Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 26 - Resquícios de esperança.
Acabávamos de deixar a delegacia e mais uma vez não havia nenhuma informação, nenhuma das investigações levou a lugar algum. Alonso, Hugo, Rafa e eu estávamos ali quase que diariamente. O delegado tentou conversar com os pais de Camille, mas os infelizes não o receberam. Todas as tentativas de contato fora um fracasso total.
Isso só nos dava a certeza de que eles sabiam de algo. Nos encontrávamos em um beco sem saída.
— Hoje a Nicole dará a entrevista e eu me sinto angustiada por ela. Eu não sei mais o que fazer... – Rafa enxugou a face. — Tanta coisa ao mesmo tempo, sinto que vou enlouquecer.
Havíamos vindo juntas em meu carro.
— Vou com vocês duas até a emissora. – Toquei em seu ombro. — Pode desabafar sempre que quiser, eu estou aqui.
Eu não sei de onde estava tirando forças.
— Obrigada, Lara. Eu não quero te sobrecarregar...
— Tudo isso me envolve, Rafa. Não pense duas vezes antes de me procurar, eu não sou ela, mas somos amigas. – A loira sorriu.
— Eu não acredito que isso tá mesmo acontecendo. Não sei o que seria de mim sem o apoio de vocês, sem...
— A Nicole... – Rafaela juntou as mãos. — Vocês parecem ter uma conexão.
— Eu... eu também sinto isso, não posso negar, ela arrebentou a porta que estava fechada. Não gostava dela, mas agora eu... eu sinto que se encaixa. Ela...
— Ela é uma mulher forte, quebrou a imagem ruim que tínhamos a seu respeito. Não foi só as portas do seu coração que ela arrebentou. – Sorrimos. — Nicole merece muito ser feliz. Você gosta dela...
— Ela é uma boa amiga, tem sido muito presente.
“Uma boa amiga, Rafa?”
Resolvi não dizer o que pensava sobre.
Seguimos até a casa de Rafaela, Paola e o irmão mais novo de Nicole estavam hospedados na casa dos meus pais. Nicole decidiu permanecer na casa de Rafa, e eu achei ótimo, a loira necessitava de alguém presente.
Ao longe avistamos Nicole, que nos esperava. Acelerei e logo parei próximo a calçada.
— Como foi? – Ela perguntou assim que entrou.
— Nada... – Respondi.
— Inferno!
— Você tá mesmo preparada pra fazer isso? – Olhei para trás.
— Sei que isso vai mudar a minha vida pra sempre, mas eu preciso. Por minha mãe, por mim, por todo mal que causei. – Rafaela soltou o cinto e foi para o banco detrás.
Ela segurou a face de Nicole com ambas as mãos, a fazendo olhá-la.
— Olha, fresquinha, estaremos lá por você e depois também. – Isso me lembrou algo.
Meu amor, como você está?
— Eu não sou tão...
— Fresca? Vai ser sempre. – Não pude deixar de sorrir ao ver a tromba de Nicole.
Decidi dá privacidade e não fazer nenhum comentário.
— Você abusa do fato de eu gostar de você. – Nicole respondeu.
— Gosta de mim?
— Claro! Não poderia ser diferente...
Sorri.
Liguei o carro e logo dei partida, depois da breve conversa entre as duas, o silêncio nos acompanhou durante todo o percurso. Ao chegarmos à emissora, fomos direcionadas a um pequeno camarim. A equipe nos deu algumas instruções.
A entrevistadora era conhecida de Antonella.
— Bom dia, meninas. – Uma mulher loira e baixinha entrou. — Sou a Angelina, obrigada por virem.
— Nós que agradecemos por ceder umas horas do seu tempo. – Ela nos cumprimentou com um aperto de mãos. — Sou a Lara, essa é a Rafa e a Nicole.
— Prazer...
— Em alguns minutos iremos iniciar e desde já, parabéns pela coragem, Nicole. Soube por alto e nem consigo imaginar a posição que se encontra.
— Eu só quero que ele pague por tudo. – Nicole se mascarou. — Obrigada por me dar essa oportunidade.
