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Vida Dupla, Meia Vida por vidaduplamv

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Palavras: 4204
Acessos: 692   |  Postado em: 27/12/2022

Capitulo 4 - Sonhos e memórias

              Com os olhos abertos e Ingrid dormindo em seu seio, Fernanda acariciava os cabelos ruivos  da namorada enquanto olhava para a janela e via a noite paulistana sem estrelas. Seus esforços para pegar no sono haviam se esvaído, então esperava vir naturalmente o cansaço cerebral ao trazer de volta antigas memórias que lhe levaram a um tempo distante...em um apartamento diferente...no primeiro ano de faculdade...quando tudo na vida ainda era meio incerto...

 

              - Nanda! Nanda, acorda! – Uma voz exclamava enquanto era chacoalhada. Era Jennifer, sua primeira namorada.

 

              - O que foi? O sol ainda nem nasceu! E hoje eu não tenho aula e só vou trabalhar à noite. – Fernanda coçou os olhos, acordando.

 

              - Lógico que nasceu! É que a cortina está escurecendo tudo.

                           

              - Por que você está agitada, Jenn?

 

              - Acabei de receber uma ligação daquele produtor do Rio de Janeiro!

 

              - Sério? O que ele disse?!

 

              - Que o papel é meu! Eu também mostrei algumas músicas que eu fiz, e ele tem um amigo que é dono de uma gravadora e quer me conhecer!

 

              - Isso é ótimo!

             

              - Só tem um problema...

 

              - Você vai ter que se mudar para o Rio. Eu sei.

 

              - Acho que podemos tentar à distância, não?

 

              - Nós namoramos há apenas três meses... tem certeza?

 

              - Eu estou disposta se você estiver disposta, Nanda. Afinal, eu te amo.

 

              - Essa é a primeira vez que você me diz isso. – Nanda sorriu. – E eu também amo você...

 

 

              - Amor... amor!

 

              - Hm? Que horas são? Nem vi quando peguei no sono. – Um pouco letárgica, Fernanda respondeu.

 

              - Já está na hora de levantar. Temos que tomar café da manhã e levar a Lorena ao restaurante. – Ingrid respondeu, logo antes de um selinho de bom dia.

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

              - Bom dia meninas! – Lorena entrou no carro com um sorriso que Fernanda recusava em ceder pela manhã.

 

              - Bom dia... – Fernanda respondeu bocejando.

 

              - Mari me ligou agora de manhã. Ela iria me dar folga agora para que fizesse o turno da noite hoje, todas as terças eles fazem noites de comidas especiais e o restaurante lota. Mas aí como eu preciso da grana da hora extra, ficarei direto. Não precisam se preocupar comigo na volta.

 

              - Eu adoro essas noites culturais do restaurante da Mari! Lembra daquela noite turca? – Ingrid perguntou para a namorada.

 

              - Lembro, comi tanto kebab que não conseguia sair da mesa. – Fernanda riu. – Lorena, você vai adorar. Às vezes ela contrata alguns chefs especializados para ajudar no dia daquele tema, capaz que você aprenda bastante.

 

              - Eu estou ansiosa! E com um pouco de medo também. – Lorena respondeu.

 

              - Por quê?

 

              - Tive um sonho que me perturbou.

 

              - Sonhos são apenas sonhos. – Ingrid comentou.

 

              - Nem sempre. – Contestou Fernanda. – Sonhou sobre o quê, Lorena?

 

              - Sonhei que uma panela gigante corria atrás de mim, e eu fazia de tudo para fugir, mas não saía do lugar.

 

              - Uma panela grande não vai sair correndo atrás de você, Lorena. – Ingrid riu.

 

              - Não é só isso. Alguém me salvou, e a panela desapareceu.

 

              - Isso é bom, não é? – Fernanda questionou.

 

              - Sim, mas eu simplesmente abracei essa pessoa em agradecimento e senti algo estranho, intenso.

 

              - Continua sendo bom. Um abraço é sempre bom. Você viu quem era?

 

              - Não sei, estava envolta em um pano preto. E do nada, essa pessoa virou uma pedra.

 

              - Andou vendo algum filme sobrenatural antes de dormir? – Ingrid perguntou.

