Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 25 - Reconstruir.
Três longos dias havia se passado e a polícia não teve nenhum avanço, nenhuma droga de progresso. As informações que Luna disponibilizou ao delegado não ajudaram em nada, algumas gravações cedidas pelo condomínio só confirmaram o que já sabíamos: Camille havia levado Yasmin. Estavamos em desespero, Amanda estava internada e sem previsão de alta. Sua pressão chegou a picos altíssimos e o médico achou mais prudente que ela permanecesse, evitando assim mais um possível ataque cardíaco ou até mesmo um AVC. A vida de todos ficou do avesso, pedi a Nicole as minhas férias adiantadas, não havia a menor condição de fazer qualquer cirurgia sem pôr a vida de alguém em risco.
A minha mente não tinha espaço para mais nada.
— Você precisa comer. – A minha mãe me empurrou os ovos mexidos. — Por favor, filha...
— Não tenho fome. – Desde aquela explosão no hospital, ela não me deixou nem por um minuto. — Não desce, mãe.
Ela tem dormido em meu apartamento e não voltou a fazer nenhum tipo de comentário sobre o meu relacionamento com a Yas.
— Filha? Como vai continuar a procurar pela mulher que ama se ficar doente? – A encarei no mesmo momento. — Me desculpa não ter entendido isso antes, mas te ver assim só me faz ter a certeza de que esse sentimento é de verdade. Lara, será que um dia você poderá me perdoar?
Eu estava sensível.
— Eu... – Vi os olhos idênticos aos meus ficarem rasos.
Eu deveria... deveria baixar a guarda? Estava cansada, tão, tão cansada.
— Eu te perdoo, mãe.
Ela baixou a cabeça, escondeu a face entre as mãos e então pude ouvir os seus soluços.
— Mãe... - Me agachei ao seu lado, a fiz me olhar.
Dona Telma me abraçou pelo pescoço, chorando igual a uma criança e o meu coração se aqueceu ao perceber que pela primeira vez ela e eu demos um abraço de... amor. Não suportei e chorei junto, estreitei o contato.
— Eu te amo, minha filha, te amo. Vou viver o resto da minha vida te provando isso...
Sempre, sempre quis ouvir aquelas palavras.
— Vou merecer o seu perdão e o perdão da Ana Clara. Eu juro que vou...
Fechei os olhos, me sentia incrivelmente... protegida.
A noite chegou, Rafaela, Antonella, Nicole e Ana resolveram me fazer companhia. Desde que tudo ocorreu, nos aproximamos bastante de Rafa e Nicole, buscando junto de Luna alguma pista, estava sendo uma tarefa difícil. A polícia estava empenhada, uma rede foi formada e com muito custo, conseguimos abafar tudo aquilo, mas seria questão de tempo até que começassem os burburinhos.
— Eu não acredito que o pai daquela desgraçada não sabe de nada. É impossível que não saiba. – Rafaela passava as mãos sobre a cabeça. — Tô cansada de nunca ter nada de concreto.
Os seus olhos estavam vermelhos, inchados, os dias estavam sendo um inferno para nós.
— Deveriamos ir até ele, confronta-lo. – Nicole sentou ao lado da loira, afagou os ombros. — Fazer alguma pressão.
— Não iria resolver. – Sentei na poltrona próximo a janela. — Se nem um sequestro foi capaz de fazê-lo falar, um bando de mulheres não surtirá nenhum efeito.
Mordi a unha.
— A Lara tem toda razão. – Antonella entregou um copo com água a Rafa. — Aquele velho é tão sujo quanto a filha, não irá nos dizer nada.
— Não me conformo que não podemos fazer nada. A dona Amanda tá em um hospital, a Yas, só Deus sabe o que tá passando. – Ana enxugou a face. — Esse velho babaca...
Daria qualquer coisa para ouvir a voz dela, para vê-la nem que fosse por alguns segundos. Se estivesse cara a cara com aquela mulher, não sei do que seria capaz.
— Eu tenho algo pra contar. – Olhamos para Nicole. — Infelizmente, são notícias ruins. Até pensei em deixar para uma outra hora, mas vocês precisam saber. Não seria justo se soubessem por outra pessoa.
