Capitulo 15
Capítulo XV
— Fran, você tá tendo um troço? — Amanda perguntou assustada, quando a amiga retornou ao sofá.
— Acho que vou ter. — Estava transtornada.
— O que ela disse?
— Nada.
— E por que você tá assim parecendo que vai morrer?
— Eu a beijei.
— Que??
— Shhhh! Eu não sabia o que falar.
— Cara, você pirou? Era pra dar uma cantada.
— Eu não sei dar cantadas, Amanda!
— Shhhh! Fala baixo, mulher.
— O que eu faço? Eu quero sair correndo, mas tô nesse cu de cidade estranha, nem sei como fazer para voltar pro abrigo.
— Disfarça, ela tá vindo.
“Apenas entregue a pipoca e olhe para a TV, não faça movimentos bruscos, não olhe para ela”
— Tome, Amanda. — Entregou o balde de pipoca, e depois entregou as duas latas de refrigerante. — Você esqueceu lá.
— Brigada. — Amanda respondeu, Francine não conseguiu falar nada, estava explodindo de tão vermelha.
— O filme terminou? Já é outro? — A médica perguntou, dez minutos depois.
— Acabou. Vamos ver mais algum? — Amanda respondeu.
— Amanhã temos que acordar cedo, acho melhor a gente dormir.
— E a pipoca?
— Pode terminar de comer.
— Nem, tô cheia. — Você quer, Fran?
— Não, acho melhor a gente dormir mesmo.
— Se precisarem de alguma coisa, podem me chamar.
— Onde fica seu quarto? — Amanda perguntou.
— A última porta à direita.
— Beleza, doutora, qualquer coisa Fran bate lá para pedir.
Francine lhe dispensou um olhar congelante, Amanda segurou o riso, Clarisse desligou a TV e saiu do sofá.
— Boa noite, meninas, amanhã sairemos às sete, porque você pega às oito no banco, não é?
— Não, tá de recesso já. — Francine respondeu.
— Então podemos sair às oito, acordem um pouco antes, para dar tempo de tomar café, combinado?
— Fechou. — Amanda respondeu, e seguiram para seus quartos.
Amanda entrou no quarto e se atirou na cama, sentada.
— Essa é a minha. Que troço confortável, olha isso. — Disse pulando mais um pouco na cama. — Testa seu colchão aí.
— Mano, eu ferrei tudo e você tá falando de colchão??
— Ninguém morreu, ela não te expulsou de casa, por que a neura?
— Ela deve tá muito puta comigo.
— Foi tão ruim assim?
— Não, foi muito da hora, foi a coisa mais gostosa que já fiz na minha vida. Caralh*, eu beijei uma mulher!
— Ela te zoou? Te empurrou? Te mandou a merd*?
Francine sentou na cama e abriu um sorrisinho nostálgico.
— Ela deixou.
— Sério??
— Sério, ela foi na onda.
— Ela também tá a fim!
— Fala baixo, porr*.
— Ela não te recriminou, nem nada? Será que ela odiou?
— Não, pelo menos não pareceu que ela tenha odiado. — Sorriu de novo. — Ela colocou as mãos na minha cintura e tudo.
— Ela te agarrou?
— Mais ou menos, ela me segurou contra o corpo dela, e foi muito foda, eu fiquei colada nela, ela tem uns peitos gostosos pra caralh*.
— E ela manda bem?
— Meu, ela beija muito bem, nem tô acreditando, pivete.
— Ela tem uns trinta anos de experiência no assunto, né? — Amanda riu.
— Como vou olhar para a cara dela amanhã? Eu estou morrendo de vergonha.
— Tá com vergonha agora, mas gostou, né safada?
— Foi muito bom, você não faz ideia, eu não posso morrer sem fazer isso de novo.
— A doutora tem namorada, esqueceu?
— Na hora eu não pensei nisso. Ainda bem.
— Vai ver ela estava esperando você completar dezoito para te dar uns pegas.
— Será? Poxa, não faz isso, não me enche de esperança, você sabe que estou doente por essa mulher.
— Já conversei várias vezes com você sobre isso, ela não é para o seu bico, a doutora namora coroa granfina, já era para você estar partindo para outra.
— Mas eu não consigo, Mandy. — Deitou-se na cama, com as mãos cobrindo o rosto. — Eu não consigo tirar essa mulher da minha cabeça, nem do meu coração, eu tô apaixonada pra valer.