 

              - Não! Cheguei tão cansada, apenas comi um sanduíche rápido e fui para a cama.

 

              - Dizem que sonhar com pedra significa algo relacionado a trabalho, a dar duro no seu trabalho. Talvez tenha a ver com isso. – Fernanda explicou.

 

              - Ou talvez a mente dela estava cansada e embaralhou tudo. – Ingrid comentou.

 

              - Não sei. De qualquer forma, mudando de assunto, gostaria de lhe agradecer pela carona, Ingrid. E como foi lá na confraternização?

 

              - Que confraternização? – Maria Fernanda, sonolenta, questiona.

 

              - A confraternização dos funcionários, Fernanda! – Ingrid corrigiu, tentando manter a mentira que utilizaram para que Maria Fernanda passasse a noite com Ingrid. – Ela está distraída, bebeu tanto ontem com os colegas que está com amnésia seletiva.

 

              - Pois é... – Fernanda deu uma risada forçada, olhando para fora da janela. – Completamente de ressaca!

 

             

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              Após deixar Lorena no restaurante, o casal se encaminhou ao prédio do escritório. Fernanda foi até sua sala, onde seu colega já se encontrava concentrado.

 

              - Bom dia. – Fernanda tentou ser cordial.

 

              - Bom dia. – Surpreendentemente, Thomás respondeu.

 

              - Estamos progredindo.

 

              - Dr. Raul mandou e-mail.

 

              - Certo. Vou checar.

 

              Em poucos minutos, Fernanda abriu seu navegador e verificou a caixa de entrada. Seus lábios retorceram ao ler a mensagem.

 

              - E aí, o que diz? – Thomás questionou.

 

              - Tenho que fazer um memorando e três acordos de não-divulgação... e você vai fazer minha prova de leitura até eu me adaptar. – Fernanda bufou.

 

              - Exatamente, como você acabou de entrar, ele teria que designar alguém para corrigir seu serviço.

 

              - E por que você está feliz com isso? Só vai tomar seu tempo.

 

              - Estou feliz porque isso significa que posso facilitar sua vida ou fazer dela um inferno.

 

              - Você quer algo em troca, então.

 

              - Exatamente. Você dá um jeito de me colocar na equipe jurídica da Jennifer ou eu posso pedir para você refazer um documento quantas vezes eu quiser.

 

              - Ou eu posso pedir para outra pessoa me ajudar e entregar diretamente ao Dr. Raul.

 

              - Você pode fazer isso e passar por cima das ordens do Dr. Raul. A opção é sua.

 

              - Agora me diga, como você acha que vou conseguir convencer nossos chefes a incluir você na equipe?

 

              - Não precisa convencê-los. Basta convencer a Jennifer, afinal foi ela quem lhe colocou na equipe.

 

              - Eu não tenho todo esse poder que você pensa!

 

              - Eu sei que você a namorou.

 

              - Como você descobriu?

 

              - Não foi difícil. Sou bom em descobrir coisas. Você não me deu muitas informações, então tive que ir atrás.

 

              - Sério, como você descobriu, Thomás?

 

              - Todo famoso tem dezenas de fã clubes. Esses fã clubes tem fóruns. Uma ou duas horas de pesquisa em um fórum descobri que havia boatos que ela namorou uma estudante de direito antes da fama. Liguei os pontos. Vocês têm uma conexão. E eu quero fazer parte da equipe jurídica dela.

 

              - Não posso prometer que vou conseguir. Mas se eu ao menos tentar, promete me colocar em um bom patamar com os chefes? Nenhum deles gostou do pedido da Jennifer.

 

              - Você não vai só tentar, tem que conseguir. E pelos fóruns que li, provavelmente conseguirá convencer fácil.

 

              - Como assim?

 

              - Ela comentou com os amigos mais próximos que essa tal ex foi difícil de esquecer.

 

              - Onde raios você encontra esses fóruns?

 

              - Nas profundezas, bem nas profundezas da internet... e então, vai me ajudar ou não?

 

              - Não sei, eu só ajudo amigos...

 

              - Sério que você vai voltar nessa história de amizade?

 

              - Se você se tornar meu amigo, eu poderia confiar mais.

 

              - Você está tão carente assim de amigos?

