olhos que deslumbravam todas as características anteriores. Aquele verde água...límpido...expressivo...grandes.

Podia jurar que naquela noite os tinha visto outra vez no rosto daquela moça aspirante à freira.

Quando a viu hoje fora invadida por uma comichão de sentimentos. Alguns perturbadores, outros afetuosos.

Infelizmente, sentia-se incapaz de definir algo concreto e estável toda vez que a via. Algumas vezes tão menina, algumas vezes tão adulta. 

Era como se já a conhecesse muito antes de realmente a conhecer.

Algumas vezes sentia raiva, porque ela lembrava alguém que somente lhe fizera sofrer.

Outras vezes sentia necessidade de conversar com ela, de proteger, como fizera naquela noite.

Luciana suspirou.

“Não vou perder meu tempo com essas bobagens. Já tenho problemas demais na minha vida. A última coisa que desejo é mais um.”

“Era somente o que te faltava mesmo, Luciana, andar a se preocupar com aquela completa desconhecida que nem mesmo você sabe de que buraco sai.”

Pensou e guardou a foto de volta no lugar.

Separou uma camisola, seguiu para o banheiro, em que tomou uma rápida ducha, passou suas loções noturnas, vestiu-se e deitou sobre a cama.

Seu corpo não era leve, parecia carregar sobre os ombros todos os problemas da Terra.

Mas precisava dormir.

Exorcizando seus fantasmas e seus problemas em sua mente, fechou os olhos para tentar pegar no sono. Porém, nada disso adiantou. Então decidiu sentar sobre a cama com as pernas cruzadas e praticar dez minutos de meditação ao lento som do piano instrumental que tocava num aplicativo qualquer.

Apenas daquele jeito conseguiu agarrar num pesado sono.

No dia seguinte teria uma reunião importante sobre os preços dos novos antirretrovirais para o Brasil e o mercado externo.

 

***

 

Mal o sol surgiu no horizonte, irmã Bárbara, antes mesmo do primeiro ciclo de oração, já correu logo para o santo gabinete da Madre Superiora.

Constança já estava diante de sua escrivaninha, separando versículos da Bíblia para o primeiro ciclo de oração como já lhe era corriqueiro.

— Bom dia, Constança!

Bárbara saldou e fechou a porta ao entrar. Caminhou até diante da escrivaninha da Madre e se sentou com total liberdade.

— Bom dia, Bárbara. — Ergueu a cabeça e sorriu. — O que a traz aqui em meu gabinete assim tão cedo?

Com aquela cara sempre ignorante e meio rabugenta, Bárbara já foi logo denunciando.

— Ontem à noite suas pupilas protegidas saíram do convento sem permissão. — Revelou sem precedentes.

Constança tomou um susto.

— Quem?

— Ora, Constança. Quem mais haveria de ser: Maria Clara e a amiga imunda dela — falou fazendo cara de nojo — a tal Ester, que somente veio para este convento para desviar a Pecado. Decerto foram tomar bebidas alcóolicas.

— Levantar falso testemunho é pecado, Bárbara. — Com aquela voz  sempre tão calma e acolhedora, Contança falou.

— Não estou levantando falso, estou apenas relatando o que vi, Constança. Você tem soltado demais as rédeas daquelas desobedientes. Por isso elas fazem o que bem lhe apetecem sem pensar nas consequências, principalmente aquela mimada filhinha de papai da Ester. E Maria Clara sabe que tem aquela doença contagiosa — se benzeu como se estivesse falando de algum tipo de demônio perverso — se o tal doador um dia deixar de doar os medicamentos caríssimos dela, nós duas bem sabemos que não demorará a morrer, já que esses remédios públicos não são tão eficazes quanto esses que o doador anônimo vem doando há tanto tempo. Este convento vive de caridades, logo não dispõe de verbas para arcar com um custo de mais de mil reais mensais para Maria Clara.

Constança suspirou.

Daquela vez tinha de concordar com a irmã Bárbara.

— Está bem. Conversarei com as duas. Terão de ser penalizadas pelo que fizeram noite passada assim que me confessarem a transgressão de umas das regras mais sagradas deste convento.

— Ou você tem pulso firme com aquelas molecas ou acabará por se afundar junto com elas.

— Não faça tempestade em copo d’água, Bárbara. Assim que o ciclo de oração acabar chamarei as duas para uma conversa particular.

