Capitulo 27 - Cruzando a linha do outro lado: Parte 1
Inserção de aviso obrigatório:
Conforme regras do site, devo deixar o alerta de que há menção do seguinte assunto no presente capítulo (e nos próximos também) :
- Relacionamento aberto
Boa leitura!
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Lorena foi ao trabalho bastante ansiosa, pois à noite iniciaria uma nova jornada em sua vida, no primeiro dia de aula da faculdade. Quando foi chegando o horário de bater o ponto, a sous-chef foi até sua namorada, que parecia se ocupar com mais tarefas do que o normal para aquele dia.
- Amor, teria condições de você me levar hoje na faculdade?
- Completamente sem condições, Lorena, eu tenho um monte de coisa para fazer aqui.
- Mas ontem você disse que me levaria...
- Eu não sabia que ia estar tão ocupada hoje! Por que não pede um carro por aplicativo?
- Você sabe que em cima da hora assim eles demoram um século, vou acabar me atrasando.
- Vai de metrô então, ônibus, sei lá.
- Tudo bem, eu dou meu jeito.
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Às pressas, Lorena conseguiu ir de transporte público para a faculdade. Teve sua primeira aula em análise experimental do comportamento e, na saída, ficou na frente de um bar enquanto a chuva que se iniciara no começo da noite, típica naquele período do ano, não dava trégua.
“Mari, você ainda está no restaurante?”
“Estou sim, lotou agora à noite. Parece que a chuva teve efeito contrário e atraiu mais clientes.”
“Ah sim...”
“Por quê? Já está em casa?”
“Já sim. Amanhã a gente se fala, beijos, amo você.” – Lorena mentiu.
Um pouco apreensiva, Lorena tentou pedir um carro por aplicativo por três vezes. Em todas, cancelaram.
“Você está demorando. Já pegou o Mariano e a Lilian lá no André?” – Uma mensagem de Fernanda apareceu na tela de notificação do celular de Lorena.
“Não, mas já conversei com o André para os meninos dormirem lá essa noite, estou esperando a chuva passar, está caindo um toró aqui na região.”
“Você nem saiu da faculdade ainda? Quer que eu vá lhe buscar?”
“Não vai dar trabalho? Você trabalha pela manhã.”
“Você também, oras. Estou saindo de casa.”
“Realmente não tem necessidade, Fernanda! Deixa disso!”
“Para, né. Estou aqui para isso. Já estou indo.”
Após quase uma hora, Fernanda apareceu em frente a sua antiga faculdade.
- Eu nem sei como lhe agradecer, Fer, sério, você me salvou de verdade.
- Você bebeu? – Fernanda questionou, sentindo cheiro de hálito alcoólico.
- Tinha um pessoal da sala no bar, eles me chamaram para acompanhar.
- Entendi.
- Fernanda, o que você acha do tema ‘relacionamento aberto’?
- Como assim?
- O que você acha? É contra? A favor?
-Sei lá, nem sei se é um assunto a ser debatido como contra versus a favor. Vai da decisão do casal. Por quê?
- Hoje a Mari estava cantando a bola sobre isso à tarde. Só jogou assim, como quem não quer nada. Eu me interessei pelo assunto e parece que ela não gostou de eu ter feito várias perguntas a respeito.
- E que perguntas foram essa?
- Perguntei sobre regras, limites, essas coisas. Depois disso ela mudou um pouco comigo.
- Vai ver ela estava lhe testando.
- E que droga de teste é esse? Se ela não está interessada em abrir, por que comentou? Ela sabe que sou curiosa e faço perguntas.
- E você, está interessada?
- Não sei... – Lorena tentou esconder o sorriso que dizia o contrário.
- Pois parece que está. Assim, muitos casais funcionam perfeitamente dessa maneira. Tem casais que abrem por um tempo para curtir, tem outros que abrem como uma solução alternativa para manutenção do relacionamento. Não adianta nada você querer abrir para tentar remendar um relacionamento que aparentemente não está dando certo.
- Mas foi a Mari que iniciou o assunto, não eu.
- Se ela propuser e você sentir que é hora de abrir, então o faça.
- Vou pensar a respeito. Aliás, eu marquei com o pessoal de fazermos uma resenha lá em casa sábado à noite. Tudo bem para você?
- Nossa, faz tanto tempo que não participo de uma resenha de estudantes universitários!
- Falou a velha! – Lorena riu. – Só alguns colegas de classe com quem fiz amizade, nada mais. É só para nos conhecermos melhor. Eu faço os petiscos e compro as bebidas, sem problema.
- Não tenho nada contra, inclusive sinto saudade de resenhas, mas por que não combinou com o pessoal no restaurante?
