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Vida Dupla, Meia Vida por vidaduplamv

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Palavras: 4730
Acessos: 634   |  Postado em: 28/12/2022

Capitulo 8 - Tão à frente da curva, que a curva se tornou uma esfera

Após a notícia da gravidez gem*lar, Lorena foi inundada por uma tempestade de ansiedade. Seu instinto materno se agraciou do fato que geraria duas vidas, mas o fato de comprar tudo em dobro a preocupou na mesma proporção.

 

              Ela voltou para casa e passou o dia seguinte de atestado, deitada, refletindo sobre a vida e sua situação. Ainda não havia contado para Fernanda, pois estava primeiramente tentando absorver todo o contexto. Quando a advogada chegou do serviço, já no início da noite, entrou no quartinho da amiga com uma sacolinha pequena.

 

              - Aqui estão os analgésicos que você pediu para comprar. Você está bem?

 

              - Estou sim, descansei bastante. Mari também foi um amor, ligou-me duas vezes para perguntar se eu não precisava de nada.

 

              - Ela é um amor mesmo.

 

              - E como foi no trabalho hoje?

 

              - Nada demais, apenas fiz uma juntada de documentos que a Jennifer me mandou, teremos uma reunião com ela amanhã.

 

              - Jennifer Alencar? Aquela artista que é sua cliente?

 

              - Ela mesma. Cliente da firma, na verdade.

 

              - Vendo você se envolver nesses casos de gente importante me dá tanto orgulho! – Os olhos de Lorena lacrimejaram.

 

              - Você está chorando?! – Fernanda arqueou uma sobrancelha.

 

              - Deixe-me chorar, são os hormônios da gravidez, já disse! – Lorena acabou rindo. – Por falar nisso, pode pegar a cópia do meu ultrassom na gaveta da cômoda? Tenho algo para lhe mostrar.

 

              - Que bom que você fez na emergência, aliás. – Fernanda se dirigiu à cômoda e pegou a folha com as fotos. – Uma pena que não entendo nada olhando para isso.

 

              - Eu também não sei ver nada, mas o médico disse que é uma gravidez gem*lar.

 

              - Gem*lar? Você diz... de gêmeos?! – Fernanda arregalou os olhos.

 

              - Sim, exatamente.

 

              - Uau... isso... isso é maravilhoso! – Fernanda não continha o sorriso. – Imagina, duas crianças iluminando o lugar! Com certeza vamos ter que alugar um apartamento maior quando eles nascerem.

 

              - Espera... você está falando sério? Eu esperava qualquer reação, menos essa!

 

              - Lógico que estou! Você é a minha única amiga de longa data. Saber que você está gerando dois bebês é uma notícia maravilhosa! É alegria em dobro!

 

              - E custos também, Fer. Custos em dobro.

 

              - Eu sei, eu sei. Mas você tem a mim. Não vou lhe abandonar.

 

              - Mas você tem seu namorado Edgar, deveria estar fazendo planos com quem você ama e está comprometida, e não combinando de alugar um apartamento maior comigo.

 

              Fernanda hesitou por alguns segundos, pensando em seu verdadeiro compromisso, aquele que tem escondido de Lorena.

 

              - Posso lhe confessar algo? Ultimamente venho pensando... não tenho muita vontade de casar no momento. Isso me deixa sentindo um pouco culpada, não sei. E quando digo no momento, eu me refiro aos próximos cinco anos pelo menos. Acabei de iniciar minha carreira, não quero pensar nisso. Já cogitei, claro, mas desde quando iniciei o trabalho na firma, tudo que consigo pensar é em melhorar minhas habilidades como advogada.

 

              - Não precisa se sentir culpada se é o que você está sentindo.

 

              - Eu sei, mas tenho medo de conversar a respeito disso.

 

              - Com Edgar? Bem, vocês acabaram de começar o namoro, não se sinta pressionada em conversar agora.