— Castigo à altura do que fizeram seria as duas passar uma semana limpando este convento sozinhas, enquanto as outras irmãs mais responsáveis e obedientes confeccionam e ensinam.

— Está bem, Bárbara, vou estudar o caso das duas, só então saberei a pena que receberão. — Dizia já impaciente.

— Uma branda, imagino. — Ironizou. — Tão branda quanto esse seu coração de gelatina.

— Branda, não, justa. Deus é justo, assim sendo, Bárbara, quem sou para não ser?

— Imagino que sim. Depois não diga que não te avisei a respeito daquelas duas pestinhas rebeldes. Ainda tenho minhas dúvidas se de fato Maria Clara fará os votos dela. É uma menina sozinha neste mundo, deveria ser mais grata a nós, por morar aqui.

Bárbara se levantou sem esconder sua chateação com a Madre e se retirou do gabinete. Foi diretamente para a capela onde as irmãs já estavam reunidas para o ciclo de oração.

 

***

 

Luciana estava sentada na cadeira principal da mesa de reuniões, enquanto observava o diretor financeiro do Agnello Ferraza dar o balanço geral sobre o preço dos novos antirretrovirais (ARVs) para o Hantavírus do qual se originava a Hantavirose.

A médica tinha uma equipe de médicos infectologistas, cientistas e diversos outros profissionais da área da saúde hiper qualificados e especializados, formados em grandes universidades como as Federais Brasileiras, alemães, americanas e inglesas.

Todos os anos ela investia milhões em pesquisas, cursos internacionais para os seus colaboradores e qualificação profissional de qualidade elevada.

O retorno financeiro era satisfatório, no entanto, nos últimos anos, o governo vinha dificultando as negociações financeiras entre o sistema de saúde público e seu instituto, que era uma instituição privada. Mesmo com os incentivos fiscais que recebia do governo, ainda assim, isso não tornava as últimas negociações vantajosas para o Agnello Ferraza e seus distribuidores. Sem falar das inadimplências dos municípios que, bem ao contrário da União e dos Estados que pagavam em dia, sempre atrasavam os pagamentos e isso acabava dificultando os meios de produções bem como suas entregas.

— Doutora Luciana.

O diretor se sentou e a médica se levantou.

Ela ficou na ponta da mesa, de pé, diante de uma tela hiper moderna de apresentação de resultados de pesquisas, de financeiros, de estudos com pessoas infectadas por vírus e, assim, para diversos usos.

— Bom dia, aos que aqui se fazem presentes.

— Bom dia.

Todos responderam em um só couro.

— Como todos já sabem, os resultados de nossa última pesquisa para Hantavirose se mostraram satisfatórios. Foram quase dois anos trabalhando nesse antirretroviral e, finalmente, encontramos um medicamento ao menos 79% eficaz. Ano passado tivemos cerca oitocentos e setenta óbitos causados pela Hantavirose, logo, o medicamento HANCURE nos apresenta um grande avanço para salvarmos inúmeras vidas, uma vez que a Hantavirose costuma se apresentar por meio da Síndrome Cardiopulmoar por Hantavírus.

Vários sorrisos se mostravam satisfatórios diante de Luciana.

As pessoas pareciam venerá-la de uma forma inexplicável.

Ninguém tinha dúvidas de que a médica era super inteligente.

— Doutora Luciana, algum avanço na sua pesquisa sobre o HIV?

Perguntou umas das médicas participantes da reunião.

— Acredito que em cinco ou seis meses farei os estudos com pessoas portadoras do vírus, com voluntários, por assim dizer, então saberemos se realmente os resultados são eficazes, Marina.

A mulher chamada Marina sorriu assentindo.

— Tenho certeza de que teremos um grande avanço.

— Acredito que sim — respondeu Luciana de maneira otimista. — Sem mais delongas, pessoal, vamos encerrar por aqui e, por último, mas não menos importante, quero agradecer a todos vocês pelo compromisso, pelo profissionalismo, pela responsabilidade, pela dedicação com este instituto e com o trabalho de vocês. Sem mais para o momento, vamos ao coffe break. Logo depois, aos postos de trabalhos. Exceto Ronaldo, que ficará comigo para uma reunião.

Ronaldo era o diretor financeiro.

Sorrindo, as pessoas saldaram a chefe com uma forte salva de palmas e foram para o tão aguardado coffe break, exceto Luciana, que decidiu apenas pedir uma xícara de chá de camomila e logo seguiu para sua sala, já que optara fazer a reunião com o diretor financeiro por lá.