- Porque a Mari deu chilique. Mandou mensagem dizendo que nesse sábado já tem várias reservas para jantares formais e universitários bêbados só fariam barulho e poderiam atrapalhar o ambiente. Fora que agora eu folgo aos sábados, era capaz de ela me chamar para ajudar se eu ficasse por lá.
- Nossa... o negócio deve estar bom para recusar cliente assim.
- E nem está tão bom assim. Nesses últimos dias lotou mais, mas ultimamente, por causa dos cancelamentos virtuais que o pai sofreu, isso respingou nela.
- Não é para menos.
- Eu nem posso falar nada porque aquele restaurante é meu ganha-pão.
- Já pensou em trabalhar em outro lugar? Agora você tem experiência, pode ir para qualquer outro restaurante.
- Mari ainda é minha namorada, não quero deixá-la na mão.
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No meio da semana, enquanto Fernanda trabalhava, ouviu algumas batidas na porta do escritório compartilhado. Era Thomás, trazendo boas notícias:
- Você checou seu e-mail? O processo do Hugo foi distribuído. É o juiz Dirceu quem vai julgar!
- Está brincando! – Fernanda abriu um sorriso de orelha a orelha. – A primeira instância é nossa!
- De quem vocês estão falando? – Noemi os interrompeu.
- Do juiz Dirceu, ele sempre deu decisões favoráveis em processos parecidos com o nosso.
- Nossa, eu não vou com a cara desse juiz.
- Por quê? – Fernanda indagou.
- Liberal demais nos costumes para mim.
- Oi? – Thomás não se conformou.
Fernanda então fez um sinal discreto para ele parar.
- Prefiro juízes mais conservadores, só isso. – Noemi explicou. – Digo, obviamente não temos que preferir nada porque a distribuição é aleatória, mas é uma preferência pessoal apenas.
- Certo... – Thomás respondeu, tentando esconder uma expressão facial de desprezo. – Então, Fernanda, tem outra coisa. Teria como você descer lá no escritório da Beatriz e puxar a ficha do pessoal dessa lista aqui? – O advogado então entregou uma folha de papel com uma lista de cerca de vinte e cinco nomes.
- Ué, por que não vai você?
- Você é mais amiga dela, e ela me dá medo. – Thomás riu. – Não sei se lhe contei, mas vou levar o André para o meu pai conhecer no sábado. Ele e as crianças.
- Finalmente!
- André me falou que Lorena vai ter uma reuniãozinha com a galera da faculdade no sábado, aí ela vai deixar os filhos com ele desde manhã cedo.
- Dr. Thomás, você não tem que voltar ao trabalho não? – Noemi se intrometeu mais uma vez.
- Sabe que não? Meu horário de almoço começa em menos de dois minutos, e eu ainda tenho que atualizar a Fernanda na nossa conversa diária sobre sex* entre pessoas do mesmo gênero, posições e tudo mais. Quer participar?
- Não, obrigada. Com licença. – Noemi acabou se retirando do próprio escritório.
- Você não presta. – Fernanda riu. – Quem lhe viu, quem lhe vê. Para quem era puxa saco dos patrões, agora está afrontando a filha de um deles.
- Quer saber? Já nem ligo mais. Minha versão fora do armário, feliz, compromissado não tem mais paciência para gente como ela.
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O sábado chegou, e com ele a correria de deixar tudo pronto para a pequena confraternização entre os novos colegas de classe de Lorena.
Quando chegou de seu meio expediente, Fernanda encontrou o apartamento com um cenário bem parecido com aquelas festas norte americanas: copos plásticos vermelhos, tigelas com nachos e molhos preparados artesanalmente pela sous-chef.
Não muitas horas depois, apareceram oito dos dez colegas que Lorena convidou. Após jogarem conversa fora e beberem drinks baratos e começaram a jogar verdade ou desafio. Fernanda estava em seu quarto, lendo alguns artigos jurídicos, quando resolveu descansar. Pegou uma garrafa de whiskey que havia comprado há um tempo e levou para a sala.
- Proponho um jogo diferente. Que tal um ‘eu nunca’ com essa belezinha aqui? – Fernanda mostrou a garrafa.
- Pessoal, essa é a Fernanda, minha colega de apartamento.
- Que chique, trazendo whiskey para a festa! – Daniela, uma das colegas de Lorena, exclamou.
Fernanda, então, encheu os copos de todos os colegas, e começou a brincadeira:
- Eu começo e depois quem estiver à minha esquerda é o próximo. Vamos lá. Eu nunca beijei alguém do mesmo sex*.
Todos. Todos deram um gole. A segunda pessoa era Leonardo.
- Eu nunca... eu nunca menti para minha mãe.
- Nossa, Léo, que coisa infantil! – Lorena riu. Mas todos beberam também.
A pessoa seguinte era Giovani.