 

              - Por que você reluta tanto em fazer amizade? Eu te conheço há um dia e você deixou claro que você menospreza isso.

 

              - Exatamente, nos conhecemos há um dia!

 

              - Isso significa que com o tempo podemos ser amigos?

 

              - Eu só quero um favor seu, e em troca, eu lhe ofereço outro favor. É pedir muito?

 

              - Está bem. Está bem. Vou tentar ajudar. Você pode me ajudar pelo menos a iniciar os documentos?

 

              - Primeiro você me ajuda, depois eu lhe ajudo.

 

              - Você é um babaca, sabia? – Fernanda bufou e pegou seu celular para procurar o contato de Jennifer.

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

...          

              Uma tarde chuvosa, na plataforma da estação rodoviária do Tietê, Fernanda acariciava o rosto de Jennifer. O ônibus acabara de estacionar, e enquanto alguns passageiros desciam, o casal trocava despedidas.

 

              - São só sete horas de viagem. A gente vai dar um jeito de se ver sempre, não? -  Jennifer perguntou, quase chorando.

 

              - A gente vai dar um jeito. – Fernanda enxugava a lágrima teimosa que resolveu escapar de um dos olhos da namorada.

 

              - Eu amo tanto você que chega a doer. – Jennifer se envolveu em um abraço apertado, com sua cabeça pressionada contra o esterno de sua amada enquanto deixava o resto das lágrimas soltarem.

 

...

              Sob lençóis brancos da mais fina seda, em um quarto de hotel climatizado de dimensões semi-faraônicas, com o perdão da hipérbole, repousava a jovem cantora da atualidade, de bruços, de maneira tão relaxa que parecia estar tendo um sonho bom.

 

              - Jennifer, baby? – Um rapaz com uma toalha envolta na cintura, aproximou-se da cantora e a cutucou.

 

              - Hã? Oi? – A artista acordou assustada.

 

              - Gata, seu celular está tocando.

 

              Jennifer chacoalhou a cabeça, para ter certeza que estava na realidade certa. – Babe, se importa se eu atender na sacada?

 

              - Tudo bem, gatinha.

 

              Seus olhos não conseguiam acreditar no contato que aparecia na tela.

 

              - Alô? Fernanda?

 

              - Jenn? Tudo bem contigo?

 

              - Tudo sim! Você não vai acreditar, estava agorinha mesmo dormindo, e acredito que sonhei contigo!

 

              - Ah é? E foi um sonho bom? Er... digo.. eu... eu precisava pedir um favor para você.

 

              - Foi um sonho que mais parecia uma lembrança. Mas diga, pode pedir qualquer coisa.

 

              - Tenho um colega de trabalho que gostaria de entrar na nossa equipe, a equipe que cuida dos seus assuntos legais.

 

              - Você o considera capacitado?

 

              - Sim. Ele seria uma ótima adição para o time.

 

              - É seu namorado?

 

              - Quê?

 

              - Estou perguntando se é seu namorado.

 

              - Se você não se lembra, eu sou lésbica, Jennifer.

 

              - Certo, eu estava só conferindo mesmo, desculpe. Se você o considera competente, então me passa por SMS o nome dele certinho e eu mando mensagem para o seu chefe.

 

              - Muito obrigada!

 

              - Que isso, minha querida. Sabe que sempre pode contar comigo. Aliás, está livre esse fim de semana?

 

              - Por quê?

 

              - Gostaria de lhe chamar para jantar.

 

              Rapidamente, Fernanda tirou o celular do alto-falante e saiu da sala.

 

              - Eu não posso, Jenn. Eu tenho namorada.

 

              - Calma. Não estou lhe chamando para um encontro! Um jantar entre duas pessoas que estavam há muito tempo sem se ver. Aliás, é um daqueles restaurantes experimentais exclusivos e você não sabe a dificuldade que foi conseguir dois convites.

 

              - Você já estava planejando ir com alguém?

 

              - Bem, eu iria lhe chamar daqui a alguns dias, mas você me ligou antes. E aí, vamos?

 

              - Eu tenho que ver com a minha namorada, Jennifer. Ela não iria gostar que eu saísse para jantar com minha ex.