— Você vai se machucar feio.
— E se ela também estiver a fim de mim?
— Por causa do beijo? Vai ver ela não interrompeu porque ficou apavorada com sua ousadia, congelou, saca?
— Ahhhhhh! Eu quero sumir!
— Encare as consequências, princesa enamorada. Quis beijar a titia, agora aguenta.
— Culpa sua, que ficou me instigando a ir atrás dela.
— Mérito meu, você quis dizer. Graças a mim você beijou a doutora.
— Me mata, por favor.
— Melhor a gente calar a boca e dormir de uma vez, enquanto você está aí nessa consumição, doutora Clarisse já deve estar roncando.
Clarisse estava parada diante do espelho no banheiro, com a boca cheia de espuma e a escova de dentes parada na mão. Estava naquela posição há pelo menos cinco minutos.
“Eu devo estar ficando louca, talvez eu tenha exagerado nos tarjas pretas durante minha última crise depressiva, talvez eu esteja desenvolvendo algum grau leve de esquizofrenia. Vou marcar uma ressonância. Meu Deus, o que estou fazendo? O que é isso que estou sentindo agora? Tomara que seja um sopro no coração, vou marcar também um eco”
Interrompeu sua divagação ao ouvir o bip do seu celular, anunciando nova mensagem. Terminou de escovar os dentes e foi até a cama consultar o celular, era uma mensagem de Milena.
queria você aqui na minha cama agora... ainda está com seu cheiro
Não se sentiu à vontade para responder, ao mesmo tempo em que se sentia mal por ter traído Milena, sentia-se eufórica com a recordação do beijo.
“Não posso perder o controle de novo, preciso me recompor”
Demorou para adormecer, mesmo colocando música clássica para relaxar, o que costumava funcionar. No outro quarto, uma das hóspedes também levou horas para finalmente dormir, lidava como podia com uma crise de ansiedade que emergia.
Clarisse bateu na porta do quarto onde as garotas dormiam por volta das 7:30h, as duas ainda dormiam pesadamente.
— Que lugar é esse? — Amanda sentou-se na cama desorientada.
— Levanta, estamos atrasadas. — Francine disse já de pé.
— Ah... A casa da doutora. — Coçou os olhos ainda com sono. — Meu, você beijou ela ontem! Lembra?
— Não, eu esqueci completamente do melhor e pior momento da minha vida. É claro que lembro. Será que dá para fugir por essa janela?
Francine tentava abrir um janelão de alumínio na lateral do quarto, quando conseguiu colocou a cabeça para fora.
— Tem piscina, que da hora.
Amanda saiu da cama e foi até a janela também.
— Francinalva, você precisa namorar com a doutora, a gente nunca mais ia precisar tomar banho em chafariz de praça, ia ter essa piscina à disposição, imagine só?
A porta se abriu assustando as duas, Francine soltou um grito apavorado.
— Bom dia, meninas, eu embalei sanduíches para vocês, não vai dar tempo de tomarem café, já é quase oito. — Clarisse disse da porta, já arrumada para ir trabalhar.
— Valeu, dona, me troco em dois minutos, bom dia também. — Amanda disse, Francine apenas a encarou apavorada.
— Você viu como ela olhou para mim? Ela deve estar putaça comigo. — Francine disse com nervosismo.
— Relaxa, mano, foi só um beijinho. E você precisa ser mais simpática com ela, não é assim que você vai conquistá-la, você nem respondeu o bom dia.
— Eu estou quase tendo um troço aqui e você fica fazendo piada. — Pegou as roupas em cima da cômoda e foi para o banheiro.
Já no carro, Amanda seguia no banco da frente papeando com a médica, Francine ia em silêncio no banco de trás, mortificada e contando os minutos para chegar no abrigo, já havia devorado seu sanduíche.
— Seu carro é muito maneiro, doutora, mó espaçoso, deve dar até para dormir aqui. — Amanda disse depois de uma mordida no seu pão.
— Nunca tentei.
— Já fez saliências aqui? Deve ser melhor que motel.
— Também nunca tentei.
— Se eu tivesse um carro desses ia morar nele quando saísse do abrigo.
— Você tem mais um ano lá, não é?
