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Nas brumas do Pico por Nadine Helgenberger

Ver comentários: 8

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Palavras: 3307
Acessos: 4189   |  Postado em: 22/01/2023

Notas iniciais:

Finalmente aprendi a escrever capítulos decentes. Nada de 25 paginas por capítulo, ninguém merece rsrsrs

Capitulo 1

 

Outono de 2017

 

Cansada de virar na cama de um lado para o outro, Walkiria bufou sem a menor paciência para lidar com sua confusão mental. Travava uma verdadeira batalha, com aquele vendaval de pensamentos que mais pareciam um atropelamento a 150km por hora. Sentia-se extenuada e mal tinha pregado o olho. O dia ainda não tinha dado o ar de sua graça, mas resolveu pular da cama e tentar fazer alguma coisa útil. Por momentos, esqueceu-se que não estava em casa, e quase tropeçou numa poltrona que Carla insistia em manter numa posição contestável.

            --Ai, merd*! Eu ainda me livro dessa porcaria. - Pulando numa perna dirigiu-se ao banheiro.

Em menos de 20 minutos, estava pronta para a corrida da madrugada. Por influência de Carla e de outras amigas, seguia o célebre milagre da manhã. Tudo para tentar encontrar alguma luz para a própria vida. Bom, dizer que seguia o milagre da manhã era exagero. Teimosa como só ela sabia ser e descrente de quase tudo, não conseguia fazer nada como as regras ditavam. Fazia o que queria e já estava a ponto de desistir. Afinal, nada mudava. Sua vida continuava linda aos olhos dos outros e vazia para si.

            --Bom dia peixinhos! Bom dia plantinhas! Bom dia vida! Vamos lá Walkiria, ânimo para essa corrida quando ainda mais da metade do povo dessa ilha, os normais, dormem. - Olhou-se ao espelho que Carla mantinha no corredor e agradeceu por ter cortado o cabelo. A praticidade era algo que preservava acima de qualquer coisa e ter de lidar com o seu cabelo crespo, rebelde e cheio de personalidade, muitas vezes lhe exauria.

Na rua, apesar da escuridão, já se viam laivos da aurora. Ainda na calçada do prédio de Carla, fez alguns alongamentos, para em seguida iniciar a corrida. Adorava correr com seus headphones, quase sempre tocando músicas velhas, motivo de implicância das amigas. Considerava-se eclética, mas tinha preferência por músicas que lhe tinham marcado a infância, a adolescência, e os primeiros anos de mulher adulta.

Correu pelas artérias da cidade por quase uma hora, concluindo o seu percurso em direção à praia de Santa Maria. Era sempre assim, ou quase sempre, afinal não morava mais na sua cidade favorita. Descendo do calçadão para o areal, agradeceu por não ter quase ninguém por ali. Não estava com a menor disposição de cumprimentar pessoas, muito menos ouvir conversas de circunstância nas primeiras horas do dia. Ultimamente, carregava a fama de intolerante, chata e antissocial. Preferia esse estigma, do que fingir uma constante alegria que, não fazia parte da sua realidade.

Sentada na areia, observava as ondas que iam e vinham e seus pensamentos seguiam o mesmo baile. Fazendo desenhos na areia, tentava ordenar as ideias. Há muito tempo que sabia que a vida que levava, não a satisfazia. Nem de longe. Muitos diriam se tratar de ingratidão, que reclamava de barriga cheia. Talvez fosse instável. Mas quem melhor do que ela para saber o que era melhor para a sua vida? Prestes a completar 30 anos, não era assim que queria estar.

Resolveu mergulhar. Água fria na cabeça e no corpo, sempre ajudava. Mergulhou e nadou para longe. Aquilo sim era uma bênção, morar numa ilha. Disso não abria mão...