Luciana entrou em sua sala e fechou a porta. Segurava numa das mãos uma xícara de chá sobre um pires de porcelana. Pegou o celular e sentou no sofá branco, no qual, esporadicamente, atendia alguns pacientes. Enquanto olhava ociosamente pela janela envidraçada, recordava-se com nitidez os acontecimentos da noite passada. Recordou-se daqueles olhos meigos...aquela moça tinha algo tão incomum que nem mesmo saberia definir o que era. De repente e de uma maneira mais estranha possível, conversaria com o juiz da comarca, um grande amigo seu, para que Maria Clara fizesse os serviços comunitários no Instituo.

Sorriu ao lembrar da alegria da freirinha, quando dissera que ela faria os serviços comunitários ali no Agnello Ferrazza.

 

***

 

— Espero que isso nunca mais se repita, meninas. Estamos entendidas sim ou não?

Madre Constança falou da maneira mais dura possível.

— Sim, Madre.

Clara e Ester disseram ao mesmo tempo.

— Maria Clara pode sair, Ester fica. Precisamos ter uma conversa em particular.

— Está bem, Madre. E desculpe. Prometo que não irá mais se repetir — deu uma encarada em Ester — Não é, Ester?

A loirinha estava toda descabreada.

— Sim, Clarinha.

Maria Clara deixou o gabinete da Madre.

Do lado de fora deu de cara com irmã Bárbara bisbilhotando descaradamente a conversa das três.

Clara tomou um susto tão grande que titubeou para trás.

— Irmã Bárbara!

— Pecado.

Bárbara encarava a jovem com a cabeça levemente erguida e de maneira autoritária. As mãos enrugadas pelo tempo estavam cruzadas de maneira quase que formal, atrás das costas.

Maria Clara encarava a feição severa da idosa intragável. Não era que não gostasse da irmã Bárbara, apenas não se sentia bem quando a encontrava pelos corredores daquele convento, porque ela sempre tentava falar palavras que reduziam a jovem ao mais baixo patamar de uma autoestima que ela já quase não tinha.

Bárbara sempre tratava de tocar na ferida de Clara e, propositalmente.

 — Como está a senhora?

— Bem, ao contrário da senhorita, que teve uma noite bem agitada, suponho. — Provocou com veemência e um sarcasmo que já lhe era costumeiro. — Você sabe que tem uma doença incurável — atacou maldosamente — não é igual a essa sua coleguinha mimada e filhinha de papai que tem tudo que quer e hora que quer nas mãos. Você, Pecado, já vive de caridades, se pararem de doar seus medicamentos caríssimos, você morre. Então, não seja maluvida e respeite as regras do convento. Seu lugar é dentro destas paredes, assim como o meu. Você não pode se aproximar demais das pessoas, você é contagiosa. — Escarneceu de maneira humilhante.

Maria Clara engoliu o choro, conteve as lágrimas que teimavam em cair. A irmã Bárbara era cruel, ferina, amargurada da vida. Ela vivia presa nas dores de um abismo antigo e queria lhe levar junto com ela, mas não cederia tão fácil.

— A senhora é cruel, triste e amargurada, irmã Bárbara — apertou os punhos com força e gritou — mas eu não sou e jamais serei igual a senhora! — Gritou na cara de Bárbara e saiu correndo em direção ao lado exterior do convento, deixando a mais velha chocada com a atitude explosiva e desaforada.

— Sua moleca atrevida! Você me paga!

Bárbara vociferou furiosamente, mas já não havia sinal algum da Maria Clara.

 

***

 

Clara desceu correndo uma estrada estreita, arborizada e íngreme que levava até a praia privada do convento, onde as freiras costumavam ir para momentos de descontração.

Ao chegar à praia sentou sobre uma rocha e abraçou os joelhos com força, encostando a cabeça neles.

Ficou a olhar o mar.

Aquele azul magnífico.

As ondas revoltas iam e vinham quebrando na areia e formando uma espuma esbranquiçada.

Pensava revoltada no quanto a irmã Bárbara poderia ser ruim e cruel.

Como alguém podia ser como ela, completamente amarga?

O que acontecera na vida dela para que se tornasse assim tão venenosa e peçonhenta?

