Capitulo 21 - Suas cores verdadeiras são lindas como arco-íris
Jennifer respirava mais aliviada, apesar de completamente traumatizada com a situação. A presença de Fernanda e o apoio da mesma trouxe as duas para mais perto, uma vez que iniciaram, com frequência, troca de mensagens privadas por rede social. Ambas usavam pseudônimos, tomando todo cuidado possível a pedido de Fernanda, que ainda não havia contado para seus pais.
Para agradecer também a ajuda prestada, Jennifer comprou uma lembrancinha para entregar a Beatriz, a investigadora do caso, e pediu para que Fernanda buscasse e entregasse. A advogada, então, saiu em seu horário de almoço para buscar em uma loja de grife ali perto uma bolsa Cartier que Jennifer encomendou. Pegou o embrulho e voltou para o prédio, caminhando até o andar equivalente ao do escritório da investigadora.
- Jennifer pediu para lhe entregar isso. – Fernanda estendeu a mão com o presente.
- Não precisava! Eu só fiz meu trabalho. Mas diga a ela que agradeço.
- Viu, você também trabalha com localização ou paradeiro de pessoas?
- Você diz pessoas perdidas? Sequestradas?
- Não, possíveis parentes que nunca entramos em contato.
- Quer encontrar algum parente?
- Não sei, talvez sim.
- Eu trabalho nessa área sim. Cobro uma taxa por hora, mas faria de graça para você com uma condição.
- Qual?
- Que você me consiga um date com Jennifer.
- Um encontro? E como você acha que eu tenho esse poder?
- Eu sei tudo sobre o passado de vocês, tive que investigar toda a vida dela. Sei da ligação que ela tem com você e sei também que ela pisou na bola com você. Assim como parece que ela tem uma eterna dívida com a sua pessoa, gostaria que usasse essa vantagem para fazer com que ela saia comigo.
- Tem certeza que é assim mesmo que você quer chegar nela?
- Você não quer encontrar um parente perdido?
- Está bem. – Fernanda suspirou, e acabou por concordar.
- Certo. Diga-me, quem é essa pessoa que você quer encontrar?
- Pois bem, meu avô era caminhoneiro. Então houve histórias de famílias paralelas que ele fez pelo Brasil inteiro. Nenhuma história parece ser real, exceto por um irmão que meu pai tenha no Ceará. Ele falou pouquíssimas vezes desse meu suposto tio, quando eu era criança. Quase não tocava no assunto, única coisa que comentavam é que ele “andava por vias erradas”, o que para conservadores pode significar qualquer coisa que fuja da tradicionalidade.
- Esse tio, no caso, seria mais velho que seu pai.
- Isso. Talvez perto da mesma idade.
- E por que o interesse de buscar isso só veio agora?
- Eu nunca tinha tido contato com uma investigadora particular antes, você é a primeira com a qual eu trabalho junto. Também quase não tenho pistas, vai ser muito difícil.
- Não é difícil. Tenho contatos no Ceará. Posso fazer o trabalho. Mas primeiro, você me arranja esse encontro.
- Vou fazer o possível.
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Cansada após um expediente exaustivo, Fernanda chegou em casa e se deparou com Lorena, em seu dia de folga, transmitindo uma videoconferência do celular na televisão, enquanto anotava em seu caderninho. Na tela principal, uma senhora falava incessantemente, e Fernanda observou o nome por baixo da imagem: P&J Festas infantis.
A advogada assistiu à conversa por cinco minutos ininterruptos, até ela se encerrar.
- Você está planejando festa de um ano ou de debutantes? – A advogada riu.
- Eu quero que seja especial! Meus pais toparam de vir para a festa e conhecerem os netos.
- Sério?
- Sim! Sua mãe os convenceu! Ela e seu pai vêm também. Já reservei o salão de festas do prédio.
- E crianças, vão ter nessa festa infantil?
- Claro! Todas as crianças do prédio estão convidadas. Eu sempre encontro as mães no parque aqui perto. Tem também os filhos de alguns garçons e garçonetes do restaurante... a festa vai estar lotada de crianças.
- Deixa eu lhe perguntar, você já falou para sua mãe sobre a Mari?
- Sobre o quê? Que nós nos beijamos e nunca mais aconteceu nada? Não falei ainda. E não se preocupe, mesmo com sua mãe aqui não vou falar nada de você.
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No dia útil seguinte, logo pela manhã, Fernanda foi ao escritório de Beatriz com dois lattes em mãos.
- Jennifer não vai estar aqui em São Paulo nos próximos dias. Mas boas notícias, você tem um encontro com ela, em Niterói, sábado à noite.