 

              - Nós temos uma relação de trabalho agora, Nanda, eu sou cliente de vocês, você está na minha equipe jurídica. Sua namorada, seja ela quem for, tem que respeitar isso. E que mal há em sermos saudosistas? Sinto falta, acima de tudo, da amizade que tínhamos dentro daquele relacionamento...

 


...

 

Sete semanas haviam se passado, e as ligações diárias se transformaram em mensagens, que foram diminuindo a frequência. Fernanda olhava para o celular a todo momento, na espera da chegada de um novo SMS. Nada. Em uma sexta-feira à noite, resolveu ligar. Tentou uma vez, sem resposta. Duas. Três. Quatro. Na quinta vez, uma voz ébria a atendeu.

 

- Alô? Jenn?

 

- Oiê! Nanda? Nanda é você?

 

- Jenn? Você está bêbada? Que barulho é esse?

 

- Espera um pouco. – Jennifer rapidamente saiu do lugar agitado e foi conversar na calçada. – Pronto. Está tudo bem por aí?

 

- Não, claramente não está. Mal estamos nos falando, que namoro é esse?

 

- Nanda...

 

- O que foi?

 

- Não queria conversar sobre isso por telefone...

 

- E por qual outro meio nos falaríamos? Já faz sete semanas que não nos vemos.

 

- Eu iria aí mês que vem para conversarmos.

 

- O que você tiver de falar, pode falar agora.

 

- Nanda, eu realmente não queria falar agora...

 

- Por favor, fale logo. Você quer terminar, não quer?

 

- Nanda...

 

- Depois de tudo isso, depois de termos nos declarado, de prometermos que iríamos dar certo, você quer por um fim?

 

- Nanda, você mesma disse, mal estamos nos falando!

 

- Jennifer, eu não consigo pensar em outra coisa a não ser ficar imaginando 24 horas por dia o que você está fazendo, eu mando mensagem e você mal me responde, eu sinto sua falta!

 

- Eu fico no estúdio 15 horas por dia, Nanda, e quando não estou gravando, tenho que participar dos eventos que eles fazem, das confraternizações e tudo mais. Nesse início de carreira eu tenho que me dedicar!

 

- E aí não tem tempo para me ligar, entendo.

 

- Nanda, não torne isso mais difícil do que já está...

 

- Jennifer, eu não quero terminar, quero lutar por você, por nós!

 

- Nanda, eu... eu fiquei com outra pessoa. Com outras pessoas.

 

- O quê?!

 

- Era por isso que eu não queria falar com você por telefone. Eu precisava conversar pessoalmente, olho no olho.

 

- Você não precisa dizer mais nada.

 

- Nanda, por favor, não me odeie... eu queria ter terminado antes que tudo isso acontecesse, mas o tempo nunca parecia adequado.

 

- Então você preferiu me trair. Entendi. 

 

- Eu acho que depois que você desligar nunca mais vamos nos falar, né? – A voz de Jennifer mudou de tom, expressando tristeza.

 

- Tchau, Jennifer.

 

...

 

 

 

              - Fernanda? Você não vai começar os documentos? Está parada em frente a tela do computador feito tonta. – Thomás alertou. – Eu não tenho o dia todo para lhe ajudar.

 

              - Hã? Ah, vou sim. – Fernanda respondeu, saindo de uma espécie de transe hipnótico.

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              Já era quase noite, e o novo turno no restaurante estava para começar. Lorena aproveitou alguns minutos de folga para usar o chuveiro que ficava na parte de trás, que sua chefe permitia usar.

              Enquanto se banhava calmamente, conseguiu ouvir alguém puxando a cortina do box, e só deu tempo de cobrir rapidamente as partes íntimas com as mãos e dar um grito.

 

              - Socorro!!

 

              - Meu Deus, desculpa! – Um rapaz assustado prontamente cobriu o rosto. – Foi me passado que o registro do chuveiro estava com vazamento, eu vim arrumar.

 

              - Não é o registro do chuveiro, é a torneira do lado de fora do fundo do restaurante. – Lorena explicou, enquanto pegava uma toalha para se cobrir. – E o que você está fazendo com uma capa de chuva?

 

              - Eu sou garçom daqui do turno da noite, fiquei com medo de molhar a roupa e peguei essa capa preta que me faz parecer um detetive. – O rapaz riu, ainda com o rosto tampado, enquanto Lorena pegava suas roupas. – Você trabalha aqui?

