8.    Sentimiento

 

Coraline faz aniversário no dia primeiro de outubro e Amaya sorriu quando leu no horóscopo que seus signos possuem compatibilidade. Ela é capricorniana e a sua professora libriana. Enquanto o bolo assava ficou lendo: no amor libra e capricórnio, gostam de estabilidade; num relacionamento buscam segurança, são amorosos e fiéis.

 

- Ah, quem me dera (falou consigo mesma e suspirou).

 

Continuou a leitura, capricórnio demonstra todo o seu afeto de forma prática e sem tanto mimimi. Lembrou-se da inciativa do beijo, já tinham se passado meses e ela não esquecia e até hoje nem sabia de onde tinha tirado tamanha coragem. A paixão é mesmo um perigo constatou.

A amizade entre pessoas destes signos, pode ser sólida e duradoura.

Perfil da mulher de libra: charmosa, elegante, estilosa, simpática e preocupada com quem tem apreço. Não gosta de ser injusta e muito menos de magoar as pessoas. Recordou da conversa franca que tiveram e do pedido de desculpas. Gostou do que leu, fazia bastante sentido.

Caprichou no bolo, resolveu fazer com duas camadas de recheio e fez questão de escrever: Feliz aniversário! Imaginando que ela reconheceria a sua letra. Fez um bolo de chocolate especial, com muito carinho.

Depois do beijo entre elas, ainda não tinha voltado para a sala que ela dava aula para o coral, acreditando que era melhor evitar problemas. Foi por isso, que ela não participou da festa surpresa, entregou a encomenda para a moça que tinha feito o pedido e foi passear com os cachorros. Depois de deixá-los no pet shop, ficou lendo na biblioteca.

Coraline agradeceu o carinho de todos, a aula terminou mais cedo, cantaram os parabéns e comeram as guloseimas.

 

- Que bolo delicioso, a Amaya é tão novinha e já faz essas delícias.

 

- Vocês encomendaram com ela? (Perguntou, mas já estava desconfiada da resposta, por conta da letra e principalmente do sabor).

 

- Sim! Pensei que ela fosse vir participar, mas, faz tempo que ela não aparece por aqui, andou sumida, foi só na apresentação semana passada, ainda bem que deu certo de encomendarmos.

 

Com o término da comemoração, dividiram os quitutes entre todos. Skazy entregou a chave da sala, guardou suas coisas no carro e foi procurar pela adolescente, encontrou ela sentada na parte externa da biblioteca, num banco perto do jardim, toda concentrada lendo.

 

- Bom dia! (Falou se aproximando com cautela para não assusta-la).

 

- Bom dia! Feliz aniversário, muita saúde, paz e alegria (felicitou e entregou para ela uma sacola que estava ao seu lado).

 

- Muito obrigada, o bolo estava maravilhoso, gostei bastante.

 

Dentro do pacote tinha um embrulho de presente, ela retirou a fita e viu que era uma xícara cheia de chocolates. Ficou muito feliz com o gesto.

 

- Posso te dar um abraço? (Pediu toda afetuosa).

 

- Claro (levantou e deixou o livro no banco).

 

O contato durou longos minutos, elas ficaram abraçadas, alheias ao barulho no entorno e as pessoas que passavam por ali. Sentiram o cheiro uma da outra, o calor humano que o abraço proporciona e principalmente muito afeto. Era nítido a estima que possuem. Quem passava por elas, tinha certeza que eram muito próximas.

 

- Você deveria ter aparecido, foi bem legal (disse assim que se soltaram).

 

- É que eu acho melhor evitar qualquer mal estar. Entende?

 

- Mas, nós estamos bem, não teria problema algum, senti sua falta.

 

- Eu também, só que venho procurando lidar com o que sinto, nem sempre é fácil, é por isso que evito. Aproveita bastante o teu dia!

 

- Pode deixar. Você está bem? Quer conversar?

 

- Não precisa se preocupar (respondeu e sentou amarrando seu tênis).

 

Ficou a observando, tão bonita, meiga e delicada. Era óbvio que não podiam ter qualquer envolvimento, porém, não era nada simples.