 

              - E se de repente chegássemos a dois anos de namoro e eu não quisesse casar? Digo, quisesse viver os bons momentos de namoro e chegasse até a planejar, mas no fundo no fundo mudasse de ideia e quisesse apenas ficar nesse patamar de relacionamento?

 

              - Dois anos? Por quê? Você quer esperar dois anos para ver se é isso que sente?

 

              - Não, Lorena, não sei, foi só uma situação hipotética. Tem como você amar alguém e agora simplesmente não querer levar para o próximo nível de compromisso?

 

              - Lógico que tem! Compromissos como casamento são meras formalidades. Isso não é um termômetro de relacionamento. Mas não quero que você pense que estou lhe aconselhando assim porque quero que me ajude quando os bebês chegarem. Aliás, já estou até procurando um lugar para morar que eu consiga bancar.

 

              - Não pensei nisso. E você não vai a lugar nenhum, pelo menos não sem mim. Ninguém solta a mão de ninguém.

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              No dia seguinte, Fernanda fez algo que não costumava fazer. Passou um batom vinho matte para ir ao trabalho, diferenciando da rotineira cor avermelhada. Ao chegar na firma, foi elogiada até por Thomás, quem raramente prestava atenção nela.

 

              Já no fim da manhã, foi convocada para a reunião com Jennifer Alencar, seu empresário e o  resto da equipe.

 

              - Veja bem, senhorita Alencar. – Iniciou Dr. Vieira. – Nós já entramos com ação contra sua antiga produtora e coletamos os dados da testemunha. Precisamos agora pensar em alguma estratégia. Queremos cobrir qualquer detalhe. Desde o seu primeiro dia na produtora, até as brigas por direitos autorais, todos os desmandos deles, os abusos verbais e psicológicos. Na nossa primeira reunião, cobrimos apenas o básico. Sei que não é fácil reviver isso, por isso trouxemos nossa psicóloga corporativa para nos ajudar no passo a passo.

 

              - A gente tem psicóloga aqui na firma? – Fernanda sussurrou para Thomás.

 

              - Temos sim. É uma moça do time de Recursos Humanos.

 

              - E ela nos atende também?

 

              - Atende sim, só marcar horário. Por quê? Mal começou a trabalhar aqui e já está com probleminhas emocionais?

 

              - Não é isso. – Fernanda revirou os olhos e resolveu encerrar a conversa paralela.

 

              Já no final da reunião geral, quando os demais advogados estavam saindo a fim de deixarem a sala para Dr. Vieira, a psicóloga, o empresário e Jennifer, esta barrou a porta pouco antes de Fernanda, que ficou por último.

 

              - Já lhe disseram que você está linda hoje? – A artista abordou a antiga namorada.

 

              - Obrigada... – Fernanda sorriu, envergonhada.

 

              - Você não vai ficar para essa parte?

 

              - Não vou, essa parte é mais restrita.

 

              - Deixa disso! Quero você aqui comigo, sente-se aí.

 

              - Preciso perguntar para o Dr. Vieira para ver se posso ficar.

 

              - Que perguntar, o quê. Você vai ficar aqui e ponto.

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

              Em questão de minutos, começaram a ouvir o depoimento de Jennifer.

 

              - Bem, acho que tudo começou quando eu morava no Rio de Janeiro e estava terminando a gravação da minissérie musical. – Jennifer olhou rapidamente para Fernanda. - Um produtor de São Paulo entrou em contato comigo, disse que eu poderia gravar na filial dele do Rio de Janeiro, até porque já tinha outro trabalho pronto para ser filmado assim que eu acabasse a minissérie.

 

              - Aquele filme brasileiro policial? – Fernanda perguntou.

 

              - Sim. Você assistiu?

 

              - Vamos nos ater ao depoimento. – Dr. Vieira interrompeu, visivelmente incomodado com a presença da novata.