 

              - Trabalho sim, sou a nova sous chef, mas trabalho mais no turno da manhã e tarde. Pode destampar o rosto. Ah, e prazer em lhe conhecer, meu nome é Lorena.

 

              - O prazer é todo meu. Eu me chamo Pedro.

 

              A subchef paralisou por um longo segundo ao ouvir o nome do rapaz.

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

 

 

              A noite cultural da vez estava voltada para a gastronomia italiana. Ingrid e Maria Fernanda resolveram ir para matar a saudade do restaurante de Mari e apoiar Lorena. O restaurante já estava quase em capacidade máxima quando o casal chegou, e então se sentaram próximo à cozinha.

 

              - Faz quanto tempo que a gente não vem aqui? – Ingrid perguntou, enquanto olhava o cardápio personalizado para a noite cultural.

 

              - Uns bons meses. – Fernanda respondeu, olhando ao redor. – Mudaram várias coisas aqui.

 

              - Tem a decoração italiana também que fizeram para essa noite, deixou o restaurante bem diferente.

 

              - Acho bem legal isso, Mari consegue mudar totalmente o aspecto do ambiente para essas noites.

 

              - Realmente.

 

              - Er... Ingrid, tenho algo para lhe contar. Esse fim de semana não vou poder ir para sua casa.

 

              - Já sei. Tem a ver com a Lorena. – Ingrid suspirou, impaciente. – Se você quiser, a gente inventa alguma coisa para fazer na sua casa e dormimos juntas quando ela pegar no sono.

 

              - Não é isso. Eu tenho que ir em um compromisso com uma cliente esse fim de semana. – Fernanda olhava para baixo, tentando não encarar a namorada enquanto falava.

 

              - Cliente? – Ingrid olhou com ceticismo. – Você não tem clien.. ah, você quer dizer a Jennifer?

 

              - Isso. Ela me chamou, eu nem queria ir, mas tive que pedir um favor para ela e colocar o Thomás na equipe.

 

              - O Thomás? Por que raios você iria pedir para ele entrar na equipe?

 

              - Dr. Raul pediu para que ele vistoriasse meus trabalhos, e você me colocou medo em pedir uma mudança.

 

              - Ele é extremamente chato nesse quesito mesmo, assim como os outros. Mas você não era obrigada a ceder ao Thomás.

 

              - É minha primeira semana, Ingrid! Eu tenho que pelo menos estabelecer alguma relação de trabalho agradável com ele. Não queria que ele me dificultasse logo nos primeiros dias.

 

              - E você conseguiu a vaga na equipe dela para ele?

 

              - Consegui. Mas logo em seguida ele me chamou para ver um tal restaurante experimental.

 

              - Para um restaurante? Vocês vão almoçar juntas?

 

              - Jantar. – Fernanda pigarreou ao responder.

 

              - Jantar? Isso vai ser um encontro?!

 

              - Não! Eu deixei bem claro que tenho namorada e ela confirmou que não é um encontro.

 

              - Hm. – Ingrid torceu o lábio. – Está bem, então.

 

              - Está bem mesmo? – Fernanda arqueou uma sobrancelha, desconfiada.

 

              - Eu ficaria mais segura se pudesse ir junto, obviamente.

 

              - Eu também queria que você fosse. Ela disse que foi difícil conseguir convites. Tem todo aquele lance de exclusividade de gente rica. Mas lhe juro, ela só quer conversar. Talvez queira pedir perdão por ter sido babaca comigo, limpar seu passado para poder seguir em frente.

 

              - Boa noite, senhoritas. Estão prontas para fazer o pedido? – Um garçom as abordou, interrompendo a conversa.

 

              - Sim, eu vou querer o Tortellini in brodo. – Ingrid respondeu.

 

              Antes de Fernanda responder, ao desviar o olhar rapidamente, viu Lorena lhe chamar lá na cozinha.

 

              - Eu já volto. – Comentou e se retirou rapidamente.

 

              Ao encontrar a amiga na cozinha, esta parecia ter visto um fantasma.

 

              - O que foi? O que aconteceu?