— Tem a ver com o seu pai? – Perguntei.
— Sim, infelizmente sim...
— O que descobriu? – Ana perguntou.
— Eu descobri que ele conseguiu subornar alguns acionistas, cerca de cinco por cento das ações podem ser compradas por ele. Se ele concluir a compra, terá a maioria das ações. Temos que alertar o Joaquim e o Alonso, só não sei se esse será o melhor momento. – Era só o que faltava.
— Seu pai é um otário! – A minha irmã bufou.
— Precisamos conversar com o papai primeiro, Alonso não tem condições de lidar com algo assim, é coisa demais. – Apertei a nuca.
— Você tem toda a razão, Lara, não será bom dar mais uma notícia ruim ao Alonso. Vamos conversar com o Joaquim, ele saberá o que fazer. Tem mais uma coisa... – Nicole sentou, ela estava com o Tigrão sobre as coxas.
O bichano estava sob os seus cuidados.
— Ele tem outra família, tem um filho, uma amante... – Ergui as sobrancelhas.
— Nicole...
Rafaela saiu de onde estava, ficando agachada diante dela. Todas a olhamos no mesmo momento. A loira segurou as suas mãos.
— Eu os vi hoje, eles... eles estavam em um restaurante e pareciam felizes. – A sua voz embargou. — Passei horas atrás, até que finalmente vi. Eu sabia, sabia que ele... escondia algo.
As duas se abraçaram, Nicole se acomodou nos braços de Rafaela.
— Ele nunca, nunca... ele nunca nos tratou daquela forma. Ele não podia fazer isso, não podia. Não tinha esse direito, não tinha!
— Você não precisa dele, Nicole, não precisa dele. – Rafa segurou sua face.
— Eu sinto muito, Nicole. – Falei.
Fiquei de pé, não interrompi o contato das duas.
— Talvez eu só esteja pagando por ter escolhido ser capacho do meu pai. – Rafaela ficou de pé. — Não Rafa, não me olha assim, você sabe que é verdade.
— Não diga isso, Nicole. Você não teve muitas escolhas, aquele homem te agredia, te forçava. – Nicole olhava fixamente para a loira.
Eu podia estar ficando louca, mas aquele olhar eu reconheço.
— Não repete isso nunca mais, você me entendeu? – Ana e Antonella me olharam.
Acho que perceberam o mesmo.
— Desculpe. — Nicole baixou a cabeça. — Eu quero acabar com ele.
— De que forma? – Perguntei.
— Vou convencer os sócios a não venderem as ações e vou expor o meu pai. Todo mundo vai saber sobre o tão respeitado doutor Patrick.
— E a sua mãe? O seu irmão? – Ana perguntou.
— Eles precisam sair dessa bolha, a minha mãe precisa acordar. Eu quero tanto que ela consiga se libertar. – Rafa sentou ao seu lado.
— Vamos te ajudar, Nicole, não vamos sair do seu lado. – As duas se olharam, havia uma conexão intensa.
— Pode contar com a gente, Nicole. – Antonella falou.
Ela olhou para cada uma de nós.
— Obrigada. – Pareceu despertar.
Se Yas estivesse aqui, certamente implicaria com ambas.
“Que você esteja bem, por favor.”
— Não faça nada ainda, vamos falar com o meu pai primeiro. Vamos poupar o Alonso, ele não tem cabeça para nada. – Aspirei o ar com calma. — Vamos planejar cada passo, eu já não sei mais o que esperar do seu pai.
— Espere só o pior, ele é capaz de qualquer coisa. Lara, tem certeza que quer se envolver? Já não está sobrecarregada o bastante?
Senti os meus olhos queimando.
— Preciso fazer alguma coisa, a Yas... ela... – A minha voz embargou. — Deus, eu não consigo acreditar que isso esteja mesmo acontecendo.
Levei a mão ao rosto, Antonella veio ao meu socorro e eu não consegui me manter firme, desabei mais uma vez. O meu peito doía, a minha mente não parava um segundo de imaginar aonde e como estaria a mulher que amo.