Ela sempre agia assim quando estava prestes a chorar, em pouco tempo de convivência aprendi um pouco sobre essa mulher. E pensar que a odiei tanto.
— Se existe justiça nesse mundo, ele vai. Agradeço a confiança que depositou sobre mim, lhe garanto que tratarei tudo com muito carinho...
Vinte minutos depois Antonella e Ana Clara chegaram, o cenário ficou pronto e a entrevista iniciou. Em determinado momento, Nicole travou, os seus olhos fitaram o chão.
— Desculpe! É difícil demais falar sobre isso. – Senti o coração ficar apertado.
— Tudo bem, querida, tome o seu tempo. – A jornalista a confortou.
Rafaela deixou o seu lugar e sentou ao lado de Nicole, que ficou surpresa. A loira segurou a sua mão.
— Estamos orgulhosas de você. – Rafa sorriu, tocou a face de Nicole. — Continua, você tá indo bem.
As duas se olhavam com carinho, com devoção. Percebi que discretamente Antonella olhou para a minha irmã, que carregava um sorriso.
— Elas parecem gostar mesmo uma da outra. Será que já perceberam? – Esse comentário de Ana pareceu tranquilizar Antonella, que sorriu.
— Também penso o mesmo... – Falei.
Ana e Antonella me olharam, a minha irmã buscou a mão de Antonella e apoiou a cabeça em seu ombro.
— Vamos continuar? – Rafa perguntou a Nicole.
— Vamos sim...
Depois que a entrevista finalizou, Nicole cedeu os vídeos e fotos que ajudariam com tudo, decidimos deixar a emissora e fazer oficialmente o boletim de ocorrência. Patrick ficaria louco, mas estávamos preparadas para o que viesse.
— A Yas vai ficar orgulhosa de você... – Comentei.
Estavamos na casa de Rafaela, Ana fazia carinho em tigrão.
— Você sabe que a Lara chegou a sentir ciúmes de você e ela? – Ana falou e eu a olhei feio.
— Da Yas e eu? – Nicole perguntou.
Rafa e Antonella nos serviram chá.
— Sim, principalmente no dia do leilão. – Rolei os olhos.
— Eu não sabia o que estava se passando. – Me defendi.
— Eu percebi que ela estava tentando me seduzir. – Ergui as sobrancelhas.
— A culpa foi minha... – Antonella sentou ao lado de Ana. — Eu dei a ideia a ela.
Olhamos para a morena, que deu de ombros.
— Em minha defesa, não sabíamos que as coisas eram tão podres. – Antonella concluiu e Ana sorriu.
— A gente te odiava, Nicole, você soube interpretar bem o papel de megera. – Minha irmã falou sem filtro.
— Eu não as culpo, ainda tenho muito o que me desculpar. – Nicole levou a xicara aos lábios.
— Não, você não tem. – Ana continuou. — A gente entende agora.
— Entendem mesmo?
— Sim, a gente entende. – Reforcei.
Nicole sorriu.
— Obrigada, meninas. Sabe, eu nunca tive muitos amigos. – A morena tocou a testa. — Nenhum amigo na verdade.
— Agora você tem várias. – Ana completou. — Você e a Rafa têm a nós, podem contar conosco sempre.
— Você cresceu, Ana. Amadureceu muito... – Nicole falou. — Não sei como vocês podem me perdoar com tanta facilidade.
— Aceita, fresquinha, agora você tem amigas. – Antonella completou.
Continuamos a conversar coisas mais leves, tentava me distrair, porém quando percebia os meus pensamentos estavam em Yasmin, fazendo o meu coração doer.
“Deus, nos ajude!”
No dia seguinte à repórter ligou para nos avisar que a entrevista estava sendo postada no site. Em menos de três horas se tornou um dos assuntos mais comentados na mídia, os vídeos se espalharam rapidamente e o celular de Nicole não parava.
Ela andava de um lado para o outro na sala dos meus pais.
— Filha, calma. – Paola pediu.
— Ele já foi preso? – Nicole mordia a unha.
— Senta, Nicole, ou você vai passar mal desse jeito. – O meu pai pediu.