— Sim, vai ser o pior ano, vou perder minha Francinalva. — Disse rindo olhando para a amiga atrás.
— Já sabe como vai se manter depois que sair de lá? Vai procurar algum parente?
— Vou procurar emprego, uma hora essa tragédia ia ter que acontecer, né?
— Trabalhar não é tão ruim, depende do emprego.
— Eu fui fazer meu currículo para começar a entregar, mas daí me dei conta que não tinha o que colocar lá além do meu nome e idade, daí desisti.
— Tem que colocar sua escolaridade também. Você pode colocar seus conhecimentos extraprofissionais, como o que você entende de informática, ou outras habilidades.
— Só sei navegar na internet, isso não conta muito, né?
— Não. Mas você pode usar o ano que vem para estudar outras coisas, fazer cursos gratuitos, oficinas, ler alguns livros técnicos.
— Não gosto de ler, não.
— Que absurdo... — Francine resmungou baixinho.
— Falou alguma coisa, chatona? — Amanda perguntou.
— Não.
— Pode participar da conversa, Fran. — A médica disse.
— Tá bom.
— Nem ganhei seu bom dia hoje. — Brincou.
— Desculpe. Bom dia.
Clarisse parou o carro na frente do abrigo, não desligou o motor.
— A senhora não vai estacionar lá dentro? — Amanda perguntou.
— Ainda não, só mais tarde.
— Tá beleza, valeu, vou nessa então. — Amanda saiu do carro, Francine saiu também, mas Clarisse a chamou.
— Fran? Entra aqui um pouquinho.
A adolescente se virou para a amiga, sem saber o que fazer.
— Eu não quero ficar sozinha com ela, Mandy, me ajuda. — Cochichou.
— Diz que tá com dor de barriga e corre para o banheiro.
— Argh, não.
— Entra lá, ela não vai te morder.
Contra a vontade, entrou no carro, sentando de forma tensa no banco do passageiro.
— Eu não tomei café, me acompanha na padaria? Te pago um achocolatado.
Francine percebeu que era hora de assumir seus atos, abandonou sua posição defensiva.
— Claro, assim a gente conversa um pouco.
— Massa. — Clarisse respondeu em tom brincalhão e seguiu para uma padaria em outro bairro.
Já acomodadas numa mesinha mais ao canto, Clarisse olhava sem pressa para o cardápio, era uma padaria mais requintada, causando certo estranhamento em Francine.
— Isso aqui é chique, nem parece padaria.
— Mas tem misto quente, quer um? — Disse ainda com o rosto enfiado no menu. — É com peito de peru.
— Quero.
— Hoje vou te acompanhar no misto. — Ergueu o braço e fez os pedidos à garçonete, voltou sua atenção à jovem.
— Será que esse troço de morango é bom?
— Acho que é tipo um milk shake com nome gourmet, deve ser bom.
— Se eu não experimentar, não vou saber se é bom, não é?
— É assim que funciona. — Clarisse a encarou com um sorrisinho, Francine se deu conta do duplo sentido do que havia acabado de falar.
— Você não está brava comigo?
— Não.
— Que bom.
— Foi premeditado? — Perguntou Clarisse.
— Não sei.
— Não sabe?
— Não sei o que é premeditado.
— Ah. Você planejou?
— Não, eu só queria te abordar sozinha, falar alguma besteira, sei lá.
— Daí mudou de ideia.
— Eu não consegui falar nada com nada.
— Foi a estreia do piercing?
Francine riu.
— Foi.
— Eu acho que você me beijou só para poder inaugurar o piercing com alguém.
A adolescente estava aliviada com a abordagem leve daquilo que lhe roubou seu sono e tranquilidade.
— Amanda não quis porque é hetero, só sobrou você.
— Imaginei.
As bebidas e comidas chegaram, finalmente Clarisse conseguiu comer algo, mais cedo tentou comer e não conseguiu, tamanha a angústia.
— Posso dar seu presente de aniversário junto com o de Natal?
— Você vai me dar dois presentes?
— Sim.
— O que vai ser?
— Duas coisas úteis.
— Mas o que é?
— Não se conta presente, tem que ser surpresa.
— É de comer?
— Não.
— Eu não tenho grana para te dar presente de Natal.
— Ficarei totalmente satisfeita com um abraço apertado, juro. Gostou do troço de morango?