Eu seria capaz de matar aquela mulher com as minhas próprias mãos.
— Eu sinto muito, Nicole... sinto tanto que esteja passando por isso. – Ela ficou de pé.
— Também sinto muito. – Soltei Antonella e abracei Nicole. — Eu vou estar aqui, Lara, você... é uma grande amiga.
— Você também é uma grande amiga... – Aspirei o ar com calma. — Vamos estar com você.
Estavamos destruídas.
Alguns dias depois.
— Alguém sabe o motivo dessa reunião? – Um dos acionistas perguntou.
Olhei as horas, não tinha cabeça para aquilo. Iria embora, precisava ver como Amanda estava.
— Bom dia a todos. – Patrick entrou. — Que bom que vieram.
— Pode dizer por qual motivo estamos aqui? – O meu pai ficou de pé.
— Claro, mas primeiro irei fechar a porta. – Ana, Hugo e Nicole me encaravam.
Nicole ficou de pé.
— Sentem, por favor. – Ele parecia feliz.
O seu olhar caiu sobre Nicole, um olhar tão frio e assustador. Ela não se intimidou, apenas permaneceu de pé. Depois da reunião em casa, ela tentou falar com os acionistas e foi ignorada.
Estava indo de mal a pior.
— É com muito entusiasmo que divido com vocês uma ótima notícia. – Algo me dizia que não era nada bom. — Depois de intensas negociações com o Roberto e Antônio, anuncio que sou o acionista majoritário do hospital com vinte e oito porcento.
— Do que está falando? – O meu pai ficou em pé. — Que absurdo é esse?
Roberto e Antônio ficaram atônicos, talvez não estivessem cientes que o mal caráter faria uma reunião para anunciar aquilo. Nicole havia conversado com o meu pai, mas não esperávamos que seria tão rápido.
— Não é nenhum absurdo, fiz tudo na lei, meu caro amigo. – Patrick sorriu. — Aqui estão todos os documentos necessários. Pode ler, é tudo legítimo...
— Patrick, quando colocamos as ações à venda, Alonso, você e eu combinamos que ficaríamos de igual...
— Onde tá escrito que eu aceitei isso?
— Seu desgraçado... – Fiquei de pé.
— Olha, doutora Lara, vamos manter o requinte? Não há mais nada a ser feito. Eu sou o acionista majoritário e por tanto, a partir de hoje terei o voto de minerva. A partir de janeiro algumas mudanças acontecerão por aqui...
— Seu infeliz... – O meu pai o segurou pelo jaleco.
— Não, Joaquim, não vale a pena. – Hugo intercedeu. — Não perca o seu tempo com esse monte de lixo. Vocês dois, vocês não sabem a quem deram poder.
Antônio e Roberto se olharam.
— O homenzinho do Alonso. Como vai a busca por sua irmã devassa? – Ele sorriu de uma forma asquerosa.
Me aproximei, tão próximo que desejei sentar a mão em sua cara.
— Não cante vitória antes do tempo, seu monstro. – Falei baixinho. — Logo todos vão saber quem você é.
Ele ergueu as sobrancelhas, olhou ao redor, arrumou o jaleco.
— É isso...
Patrick deixou a sala de reuniões, assim como Antônio e Roberto. Nicole passou as mãos sobre a face. Infelizmente, perdemos aquela batalha. O desgraçado conseguiu o que queria.
— Preciso sair... — Nicole deixou a sala.
Ana e eu seguimos atrás.
— O que vai fazer? – A alcancei no corredor.
— Vou expor tudo o que ele fez. Tenho reunido provas das agressões há anos, vou até a minha mãe e vou mostrar a ela a outra família. – Nicole estava vermelha, era visível a raiva que queimava nela.
— Tem certeza disso, Nicole? – Ana perguntou. — Isso vai te expor também.
— Tá na hora de deixar a covardia de lado. Devo isso a vocês, a Yas...
— Então iremos com você, mas não vá até a casa dela, marque em meu apartamento. É muito mais seguro.
— Vocês não precisam fazer isso.