— Não consigo relaxar, Joaquim. Eu fico imaginado qual será a reação dele, preciso me preparar pra qualquer coisa.
— Tá passando na televisão. – Ana entrou na sala, pegou o controle sobre a mesinha e ligou a TV.
— A polícia acaba de adentrar o hospital. De acordo com informações, foi decretada a prisão preventiva e o médico... esperem, eles estão saindo.
Nesse momento vimos Patrick saindo pela porta da frente, as mãos estavam algemadas e ele não se acovardou, encarava a todos com a cabeça erguida. Olhei para Nicole, ela e a mãe se abraçaram. A repórter tentou se aproximar, porém os policiais não permitiram.
Sentei, passando as mãos sobre a cabeça.
— Finalmente! – Sussurrei.
A parte sobre a segunda família foi abafada, Nicole e a mãe entraram em acordo sobre manter o sigilo. Sabíamos que ele não ficaria preso por muito tempo, infelizmente a justiça dos homens é falha, entretanto, o primeiro passo já foi dado. Agora todos sabiam sobre o respeitado doutor Patrick.
O grande covarde que ele é.
— Isso nos dará tempo... – Nicole comentou.
— Nem acredito que fizemos mesmo isso. – Paola chorava, enquanto recebia todo o amparo da filha.
— Não se sinta mau por ele, mamãe, ele merece passar a vida toda pagando por todo mal que nos fez.
— Como vou explicar isso ao seu irmão, filha? Como?
Paola escondeu o rosto com as mãos. Meus pais e minha irmã olhavam a tudo com um semblante entristecido.
— Vamos conseguir, mãe. O meu irmão vai superar, todos nós vamos. Me olhe... – Nicole também chorava. — A gente vai superar...
— Tô com medo, filha. E se ele fizer alguma coisa contra nós?
— Estarei pronta pra qualquer coisa, eu não tenho mais medo dele. Prometo, ele não vai mais encostar um dedo na senhora. Ouviu? – Minha mãe fez um gesto para que saíssemos da sala e deixássemos as duas.
Simplesmente fiz o que ela pediu e fomos para a varanda.
— Não acredito que isso tudo tá mesmo acontecendo. – O meu pai sentou, escondeu a face entre as mãos. — Parece um pesadelo.
— Querido...
— Ele era nosso amigo, como, Telma, como chegou a isso? O Alonso, a Amanda... – A minha mãe o abraçou pelo ombro.
Os meus olhos lacrimejaram.
— Tenhamos fé, querido, isso vai acabar. Por favor, continue firme... – Abracei a minha irmã.
Era coisa demais para lidar, eu queria estar um pouco mais aliviada, porém não conseguia. A minha vida só voltaria aos eixos quando a mulher que amo voltasse...
16 de dezembro.
Estavamos na festa de formatura de Ana, ela não queria participar em respeito a Yas, mas eu insisti, era um momento único em sua vida. O fim de um ciclo, a conclusão de uma etapa longa e difícil.
Estava sentada em uma mesa com Antonella e a minha mãe.
O meu pai e Ana dançavam no meia do salão. Todo o evento de entrega de diplomas e discursos já havia passado e agora todos os formandos e seus familiares curtiam a festa.
— Ela se tornou uma mulher. – A minha mãe lacrimejava.
A minha amiga lhe entregou um lenço.
— Uma mulher muito destemida. – Antonella completou. — Ela é maravilhosa.
As duas olhavam para a minha irmã com a face estampada em orgulho.
— Antonella, se a vida assim desejar, se você casar com a minha filha, me prometa uma coisa? – Arregalei os olhos, assim como Antonella.
— O que seria, Telma? – Também fiquei muito curiosa.
— Que a fará feliz, que mesmo em meio as piores crises você irá permanecer ao lado dela. — Fiquei muito surpresa.
Antonella sorriu, olhou para onde Ana estava. Ela dançava com maestria com o meu pai, ambos riam de algo. Estava tão, tão orgulhosa da minha menina.
— Farei isso, Telma. É uma promessa. – A minha mãe colocou a mão sobre a de Antonella.
— Obrigada, querida. Lara? – Nos encaramos. — Mantenha a fé, filha, logo a mulher que você ama estará de volta.