 

              - Sabe o nome do garçom que lhe atendeu? Pedro! O nome dele é Pedro!

 

              - E o que é que tem?

 

              - Ele estava mais cedo com uma capa preta de chuva!

 

              - Capa de chuva? Mas nem estava chovendo, o que está acontecendo?

 

              - Você não está entendendo? Tem a ver com o meu sonho.

 

              - Qual sonho? O de hoje pela manhã?

 

              - Esse mesmo. Tudo se encaixa! Pedro, pedra...

 

              - Você sabe que tenho grande respeito por sonhos, mas não acha que pode ter sido uma grande coincidência?

 

              - Não sei, é por isso que estou assustada!

 

              - Mas na possibilidade de não ser coincidência, o que você acha disso?

 

              - Não sei! Acho que talvez ele vá fazer parte da minha vida, ou eu serei parte da vida dele para alguma coisa, não sei o que é.

 

              - Mas você sente isso?

 

              - Bem, eu sonhei que brincava de amarelinha com você quando éramos pequenas antes do primeiro dia de aula no parquinho, não sonhei? E aqui estamos, quase vinte anos depois, e eu estou grávida morando na sua casa.

 

              A lembrança de uma garotinha de seis anos lhe abordando na hora do recreio, contando que sonhou com alguém com o mesmo cabelo da amiguinha, dizendo que sua mamãe havia lhe falado que isso era o sinal do início de uma grande amizade fez Fernanda abrir um largo sorriso. Talvez sonhos e memórias estivessem interconectados. Talvez.

 

 

.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:..::.

 

              Quando Fernanda retornou para a mesa, Ingrid já havia pedido por ela e estava apenas aguardando, com Sophia ao lado, que acabara de chegar. No outro canto, foi colocado um piano para música ao vivo. Quem se arrumava na frente do instrumento, aquecendo as mãos, era Heitor.

             

              - Olha lá, Nanda, seu futuro namorado vai tocar uma serenata para você. – Ingrid brincou.

 

              - Não começa, Ingrid.

 

              - O que foi que eu perdi? – Sophia questionou.

 

              - Lorena tentando bancar o cupido, disse que Heitor e Fernanda combinam. – Ingrid explicou, rindo.

 

              - Ah, verdade, lembrei. Mari me mandou mensagem hoje mais cedo dizendo que Heitor perguntou de uma tal de Fernanda. – Sophia riu. – Acho que Lorena já falou de você para ele então. Mari já explicou a situação para ele e logo recordou quem você era. Não se preocupe.

 

              - Os anjos sabem como é chata essa situação de ter que contornar tudo para Lorena não descobrir. – Ingrid aproveitou para reclamar.

 

              - De novo isso, amor?

 

              - Vai dizer que estou errada? Se estou errada, então me dá um selinho aqui no meio do restaurante. – Ingrid provocou.

 

              - Não me provoque, Ingrid.

 

              - Fernanda, você não confia nela? Ela parece ser responsável o suficiente.

 

              - Não sei. Tenho medo de como ela vai encarar o fato da amiga de infância dela gostar de mulheres. Fora que ela vai acabar soltando para minha mãe. Não que faça de propósito, mas minha mãe tem um jeito de sugar a verdade das pessoas, demorei anos para adquirir autocontrole suficiente. Minha mãe pergunta sobre Lorena todos os dias, como ela está, se está se adaptando bem na cidade. Não demoraria muito para ela arrancar a verdade da garota sobre mim.

 

              - E por que você tem tanto medo da sua mãe saber? – Sophia continuou questionando. – Você mora fora, tem seu próprio salário, sua própria vida, não depende mais dela financeiramente há tempos.

 

              - É complicado.

 

              - Ou talvez você tenha medo da sua mãe lhe ver como um ser inferior só porque você está namorando uma mulher. – Ingrid sugeriu. – Autopreconceito.

 

              - Não é isso, amor. Eu só não quero balançar meu relacionamento com a minha mãe no momento. Quero fugir de encrenca. Estou feliz desse jeito.

 

              - Estávamos prestes a casar e agora não posso nem beijar você em público. Estamos perfeitamente felizes. – Ingrid deu um último comentário antes do jantar chegar. A sobremesa, pelo visto, teria gosto de climão.

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