— Mas a gente vai...
— Somos tuas amigas, Nicole. – Ana tocou o seu ombro.
O seu olhar ganhou uma certa doçura.
Deixamos o hospital, mandei uma mensagem para o meu pai explicando brevemente o que estava acontecendo. Nicole ligou para a mãe e depois de muita insistência, conseguiu convencê-la a ir até o meu apartamento.
— Ela tá demorando demais. – Nicole andava de um lado para o outro.
Olhei as horas.
— Não acredito que ela desistiu. – O interfone tocou.
Ana correu até a cozinha para atender e logo voltou.
— Ela chegou...
— Relaxa, vai com calma. – Nicole acenou em positivo.
Fui abrir a porta e Paola entrou, parecia muito diferente da última vez que a vi.
— Mamãe... – Nicole e ela se abraçaram.
A morena ficou emocionada.
— Filha, o que tá se passando? – Ela nos olhava.
— Mãe, preciso que me escute...
Nicole parecia tão cansada, todos estávamos, tem sido um acúmulo de tantas coisas e nada parecia ter solução, nesse momento a nossa união tem sido o que está nos mantendo lucidas. Minha mãe acabava de colocar algumas xícaras de café sobre a mesinha de centro.
Ela estava se esforçando ao máximo e isso era visível.
— Obrigada, dona Telma. - Nicole agradeceu.
A minha mãe tentou sentar ao lado de Ana, porém a minha irmã se afastou. Eu entendia a Ana, ela estava tomando o próprio tempo. Nicole estava com atenção fixada em um ponto qualquer, até que encarou a mãe e resolveu falar.
— Vai ser muito difícil te contar isso, mamãe, eu juro que tá doendo demais. Por favor, eu preciso que você prometa que não vai fazer nada depois que sair daqui. – Paola franziu o cenho.
— Você está me deixando agoniada, minha filha. Me fala o que tá acontecendo. - A mãe de Nicole levou a mão ao peito, seu semblante aparentava tanto cansaço quanto o nosso.
O que ela deve ter suportado por todos esses anos?
— Esses últimos anos tem sido um verdadeiro inferno pra nós duas. – Paola olhou para Ana, minha mãe e eu. — Elas já sabem de tudo.
— Tudo?
— Tudo.
Ela ficou visivelmente envergonhada.
— Mãe, o papai vem me obrigando a fazer coisas horríveis, coisas que tem ferido muita gente e eu não posso mais deixar que isso aconteça. O que eu descobri tem que ser o suficiente pra você deixar aquela casa, pedir o divórcio. Comecei a buscar coisas sobre ele que poderiam ajudar a derrubá-lo...
— Diz filha, o que foi que você descobriu?
Nicole me encarou rapidamente, seus olhos estavam marejados.
— O meu pai, ele... ele tem uma outra família. – A mãe de Nicole segurou firme no sofá, levou a mão a cabeça, a balançando em negativo.
— Não, não é possível que... não é...
Dona Paola levantou, as mãos tremiam enquanto tentava passa-las sobre a cabeça.
— Aqui, mamãe... – Nicole mostrou a tela do seu celular.
A foto eu já havia visto, nela Patrick estava abraçado a um rapaz que parecia ser um pouco mais novo que ela.
— Aquele... aquele desgraçado. – Paola estava com os olhos marejados.
— Mãe, por favor, nos ajude... – Cruzei os braços, era triste de ver aquelas duas mulheres prestes a desmoronar.
— Eu vou, minha filha, eu vou te ajudar...
As duas se abraçaram, o momento carregado de tristeza foi respeitado por minha mãe e minha irmã. Discretamente, Ana olhou para a minha mãe. Havia muita magoa ali, seria possível que a minha irmã a perdoasse?
Sentia que iria enlouquecer a qualquer momento, olhava para aqueles muros enormes, aqueles homens que não largavam do meu pé nem por um segundo. Camille havia saído há horas. Tentei me aproximar da mulher que parecia ser uma espécie de governanta, mas falhei em todas as vezes.
Deus, como estaria a minha família? Lara? Rafa? Nicole?