Os meus olhos se encheram de lágrimas.
— Jamais irei deixar de ter, mamãe.
Ela sorriu.
Foquei em Ana, tentando não deixar que a angústia que sentia em não ter nenhuma notícia de Yas me tomasse. Respirei fundo, eu precisava ser forte. Tinha certeza que logo veria o sorriso da mulher por quem sou louca.
E se não fosse breve, ainda assim esperaria o tempo que for, correria atrás de qualquer mínima chance de encontrá-la.
— Filha... – O meu pai se aproximou. — Quer dançar com a sua namorada?
Ele perguntou a Antonella, que sorriu.
— Estava apenas esperando que terminassem. – Minha amiga ficou de pé.
Ela foi até onde Ana estava, as duas passaram a dançar a música lenta que ecoava pelo salão. Vi o meu pai levar um lenço a face, um sorriso largo não lhe abandonava.
— Elas são lindas juntas. – Ele comentou.
— A nossa menina cresceu, papai...
A minha menina cresceu.
24 de dezembro.
Um mês se passou desde que Yas desapareceu, sentia que a minha vida havia parado totalmente. Dona Amanda estava em casa, Alonso e Hugo tentavam dar todo o suporte necessário. Estive com ela algumas vezes, quase não falávamos, apenas ficávamos horas na companhia uma da outra.
Nenhuma única pista, era como se ambas houvessem sido tragadas pela terra.
— Filha, venha pra sala um pouco. – Tia Luciana sentou ao meu lado.
Há dois dias ela, Luke e os meus avôs chegaram para o natal, mesmo sem nada para comemorarmos, eles resolveram vir passar aquela data conosco.
— Não é bom se isolar dessa forma. – Abracei o meu urso.
— Só quero ficar um pouco sozinha, tia. – A encarei. — Não sou uma boa companhia agora.
— Tudo bem, filha, mas se precisar conversar... – Ela tocou a minha testa. — Me chame.
— Obrigada, tia...
Ela deixou a varanda.
Olhei para a pelúcia em minhas mãos, fechei os meus olhos e pela enésima vez fiz uma oração. Pedia a Deus que ela estivesse bem, que as forças divinas nos desse uma pista, que algo de bom acontecesse.
— Vamos jantar, filha? – Minha mãe colocou as mãos sobre os meus ombros.
Somente naquele momento notei que já era noite.
— Vou tomar banho e vou descer. – Fiquei de pé. — Mãe, obrigada por respeitar tudo o que tá acontecendo.
— É o mínimo que posso fazer, filha, não há motivos para festas. – Suas mãos vieram para a minha face.
— Lara... – Ana surgiu na porta. — Vim te buscar pra tomar banho.
Ela olhou de minha mãe para mim.
— Mãe, obrigada pela sensibilidade e cuidado que vem tendo com a Lara – Pude ver a surpresa na face da minha mãe. — Você não sabe o quanto nós... o quanto nós esperamos pra ter isso...
Ana limpou a garganta.
— Você tem sido muito gentil. – Minha mãe colocou a mão sobre a boca.
— Eu... eu só quero fazer tudo certo. – Sua voz saiu embargada. — Vou deixar que assuma agora.
Sem esperar mais nada, dona Telma deixou a varanda.
— Você a pegou de surpresa. – Sorri.
— Os últimos dias serviram pra refletir. Eu... eu quero tentar dar uma chance a ela. – Fui até a minha irmã e a abracei.
— Eu estou orgulhosa de você.
— Eu sei...
Ela sorriu.
Subimos e após o banho, vesti algo simples e desci para jantar com a minha família. Eles tentaram deixar a refeição mais leve, então decidi sair um pouco daquele casulo que me encontrava desde que tudo aconteceu. O meu primo fazia piadas bobas, ele e Ana eram exatamente iguais, não havia filtro. Os meus avôs riam e incentivavam as brincadeiras.
Olhei para a minha mãe e havia um sorriso genuíno em sua face.