 

              - Certo. – Continuou Jennifer. – No começo ele era bem profissional, nos encontramos no Rio de Janeiro, ele prometeu que cuidaria de minha carreira musical, pegou contato do meu empresário. E no início realmente deu tudo certo, todos os meses de produção do primeiro disco foram bem aproveitados. Aí, no segundo álbum, começaram os problemas. Ele começou com críticas leves, coisa que todo produtor faz. Normal. Então começaram as gritarias. O segundo álbum inteiro foi feito aos gritos. Ele era grosso, mal educado, ele me ofendia... – Jennifer segurava o choro.

 

              - Está tudo bem, querida. Ele não está aqui agora. – A psicóloga comentou.

 

              - Você comentou que na maioria das vezes havia testemunhas, até deu os nomes delas. Poderia informar o que cada uma fazia e como estava relacionada a situação? – Dr. Vieira perguntou.

 

              - Sim, tinha o co-produtor, que se ofereceu para testemunhar, o rapaz da sonoplastia, duas zeladoras, e meu empresário. Todos muito solícitos.

 

              - Muito bem. E em quê consistiam essas ofensas?

 

              - Respire fundo e tente desbloquear essas memórias tendo em mente que no momento isso não está acontecendo, que isso já está no passado e que estamos aqui para trazer justiça a esse passado. – A psicóloga segurou na mão de Jennifer.

 

              - Ele era machista, extremamente machista. Não podia me ver comendo um pacote de bolacha antes de gravar que já falava que eu ia engordar, e que se quisesse continuar fazendo sucesso eu teria que me manter magra. Chegou a pegar uma caixa de doces sortidos da minha mão e jogar no lixo, enquanto com a outra mão me segurava forte no braço. Isso o sonoplasta viu. Por saber que sou bissexual, fazia comentários homofóbicos e fetichistas, dizendo que queria algum dia participar de uma orgia comigo. E não foram só dois ou três comentários. Era quase todo dia, dizendo que queria me assistir, ou fazer algo comigo e outra garota. Infelizmente, para esses comentários, não tenho testemunhas, só tenho uma gravação que ficou um pouco ruim pois o celular estava dentro da minha bolsa.

 

              - Recordo-me que você citou mesmo essa gravação. Podemos tentar limpar o áudio. Com certeza ele vai tentar lhe processar por ter gravado a conversa, mas isso é o de menos. Aceitarão como prova lícita, estou certo disso. – Dr. Vieira comentou.

 

              - E você nunca pensou em sair dessa situação? – Fernanda perguntou.

 

              - Bem, por muito tempo achei que fosse algum tipo de punição do universo por ter sido uma idiota com meu último, talvez único amor. – Confessou Jennifer. – E quando resolvi sair, ele fez ameaças, disse que destruiria minha carreira, que tínhamos um contrato a cumprir, e que eu estaria morta se saísse da gravadora.

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              A sessão de depoimento durou mais do que o esperado. Ao final, Jennifer e Fernanda saíram juntas.

 

              -  Quando você falou sobre aquele amor...

 

              - Sim. Foi você, Fernanda. Era de você que eu estava falando. Desculpe ter soado um pouco forçada, acredito eu. Mas tantas memórias e sentimentos vieram naquele momento do depoimento...

 

              - Não, tudo bem. Na verdade, eu não fazia ideia da profundidade da situação que você viveu. Fiquei completamente em choque. Sinto muito por ter passado por isso.

 

              - Relaxa, não foi sua culpa. Eu culpo o Universo e minha péssima capacidade de tomar decisões.

 

              - Se quiser, podemos um dia tomar um café e conversar a respeito. Digo, se você conhecer algum café que seja restrito com privacidade para que não fiquem tirando fotos suas ou lhe atormentando...

 

              - Está me chamando para sair?

 

              - Não é bem sair...

 

              - Estou brincando com você, boba! Podemos tomar café no meu hotel, se quiser.

 

              - Jennifer...

 

              - Não é para fazer o que você está pensando! Está sempre pensando o pior de mim, né?! Você já deixou bem claro e eu respeito sua decisão. É que o hotel é mais privado, tem uma área externa, sacada, chame como quiser, enfim, fica ligado ao meu quarto e tem uma vista maravilhosa. Tanto pela altura quanto pela cobertura, fica impossível o acesso de câmeras. Próximo domingo à tarde, o que acha?