— Sua comida. – Manoela deixou sobre a mesinha uma bandeja. — Dona Camille deixou claro que deveria comer tudo ou vai adoecer de novo.
O português com sotaque carregado finalizou.
— Me ajuda, por favor... – Pedi baixinho. — Eu preciso sair daqui.
— Não ficou claro que você não deve falar com ela? – Um dos bandidos que faziam a segurança falou para mim.
— Vai se foder. – Ele apenas ignorou o meu xingamento.
Manoela se afastou, entrando na casa.
“Meu Deus, por favor, me ajuda...”
— Meu amor, cheguei para passar o resto da tarde com você. Tenho uma grande novidade e sei que vai adorar. – Camille se aproximou.
Nem sequer havia ouvido o barulho do motor do carro.
— Como você tem sido muito boazinha, vamos cavalgar. Pro meu azar, não será do jeito que gosto, mas por hora serve...
Ela tentou tocar em minha face, porém não permiti.
— Vamos trocar de roupa? – Ela sorriu.
— Não desejo sair, estou com dor de cabeça. – Ela retirou os óculos escuros.
— Quem disse que foi um pedido? – Aspirei o ar com calma. — Vamos.
Levantei, indo à frente.
Ao chegar no quarto, Camille foi tirando a sua roupa. Ela apontou para uma sacola vermelha. Abri e dentro havia uma roupa de montaria, com desgosto, peguei as peças e fui até o banheiro.
— Não, você vai se trocar aqui. – Ela me puxou de volta.
O meu sangue fervia, mas eu não poderia fazer o que estava desejando.
— Prometi que não vou te forçar a nada, meu amor, então pode trocar de roupa na minha frente. – Virei de costas.
Passei a me despir com rapidez e da mesma forma coloquei as peças. Fiz um rabo de cavalo, Camille também não se demorou. Deixamos a casa dentro de um carro com os vidros escuros, eu não conseguia ver nada. O brutamonte que ela estava trans*ndo quem dirigia, o seu olhar a todo momento a encarava pelo retrovisor.
Era patético.
— Você nem disfarça, otário. – Rolei os olhos.
— Com quem tá falando assim? – Camille me olhou.
— Com o seu amante. – Ela retirou os óculos. — Não vem com essa, tá tão na cara que chega a ser ridículo.
— Não sei do que tá falando. – É claro que ela negaria.
— Ridículo... – Decidi ficar calada.
Depois de quase meia hora, finalmente paramos.
— Você vai amar... – Ela disse, fingindo que nada se passava.
A porta do carro foi aberta, eu esperava que houvesse alguém ali, pois iria pedir socorro na primeira oportunidade, entretanto para o meu desespero, não havia nenhuma outra pessoa além de ela, os seguranças e eu.
Droga, droga...
— Fechei o clube especialmente para nós...
Olhei ao redor e só havia um vasto pasto, uma casa de dois andares e mais à frente uma grande estrutura que parecia ser o estábulo.
— Vem...
A segui até a grande estrutura de madeira, o lugar era altamente luxuoso. Havia dois cavalos de pelagem negra a nossa espera, ambos selados. Me dirigi a um deles, mas fui impedida.
— Não, não, vamos nesse aqui as duas... – Franzi o cenho. — O que? Achou mesmo que eu te deixaria ficar em cima de um cavalo sozinha?
Não respondi.
— Você vai na frente e eu logo atrás, bem grudadinha... – Senti asco. — Você vai nos acompanhar. Pode subir...
Ela falou a um dos seguranças. O seu amante apenas olhava a tudo.
— E você, bonitão, não vai no passeio romântico? – Ele me encarou com fúria.
— Já disse que não...
— Eu não acredito, então se poupe.
Subi no cavalo e Camille fez o mesmo, segurou as rédeas e grudou em mim. Tentei me manter afastada, mas a pequena sela não permitia. Deixamos o estábulo a trotes, o sol certamente partiria dali a duas horas. Tentava pensar em uma forma de fugir, a minha cabeça trabalhava a todo instante em um plano de fuga.