Mais um mergulho e ideias contraditórias emergiram. Se nada desse certo, iria embora dali. Afinal, o destino do cabo-verdiano era a emigração. Sua mãe já tinha ido embora. Ela não tinha emigrado para buscar uma vida melhor, bom, de certa forma até tinha sido isso sim. Não tinha partido por razões financeiras, mas tinha ido viver uma história de amor. Sempre havia motivo para partir. Mas ela queria ficar.

Caminhando na praia, observava a faina dos pescadores. Alguns voltavam do mar, outros partiam. Alguns carrancudos, outros sorrindo. Muitos em silêncio, outros em amena cavaqueira. Faces da mesma vida...

Botes eram arrastados para o mar e a frase na lateral de um deles chamou a sua atenção: same shit, different day.

Uma simples frase de 4 palavras, resumia a sua vida.

Mais tarde, enquanto regava as plantas de Carla, seguia refletindo sobre a frase no bote. Fazia sempre tudo igual. Como alguma coisa poderia ser diferente, se insistia em fazer tudo da mesma forma? Como alguém poderia querer um rumo diferente para a vida se seguia repetindo os mesmos padrões? Não fazia o menor sentido e mesmo assim seguia no fluxo do mais fácil. Seria mesmo mais fácil? Claro que não, ou não estaria em profundo desequilíbrio...

Em comparação aos jovens da sua idade, ganhava muito bem. Trabalhava na atividade mais promissora da ilha, quiçá do país, tinha sua casa, poucos e bons amigos, saúde, todas as mulheres que quisesse...

Talvez, essa fosse a única faceta da vida da qual não podia se queixar. Tinha sempre as mulheres que queria e no timing perfeito. Não gostava de relações longas, quanto mais curta, melhor. Nada de apegos. Romances intensos e desgastantes não lhe faziam a cabeça, ou o coração. Seu foco era outro, mas não abria mão de uma paixão e regada a bom sex*. Sempre! Para isso, as mais jovens eram perfeitas.

            --Ah, Walkiria, seja sincera. Que mulher adulta e madura iria aturar essa tua cabeça desorganizada? Com minhas garotas entre 20 e 23 anos, lido bem e não vamos mudar nada disso. Não é Zeca?

E não era exagero. Ela se relacionava apenas com mulheres nessa faixa etária. Nada de exceções, era isso e ponto.

Ah, Zeca era um dos peixes do aquário de Carla. É, ela falava com peixes, plantas...

 

*****

            --Desisto! Porcaria de vida! - Walkiria bateu com força no volante do carro que se negava a obedecer a qualquer comando. - Como é que não funcionas? Ainda ontem estavas bem e não faz nem um mês que vieste da revisão. Va lá, coopera. Preciso chegar logo em casa.

Nada. O carro parecia um elefante prostrado depois de uma farta refeição.

Sem perder tempo, pegou a mochila e seguiu para a parada dos transportes coletivos. De cara séria, óculos escuros e auricular. Não estava para conversas e muito menos abordagem de gente chata. Diriam que a chata era ela? Diriam, mas não ligava a mínima para a opinião alheia.

Até chegar no ponto do Hiace*, tinha sido apenas sucesso. Nenhum chato pelo caminho. Entretanto, o carro ainda estava quase vazio e tinha que esperar até que enchesse para daí rumarem ao seu destino. O compromisso de trabalho seria à uma da tarde, ainda tinha tempo...

15 minutos mais tarde e nada do carro sair do ponto. Claro que já estava levemente incomodada, mas sabia que não podia fazer nada. Restavam 3 bancos por ocupar, poderia ser pior. Batia a cabeça ao som do bom gosto musical do motorista, quando teve a sua atenção desviada para a direita. Uma imagem capturou a sua atenção. Uma mulher, com aparência de turista, estava encostada à parede, de olhos fechados e sendo beijada pelo sol. Parou os olhos naquela figura e não conseguia desviar. Ela parecia namorar o sol que lhe beijava cada centímetro da pele branca levemente bronzeada. Ela sorria...de olhos fechados. Parecia uma poesia, ou talvez os acordes de uma música.