- Eu nunca cometi um crime.
Só ele bebeu.
- Giovani, cuidado, a Fernanda é advogada... – Lorena advertiu, ainda que em tom de brincadeira.
- Relaxa, se me pagar bem eu faço sua defesa. – Fernanda acabou entrando na brincadeira.
Manuelle era a próxima.
- Eu nunca fui em um show de algum artista que eu gosto.
Lorena, Fernanda, Manuelle e Leonardo beberam.
Era a vez de Daniela:
- Eu nunca me interessei por alguém no recinto.
Pausa dramática. Todos se entreolharam. Daniela deu o primeiro gole e olhou para Fernanda. Giovani seguiu, olhando para Léo, que também deu um gole. Fernanda também tomou um gole, mas desviou o olhar. Por fim, extremamente hesitante, Lorena tomou um gole.
- Lorena?! – Daniela se surpreendeu. – Você não tem namorada?
- Nós abrimos o relacionamento ontem. – Lorena confessou.
Fernanda arregalou os olhos.
- Resolveram abrir, afinal? – A advogada perguntou, incrédula.
- Sim, depois de muita conversa, foi o que decidimos.
- Olha só, agora vai pegar geral na faculdade! – Léo brincou.
- Lorena, é sua vez no eu nunca. – Fernanda apontou.
- Certo. Eu nunca... beijei alguém que esteja aqui na sala.
Léo e Giovani beberam. Daniela, calmamente, levantou-se, agachou-se na frente de Fernanda e lhe deu um selinho, logo em seguida bebendo. Lorena fechou a cara na hora e passou o resto da brincadeira com o mesmo semblante.
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A confraternização foi até quase duas da manhã, quando os últimos convidados foram embora, incluindo Daniela, que, após alguns amassos em Fernanda, deixou seu número de telefone com a advogada e foi embora.
Lorena, que havia passado da cota de whiskey, invadiu o quarto de Fernanda apenas de sutiã e um shortdoll preto de renda e o restante da garrafa com a bebida alcoólica.
- Estou morrendo de calor, posso ficar um pouco no seu ar condicionado? Acho que o meu está com o filtro sujo, não funciona direito, preciso mandar arrumar semana que vem.
- Está bem, mas no quarto das crianças o ar pega bem.
- Certo... – Ignorando o comentário, Lorena pulou na cama ao lado de Fernanda, após deixar a garrafa na cômoda ao lado. – Por que a Dani não dormiu aqui?
- Eu achei melhor que ela fosse embora. O Igor mora perto dela e ofereceu carona.
- Igor é um amor. Tão quietinho, quase nem apareceu nas conversas direito. Gosto dele. – Lorena despontou um sorriso ébrio.
- Gosta, é? – Fernanda devolveu o sorriso.
- Não desse jeito, né. Gosto como amigo. Nossa, que sede. – Lorena se virou para pegar a garrafa.
- Já chega, mocinha. Bebeu demais. – Fernanda a alcançou e tirou a garrafa das mãos da melhor amiga, ficando, assim, uma de frente para a outra, ambas sentadas na cama.
- Você é sem graça! – Lorena deu um leve safanão no ombro da amiga.
- Você que é! – Fernanda devolveu o safanão.
- Devolve a garrafa! – Lorena jogou seu corpo contra o da advogada para tentar pegar a bebida.
- Não! – Fernanda esticou o braço para cima o máximo que pôde, para Lorena não o alcançar.
A sous-chef foi empurrando o corpo da advogada até que as costas de Fernanda ficassem contra a cabeceira da cama. Um silêncio sobreveio as duas, que se entreolharam por alguns segundos que pareciam durar uma eternidade. Aquela troca de olhares. Aquela mesma. Aquela quando uma sabe o que a outra quer, na exata intensidade. Aquele olhar que cruza a famosa linha entre a amizade e o outro lado. A respiração acelerando, a mordida no próprio lábio. Já não havia mais para onde correr. Lorena fechou os olhos e cerrou levemente os lábios. Fernanda fechou os olhos e umedeceu os seus. As bocas foram se aproximando, aproximando, aproximando...até finalmente se selarem.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/01/2023
Perdeu Mari esse relacionamento aberto tá com cara de fim.
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkk
Marta Andrade dos Santos
Em: 13/01/2023
Perdeu Mari esse relacionamento aberto tá com cara de fim.
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Dessinha
Em: 11/01/2023
Finalmente, senhora do céu. Fernanda tá merecida de um afago nesse coração sofrido, ainda mais agora trabalhando com um troço do lado. Só espero que não seja um beijinho e um foi mal depois.
Resposta do autor:
Precisei de um capitulo inteiro para descrever as cenas seguintes kkkkkkkkk ja está postado! beijaooo
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