— Sempre quis fazer isso com você, meu amor. Viu como é melhor ser boazinha? Temos muito o que viver, tenho muito o que te mostrar. Dá uma chance a nós duas, Yas, eu te amo com toda a minha alma...
Que alma? Eu só queria que esse pesadelo acabasse de uma vez.
— Você terá espaço pra pensar...
— Por que não fica com o seu amante? Ele parece bem mais interessado. – Camille me apertou pela cintura.
— Ele é só uma distração, meu amor. Você não quer me satisfazer, então preciso procurar por alguma diversão. Ele não chega aos seus pés, meu amor...
— Você me dá nojo...
— Basta você me querer, meu...
O som do toque do seu celular a interrompeu.
Camille usou uma das mãos que seguravam as rédeas para pegar o celular e quando o fez, a empurrei com toda a minha força, a fazendo cair do animal. Segurei as rédeas com firmeza e dei um tapa forte na traseira do cavalo, que disparou imediatamente.
— Vai atrás dela...
Ouvi Camille gritar, mas nem sequer olhei para trás, senti o vento em meu rosto e uma fagulha de esperança se acendeu em meu coração a cada metro que me afastava daquela mulher, mas a minha liberdade não durou muito, senti um impacto forte no ombro e ele me fez ir ao chão com força. Gritei de dor, coloquei a mão sobre e foi quando vi que estava sangrando muito.
Eu não consegui ficar com os olhos abertos, a dor era insuportável.
— Precisamos leva-la a um hospital? Ela tá ardendo em febre. – Não conseguia abrir os olhos.
— Não será necessário, a bala atravessou. Ela terá que ficar de repouso absoluto... – Uma outra voz falou, aquela eu não reconhecia.
— Obrigada, doutor, aqui está o seu dinheiro e não preciso lhe lembrar da parte da discrição.
— Não se preocupe e dê a ela todos os remédios que falei. As gazes precisam ser trocadas e o ferimento limpo. Em poucas semanas ela estará totalmente recuperada...
— Leve ele até a saída...
— Sim senhora.
Ouvi a porta sendo aberta.
— Cadê aquele desgraçado?
— Já o despachei, senhorita, ele não vai mais causar problemas. Limpamos toda a área, ninguém viu nada. Posso garantir.
— Ótimo! Que fique de aviso a todos vocês, se ousarem tocar nela, terão o mesmo fim que aquele desgraçado. Agora vá...
— Sim, senhora.
— Precisa de alguma coisa, Camille? – Era o seu amante.
— Não permita que algo assim volte a acontecer, me ouviu?
— Ela foi a culpada!
— Não me interessa, você me disse que esses infelizes estavam treinados. Olha a merd* que aconteceu.
— Não vai voltar a acontecer. Posso garantir...
— Se você ferrar com tudo, te levo comigo. Agora saia daqui seu infeliz...
Ouvi a porta sendo fechada.
— Meu amor, você vai ficar bem... – Senti o toque em meu rosto. — Ainda tá com febre, mas vou cuidar de você.
Continuei a fingir que estava dormindo, até que finalmente depois de algumas horas ela resolveu deixar o cômodo. Abri os olhos, olhei para o meu ombro direito e ele estava imobilizado. Tentei me mexer, mas fazê-lo, senti uma dor dilacerante.
Tentei controlar a respiração.
— Deus...
Isso iria complicar tudo, toda e qualquer tentativa de sair dessa merd* de lugar foi para o ralo. Ficaria totalmente à mercê daquela maluca. Por alguns segundos desejei que aquela bala houvesse atingido um outro lugar, assim aquele pesadelo poderia ter chego ao fim.
2 dias depois.
— Vou me ausentar, mas a noite estarei de volta. Não tenta mais nenhuma idiotice, Yasmin, a última quase te custou a vida.
— Me deixa ir, Camille, me deixa ir...
Ela segurou a minha face.
— Não, eu não posso, meu amor, não posso viver sem você.
— Eu prefiro morrer do que passar mais um dia ao teu lado.