            --Um surto, isso sim! - repreendeu-se. - Ei, ainda demoras a sair? - Perguntou ao motorista.

            --Só mais um passageiro e pegamos os outros pelo caminho. Prometo!

A mulher pareceu ter entendido a frase, e com movimentos leves, entrou no carro. Sentou no banco atrás de Walkiria que percebeu que tinha suspendido a respiração.

Mais um rapaz entrou no carro e já sobrava apenas um banco vazio.

            --Podemos ir? - Perguntou uma senhora que parecia mais desesperada do que Walkiria.

            --Sim!

Partiram. No radio do carro tocava uma seleção perfeita. Pelo menos essa era a opinião de Walkiria. Os adolescentes que ocupavam os bancos da frente, com certeza não concordavam. Tocava músicas que ela tinha dançado muito quando mais jovem, músicas que ela sabia de cor e que a transportavam ao melhor dos mundos. Claro que cantarolava baixinho e se remexia na cadeira. Afinal, o carro ter se negado a colaborar, nem tinha sido o fim do mundo. De olhos fechados, cantarolava um hit de quando tinha 17 anos. As melhores memórias...

Alguém também cantarolava a música e na mesma vibe. O som vinha do banco de trás, mas como se a mulher era estrangeira e a música era em crioulo? Aguçou os sentidos e parou de cantar por segundos. Sim, ela cantava o seu zouk crioulo favorito. Como? Ah, talvez, fosse uma estrangeira a morar no Sal. Mas, não parecia, tinha cara de turista deslumbrada com a ilha.

Seguiram viagem e a cantoria também. Sem ver a cara da mulher, Walkiria sorria quando ela parava de cantar, provavelmente por não saber a letra e emitia apenas sons da garganta.

A meio do percurso até a próxima cidade, pararam num povoado para pegar uma mãe e seus dois filhos na estrada. O carro só tinha um lugar vago e a estrangeira imediatamente disponibilizou-se a levar a criança mais velha ao colo. Era proibido, mas quem fiscalizava? Seguiram viagem e a curiosidade de Walkiria aumentava. Conseguia ouvir a mulher brincando com a criança que ria. Só não ouvia muito bem o que ela dizia...

Chegaram ao destino final e ela seguiu pelas ruas da cidade rumo à sua casa. Pelo caminho, parou na esplanada de um amigo para cumprimentá-lo e quando saía, notou a mulher caminhando no sentido contrário ao seu. Perto do seu prédio, estava estacionado um Hummer com a seguinte frase no capô: daqui para a frente, tudo vai ser diferente.

            --Ah se eu fosse uma dessas minhas amigas que acreditam em sinais. Ainda bem que meus pés vivem plantados na terra. - Riu, entrando no prédio.

 

*****

O dia estava sendo diferente sim e para muito pior. Primeiro, ela não tinha dormido quase nada. Até aí, tudo bem. O sono não era muito seu amigo e já não era novidade. Depois o carro que nunca falhava, resolveu rebelar-se. Agora o cliente desmarcara uma reunião que estava agendada há mais de uma semana. A correria toda tinha sido em vão...

Mas ela não desistia e resolveu tirar o dia para fazer coisas que gostava. Há algum tempo que não se entregava ao ócio, ou ao prazer. Depois de responder alguns emails de trabalho e de remarcar a reunião com o cliente importante, tomou mais um banho porque, apesar se ser final de outono, o sol não tinha tomado qualquer conhecimento e seguia reinando como sempre. Com um look bastante confortável, chamou um táxi e dirigiu-se à localidade da Palmeira. Decidiu que iria ao seu spot preferido, comer um de seus pratos favoritos, polvo na brasa. Adorava aquele pequeno restaurante improvisado, porque ainda não tinha sido descoberto pelo turismo de massa e podia apreciar sua comida, a vista para o mar e tudo sem aquela azáfama irritante que já tomava conta da ilha. Não ia para lá há alguns meses, mas sabia bem o que podia esperar.