 

              - Não posso, minha mãe vem me visitar e chega bem no domingo.

 

              - Sábado então?

 

              - Pode ser.

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              O sábado enfim chegou, e Fernanda já estava de saída do seu meio-expediente.

 

              - Você vem comigo? – Perguntou Ingrid. – Vou passar no mercado, fazer umas compras. Hoje saiu uma temporada nova daquela série de ação que a gente começou a assistir ano passado.

 

              - Sim, fiquei sabendo. Mas não vou poder, marquei de conversar com a Jennifer.

 

              - Conversar?

 

              - Sim. Na reunião, ela contou detalhes da história dela com a gravadora, situações horríveis. Eu me ofereci para conversar com ela a respeito.

 

              - E vão conversar onde? – Ingrid cruzou os braços.

 

              - Na área externa do quarto onde ela está hospedada.

 

              - Você vai encontrá-la no quarto de hotel dela?!

 

              - Na área externa! E nada vai acontecer, já deixei bem claro.

 

              - Deixa eu ver se eu entendi: você marcou esse tal encontro com a Jennifer no dia que ela veio aqui na firma, que foi um dia que você se arrumou toda para vir, até mudou a cor do batom. Aí você passou o resto da semana sem me falar nada dessa reunião e agora me fala que vai sair com ela?

 

              - Em primeiro lugar, isso não é encontro. Vou conversar com ela sobre assuntos pertinentes a vida dela. Vai ser no hotel porque não podemos correr o risco de sermos vistas em público, pela fama dela e pelas más línguas. Em segundo lugar, você nem perguntou a respeito da reunião! Você nem parecia interessada. E em terceiro lugar, e daí que eu me arrumei? Eu queria estar apresentável para uma reunião importante.

 

              - Isso é algum tipo de vingança por causa da sua paranoia com a Emma?

 

              - Como assim?

 

              - Por causa daquele comentário que você fez aqui mesmo na sua sala, dias atrás.

 

              - Lógico que não! Olha o tipo de coisa que você fala!

 

              - Veja bem, Fernanda, não quero brigar com você. Já estamos desgastadas demais e se eu pegar no seu pé por causa disso, nossa situação vai se complicar ainda mais. Nós não deveríamos estar brigando por causa de Jennifer ou Emma. – Ingrid se aproximou e puxou a namorada pela cintura, beijando-lhe ternamente.

 

              - Eu amo você. Mas preciso que trabalhemos juntas na questão de confiança. Nunca fomos o tipo de casal que brigava por ciúmes. Eu não me reconheci quando lhe critiquei sobre Emma. – Fernanda passou a mão sobre o cabelo de Ingrid, colocando-o atrás da orelha.

 

              - E eu também não me reconheci quando falei da Jennifer. – Ingrid retribuiu o gesto carinhoso da namorada com outro beijo.

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

              Fernanda então pegou o metrô próximo ao seu trabalho e foi para o hotel cinco estrelas de Jennifer, e, com o auxílio de um segurança, foi até o quarto da artista, que lhe aguardava com uma mesa de café da tarde preparada pelo hotel logo na entrada da sacada.

 

              - Uau, que banquete! – Fernanda nem pediu licença e já foi pegando uma rosquinha doce.

 

              - Fique à vontade, não vou conseguir comer dez por cento disso. – Jennifer pegou uma xícara de café da máquina de café expresso no canto da mesa.

 

              - Esqueci de lhe falar no dia, mas queria que soubesse que farei todo o possível para ajudar você contra seu produtor. – Fernanda iniciou a conversa.

              - Eu sei que fará. Esse instinto salvador está dentro de você. – Jennifer sorriu.

 

              - Pior que nem vou negar. Tenho esse instinto mesmo. Esses dias estava planejando pegar outro apartamento com minha amiga, já que minha ela vai ter gêmeos.

 

              - Aquela sua amiga de infância que apareceu grávida, certo?