— A única forma de você se livrar de mim será se me matar, Yasmin. – Ela ficou de pé. — E como eu sei que jamais teria coragem, vai ter que aprender a gostar da sua nova realidade...
Ela deixou o quarto.
— Não tenha tanta certeza disso...
Procurei pela faca de cozinha que eu havia escondido embaixo do colchão, toquei na lâmina e a empurrei um pouco mais. Se essa fosse a única forma, então eu teria que fazê-lo. Não suportaria ficar mais nesse lugar, esperaria o momento certo.
Duas batidas na porta e Manoela apareceu com uma bandeja.
— Seu café da manhã, senhorita. – Virei o rosto para o outro lado. Não queria encará-la, não depois dos apelos que fiz e que foi ignorado. — Você pode buscar pra mim o mel? Esqueci na mesinha na cozinha.
Ela pediu ao segurança, que apareceu hesitar, porém o fez.
— Eu sei que tá escondendo embaixo do colchão. – A olhei em imediato. — Achou que eu não ia notar? Não faça nenhuma bobagem, garota, eu vou te ajudar a sair daqui. Espere somente até a sua recuperação...
Arregalei os olhos.
— Como posso confiar em você? – O seu olhar me analisou.
— Terá que esperar, senhorita. Tenha um pouco de paciência, quando pudermos falar com mais tempo, vou te explicar o que faremos. Pode fazer isso?
Abri a boca de leve, mas quando pensei em dizer algo o segurança retornou.
— Obrigada, querido. Agora coma, eu fiz panquecas americanas. O mel tá fresco, é de cultivo do meu marido.
— Obrigada...
Eu podia acreditar nessa mulher?
Passei a comer em silêncio e depois que terminei, discretamente ela retirou a faca de seu esconderijo e logo os dois deixaram o quarto. Quanto tempo demoraria para que eu pudesse mover o meu braço? Quanto tempo teria que esperar?
A noite chegou e Camille logo adentrou o quarto, ela parecia de mal humor e foi direto para o banheiro e eu agradeci. Já havia jantado e feito a troca das gazes. Depois da nossa rápida conversa, Manoela não voltou a dizer mais nada.
Alguns minutos depois, Camille saiu do banheiro totalmente despida.
— Tenho uma novidade pra te contar. – Fixei o meu olhar em minhas mãos. — O hospital da sua família tá em crise.
Fingi não ligar.
— Soube por fonte segura que a sua mãe foi parar no hospital. – Nesse momento a encarei.
— Do que tá falando?
— A minha sogra ficou muito mal com o seu desaparecimento e quase morreu...
Esqueci do meu ombro machucado e fiquei de pé, indo para cima de Camille, que passou a gargalhar.
— Sua doente de merd*... – Usei o meu braço bom para lhe prensar contra a parede.
— Amor, não...
— Cala a porr* dessa boca... – Coloquei pressão e só parei quando fui puxada pela cintura por um dos bandidos.
— Olha o que você fez, o seu ferimento está sangrando... – Ela, sem a menor vergonha da sua nudez, tentou tocar na minha ferida, mas a afastei com safanão. — Não testa a porr* da minha paciência, Yasmin.
— Vai se foder, sua doente. Eu vou matar você, Camille!
O meu ombro passou a latejar e a sangrar, me desfiz do contato do grandalhão e entrei no banheiro, fechando a porta com força e a trancando. Passei a tacar tudo no chão, o sangue escorria por meu braço e sujava o chão inteiro.
Sentei no chão, abracei o meu próprio corpo... eu iria enlouquecer.
— Abre essa porta, Yasmin, abre a porr* dessa porta...
Eu não respondi, então segundos depois ouvi o estrondo e a porta foi ao chão. A dor insuportável me fez perder as forças. Manoela se agachou ao meu lado, eu apenas via a tudo sem esboçar nenhuma recusa.
— Chega de showzinho ou não vai ficar boa. – Camille estava vestida com um robe. — Dê um banho nela e limpa essa bagunça, Manoela.
— Sim, senhora...
Manoela me encarava.
— Vamos, menina...