Cutuquei as batatas assadas, eu não sentia fome e Camille parecia totalmente à vontade. Como estaria a minha família? Era o primeiro natal que passaríamos sem nenhum contato. Minha mãe, ela estaria bem? Dias se passaram e eu não soube de mais nada.
— Esse peru está delicioso. Prove, querida...
— Vai se ferrar... – Empurrei o prato.
— Olha a boca, Yas. Poxa, querida, por que não pode ser um pouco grata? – Não adiantava dizer nada, Camille havia perdido totalmente a sanidade.
Era inútil.
— Você deveria comer, não quero que adoeça. Precisa estar bem, pois temos muitas coisas pra fazer juntas meu amor. Seu ombro logo estará sarado.
— Eu não quero nada com você Camille, me tire dos seus planos e me deixe em paz. – Onde estava Manoela?
— Te deixar livre pra você voltar pra aquela medicazinha? Nem pensar. Você é minha Yasmin, agora aproveite a ceia, esse é só o primeiro de muitos natais que passaremos juntas.
Eu estava tão cansada, mas precisava ficar bem se quisesse fugir, iria precisar de forças, pois não tinha ideia de quanto tempo ainda esperaria por Manoela, que apenas me pediu para confiar.
Respirei fundo e levei uma porção a boca.
— Queria te pedir uma coisa. - Camille apoio o queixo com as mãos, olhando diretamente em meus olhos.
— É o que seria?
— Já que você vai me manter nesse lugar como sua prisioneira, poderia pelo menos me deixar ver Tv, preciso manter minha cabeça ocupada. Não precisa ter internet e nem nada do tipo.
— Eu posso até fazer isso pra você, mas você teria que colaborar, até tudo ficar bem e eu não tenha que usar métodos mais agressivos. Não quero que se machuque, minha vida. Dói em mim, Yas...
Precisava jogar esse jogo, só assim conseguiria suportar até deixar este inferno.
— O que quer que eu faça? – Ela sorriu.
— Só me trate bem pra início de tudo. – Mordi a bochecha por dentro.
— Farei isso...
— Ótimo! Tenho novidades sobre o hospital, quer ouvir? – Segurei os talheres com força.
— O que?
— O sócio do seu pai, não me recordo o nome. Ele foi preso, um escândalo. — Patrick?
Ergui as sobrancelhas.
— Por qual motivo?
— Vídeos dele agredindo a filha e a ex-esposa foram expostos, mas como as leis no Brasil são falhas, ele está em prisão preventiva e é claro, logo será solto.
“Nicole, você... você conseguiu?”
— A minha mãe...
— Ah, sobre ela não sei de nada. – Ela estava mentindo.
Eu queria poder estar lá, deve estar sendo difícil.
— Termine de jantar, vamos sentar um pouco lá fora e tomar vinho? – Preciso fingir.
— Tudo bem...
Os dois dias que sucederam o natal foram monótonos, a televisão foi colocada na sala, porém o meu acesso era totalmente vigiado. Em um dos dias em que Camille saiu, certamente havia saído para trans*r com o amante, finalmente tive uma oportunidade de ficar a sós com Manoela.
Fingi uma dor e a chamei para fazer a troca de curativos.
— Não demorem aí dentro. – Um dos seguranças bateu na porta.
— Não seja apressado. – Manoela respondeu.
Ela retirou as gazes.
— Tá muito melhor, menina. – Estava ansiosa pelo o que ela falaria. — Escute, espere somente mais uma semana.
— Uma semana?
— Sim, logo após as festividades de fim de ano, estarão todos aqui e poderemos agir. – O meu peito arfou.
— O que vamos fazer? Qual é o plano?
— Conversei com o meu marido sobre tudo e ele foi contra no início, mas depois me ajudou a pensar em algo. – Acenei em positivo. — Vamos fazer da seguinte forma, iremos colocá-los para dormir.
Ergui as sobrancelhas.
— Vou por uma mistura na comida, isso dará tempo de você chegar até o destino. – Manoela cobriu a ferida. — Há um pequeno sitio a três quilômetros, indo pela parte de trás da casa. É só seguir reto, já combinei tudo com ele e quando chegar lá, você ligará para a polícia.
— Como conseguiu? – Ela me encarou.