— Adorei, mas é caro, é o preço de quinze Toddynhos.
— Se você gostou, está ótimo para mim.
— Eu gostei.
Francine respondeu a encarando, as duas sabiam que ela estava falando do beijo de ontem.
“Controle sobre sua vida, controle, lembre-se do controle”
A médica desviou o olhar depois de alguns segundos, o mesmo arrepio da noite passada correu por seu corpo.
— Fran, você sabe que isso não pode acontecer novamente, certo?
— Sei sim. Vou considerar como um presente de aniversário.
— Ótimo, use seu piercing com outras pessoas. — Sorriu.
— Fechado, doc.
— Preciso ir para o abrigo, estou bem atrasada. — Clarisse trouxe a realidade de volta para aquela mesa.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/01/2023
A coisa foi boa.
Resposta do autor:
Clarisse q o diga! Gostou da ousadia
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Zaha
Em: 13/01/2023
Oieee!!
Nossa, Fran ficou sem ação , quase tendo um treco e Amando toda relaxada! Incentivou e continua dando esperança e Fran agora vai ficar mais atrapalhada e boba ainda !!
Eu tava era rindo da reação de Fran dps que fugiu da cozinha...imaginando mil coisas . Se Clarisse tivesse chateada daria pra notar, mas no medo nem percebemos nada .. só alimentamos mais medo
Clarisse TB gostou, mas deu uma pirada TB! Vixi, abraçou e tudo, bem percebeu, mas ainda bem que é madura e levou bem a coisa. Lógico que TB foi pq gostou, se fosse outra pessoa iria reagir diferente.
Vamos ver o que vai passar a partir de agora!! Como Clarisse vai ligar com isso....vai continuar com Milena, vai contar? Que vai fazer ? Ela já sente algo e sabe que sente, mas sabe que não deve, principalmente nessas circunstâncias. A etapa de se afastar já passou ou de n querer ver TB!!!
Espero logo o próximo capítulo!!!
Beijos
Resposta do autor:
Amanda quer ver o circo pegar fogo... rs
Clarisse tentou a tática do vamos manter a calma, pra não deixar a bichinha ainda mais ansiosa, mas acho q essa calma não vai durar muito.
Bom findi, Lai!
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Lea
Em: 13/01/2023
Coutada da Francine, não conseguiu nem dialogar.
A Clarisse,foi até legal no dia seguinte. Pelo fato de ser médica,creio que ajudou bastante no diálogo do dia seguinte.
Amanda é uma figura.
*
Bom dia, Cristiane!
Resposta do autor:
Francine travou, ainda bem q Clarisse a destravou com sucesso... rs
Ah sim, Clarisse foi na tática de "ok, tá tudo bem, mas q não se repita", pra pegar leve.
Um ótimo findi, Lea!
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patty-321
Em: 12/01/2023
Bem difícil resistir doutora.ta bolada e fingindo naturalidade. Mas a abordagem dela foi profissional para não despertar uma crise na Fran.
Resposta do autor:
Clarisse tá mais perdida q cego em tiroteio, mas tem q manter a pose de médica adulta para deixar francine menos doida... rs
Abraços! Bom findi, Patty!
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Christina
Em: 12/01/2023
a Clarisse tá em fase de negação, pq tá na cara que ela tá mais que envolvida pela Fran e que essa relação com a Milena não tem futuro... Ela querendo que a Fran beije outras? Hahahaha duvido que ela não vai ficar enciumada.
Adoro a Amanda, a bicha não tem papas na língua kkk
Resposta do autor:
Ah com certeza Clarisse tá em negação total, acha que vai continuar sua vida tranquila de namoro morno por muito tempo, coitada.
Tô doida pra colocar Clarisse vendo Francine beijar outra... rs Só pra vingar.
Obrigada por ler e comentar!
Bom findi!
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HelOliveira
Em: 12/01/2023
Quanto tempo Clarisse vai resistir essa tentação?
Tô curiosa para saber qual vai ser o presente.....
Milena tem que procurar outra pq o coração da doc já tem dona..
Resposta do autor:
Clarisse não é de ferro, tá com os 4 pneus arriados, vai ser difícil resistir às peripécias de Francine.... rs
Milena sobrou, coitada, mas ela ocupa o posto oficial. ;)
Abraços, bom findi!
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