 

*****

Como as coisas mudam depressa e para muito pior, pensava Walkiria enquanto observava o frenesi que tomava conta do seu restaurante favorito na Palmeira. O lugar, alem de cheio de turistas, ainda tinha uma enorme fila de espera nos arredores. Como assim? Ela só tinha conseguido vaga porque era cliente antiga e amiga de todos os empregados.  Suas ilusões de uma tarde pacata com bom ambiente e boa comida, esvaneciam, assim como sua ténue calma.

Respirou fundo e tentou concentrar sua atenção no mar calmo que se desenhava à sua frente. Seu lugar cativo no restaurante, era um cantinho quase sobre as ondas. É, não podia reclamar de tudo...

            --Está tudo bem, Wiki?

Walkiria surpreendeu-se com o atendente. Estava vagando pelas ondas do mar...

            --Hum-hum...tirando essa enchente de gente. Desde quando isso ficou assim?

            --Há um mês, entramos no circuito. - Disse orgulhoso.

            --Bom para vocês...

            --Muito bom! Minhas gorjetas têm-me ajudado tanto.

Walkiria sentiu-se mal pelo excesso de egoísmo. O rapaz foi atender mais uma mesa e ela respirou fundo. Não tinha sido uma boa ideia a tarde na Palmeira...

Dez minutos mais tarde e nada do seu pedido sobre a mesa, entretanto, o atendente estava mais uma vez à sua frente.

            --Wiki...

            --Ah, por que será que eu sinto que não vou gostar do que vais dizer?

            --Só tu podes me ajudar.

            --Não apela. O que aconteceu?

            --Estamos lotados. Alguém fez asneira na gestão das reservas e...

            --O quê, Toneca? - Já estava sem paciência.

            --Cliente do King...me ajuda, por favor.

King era um operador turístico local e muito amigo de Walkiria. Só por isso ela deu-se ao trabalho de ouvir o que o atendente tinha a dizer.

            --Diga logo o que quer e traga minha comida porque estou faminta.

            --É apenas uma pessoa...

            --Ah, tu não querias que eu acomodasse uma família inteira nessa minha mesinha. Era só o que me faltava...

            --Posso mandar vir?

Apenas com um gesto de mão, Walkiria concordou. Estava possessa.

            --Salvaste-me a vida e a gorjeta.

            --Quem te salvou foi a minha amizade pelo King. Que esse ser fique mudo.

            --Ah, quanto mais te esforças para ser chata, mais maravilhosa consegues ficar.

Walkiria apertou os olhos com força e clamou por uma serenidade que sabia que não tinha.

Ainda de olhos fechados, ouviu uma voz profunda dizer:

            --Boa tarde...desculpa o incómodo.

Tinha sotaque, mas a voz tinha falado em crioulo. De supetão abriu os olhos e quase engasgou no próprio ar. Não era possível...

A mulher permanecia de pé. A mulher do Hiace, a estrangeira que sabia cantar músicas old school em crioulo.

            --Posso sentar?

            --Claro!

Seguiu-se um silêncio constrangedor. Walkiria não sabia o que dizer e a mulher a olhava com olhos quase ternurentos. Como? Por quê?

            --Meu nome é Nimah, muito prazer.

Ela estendeu a mão e Walkiria engoliu em seco. Não gostava de nada que lhe fugia ao controle. Definitivamente.

            --Prefiro contratar operadores locais e esse lugar foi altamente recomendado.

A voz pausada e o olhar profundo, deixavam Walkiria sem saber como agir. E sem falar no sorriso permanente...

            --Só estás sentada aqui porque és cliente do King. - Porr*, Walkiria, cala a boca. - Repreendeu-se em silêncio e quase mordeu a própria língua.

            --Salva pelo King. O que vais comer?