— O meu marido, o dono do sítio é um conhecido de longa data. Escute, quando aceitei trabalhar com a senhorita, jamais imaginei que seria dessa forma. Já trabalhei para pessoas ruins, não foi por escolha, a necessidade me fez chegar até aqui.
— Por que decidiu me ajudar? – Manoela ficou de pé.
Falávamos quase em sussurros.
— Você me lembra a minha filha, ela ficaria decepcionada se soubesse que estou participando de algo assim.
Os seus olhos lacrimejaram.
— Não viveria se deixasse uma criança como você aqui. Essa mulher é totalmente maluca, o segurança que atirou em você, ele sumiu...
Recordei da conversa entre Camille e o amante.
— Espero que ela seja presa e passe o resto da vida na cadeia.
— Também é o que desejo...
— Acabem logo com isso... – O brutamonte socou a porta.
— Aguarde, criança, reúna forças...
Acenei em positivo.
Deixamos o banheiro sobre o olhar desconfiado do homem que ficou encarregado de fazer a minha vigia. Sai do quarto, sentei no sofá e liguei a televisão. Havia apenas dois canais liberadas, Camille não permitiu nada além. Horas depois ela chegou, parecia de extremo bom humor.
Se jogou no outro sofá.
— Tenho uma novidade, meu amor, acho que você vai adorar. – Franzi o cenho. — Olhe...
Ela jogou um objeto, o peguei e ergui as sobrancelhas.
— Há vários filmes aí e olha... – Ela abriu uma sacola preta. — Vem ver.
— Dona Camille, a janta está pronta. Irei para casa agora. – Manoela apareceu na sala.
— Esteja amanhã as nove.
— Sim senhora. – A mais velha se retirou.
— Pra você. – Camille me entregou a sacola.
Sem muito ânimo a abri e se tratava de alguns livros.
— Há uma coleção daqueles velhos charlatões que você gosta. Como se chamam mesmo? Warren?
Tentei fingir alegria.
— Sim, são eles. Muito obrigada. – Camille sorriu.
— Vou tomar banho e jantaremos juntas.
Faltava bem pouco, logo conseguiria deixar esse lugar.
— Tá muito feliz pra quem está em cárcere. – O amante de Camille entrou na sala.
O desgraçado se apoiou na parede.
— Posso te ajudar a sair daqui garotinha estúpida. – Ergui as sobrancelhas.
— Que pessoa de bom coração você é. Não, dispenso a sua ajuda... – Coloquei a minha atenção na televisão.
— Sabe aonde estávamos?
— Trepando as escondidas?
— Isso não te incomoda? – Estava ficando de saco cheio daquele papo.
— Você bem que poderia a levá-la para o inferno com você. Me faria um grande favor... – O encarei e ele sorria. — Mas ainda não sei se existe uma prisão mista, porque é pra lá que vocês dois vão.
O homem veio para cima de mim, me segurou pelo braço.
— Você é gostosa, até entendo a obsessão dela. Poderíamos ser felizes os três. – Gargalhei.
— Qual a graça?
— Você, você é uma piada. – Me desfiz do contato. — Olha, me deixa em paz.
— O que tá acontecendo aqui? – A voz de Camille veio como um trovão.
Ela empurrou o cara para longe.
— O que pensa que está fazendo?
— Estavamos apenas conversando, senhorita. – O homem me olhou, esperando que eu confirmasse sua fala.
— Seu amante me propôs sermos um trisal. – Camille voou sobre o homem.
— Não brinque comigo, ouviu? Se você encostar seu dedo imundo nela outra vez eu mato você com as minhas próprias mãos. Entendeu?
— Eu entendi... – Cruzei os braços sobre os meus seios.
O homem saiu às pressas da sala, quase tropeçou nas próprias pernas. O olhar de Camille caiu sobre mim, esperei por uma explosão, mas o que aconteceu foi completamente o contrário. Ela se agachou diante de mim, segurou as minhas mãos.
— Ele fez alguma coisa com você?
— Não, ele não fez. – Encarei os olhos de Camille. — Como chegou a isso?