 Às vezes pressentia que ela tinha uma necessidade de humilhar, de rebaixar, para se sentir bem consigo mesma, ou quem sabe superior.

Não tinha ideia do que fizera para que irmã Bárbara lhe odiasse tanto assim.

 

***

 

Após a reunião com o diretor financeiro, em que debatera os preços dos novos antirretrovirais no mercado nacional e internacional, Luciana e Natália faziam os últimos ajustes para que dentro de alguns meses selecionassem alguns voluntários portadores da AIDS e do HIV, para testar o mais novo medicamento para as duas enfermidades.

— Nossa, essa dor de cabeça ainda vai me matar — reclamou Natália se jogando numa cadeira, com uma xícara de café entre as mãos.

Luciana a olhou no rosto.

— É o que canso de te falar, Nat, mas não me ouves.

Natália fechou os olhos e pressionou a mão na testa.

— Foi apenas a misturada de drinks com vinho. — Tentou explicar. — Já vomitei duas vezes antes de vir ao trabalho.

Luciana sacudiu a cabeça em negativa.

— Vinho é excelente, mas temos de concordar, a ressaca dele é uma das piores que existem.

— Péssima, péssima. Estou que não posso sequer ver uma uva na minha frente. Não posso ver nada de uva, que já me dá uma vontade imensa de colocar todos os meus bofes para fora.

— Imagino. Não era para menos.

— Não sei nem como foi que cheguei em casa. Devo ter sido arrastada escadaria acima por alguma alma caridosa. Ou então eu subi de quatro pés. Cada passo era uma queda.

— Sei, alma caridosa. E isso lá existe? — Luciana falou num tom quase repressor com a amiga de longa data.

Natália de repente deu um pulo da cadeira e correu até perto de Luciana, já sentando em uma cadeira colada à da chefe.

— Não me diz que foi tu que me levasse para casa, Lu?

— Claro, Nat maluca, quem mais haveria de ser?

— Meu Deus, esta mulher é mesmo um anjo. Maravilhosa demais!

— Não, sou apenas tua amiga. — Olhava-a nos olhos. — Nat e seu mau costume de romantizar as tragédias da vida. Isso chega a ser perverso, Nat, sabia?

Natália caiu na gargalhada.

— O que seria de mim sem ti, Lu. Ah! — Sorveu um gole de café antes de falar. — Gustavo veio me perguntar de ti.

— Sobre? — Inquiriu franzindo as sobrancelhas.

Luciana não estava minimamente interessada no assunto.

— Se você, mulher maravilhosa, uma deusa — Natália não parava de tecer elogios que aos olhos de Luciana beiravam aos exageros — está mesmo sem um affair em sua vida hiper privada e concorrida.

— Hum...e por que motivo ele perguntou isso? Assim, do nada? — Questionava com um pé atrás. Natália e suas manias de querer lhe arranjar um namorado.

— Ora, Lu, o motivo é mais do que obvio, o cara está super a fim de você, mulher, acorda pra vida, pelo amor de Deus. Gustavo é um homem educado, bonito, elegante, cheiroso, sinceramente, acho que você deveria dar uma chance ao seu pobre admirador.

Luciana se levantou. Parecia incomodada com um rumo da conversa.

— Vou pensar nesse caso, mas depois.

— Ou será que já existe alguém em tua vida, que euzinha ainda não estou sabendo.

Luciana encarou Natália, séria.

— Claro que não existe ninguém, Nat. E eu nem sei se tenho espaço para alguém em minha vida a estas alturas do campeonato. Eu quero é paz. Paz absoluta. Sabe o que é isso? Pois é, é paz que eu almejo. Amores? Isso me soa com o um ilusório conto de fadas. A última coisa que quero neste momento é alguém para me tirar do eixo ou me dar dor de cabeça.

— Nossa, Lu, você as vezes é muito cirúrgica. Cruzes!

— Realista, definamos assim. Pelo amor de Deus, acorda e lembra que contos de fadas não existem. A vida é dura para todos.

— Essa minha chefe é muito cética, espero que um dia uma alma delicada e travessa possa quebrar o gelo do coração dessa mulher.

Nat gargalhou e se levantou.

— Bom, minha querida amiga, agora vamos regressar aos trabalhos.

Luciana disse já saindo do laboratório. Isto é, se estiveres em plenas condições.

 

***

 

Era domingo!

Ao lado da irmã Bárbara, Maria Clara observava o exterior da bela casa de condomínio fechado, que pertencia a importante empresária Patrícia Ricci.