 

              - Essa mesma.

 

              - Você já contou a ela sobre Ingrid? Sobre serem gêmeos.

 

              - Não.

 

              - Estive pensando sobre isso desde nossa última conversa a respeito, lá no restaurante. Principalmente sobre como a Ingrid deve pensar a respeito disso.

 

              - Certo, diga-me sua opinião a respeito do que você cogita que minha atual namorada esteja pensando. – Fernanda a lançou um olhar de desdém e desconfiança.

 

              - Hey! Eu posso não conhecê-la, mas já fui sua namorada. Era outra situação, na época eu e você não nos importávamos muito com isso porque éramos bem novas mas imagino que ela deva ficar bem magoada de não fazer parte da sua vida pública. Eu passei por isso no meu último relacionamento, namorei uma artista que estava no armário.

 

              - Quem era?!

 

              - Não posso falar. Ela me fez assinar um contrato de confidencialidade na época para não revelar nada do nosso relacionamento.

 

              - Credo! E precisava disso?!

 

              - Na verdade isso é bem comum entre famosos, principalmente alguns que estão no armário.  Mas enfim. Dói um pouco ser a namorada secreta.

 

              - Ela não é secreta. Todos os nossos amigos sabem sobre a gente.

 

              - Sua amiga que mora com você no apartamento não sabe.

 

              - Tirando ela, todo mundo sabe.

 

              - Seus amigos de Goiás não sabem.

 

              - Nem tenho mais contato com eles, então não me importa.

 

              - Sua família também não sabe, não é?

 

              - Ah, mas aí é outra história. Eles provavelmente nunca vão saber.

 

              - Pretende se esconder o resto da vida?

 

              Fernanda ficou em silêncio por uma fração de tempo, enquanto mastigava um biscoito amanteigado.

 

              - Provavelmente sim. Digo, já tenho um plano em andamento para apresentar um namorado falso.

 

              - E esse plano vai até quando?

 

              - Um passo de cada vez, por enquanto vou apresentá-lo a minha mãe.

 

              - E quando ela começar a perguntar de casamento e filhos?

 

              - Vou enrolando quando der até dizer que terminei. Depois digo que ele era o amor da minha vida e não me quis de volta e por isso não quero mais ninguém.

 

              - E se algum dia você quiser formar família com a Ingrid? Você já falou sobre isso com ela? Vai esconder os filhos de vocês dos avós?

 

              Outra pausa, dessa vez para tomar um gole de cappuccino retirado da máquina, enquanto se sentava em uma das cadeiras na sacada.

 

              - Eu não tenho todas as respostas do mundo, Jennifer. E eu vim aqui para falarmos de você, não de mim. Eu me sensibilizei com o que você contou sobre o que aconteceu e resolvi tomar um café com você.

 

              - Por pena? É isso?

 

              - Não. Achei que seria o mínimo se quiséssemos construir uma amizade.

 

              - Então você está considerando uma amizade comigo, Nanda?

 

              - Sim. Por que não? Já temos uma relação profissional jurídica, ao menos.

 

              - Isso significa que as mágoas do passado ficaram de vez para trás?

 

              - Sim. Não guardo rancor. – Fernanda respondeu afirmativamente

 

              - Então para fecharmos com chave de ouro, um aperto de mão para selar esses novos tempos.

 

              - Fechado.

 

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              Ao invés de retornar para casa, Fernanda foi direto ao apartamento de Ingrid para fazer uma surpresa, levando, em uma pequena bandeja de isopor, alguns petiscos do café da tarde. Quando chegou no apartamento da namorada, esta estava ao telefone com o Dr. Raul.

 

              - O que ele queria? – Fernanda questionou, quando a ligação se encerrou.

 

              - O habeas corpus de Emma acabou de ser negado. – Ingrid colocou a mão na cabeça, não crendo na situação.

 

              - O quê? Como assim? Em pleno sábado à noite?

 

              - Sim, Fernanda, isso é uma decisão penal, poderia ter se dado até em feriado. Só estou achando que foi julgado rápido demais. Liga a TV aí por favor?