Ela ergueu as sobrancelhas, parecia confusa com a minha pergunta.
— A isso o que? – Me remexi no sofá.
— A isso... – Abri os braços. — Olha o que foi capaz de fazer. Quem te transformou nesse...
— Monstro? – Ela sorriu, sentou no outro sofá e amarrou com força as cordas do roupão. — Sempre fui assim...
Franzi o cenho.
— Não acredito. – Camille cruzou as pernas, passou olhar para o nada.
— Quando eu tinha treze anos, vi o meu pai matar um homem. – Abri a boca de leve. — Qualquer outra menina no meu lugar ficaria horrorizada, ficaria com medo, mas não foi o meu caso. Já me perguntei algumas vezes porque sou assim e a resposta é que não há nenhuma resposta.
— Não sente o mínimo remorso?
— Remorso? – Sua risada foi abafada e os seus olhos fixaram em mim. — O meu pai me mostrou um mundo novo, inumeras possibilidades. Depois que o vi matar aquele homem, passei alguns dias pensando sobre e decidi segui-lo, sabe... e ele não era nada do que eu pensei um dia. Vivia em lugares de procedência duvidosa, orgias, até mesmo se envolveu com milicia.
Não estava tão surpresa.
— Fala isso com tanto orgulho. – O que eu estava fazendo?
— E eu tenho, ele me ensinou muitas coisas e me fez ver que o mundo é dos fortes e os fracos são patéticos. Criamos um laço, ele me ensinou tudo o que sei e pessoas como nós não tem o que temer.
Não adianta, Camille não tem um lado bom.
— Já matou alguém? – Seus olhos brilharam.
— Não faça pergunta as quais não quer a resposta, amor.
— Quer mesmo seguir assim? Você pode fazer diferente, Camille.
Ela gargalhou, jogou a cabeça para trás, como se eu houvesse contado a melhor piada do mundo.
— Ah, amor, eu já estou no mais profundo do inferno, não há volta. – Ela ficou de pé. — Não há nada que você me diga que fará com que eu mude de ideia. Você é minha, Yasmin, minha. Tá na hora de aceitar isso, amor, você não vai sair da minha vida.
Ela abriu o roupão.
— Te espero no nosso quarto. – Virei o rosto.
Estava mais do que claro que Camille não tinha nenhum limite, não havia redenção e nem ela o desejava. Que os dias passassem rapidamente, não conseguiria passar mais tempo aqui ou iria enlouquecer.
No dia seguinte acordei cedo, tomei café e fui para o quintal. O ombro incomodava cada vez menos. Manoela não pode se aproximar, o segurança que não desgrudava de mim estava sempre nos observando. Camille tomava banho na piscina, o seu amante não perdia nenhum de seus movimentos. Foquei a minha atenção no livro em minhas mãos. Desde que acordei não parava de pensar na minha família, em Lara, Rafa, Nicole. Senti os olhos arderem, mas tratei de esconder.
— Amor, essa água tá uma delícia. – Camille deixou a piscina.
Torceu os fios escuros e sentou na espreguiçadeira ao meu lado.
— Quando ficar boa, experimente um pouco. – Aspirei o ar com calma. — Há algo especial que deseja pra nossa ceia de Ano Novo?
— Não, não há. – Fechei o livro, coloquei meu braço sobre os meus olhos. — Há uma coisa martelando em minha cabeça.
— O que, meu amor? – Senti sua mão sobre minha coxa.
O ato me causou repulsa, porém se desejava mesmo sair daquele lugar, não faria nenhuma bobagem. Manter a Camille sobre controle era o melhor por enquanto.
— Como o seu pai foi capaz de te levar aqueles lugares.
— De novo essa história, Yas? – Ela retirou a mão.
Continuei da mesma forma.
— Só quero saber mais sobre você, Camille, no fim nunca soube quem você realmente é. – Tirei o meu braço do rosto e a encarei. Ela me analisava, tocou o meu lábio inferior com o polegar.
— Posso responder, mas em troca quero sentir essa boca. – Meu corpo ficou tenso.
— Seu amante não tá dando conta? – Seu toque era repudiado por meu corpo.