Era uma casa em tons amadeirados, com uma porta de madeira nobre que tinha quase três metros de altura.

Um jardim lateral, com uma grama bem cuidada e pequenas palmeiras davam um ar ainda mais decorativo e elegante à magnífica propriedade.

No interior tudo era ainda mais elegante e impressionante.

Clara se sentiu numa daquelas cenas de novela.

A jovem deu uma olhada de lado para irmã Bárbara e percebeu que ela não estava sequer surpreendida com tanto luxo, pelo contrário, parecia mais do que habituada ao ambiente moderno e requintado. Será que um dia já fora rica?

Quando passou pela garagem enorme observou dois carrões daqueles que deviam custar uns três rins humanos.

— Onde conheceu a senhora Patrícia, irmã Bárbara? — Questionou curiosa.

— De alguns eventos comunitários e filantrópicos. — Respondeu sem se aprofundar no assunto. Parecia até incomodada com a pergunta da jovem.

— Ele deve ser muito rica.

— Não tenha dúvidas. Agora deixe de se deslumbrar com as riquezas alheias que nunca serão suas e concentre-se no que veio fazer aqui.

Clara assentiu enquanto ajeitava o peso do violão sobre suas costas.

 

***

 

— Acredito que terminamos por aqui, Patrícia. — Luciana disse se levantando assim que acabou de mostrar todo o balanço mensal da empresa, para a ex-sogra.

— Não, ainda não terminamos. — Levantou se apoiando na bengala e deu uma volta em sua escrivaninha. — Vamos ter uma reunião com algumas irmãs do convento. Quero reajustar o preço das doações. Sou tão dona da fortuna do Agnello Ferraza quanto você. Por sua causa fiquei sem herdeiros. Quando eu morrer não quero deixar nada para uma pessoa como você.

— Nem pretendo que deixe. Faça o que bem entender com a sua parte da herança. Doe para uma clínica de animais, para o convento, para qualquer pessoa. Não me importo, Patrícia, definitivamente.

— Saiba que essa qualquer pessoa um dia administrará os meus 50% ao seu lado, Luciana. Você sempre excluiu meu filho de tudo que diz respeito aos nossos bens. Sempre se achou a dona de tudo, uma rainha a quem todos temem e devem respeito, mas um dia esse seu reinado de mentiras e hipocrisias irá ruir e você será tão arruinada quanto o meu filho um dia foi.

— Seu filho não era nenhum santo. Traiu-me durante todos os dias em que estive casada com ele.

— Porque você NUNCA o amou! Não é capaz de amar nem a si mesma! Não se importa com ninguém, além de si mesma, nunca se importou! — Falou com a voz alterada, porém foi interrompida por uma batida fraca da empregada chamando à porta. — Sim?!

— Dona Patrícia, as freiras já a esperam. — Avisou a empregada.

— Já estou indo, Neuza. — Disse saindo do escritório.

Luciana fechou os olhos e respirou fundo. Buscava no fundo do seu ser, autocontrole para lidar com a ex-sogra.

Graças a Deus que tinha maior controle sobre suas emoções. Estudara muito inteligência emocional, para não explodir nas horas mais inapropriadas e não acabar sendo taxada de desequilibrada. Definitivamente, se tinha algo que prezava em sua vida era ter o total controle de suas emoções. Ainda pensou em não ficar, tinha tantas outras coisas mais importantes para fazer, mas preferiu evitar outra discussão com a ex-sogra.

 

***

 

Maria Clara avistou a senhora de cabelos negros, presos num coque elegante, e pele clara. Ela usava bengala como no dia do convento, e andava ao seu encontro com um sorriso leve nos lábios. Parecia que estava vendo um anjo celestial.

— Boa tarde, sejam bem-vindas. — Cumprimentou Bárbara e logo seguiu até Maria Clara, abraçando afetuosamente a jovem como se já a conhecesse. — Então você veio, mocinha. — Disse sorrindo e ainda abraçada a Clara.

— Sim, dona Patrícia. É uma honra estar aqui. Meu nome é Maria Clara.

— Sinta-se em casa, Maria Clara. Um lindo nome. Doce, angelical, como você.

— Obrigada. — Corou com o elogio.

Bárbara apenas observava as duas no seu mais pleno silêncio.

— Bem, vamos até à área de lazer? — Chamou patrícia.