 

- Eu sei que é difícil, agradeço por não me ignorar. Se for melhor para você paro de te procurar, é que eu queria muito um abraço seu e te agradecer, não sei o que você fez, teu bolo ficou ainda mais gostoso.

 

- Fiz com carinho. Não precisa parar, é sempre bom te ver. Só acho que voltar para sala de canto, vai me fazer pensar ainda mais no que não devo e nem posso fazer. Por isso, do distanciamento, é por segurança. Alguns dias são mais complicados, pode até parecer que estou lidando super bem com os meus sentimentos, mas, só parece. Certa distância, pode até impedir que eu te veja, só que em nada interfere no que sinto. Hoje é teu dia, vamos falar de coisas boas, o que vai fazer de bom?

 

- A noite vou num barzinho com umas amigas (respondeu e ficou refletindo sobre tudo que tinha acabado de ouvir).

 

Queria pedir para ir junto, todavia, já sabia que a negativa seria por ela ser menor. Talvez, por isso, aquele dia estava sendo mais puxado, tinha tanta vontade de passar mais tempo com ela, só que não podia.

Seu celular tocou e era do pet shop, ou seja, sua deixa, avisou que estava bem próximo e que em poucos minutos estaria por lá.

 

- Quer que eu te acompanhe? (Perguntou torcendo para que aceitasse).

 

- Melhor outro dia (respondeu retraída).

 

- Amaya, tem algo que eu possa fazer por você?

 

- Não, nós não podemos. Bom final de semana e até segunda.

 

- Até e fica bem.

 

Queria muito ir com ela, porém, sabia que precisava lhe dar espaço, para que conseguisse lidar com seus sentimentos aflorados. Respirou fundo e se virou para o lado oposto contra a sua vontade, não tinha o direito de ser egoísta, insistir e ficar ao seu lado, seria ainda mais doloroso, claro que quer ela por perto, só que não pode realizar o que ela tanto almeja. Toda pensativa saiu da biblioteca e parou numa pracinha nas redondezas, se sentou num dos bancos, comeu um chocolate, muito bom, mas, trocaria facilmente por um beijo, rapidamente se repreendeu, lembrando do seu mantra: ela é minha aluna e menor de idade. Resolveu se entreter respondendo as mensagens que tinha recebido nas redes sociais.

Quase uns quinze minutos depois, lá estavam elas juntas outra vez. Os cachorros quase arrastaram Amaya, animados vendo a Coraline.

 

- Lindos! Vou ganhar lambidas de presente de aniversário?

 

- Você acabou ficando, jurava que já tinha ido embora.

 

- Não foi proposital. Acabei ficando pensativa e sentei por aqui, respondi as felicitações que recebi, comi um chocolate e adorei. Quer?

 

- Não obrigada, fico feliz que gostou. Os dois me puxaram quando te viram, eles não me ajudam assim, se eu tentasse dar a volta ficariam latindo e chamariam a sua atenção. Agora estão só felicidade.

 

- Só eles? (Perguntou sem pensar, foi no automático).

 

- Somente eles que estão recebendo carinho (respondeu de bate-pronto).

 

- Mereci! Já diz o ditado: "quem fala o que quer, ouve o que não quer".

 

- Desculpa, não estou sendo uma companhia muito agradável hoje.

 

- Não precisa se desculpar, tem dias que são mais chatinhos.

 

Ficaram em silêncio por um tempo, brincando com os cachorros.

 

- Vovó, ainda não cheguei em casa, estou na rua, retorno para senhora, por causa do barulho (falou Coraline atendendo a vídeo chamada).

 

- Oi meu bem, liguei para te parabenizar, tudo bem contigo?

 

- Tudo sim e com a senhora?

 

- Tudo em paz, me retorna. Um beijo e até logo! (Disse e encerrou).

 

Amaya estava sentada ao seu lado e sorriu quando ela desligou.

 

- Avó é tudo de bom né, sou apaixonada pela minha.

 

- Ter vó é um privilégio, sou sortuda, é muito amor.

 

- Verdade. Eu sou um grude com os meus avós, adoro ouvir as histórias de vida deles, acho tão curioso e eles adoram ficar contando.

 

- Aprendemos muito com eles. Nem me imagino sem ela.