— Ninguém nunca será como você, meu amor. – Camille levantou.
Montou em mim, sobre as minhas coxas. Tentei ao máximo pensar em Lara, somente assim não obedeceria ao meu corpo que implorava para deixar aquela mulher longe.
— Não vou te tocar. – “Aguenta, Yasmin, só mais um pouco.”
— Então eu irei...
— Dona Camille... – Manoela apareceu.
Soltei o ar que segurava, foi um alivio imediato.
— Sim, Manoela. – Ela não levou, sua voz saiu irritada.
Manoela olhou para mim e depois para Camille.
— O almoço. A senhorita ainda não disse o que quer para o almoço.
— Sim, vamos cuidar disso. Quer algo especial, meu amor?
— Não, qualquer coisa tá bom. – Camille levantou.
— Então escolherei algo delicioso. – Ela se aproximou de meu ouvido. — Essa conversa ainda não acabou.
Sorrindo, a mulher se afastou.
— Criança, já trocou o curativo? – Manoela perguntou.
Camille ergueu a sobrancelha.
— Posso dar uma olhada, senhorita? – Ela se dirigiu a Camille, que apenas concordou com um acenar de cabeça.
Manoela se aproximou, tocou o curativo.
— Está tudo bem, criança? – Perguntou baixinho.
— Obrigada. – Ela sorriu.
— Percebi o seu estado, ela chegou a te forçar algo. – Camille ainda estava parada, os braços cruzados sobre o busto.
— Você chegou a tempo. Obrigada mesmo. – Manoela ficou de pé.
— Tá cicatrizando muito bem, o ferimento tá limpo. – Se afastou.
— Uma ótima notícia, logo estará totalmente bem, meu amor. – Camille piscou para mim.
As duas então entraram na casa. Olhei para as minhas mãos e somente naquele momento notei que elas tremiam. Não era medo, era raiva, tanta raiva que me assustava. Precisava sobreviver a tudo isso, mas sabia que uma parte de mim jamais superaria.
Fim do capítulo
Bom dia :)
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patty-321
Em: 15/01/2023
Tomara q se certo a fuga. pega Patrick.
Resposta do autor:
Precisa dar certo, pois Yasmin tá vivendo no seu limite, não tá fácil segurar tudo. Que à justiça com Patrick seja feito, ele pague por tudo.
Logo voltaremos com novos capítulos, tenham paciência. Vai dar tudo certo. Fiquem com a gente até o fim.
Um abraço meu bem.
Tany
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Dessinha
Em: 14/01/2023
Já estava no tempo da Yasmin acender uma esperança nesse peito mesmo, eita sofrimento passar Natal com essa louca perto, ainda mais tentando agarra-la... ah como é péssimo mulher grudando na gente, e o nosso corpo gritando até para Marte de repulsa, aff... coitada.
E Nicole hein?! Teve coragem de enfrentar essa barra...
Resposta do autor:
Yas tá se agarrando a qualquer esperança que possa surgir, ter que aguentar a Camille tá sendo um inferno pra ela. Vai precisar de muita força. Nicole foi muito maravilhosa em sua decisão. Sei que vai enfrentar as consequências, mas ela tá pronta pra tudo.
Como falei no comentário anterior, teremos uns dias sem capítulo, peço um pouco de paciência de vocês minhas lindas. Vamos resolver o problema de Not e logo voltaremos.
Abraços.
Tany
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HelOliveira
Em: 14/01/2023
Acho que a CAMILLE já pode morrer....KKK
Ana só orgulho..
Nicole que bom ter dado esse grande passo, mas sinto que vem coisa por ai
Resposta do autor:
Certamente Camille uma hora pagará por ser esse ser humano ruim. Nossa menina Ana tem se tornado uma mulher extraordinária. Nicole foi muito corajosa só orgulho.
Sim ainda teremos muitas coisas pela frente. Mas infelizmente vamos precisar dar uma pausa aí de umas 2 semana, estamos com problemas de Notbook, nossa querida Letícia não vai poder tá escrevendo, mas logo voltaremos com nosso maravilhoso capítulo. Não desistem da gente.
Um Abraço.
Tany
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