- Sério? Niterói? Preciso me preparar para sair cedo de casa então.
- Não se preocupe, ela vai chamar um serviço de taxi aéreo para lhe buscar.
- Nossa, que chique!
- Pois é. Passei seu número para ela. Os detalhes ela manda para você. Agora que já cumpri minha parte, você vai procurar meu tio para mim?
- Na verdade, já iniciei a busca. A partir das suas informações de cadastro da firma, consegui os documentos do seu pai, e por consequência, seu avô. Descobri que ele teve uma casa registrada no final dos anos 70 em Ererê, uma cidade com menos de oito mil habitantes no Ceará.
- Nem eu sabia dessa, achava que ele costumava ficar em Fortaleza.
- Aparentemente, essa casa seu avô deu para a suposta mulher com quem ele se relacionava na época, mas ela vendeu para uma mulher chamada Apolônia. Não é um nome que se encontra todos os dias por aí, portanto meu contato que mora em uma cidade próxima logo conseguiu falar com ela.
- E aí?
- E aí que ela confirmou a história. Você tem um tio chamado João Duarte que nasceu nessa cidade.
- E você o encontrou?
- Bem... essa Apolônia contou que ele se mudou para a cidade de São Paulo no início dos anos dois mil.
- É sério? Está dizendo que eu moro na cidade do meu tio há anos e nem fazia ideia?
- E tem mais. Fiz uma busca de registros de imóveis em São Paulo, de João Duarte nascidos em Ererê que possuem bens aqui. A pesquisa veio com um resultado. Um dono de um apartamento na zona oeste da cidade. Ele é engenheiro aposentado. Se quiser saber mais, pode perguntar por conta própria. – Beatriz anotou o endereço em uma folha de papel e o entregou.
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Ao terminar o expediente, em vez de voltar para casa, Fernanda resolveu seguir seu coração e foi até o endereço para encontrar seu tio. Chegando no prédio, tocou o interfone e se apresentou.
- Maria Fernanda Duarte.
Alguns segundos de silêncio. O portão destravou. Fernanda foi até o respectivo andar. Bateu na porta. Ela se abriu, e por trás dela, havia um senhor de bigode extremamente parecido com seu pai.
- Sr. João? – Fernanda perguntou. – Eu sou filha do Laércio. Neta do sr Ulisses Duarte.
- Pode entrar. – João a recebeu com uma frieza um pouco receosa.
Fernanda adentrou o apartamento, relativamente elegante. Uma vista bonita, para um parque ecológico. Os móveis modernos, bem planejados.
- Desculpe a intromissão. Eu estava pesquisando sobre meus antepassados e-
- Eu sei quem você é.
- Sabe?
- Sim. Seus traços são bem típicos da família, parecidos com os de sua bisavó. Laércio me mandava fotos suas na infância.
- Vocês se falavam?
- Raramente trocávamos cartas. Quando me mudei para cá e me casei, perdemos completamente o contato.
- Querido, o jantar está pronto! – A voz de outro homem ecoou na cozinha.
- É isto mesmo que está pensando. – Avisou João.
- Temos visita? – O homem que estava na cozinha se direcionou à sala, onde estava.
- Esta é Maria Fernanda, minha sobrinha.
- Filha daquele seu irmão Laércio? – O homem estranhou.
- Sim. E esse é Roger. Meu esposo.
- Esposo? – O brilho nos olhos e o sorriso no rosto de Fernanda fizeram com que seus tios se sentissem confortáveis com a presença dela.
- Pois é! Vinte e um anos juntos.
- E um filho de dezoito anos.
- Se tivesse vindo meia horinha antes, teria encontrado o João Miguel aqui, ele acabou de sair para a faculdade.
- Sério? Ele faz que curso?
- Acabou de passar em Direito! – Roger respondeu, orgulhoso.
- Nossa, que legal! Eu sou advogada! Não acredito que acabo de descobrir que não tenho só um, mas dois tios e um primo! Isso é tão reconfortante! – Fernanda se emocionou.
- Quer jantar conosco? – Roger ofereceu. – Miguel quis sair mais cedo e não jantou, temos comida sobrando!
- Acho que vou aceitar.
Fernanda seguiu os tios para a sala de jantar. A mesa muito bem posta, e uma costela assada com cheiro tentador atraíram o paladar da advogada.
- E como vai seu pai? – João perguntou.
- Vai bem. Ele se aposentou. Semana que vem, minha mãe e ele vêm visitar São Paulo.