— Claro. — Bárbara concordou.

 

***

 

Luciana deixou o escritório de Patrícia e passou pela cozinha, para tomar um copo com água antes de ir à área de lazer.

— Gostaria de mais água, doutora Luciana?

— Não, Neuza, obrigada, querida.

— Por nada, senhora.

Enquanto caminhava, Luciana ouvia as notas de um violão e uma voz melodiosa, cantando de maneira tão encantadora quanto um rouxinol.

Ao chegar no lugar em que Patrícia estava, teve uma grande surpresa: a freira!

Outra vez!

Seria aquele o seu karma?

Clara sentiu o corpo todo entrar em estado de tremor, ao ver a médica surgir ali. Por um momento pensou que aquela fosse a casa dela e a senhora de cabelos negros fosse a mãe dela, não fosse pela cor dos olhos. Os da doutora Luciana eram negros, como um estranho abismo onde nada se ver, nada se toca, já os da senhora Patrícia eram verde-água, como os seus.

— Boa tarde. — Luciana cumprimentou educadamente ao sentar à mesa.

— Boa tarde.

Bárbara e Clara responderam, sentadas do lado oposto ao de Patrícia e Luciana.

— Esta é Luciana Ferraza, minha ex-nora e ex-esposa do meu filho Sérgio. — Apresentou de maneira fria. — Luciana está aqui para anunciar junto comigo que iremos aumentar em 50% as doações que os Ricci e os Ferraza vêm fazendo há anos ao convento Nossa Senhora de Alexandria.

Bárbara sorriu feliz e Clara também.

Luciana prestava bastante atenção no que Patrícia dizia e concordava com ela, mas sentia o olhar fissurado da jovem freira sobre si. Empertigou-se na cadeira, meio incomodada, talvez.

Depois de mais de meia hora de conversa e comilanças, Patrícia disse:

— Por que não mostra a casa a Maria Clara, Luciana, enquanto trato de um assunto particular com a Irmã Bárbara?

— Claro. Vamos, Maria Clara? — Levantou chamando.

Fora do alcance das duas idosas, Clara disse:

— Achei que a senhora fosse filha da dona Patrícia, doutora Luciana.

Luciana a olhou surpresa e quase resignada.

— Nossa única ligação agora é puramente financeira, Maria Clara. — Falou o mais fria possível.

— Dona Patrícia é muito gentil.

— Quando quer, sim. — Abriu a porta de uma enorme biblioteca obscura e entrou.

— Sobre a outra noite — Clara mordiscou o lábio — não tive a intenção de passar dos limites. — Estava um poço de nervosismo. Toda vez que chegava perto daquela mulher era assim, e ela sequer parecia dar atenção ao que falava.

Luciana parou no meio de um corredor estreito e repleto de livros e se aproximou bem de Clara.

— Que tipo de limites? — Questionou olhando a jovem nos olhos.

— Abraçar a senhora, por exemplo. — Disse com as costas colada nos livros. Luciana estava tão perto que conseguia inalar o perfume dela com veemência. Aqueles tristes olhos negros eram tão bonitos. Era como se quisessem mergulhar dentro dos seus.

— Não se preocupe com isso. — Disse, sentindo uma forte tensão e uma vontade incisiva de sentir o abraço dela outra vez.

“Deves de estar mais perto de ir para o inferno do que nunca, Luciana. Desejando o abraço de uma menina inocente. Pior, de uma freira.”

— Amanhã começarei a prestação de serviço lá no seu Instituto, doutora. O juiz ordenou. Estou ansiosa. Nossa, eu acho o seu trabalho o máximo! — Elogiou toda feliz e sorrindo.

— É mesmo? E o que entendes sobre infectologia e afins?

— Mais do que a senhora pode imaginar.

— Entendo.

— Não, não entende — Clara disse sem querer.

— Como? — Olhou a jovem de maneira questionadora e séria.

— Não é nada. Desculpe. — Mudou logo de assunto. — Acha o HIV uma doença perigosa?

— Se não tratada corretamente, pode ser fatal para o portador. Porque, claro, é uma doença com alto potencial para destruir o sistema imunológico do soropositivo.

 — A senhora...bem... — mordiscou o lábio inferior, nervosa — hã...acha perigoso beijar alguém com HIV?

Luciana pensou não ter ouvido bem a pergunta.

Mas era aquilo mesmo que ouvira.