 

              - Ligo sim, mas por quê? – Fernanda perguntou, pegando o controle remoto.

 

              - Vai sair no jornal sobre a negativa do nosso pedido a qualquer momento. Precisamos ver o que os jornalistas vão dizer.

 

              - E agora? Dr. Raul vai recorrer semana que vem?

 

              - Sim. Ele estava falando comigo para já preparar o recurso e deixar tudo certo o mais rápido possível. Precisamos correr atrás de jurisprudência para embasar nosso recurso.

 

              - Acho que vou comprar refrigerante e energéticos. – Fernanda avisou. – A noite vai ser longa.

 

 

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              Madrugada a fora, o casal passou procurando nas plataformas adequadas casos ao menos parecidos. Não foram muitos, mas foram o suficiente para construir a argumentação necessária para o recurso.

 

              - Meus olhos já estão grudando. – Fernanda disse, antes de bocejar. – E eu achando que advogar seria fácil e que eu teria meus finais de semana livre.

 

              - Ninguém mandou entrar em uma das melhores firmas do estado e do país. O bônus que recebemos por cada cliente que somos chamados para integrar na equipe jurídica faz tudo valer a pena.

 

              - Espera, tem bônus disso também?!

 

              - Você não sabia?! Você faz parte da equipe de uma das clientes mais famosas da empresa, quando o processo finalizar, você recebe o bônus. Pelo calibre e repercussão, acho que chega fácil no valor de um carro popular. No caso da nossa cliente Emma, nosso bônus, somado, será suficiente para dar entrada em um apartamento novo para nós duas começarmos a vida!

 

              - Pois é... – Fernanda forçou o sorriso. –  Mas acho que vai demorar, não vai? Até dar trânsito em julgado...

 

              - Podemos pedir um adiantamento proporcional, a Sophia fez isso uma vez em um caso de junção de empresas que levou mais tempo do que deveria e Dr. Raul concedeu a ela. Podemos fazer o mesmo, mas você não parece tão empolgada quanto achei que ficaria...

 

              - Eu fiquei feliz sim! Só estou morrendo de sono... – Fernanda suspirou e desviou o olhar.

 

              - Amor, eu conheço você. Tem algo que você não quer me falar.

 

              - Não tem, é sério, só é sono.

 

              - Maria Fernanda. Olha nos meus olhos. O que você tem para me falar?

 

              A advogada novata então ergueu o olhar e encarou a namorada.

 

              - Eu não sei se eu quero casar... nesse momento.

 

              - Eu sei, agora agora não dá, por causa da Lorena.

 

              - Talvez não seja só agora. Eu acho... eu acho que não quero me casar. – Com a garganta quase fechando pela vontade de chorar, Fernanda confessou.

 

              - De onde está vindo essa ideia? Nós estávamos prontas para morarmos juntas, e agora você nem cogita mais isso?

 

              - Eu estive pensando, Ingrid. Se um dia casarmos, tivermos filhos, como vou viver escondendo isso de minha mãe?

 

              - Você quer terminar? É isso?! Foi você passar uma tarde com aquela Jennifer e você quer terminar, né? Você me traiu?

 

              - O quê? Lógico que não lhe traí! Eu digo isso olhando dentro dos seus olhos, eu não lhe traí e muito menos quero terminar esse namoro! Eu ainda amo você, amo demais, eu só disse que eu não sei se casamento está nos meus planos.

 

              - Então a gente faz o que? Namora até o fim da vida?

 

              - Não sei! Eu não sei. Eu não quero terminar, eu amo você, eu não consigo ficar longe de você!

 

              - Só não quer ter um compromisso mais sério do que namoro.

 

              - E o que é que tem focar apenas no presente? Eu acabei de começar minha carreira, você também está crescendo dentro da firma...