- Seria uma boa oportunidade de reconciliação... – Roger sugeriu.
- Não sei. Não parece algo que Laércio faria. – João deduziu. – Foi ele que lhe mandou aqui, Maria Fernanda?
- Não, ele nem sabe que estou aqui. Mas por que ‘reconciliação’?
- Em uma das últimas cartas que enviei, escrevi sobre Roger, sobre minhas intenções, contei que estava apaixonado. Naquela época nem imaginávamos que seria possível um casamento entre nós dois. A sociedade abominava. E seu pai era uma dessas pessoas que sentiam nojo disso. Sei que você provavelmente ama seu pai, mas essa é a verdade.
- Eu sei bem. – Fernanda suspirou profundamente, seu tio logo entendeu e trocou olhares já conhecidos com seu esposo.
- Querida, não se preocupe. Você está em um ambiente seguro. – Roger, seu outro tio, que estava do outro lado da mesa, segurou a mão de Fernanda, que em um acesso emotivo, marejou seus olhos.
- Eu sei que não é algo que conto logo na primeira vez que conheço alguém, mas vocês não sabem o alívio que é saber que tem alguém da sua família como você. – Fernanda não se aguentou e começou a chorar. João, ao seu lado, a abraçou.
- Está tudo bem, sobrinha.
- Eu nunca contei para eles. Vivo uma vida dupla há anos. O fato de morar longe deles me facilita um pouco... mas eu estava quase para casar com outra garota e nem pude compartilhar com eles! Cada coração partido que tive, cada momento importante da minha vida sentimental, sempre tive que encarar sozinha.
Ventilar tais emoções dentro de si geraram um sentimento dúbio na garota. Uma tristeza misturada com parcial alívio. Uma tempestade de emoções que se expressavam em chuva na forma de lágrimas. Por um breve momento, seu subconsciente se recordou de um momento específico, quando conheceu a letra de uma música antiga conhecida chamada True Colors. Apesar de ser uma música da juventude de seus pais, a garota tomava para si a imensa vontade de ser aceita e amada pelos seus ao mostrar suas verdadeiras cores.
- Maria Fernanda, se eu soubesse que você estava aqui em São Paulo, teria procurado você. Perdão por não ter sido um tio presente em sua vida. – João confessou, ainda abraçado com a sobrinha.
- Está tudo bem, tio. Não tinha como o senhor saber. – Fernanda enxugou as lágrimas e se desvencilhou do abraço.
- Você disse que estava para casar... o que aconteceu? – João questionou.
- Não demos certo. Essa história de eu me esconder acabou atrapalhando. Uma outra amiga de infância veio morar comigo, e eu tive que esconder dela todo esse segredo. Isso me afastou de Ingrid, minha namorada da época. Inclusive, essa amiga chegou grávida, estava fugindo da família que não aceitava uma gestação fora do casamento. Ela teve gêmeos, e eles vão fazer um ano de idade. Meus pais vêm visitar São Paulo para comparecer à festa de aniversário dos bebês. – Fernanda explicou. – Inclusive tenho que ir logo, prometi que cuidaria dos pequenos para ela resolver algumas coisas.
- Se eu não conhecesse bem, diria que você está praticamente vivendo uma vida de casada com essa garota. – João apontou.
- Está até parecendo a época que adotamos o Miguel! – Roger riu.
- Não, somos apenas amigas... – Fernanda riu.
- Você diz isso com um tom de voz de quem queria algo mais... – João apontou novamente.
Fernanda ficou quieta por meio segundo, e em seguida soltou um riso tímido.
- Está vendo? – João riu. – A gente chega em uma idade que entende cada sorriso e trejeito dos jovens.
- Não, tio... nós nunca daríamos certo. E ela está apaixonada pela chefe dela, uma dona de restaurante no centro de São Paulo.
- Então ela é lésbica também? Você não teria chance se ela fosse heterossexual, agora você me diz que ela gosta de mulheres? – Roger argumentou. – E por que você se escondia dela?
- Ela não se rotulou ainda. É algo novo para ela. Agora ela sabe sobre mim, mas antes não.
- Vá por mim, Maria Fernanda. Quando o assunto é amor, arrisque-se. Eu arrisquei, e valeu a pena para mim. – João comentou, com um sorriso no rosto.
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A conversa com os parentes acabou se estendendo, então Fernanda mandou uma mensagem para Lorena explicando toda a situação e pediu para chamar a babá por conta da advogada. Lorena então decidiu ficar em casa e resolver os acertos finais da festa de maneira remota. Ligou para Mari, que prontamente compareceu com uma caixa contendo diversos quitutes, colocando-os sobre a mesa.