— Não, saliva, urina, suor, lágrimas e outros fluídos corporais do tipo são considerados não infectantes. Sendo mais precisa, não transmitem.

Clara já sabia, seu médico havia informado sobre aquele fato, mas por algum motivo queria ouvir de Luciana. Pois mesmo sabendo que abraços e afins não transmitia a infeção, sempre tratara de se manter distante das pessoas o máximo possível, mas com a doutora Luciana as coisas pareciam ser diferentes. Queria estar perto dela. Que droga.

— Muito obrigada pelas explicações. — Demonstrava uma felicidade contida conforme andava com as mãos cruzadas formalmente atrás de seu hábito vermelho sangue.

Luciana mirou os olhos expressivos, meigos, o sorriso cativante e inocente daquela moça lhe deixava totalmente indefesa e desnuda de suas armaduras.

“Era só o que te faltava mesmo, Luciana, agora desse para prestar atenção no sorriso dessa moça.”

“Primeiro, os olhos, agora, o sorriso. Depois o que mais?”

“Agora eu dei pra isso.”

Recriminava-se em pensamentos.

— Por nada, Maria Clara. — Disse o mais formal possível. Não podia ser assim tão acessível a alguém a quem mal conhecia direito. Ainda mais alguém como aquela moça. — Bom, agora eu preciso ir.

O entusiasmo de Clara de repente deu vazão a uma estranha tristeza. Por que a doutora sempre se mantinha tão gélida, intocável, como se tivesse medo de chegar mais perto de si? Perguntava-se em devaneios e já com uma grande e nova frustração se formando por dentro.

Luciana percebeu, mas já se sentia incomodada demais com toda aquela situação, no mínimo esquisita, para dar atenção àquela menina.

— Ah, sim, tudo bem. — Riu sem vontade, quando percebeu o quão grande era a frieza de Luciana.

— Amanhã esteja no Instituto, mocinha.

A voz ainda mais distante da outra fez Maria Clara ficar extremamente desapontada.

Será que a médica era sempre assim, calculista?

Por que era sempre tão séria?

Nunca sorria.

— Assim! Prometo que me manterei o mais distante possível da senhora! — O tom de voz ameno, mas provocante, fez Luciana parar bruscamente.

A médica deu meia volta e se aproximou de Clara.

— Não precisa se manter assim tão distante, eu não mordo, Maria Clara.

E pela segunda ou terceira vez naquele dia se olharam nos olhos. Daquela vez de uma maneira mais intensa e profunda. A feira susteve o olhar por quase trinta segundos, mas o desviou com medo de se perder ao mergulhar naquela fria escuridão dos olhos da médica.

“Ai, meu Deus, perdoe-me, mas não consigo evitar essas sensações esquisitas quando estou perto dessa mulher.”

 

***

 

No fim daquele mesmo dia, a aspirante à freira rezou para que o dia de fazer seus votos de pobreza, obediência e castidade chegasse sem delongas!

E, assim, logo se tornaria uma freira.


 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Boa tarde, meninas. 

Este capítulo veio mais rápido. E assim será. 

Cada dia, uma nova aproximação entre nossas protagonistas. Clara pode parecer uma garota bobinha, mas ela pode ser bem mais ousada do que podemos imaginar. rsrs. Vamos ao Instituto, no próximo capítulo. 

Esse é o @ do meu instagram, caso alguém se interesse, costumo fazer atualizções de futuras histórias e sobre minha escrita, por lá: @dicaldarelli. 

Bjss, 

Thaa :)


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Comentários para 8 - Capitulo 8:
HelOliveira
HelOliveira

Em: 28/02/2023

Olha que já fiquei curiosa pela ousadia da Clarinha...acho ela esquecer desses votos logo RS..

Lu assume,.....foi os olhos, a boca e a frerinha inteira 

Patrícia e essa Irmã vão aprontar ....

Beijos minha querida autora


Resposta do autor:

Clara aos poucos está conhecendo finalmente esse sentimento, ou melhor, abrindo-se para ele. 

Já Luciana, bem, vamos ver se se deixa levar. 

Bárbara  e Patrícia...mas que dupla, não? Kkk 

Bjss, Hel, e se cuide! :) 

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 27/02/2023

Assume logoovo Lu está arriada pela frreinha.


Resposta do autor:

Eitaaa, será? Kkkk 

Bjsss e se cuide! :) 

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