Nada abalava o humor daquela mulher? Walkiria se inquietava cada vez mais.

            --Polvo na brasa. - respondeu sem pensar.

            --Recomendas?

            --É o meu prato favorito da casa.

            --Então é isso que vou comer.

            --Toneca, a moça quer polvo. Um prato igual ao meu. - Gritou para o atendente que estava a duas mesas da sua. Estava um bocado fora de prumo.

Seguiu-se mais um momento de silêncio. Walkiria com a cabeça a mil e a sua companhia inusitada, aparentemente apaixonada pelo cenário. Sorria, enquanto olhava o mar. O sol, mais uma vez, parecia beijá-la...

            --Como sabes cantar e falar crioulo? - Perguntou intempestivamente

            --Cantar?

            --No Hiace...

            --Ah, eras tu...claro. Por isso o semblante pareceu-me familiar...

Walkiria sentiu-se incomodada por lembrar claramente dela e o contrário não ser uma verdade inequívoca.

            --Então? Vais fazer mistério? - Walkiria estava ansiosa e não se reconhecia naquela atitude. Não perante uma desconhecida e pela qual não estava a exercer qualquer tipo de charme.

            --Sem mistério. Morei aqui por quase 4 anos. Vim para cá em 2010.

            --No Sal?

            --Sim! Meu marido era diretor geral de um dos resorts...

            --Gostou da experiência?

            --Tanto, que já voltei duas vezes depois da temporada em terras Cabo-verdianas. Agora, vim passar dois dias. Sempre que preciso recarregar as energias, e disponho de algum tempo, corro para Cabo Verde.

            --Dois dias? Isso que é paixão pela minha terra. - Sorriu admirada.

            --Sim, completamente apaixonada. Vou embora hoje à noite. Inicio da madrugada...

            --Vais para onde? - As perguntas sobrepunham-se, sem qualquer filtro.

            -- Londres!

A comida chegou e comeram quase em silêncio. Quase, porque Walkiria tinha o habito de comer gem*ndo quando o paladar era agraciado. Quase sempre.

            --Gostas mesmo desse polvo...- Ela sorria, com o mesmo semblante plácido.

            --Eu gosto de comida!

A estrageira riu. A risada era tão...

            --Não aprovaste a minha sugestão?

            --Aprovadíssima! Perdoa-me por não ser tão expressiva.

Riram juntas. Pela primeira vez.

            --Finalmente quebrei esse iceberg! - Disse sorrindo.

            --Fui muito mal-educada?

            --Não, mas a tua cara não escondia que não me querias por perto.

            --Nem tu, nem ninguém. Só queria comer meu polvo em paz.

A estrangeira riu e Walkiria respirou aliviada. Tinha sido rude, mas a outra não parecia se incomodar com seu jeito ríspido de ser.

            --E a moça muito sincera, tem nome?

            --Walkiria!

            --Forte, como pareces ser...

            --Tu já me disseste o teu nome? Não consigo lembrar...- Era pura verdade, estava fora de orbita e nada conseguia se fixar na sua mente.

            --Nimah, que te roubou a paz. - Brincou.

            --Poderia ser pior...Nimah, é diferente...

            --Devo entender isso como um elogio, ou...

            --Ah, eu normalmente não dividiria minha mesa com ninguém, muito menos com uma desconhecida...

            --Sou uma mulher de sorte, ou devo dizer, que hoje é meu dia de sorte?

            --Tudo tem corrido tão mal nesse meu dia, que resolvi agir diferente.

            --Quem sabe não melhora?

            --Ah, não sou muito otimista, mas pelo menos não és uma chata que só fala asneiras.

Nimah riu com vontade, levando a mão à barriga.

            --Eu já ganhei meu dia. O que mais aprecio nas pessoas é a espontaneidade. Tão rara, hoje em dia...

            --Se preferes chamar assim...- Sorriu.

            --O que vais fazer agora? Tens planos para o resto da tarde?