Depois do banho, as gazes foram trocadas e Manoela convenceu Camille que eu deveria tomar um remédio para dormir. Tomei a pílula e poucos minutos depois, não podia mais controlar os meus olhos e dormi imediatamente. Acordei no meio da madrugada, o meu ombro estava dormente.
Fiquei de pé, Camille dormia. E se...
— Não faça isso, Yas...
Os seus olhos se abriram.
— Já estou no inferno. – Ela sentou.
— Poderíamos ser felizes, Yas, por que não me aceita de uma vez?
Não pude deixar de rir, fui até a poltrona e sentei com cuidado.
— O dia que aceitar, estarei tão louca quanto você.
Abri a janela, o céu não brilhava tanto.
“Preciso acreditar que vai dá certo. Vai dá certo... tem que dá.”
Fim do capítulo
Adiantei, não terei muito tempo essa semana.
Boa noite, meninas. :)
Comentar este capítulo:
Dessinha
Em: 09/01/2023
Nicole cada vez mais presente, né? Merece uma vida que seja vida mesmo, não imagino como vivem tantas Nicoles por aí, e tantas mães da Nicole nem se fala. Só espero que Yasmin saia viva dessa, porque vou te contar... que sugeirada toda essa. A Camille nem deve morrer, tem que pagar por tudo isso num manicômio, vê se tem cabimento uma coisa dessa, ainda arrasta um elemento pra servir de amante.
E que venham os amores de Nicole e Rafa, pra ve se a gente consegue ficar bem ainda com essa loucura toda. Abraços e sucesso!
Resposta do autor:
Devem sim existir muitas Nicoles e mães de Nicole por aí, que essas pessoas possam ter a mesma coragem delas, que sejam mulheres livres, sem amarras, que elas tenham em suas vidas pessoas que as amem de verdade, sem traumas. Todas as mulheres merecem viver suas vidas de forma livres.
Que a Yas possa dar um fim na Camille , que ela também possa se libertar, venha ser uma MULHER TOTALMENTE LIVRE.
Depois desse caos todo, talvez Rafa e Nicole começam a pensar um pouco nelas e se sentimento que só cresce. Elas merecem muito um amor recíproco.
Obrigada pelo comentário, em breve sai mais um Cap.
Um grande Abraço. Tany
patty-321
Em: 09/01/2023
Tadinha da Yasmin. Que tormento. todas sofrendo muito. Bjs
Resposta do autor:
Todas estão nesse momento procurando forças pra conseguir passar esse período de angústias e sofrimento, que tudo volte ao normal pra elas viverem seus amores.
Beijos meu bem.
Tany
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Lea
Em: 09/01/2023
Está dando tudo errado.
Parece que,a paz está a cada dia mais distante!
*
Bom tê-las de volta, meninas!
Bom começo de semana!
Resposta do autor:
Elas precisam dessa paz de volta, mas elas são fortes, vão aguentar até tudo ficar bem.
Obrigada pelo seu comentário minha querida.
Uma ótima noite.
Beijos Tany
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HelOliveira
Em: 09/01/2023
Ferrou de todos os lados....o lado bom é que a mãe da Nicole se separando metade das cotas passa a ser dela....aí quero ver...
Tadinha da Yas....
Resposta do autor:
Nesse momento ela tá muito focada em fazer justiça, fazer o pai pagar pelos anos sofrido, só pelo fato da mãe se desprender do pai, já é uma grande vitória. Yasmin tá passando por uma barra, toda força possível a ela..
Obrigada pelo seu comentário.
Tany
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Marta Andrade dos Santos
Em: 09/01/2023
Misericórdia senhor.
Resposta do autor:
As coisas não estão nada fáceis para nossas meninas :(
Abraços ,Tany
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JeeOli
Em: 09/01/2023
estou gostando da Rafa e Nicole, espero que a Yas se livre logo disso e possa viver em paz o amor com a Lara
Resposta do autor:
Rafa e Nicole estão se conectando de uma forma tão legal, uma dando apoio a outra,desenvolvendo sentimentos. Lara vai precisar de muita paciência e fé pra ter Yas de volta.
Obrigada por comentar.
Um abraço, Tany.
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