 

- Posso arrumar seu brinco? A nota musical está de ponta cabeça.

 

- Pode, por favor! (Adora o jeito dela toda gentil e atenciosa).

 

- É clave de sol que chama? (Quis confirmar, toda cuidadosa colocando na posição correta).

 

- Isso. Obrigada!

 

- Por nada, deixa eu ver o outro. Certinho! Vou indo antes que a minha mãe ligue. Boa comemoração com as suas amigas.

 

- Bom final de semana! Tchau cachorrada (desta vez ela finalmente foi embora).

 

Assim que chegou em casa, como tinha prometido retornou a ligação e se emocionou com as belas palavras da sua avó. Depois do almoço leu um pouco e resolveu tirar um cochilo. Não dormiu muito, mas, foi suficiente para sonhar com Amaya, a conversa que tiveram a deixou mexida. O seu sonho foi todo picado e confuso, primeiro parecia uma recordação dos dias dando aula para adolescente, em seguida era como se estivessem se beijando novamente, desta vez num lugar muito bonito, com a natureza como plano de fundo, estavam felizes e nos seus pensamentos durante o sono, era como se elas fossem um casal.

Acordou com a constatação que não era só a adolescente que tinha sentimentos por ela, estava mais envolvida do que queria, o que poderia ser muito comprometedor. Decidida a evitar sofrimentos, achou melhor aceitar a proposta que a sua amiga tinha feito por mensagem durante a semana, tinha dito que pensaria, leu novamente antes de responder.

 

Cor, já estou animada para comemoração do seu aniversário no sábado, você e as meninas vão adorar o barzinho, é todo alternativo e a banda que vai tocar arrebenta. Tem uma colega da faculdade que quer te conhecer, viu fotos nossas juntas nas redes sociais e te achou linda. Você se importa se eu chamar ela para ir conosco?

 

Bia, desculpa responder só hoje, talvez a moça já tenha até compromisso, acabei hesitando, mas, pode chamar ela sim, sem problemas. Até mais tarde, adorei a postagem, obrigada! Beijos.

 

Foi para o salão que tinha marcado horário, fez hidratação, escovou os cabelos, fez limpeza de pele, sobrancelhas, unhas das mãos e dos pés.

Adorou o resultado, escolheu um vestido midi justo, na cor azul royal, que ficou sensual marcando o seu corpo, quando comprou a vendedora tinha dito que era uma ótima opção para eventos a noite. Calçou um tênis, mas, não gostou, trocou por uma rasteirinha e aprovou. Fez uma maquiagem azul degrade. Colocou acessórios e passou um dos seus perfumes favoritos. Decidiu não ir de carro, para beber com as amigas.

Chamou um motorista por aplicativo e por segurança compartilhou a viagem com a Bia, que também estava a caminho, enquanto duas já aguardavam por elas e tinham pego mesa com seis lugares. Elas adoraram o local, se animaram com os drinks e se juntou ao quarteto, um casal de amigas da Coraline, que casaram recentemente, sendo as três lésbicas e as outras são heterossexuais, por isso, optaram por um ambiente com público variado, para alegria de todas, pediram petiscos e ficaram papeando. A colega que a Bia tinha comentado chegou uns quarenta minutos depois, uma moça loira, muito bonita e simpática.

Cantaram e dançaram com a banda, elas se divertiram muito. Após o show, o casal se despediu, pois, tinham compromisso familiar no domingo e precisavam viajar cedo.

 

- Vamos esticar a noite onde? (Bia perguntou).

 

- Karaokê nem tem graça com a Skazy, até bêbada canta bem.

 

- Milena, deixa de implicância. Aqui fecha cedo?

 

- Sim, eles abrem para servir almoço, por isso, não atravessam a noite, daqui uma horinha já vão fechar. Que tal uma balada? (Bia sugeriu).

 

- Meninas, aquele boy que estou conhecendo vai vir me buscar, vamos passar a noite juntos (falou toda feliz e já foi fechando a sua conta).

 

- Sendo assim, somos nós quatro, qual vai ser? (Bia voltou a dizer).

 

- Eu topo estender a noite (disse a aniversariante).

 

- Balada é uma boa pedida (concordou Milena).