- Pensei em servirmos, de início, pequenas porções em copinhos com purê de batata com tartar de peixe branco. – Mariana retirou a porção da caixa e a entrega para Lorena. – Seguido de um espetinho de tomate, queijo branco e molho pesto. Trouxe também a opção de fazermos cestinhas comestíveis com queijo e salmão, e-
- Calma, Mari. Isso é uma festa infantil! – Lorena riu. – Provavelmente vou fazer coxinhas, rissoles, cachorro-quente...
- Isso é um crime! É uma festa infantil, mas adultos serão servidos também. O mínimo que devemos fazer é oferecer finger foods de qualidade.
- Acredite, meus pais adoram quitutes simples de festar infantis, se eu aparecer com qualquer coisa gourmet, eles vão fazer cara feia. Mas foi fofo da sua parte em ter oferecido essas opções. – Lorena falou, logo antes de comer o aperitivo oferecido.
- O cantinho da boca ficou sujo. – Mari limpou com o polegar, o que facilitou uma troca de olhares longa e pausada entre as duas.
Lorena engoliu a seco, enquanto permaneciam se olhando em silêncio.
- Sabe, Fernanda vai demorar para chegar... – A sous-chef aproximou seu corpo ao de Mari. – E os pequenos já estão dormindo...
- E o que você quer dizer com isso? – Mari, já entendendo bem, também se aproximou mais.
- Quis dizer que temos o apartamento só para nós...
- Você tem certeza que quer ultrapassar essa linha? – Mari perguntou.
Lorena, sem falar nada e nem quebrar contato visual, sentou-se na mesa, cercando o corpo de Mari com suas pernas e finalmente beijando seus lábios. Mariana, sem perder tempo, puxou o corpo petit de Lorena para si, ainda com as pernas em volta de seu corpo, carregando-a no colo até o quarto da sous-chef. Lá, ela a jogou na cama.
Com certa voracidade, as duas começaram a se beijar com mais intensidade, até Lorena pegar a mão de Mari e colocar por dentro de sua calcinha. Enquanto ainda se beijavam, os dedos de Mari percorriam os lábios inferiores de Lorena, que soltava gemidos curtos e tímidos até Mariana finalmente penetrá-la com um, dois, três dedos. Lorena sentiu algo que nunca havia sentido antes. Uma espécie de mágica. Ela começou a gem*r mais alto. Tirou sua própria blusa e sutiã, e Mari continuava a estocá-la com os dedos, enquanto beijava o bico de seu peito. Lorena começou a sentir suas pernas tremerem involuntariamente, enquanto seu corpo liberava endorfina e adrenalina, até sentir o ápice do prazer, todo seu corpo tomado por segundos da melhor sensação existente no planeta.
- Nossa, eu acho que...
- É... eu percebi. – Mari sorriu.
- Tanta coisa faz sentido agora... – Lorena não conseguia acreditar.
- Quer ir de novo? Mari propôs.
- Agora mesmo! – Lorena, sem pensar duas vezes, agarrou Mariana para o beijo de um segundo round.
E um terceiro.
E um quarto,
E um quinto...
Fim do capítulo
Pessoal, essa música (True Colors) particularmente me emociona muito. Mesmo que a mensagem principal dela não seja essa, individualmente eu a interpreto assim. Nunca deixem apagarem as verdadeiras cores e o brilho de vocês. Espero que curtam esse capítulo!
A versão que mais gosto é mais recente, essa aqui: Tom Odell - True Colours (Official Video) - YouTube
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 05/01/2023
Eita Lorena se acabou kkkk Fernanda quem pensa muito perde a vez.
Resposta do autor:
KKKKK marta fico tão feliz q vc voltou! vc não sabe o quanto me martirizei por ter apertado errado no comentário!!
Mille
Em: 04/01/2023
Olha aí Lorena não perdeu a chance que apareceu.
E acho que ela vai deixar os velhos loucos pq acho que ela não vai aceitar ficar escondida da Mari.
E veja só Nanda com tios e primo, esses pais da Nanda.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Vc andou hackeando meu computador ou lendo meus pensamentos?KKKKKKKKK
O capítulo postado hj responde por completo esse comentário!
Beijão!
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vidaduplamv Autora da história
Em: 04/01/2023
Para Marta Andrade, que comentou no capítulo anterior: eu fui responder com emojis ao seu comentário mas não apareceu, aí fui apagar minha resposta e acabei apagando o comentário!! Mil perdões!
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