            --Meu cliente desmarcou. Acho que vou trabalhar um pouco em casa...

            --Já que abriste algumas exceções, que tal continuar assim?

            --Não entendi...

            --Venha passar a tarde comigo. Quero visitar alguns pontos turísticos e gosto do olhar dos nativos, sempre apaixonados pela sua terra.

            --É sério isso? - Walkiria olhava incrédula para a estrangeira.

            --Já percebi que isso seria uma quebra de regra, quase uma ousadia...

            --Sim! E mesmo assim, não hesitou em me convidar?

            --Gostei da tua companhia. Não começou muito bem, mas o que importa mesmo, é como termina. Vamos? - O sorriso daquela mulher poderia ser comparado a uma arma de guerra de longo alcance e de impacto profundo, pensava Walkiria.

Sem medir as consequências e completamente desligada da sua célebre racionalidade, respondeu afirmativamente depois de uma breve hesitação.

            --Só tem um pequeno detalhe...

            --O quê? Olha que desisto dessa loucura.

            --Calma! Vamos de motoquad. Tudo bem?

            --Desde que sejas tu a dirigir...

Sentadas na moto, mais uma vez, Walkiria percebeu-se prendendo a respiração. Claro que sim. Não estava a agir como a pessoa que era, parecia hipnotizada...

            --Vamos para uma aventura pelas terras áridas do Sal. - Nimah parecia feliz e muito confortável naquela situação.

            --Ei, não tens medo que eu seja uma assassina disfarçada de boa moça? - Walkiria brincou, falando quase dentro do ouvido de Nimah.

            --Meu instinto não costuma falhar. Ah, tu também aceitaste vir sem saber quem sou. Confia, mulher desconfiada. - Riu enquanto colocava o capacete.

"Que loucura é essa? E nem se trata de mais uma de minhas célebres paixonetas, pois essa mulher não tem nada a ver com o meu perfil. Adulta demais...mulher demais...dona de si demais". Pensava Walkiria, enquanto o motor da moto era ligado.

 

 

Hiace* (Modelo de carro que faz o transporte coletivo em algumas ilhas de Cabo Verde)

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Início de mais uma aventura literária. Estão todas convidadas a mergulhar comigo nesse novo universo. Vamos nos divertir, prometo.

Quem quiser comentar e dizer o que está a achar da nossa aventura, esteja à vontade.

Críticas ( com educação) são bem vindas.

Abraço e muito obrigada por estar aqui.

Nadine Helgenberger


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Comentários para 1 - Capitulo 1:
Fnanda
Fnanda

Em: 30/12/2024

Oii, Nadine! Espero que esteja bem, gostaria muito de saber se vc disponibiliza suas histórias em outra plataforma? Pois, sou uma fã e não tenho mais acesso a algumas de suas escritas e são as minhas favoritas 


RECO

RECO Em: 11/08/2025
Também adoraria saber. sempre releio suas historias. e percebi que varias sairam daqui!
se colocou na amazon, avise tambem, nem lá te achei.
que Deus lhe abençoe


Responder

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mtereza
mtereza

Em: 28/01/2023

Que maravilha sendo brindada com uma história da Nadine logo no primeiro mês do ano amei a surpresa tenho certeza que será uma jornada maravilhosa 


Resposta do autor:

Olá :)


Muito obrigada.

Bjs

Responder

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 26/01/2023

Aventura!


Resposta do autor:

Sim, muita :) e outras coisinhas à mistura.

Muito obrigada por comentar. Bjs

Responder

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brunafinzicontini
brunafinzicontini

Em: 24/01/2023

Que alegria! Antes de tudo, quero expressar minha felicidade ao vê-la de volta, querida Nadine! Seja bem-vinda nesse lindo retorno! Você é como um Sol nestas páginas do Lettera, iluminando a todos com seu dom incomparável e enchendo-nos dos mais belos sentimentos, alimentados por sua rica imaginação.