 

- Eu também topo (a loira se animou com a balada, imaginando que teria chances de ficar com Coraline).

 

Elas pesquisaram para onde iriam e encontraram algumas opções. Coraline pegou carona com a Milena e Bia com a sua colega, que chama Isis e que também estava de carro.

 

- É impressão minha ou a loira está de olho em você?

 

- Mi, a Bia me mandou mensagem perguntando se não tinha problema em chama-la, que queria me conhecer e concordei.

 

- Skazy sua safada e você nem me conta. Eu achando que já estava viajando e criando uma fanfic sem sentido, mas, vi mesmo uma troca de olhares entre vocês. Então nem vai perder tempo, já vai começar teu ano novo particular enroscada nela. Muito safada a senhorita.

 

- Olha só quem fala, aposto que você vai acabar beijando algum cara logo que a gente chegar, você sim que vive se enroscando, pensa que não vi você dando uns beijos num carinha lá no barzinho.

 

- Foi só beijo, não teve pegada, não gostei. Sou exigente.

 

- Estranhei que você nem bebeu e veio de carro, pensei que fosse ‘bebemorar' comigo, mas, ficou só no suco.

 

- Tive crise alérgica no meio da semana, estou tomando remédio forte, nem posso beber, ainda bem que melhorei e consegui sair.

 

- Nossa amiga, você tem que se cuidar, direto tem crises.

 

- Vou começar tratamento, não vai ter jeito.

 

Elas continuaram papeando, logo chegaram ao local, deixaram os carros no estacionamento e seguiram as quatro juntas para balada underground que tinham escolhido para aquela noite. Abriram as comandas, já estava bem movimentado, foram para o bar, Bia continuou na cerveja, Coraline quis experimentar uma batida, Milena pegou um refrigerante e Isis comprou um suco.

 

- Você não bebe nada alcóolico ou é porque veio dirigindo?

 

- Eu não bebo nadinha, sou fraca para bebida, uma tacinha de vinho e já fico mole (explicou, abriu um sorriso lindo e jogou o cabelo).

 

- Entendi (Coraline devolveu o sorriso, tinha gostado dela).

 

Bia e Mi começaram a conversar com dois rapazes que também são amigos e ficaram perto do bar da entrada, que estava menos barulhento. Isis chamou Coraline para dançar e logo foram para pista.

Em determinada música ficaram muito próximas, dançando coladas.

Elas estavam se divertindo bastante, adorando as músicas tocadas pelo DJ, as meninas se juntaram a elas, dançaram juntas, mas, logo voltaram a ficar na companhia dos homens que tinham conhecido.

Já de madrugada, depois de muitas trocas de olhares, sorrisos e danças, as duas se beijaram, gostaram, mas, ambas já tinham tido beijos melhores, ou seja, sabiam que faltava algo, não tinham química, optaram por não repetir, estavam melhor só dançando juntas. Mesmo sem querer comparar, Coraline lembrou de como tinha sido beijar Amaya, completamente diferente, marcante, gostoso e memorável.

 

- Amiga, adorei aqui, já dei uns bons beijos, mas, estou cansada. Já vou indo, quer uma carona ou vai finalizar a noite nos braços da loira?

 

- Mi se não for te atrapalhar, aceito sim, também quero ir embora.

 

- Tranquilo, tua casa não é longe do meu apartamento, te levo. Vamos só aguardar as meninas voltarem do banheiro para avisarmos.

 

Logo as duas apareceram, deram tchau, pagaram e foram embora.

 

- Gostou da Isis?

 

- Sim, gostei.

 

- Credo, que desânimo é esse?

 

- Lembra quando a Lavínia terminou comigo? Comecei a sair bastante, mas, era estranho ficar com outras mulheres. Me senti assim hoje. Quis conhecer e beijar a Isis, só que ando mexida por outra pessoa.

 

- Sei bem como é isso, ando conversando com um colega do trabalho, mas, ele é devagar, quase parando e estou caidinha por ele.

 

Coraline demonstrou interesse e deixou ela desabafar, preferia assim, pois, não estava disposta a se abrir e nem queria que a amiga fizesse perguntas. Agradeceu pela carona, tomou um bom banho e adormeceu.

 

 

 

Fim do capítulo