 

              - Eu não estou acreditando que você está me dizendo isso. – Ingrid balança a cabeça negativamente. – Eu também penso na minha carreira, mas não deixo de incluir você em minha vida por causa disso. Aliás, desde o primeiro dia que trocamos nossa primeira conversa além de um simples olá, você se tornou uma parte importante em minha vida.

 

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...

              Era uma noite de outono um pouco mais fria que o comum. Uma chuvinha gelada que repartia a linha tênue entre prazerosa e irritante. Prazerosa para quem estava no conforto de casa, debaixo de cobertores. Irritante para os estudantes de direito do que haviam perdido aula porque o professor de Direito Imobiliário da turma B não pôde comparecer, mas só avisou após quase uma hora de atraso.

              Sabendo que teriam prova naquela semana, um grupo se encaminhou para a biblioteca. A jovem Fernanda, por outro lado, pensou em ir para casa mais cedo, estudar um pouco e se preparar para dormir mais cedo e começar o dia seguinte em seu emprego de auxiliar administrativa em uma empresa perto do centro da capital, no turno da manhã, enquanto no turno da tarde fazia seu estágio.

              Fernanda então foi até o ponto de ônibus da faculdade, onde ficou sozinha se protegendo da chuva debaixo da cobertura, até ser abordada por uma garota que já havia visto na faculdade outras vezes.

 

              - Você não está com frio não? – Perguntou a moça, ao ver Fernanda apenas com uma blusa do curso de direito, de manga curta, e os braços cruzados retendo calor.

 

              - Esqueci meu moletom em casa... – Explicou a estudante.

 

              - Faz faculdade de Direito também? Está em que ano?

 

              - Terceiro, ainda. Você também faz? Desculpa se não lhe reconheço, é muita gente lá.

 

              - Realmente. – A moça riu. – Duzentos alunos e cinco novas turmas por ano, não é fácil. E eu estou no quarto. Prazer, Ingrid! – A moça estendeu a mão com um sorriso no rosto.

 

              - Prazer, Fernanda. – A caloura do segundo ano também estendeu, revelando um braço trêmulo de frio.

 

              - Menina, você está gelada! Espera um pouco. – Ingrid então retirou um de seus três casacos e o entregou a Fernanda.

 

              - Não precisa, é sério! Meu ônibus já está para chegar!

 

              - Você vai acabar ficando doente! Faz assim, anota meu número de telefone e eu anoto o seu. Amanhã a gente combina um horário ali no café em frente à faculdade depois da aula para você me devolver o casaco, pode ser?

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

              Um silêncio sobreveio entre as duas.

 

              - Olha, Ingrid, vamos esquecer essa história. Eu estou sonolenta, não sei o que estou falando. Acho que o fato de mamãe vir me visitar amanhã está me afetando, Jennifer entrou em minha cabeça fazendo esse questionamento, eu fiquei confusa.

 

              - Que questionamento?

 

              - Sobre esconder você de minha mãe a vida inteira. Ela não acha isso justo com você.

 

              - E você caiu no papo dela?

 

              - Como assim?

 

              - É lógico que ela vai fazer você se questionar! Está na cara que ela está dando em cima de você! Ela não sabe nada da minha vida para julgar se isso é justo comigo ou não.

 

              - E você acha justo?

 

              - Isso não está em questão. Acontece é que eu lhe amo e se lhe faz feliz continuar vivendo escondido da sua mãe, que assim seja. O que importa é que nossos corações se pertencem, e sua mãe não pode mudar isso, independente do fato dela saber ou não.

 

              - Sabia que quando você faz o papel de namorada compreensiva me dá tesão? – Brincou Fernanda.

 

              - Bem, tecnicamente essa é a última noite livre que vamos ter antes de ser sua “amiga” na frente da sua mãe, então acho que deveríamos aproveitar...

 

              - Ver você nua gem*ndo até o sol nascer? Estou dentro.

Fim do capítulo

Notas finais:

Alguns títulos se referem a pedaços de algumas músicas que ouvi enquanto escrevia o capítulo.

 

A música referente a esse capítulo é esta: Taylor Swift – this is me trying (Official Lyric Video) - YouTube

 

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