E lá vamos nós, com os sentidos à flor da pele, para mais uma aventura deliciosa!

Como sempre, com seu talento, você nos leva ao encanto de sua ilha – cenário maravilhoso que já faz parte de nosso melhor imaginário – e nos cativa com o desenho de personagens atraentes. Nimah parece ter vindo para fazer a diferença no mundinho privilegiado porém rotineiro de Walkíria. Vejamos como nossa heroína mal-humorada reagirá a esses novos ventos, soprando inesperadamente em sua praia tão sem emoções.

Grande abraço,

Bruna


Resposta do autor:

Bruna, querida :)

Muito obrigada por estar aqui para mais essa aventura.

Sim, estou de volta e espero que por um bom tempo, pelo menos enquanto Nas brumas do pico se desenrolar rsrsrs

Pois é, voltei a escrever uma história em CV, apesar da minha admiração por outros cenários. Estava a fim de escrever sobre a minha cultura, as nossas coisas por aqui, nossa forma de estar na vida etc

Essas mulheres maravilhosas vão fazer um "estrago" nessas paginas escritas por mim rsrsrs

Bjs minha querida.

Responder

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patty-321
patty-321

Em: 23/01/2023

Oba! Vc de volta. 2023 começou bem, estória de Nadine é sempre excelente. As personagens já são fascinantes. Bjs


Resposta do autor:

Olá :)

Muito obrigada por comentar. E vamos lá a mais uma aventura.

Bjs

Responder

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rebarlow
rebarlow

Em: 23/01/2023

Esfreguei as mãos de ansiedade, antes de começar a ler essa nova obra de arte rsrs. Não sou muito de comentar mas senti tanta saudade que sempre que possível vou deixar um comentário para demonstrar minha devoção. 

Roendo as unhas a espera do próximo kkk


Resposta do autor:

Olá, Muito obrigada. Obra de arte, meu deus, que responsabilidade rsrsrs

Comente sim, sempre que puder. É importante para quem escreve e dá mais motivação ou não rsrsrs para continuar.

O próximo vem aí rsrsrs

Bjsss

Responder

[Faça o login para poder comentar]

NovaAqui
NovaAqui

Em: 22/01/2023

Sempre bom te ver por aqui

Um dia diferente para Walkiria até a paixonite será diferente

♥


Resposta do autor:

Querida, sempre tão generosa.

Muito obrigada por estar aqui mais uma vez. Prometo que vamos nos divertir bastante. Pois é, acho que a Walkiria vai morder a lingua rsrsrs

Bjs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Ines
Ines

Em: 22/01/2023

Olá Nadine, espero que esta mensagem te encontre em plena saúde!

 

Queria apenas dizer que amo suas estórias, e que já li todas elas claro! Com certeza irei a adorar esta também, mas infelizmente minha ansiedade não me permite ler estórias em desenvolvimento... Então estarei aquí no backup esperando assiduamente até que a finalizes, o que eu espero que não demore por muito tempo, pois meu coração vai morrer a cada dia de espera! 

 

Enfim, obrigada por nos dar o prazer de conhecermos um novo universo a cada escrita... Desejo a você uma vida de paz e realizações! 

Atenciosamente,

De sua fã de Angola ??


Resposta do autor:

Olá Ines :)

Muito obrigada, querida. Sobre nao ler obras em curso, eu entendo :)

Não prometo data para terminar porque faço outras tantas coisas e a escrita é um hobby. Mas estou a tentar ter um planeamento que consiste em escrever todos os dias, ainda que seja um paragrafo rsrsrs

Fico feliz em saber que me acompanhas de Angola :)

Bjs


Ines

Ines Em: 23/11/2023
Olá!

Como vai?? Espero que bem.

Então, tal como avisei cá estou eu para mergulhar no mundo da Walkiria!

Sei que vou amar, enfim! Mais uma vez obrigada por só nos proporcionar maravilhas literárias...

Bjs


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