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A tragicomédia de Morgana por shoegazer

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Palavras: 5056
Acessos: 445   |  Postado em: 07/12/2022

Ainda de manhã

— Bom dia! - alguém entra no quarto, abrindo as janelas. Me surpreendo e logo abro os olhos. Olho de um lado pro outro, e é a mãe de Isabela, a senhora Diana, puxando as cortinas e levando a claridade pro quarto.

Do meu lado, Raquel ainda dorme, deixando o ar escapar devagar pela boca. Pela luz que entra ali, não deve ser mais do que sete horas.

— Dormiram bem? - ela volta a falar, e eu, ainda distraída, só concordo com a cabeça - Ótimo, o café já está na mesa.

Cadê a Isabela? Olho de um lado para o outro, mas não a vejo. A cama do lado está arrumada. Será que ela não dormiu ali? Levanto sem fazer barulho para não acordar Raquel, que parece dormir tão em paz que seria um erro tirá-la dessa posição.

Coloco os sapatos e me arrasto para o lado de fora, onde tem mais gente do que ontem. O que eu acho ser a irmã de Isabela está lá com duas crianças pequenas. Um corre ao redor dela e outra, ainda de colo, dorme em um canto afastado. Quando ela me vê, ela me recepciona com um abraço, o que acho estranho, mas nada falo.

—  Tu deve ser a amiga da Isinha - ela diz animada - não é? A Morgana?

— Sim, é... - dou um sorriso que deve escancarar meu sono - Prazer.

— Por favor - ela puxa uma cadeira pra mim - sinta-se à vontade - e pega a garrafa de café, colocando em minha direção. O pai e o irmão conversam em um canto, e o cheiro de pão assado invade o ambiente.

Mas e agora que eu não tomo café? Olho para a garrafa sem reação.

— Ela não toma café - Isabela sai da sala para a cozinha, com a cara de quem não dormiu nada. Os olhos cerrados, o cabelo bagunçado, os movimentos lentos indo até o fogão com uma chaleira em mãos.

— Sério? - a mãe dela fala, com os olhos parcialmente arregalados - Então eu vou...

— Não se preocupe - Isabela gesticula - vou ajeitar um negócio pra ela.

— Por que você não toma café? - a criança que não parava de correr pergunta curioso, me encarando. Ele não deve ter mais de oito anos.

— É...eu não posso - digo eu sem o menor tato com pessoas mais novas.

— Por que não?

— João Paulo, chega - a mãe dele diz, segurando o seu ombro - deixa ela em paz.

— Não tem problema - tento sorrir, mas interação social a esse ponto me deixa muito envergonhada - digamos que... Se eu tomar, fico doente.

— Ah... - ele diz como se tudo fizesse sentido - eu também não gosto de café. Gosto de Nescau, você toma Nescau?

— Às vezes só.

— Por quê?

Depois de um diálogo explicativo para ele dos meus gostos por comida e ele perguntar porque gosto de cada coisa, Isabela me entrega uma cuia cheia de chimarrão.

— E chimarrão - ele aponta pro recipiente fumegante - gosta?

— Acho que sim - puxo pelo canudo de ferro e sinto aquele gosto amargo na boca, mas não é tão ruim quanto eu pensava. É aprazível, e hoje está um frio daqueles.

— Tu quer um pouco, João? - Isabela pergunta pro sobrinho, e ele nega com uma careta. Ela senta do meu lado, serve café preto em uma xícara grande e o sobrinho senta no seu colo.

Isabela joga o corpo pra trás, como se tivesse muito cansada e agora está descansando enquanto a criança pula animada de um lado pro outro, rindo.

— Você dormiu alguma coisa? - pergunto pra ela, que nega com a cabeça.

— Nada, eu fiquei aqui até as duas e depois fui pra outro canto.

Arqueio as sobrancelhas, e a mãe dela me entrega um prato repleto de pão recheado e bolo. Agradeço e continuo a comer. Tudo está tão gostoso que me vejo tentada a repetir só por gula depois.

— Vocês dormiram bem? - ela volta a perguntar, segurando o sobrinho no colo, e gesticulo que sim - Ótimo, porque é o que vou fazer daqui a pouco.

Me questiono se ela não está fazendo isso pra tomar coragem para o que quer fazer. Termino de comer, e me ofereço pra fazer alguma coisa na casa, o que a dona nega veementemente, como se fosse uma grave ofensa. Pedi para que ao menos lavasse a louça, mas nem isso, e ela me manda voltar.

Isabela cochila na cadeira, e o sobrinho dela a acorda batendo em sua perna. Ela grunhe e leva ele pelos braços para o lado de dentro, e sinto que Fabiane, sua irmã mais velha e o maior foco de suas reclamações, me encara. É exatamente como eu imaginei: uma mulher que segue os padrões esperados.

Ela pega a xícara de café e se senta do meu lado, jogando o cabelo para o lado.

— Como se conheceram? - ela diz em tom despretensioso.

— Moro no apartamento do lado do dela.

— Pensei que trabalhassem juntas - ela dá um gole no café, olhando de relance pra criança dormindo - tem jeito de que é da mesma área que ela.

— Ah, não - nego sem graça - eu... Sou de outro ramo, trabalho com roteirização.

— E o que é isso, exatamente?

— É quem escreve as histórias de filme, série, peças...

Ela me olha como se, por causa dessa informação, eu fosse alguém importante, se aproximando de mim.

— Sério? - assinto que sim - Deve ser tri legal.

— É... - Melhor do que passar oito horas tocando uma mesma música, mas não deixa de ser tão estressante quanto.

— E vocês duas se dão bem - ela volta a sorrir - Isabela não é de apresentar muito as amigas...

Até uma pessoa idiota como eu percebo o que ela quer dizer com isso. “Você é namorada da minha irmã ou coisa assim? Porque tenho quase certeza da homossexualidade dela” é o que está implícito nisso. Volto a menear com a cabeça, tentando segurar o riso.

— Isabela é muito querida por mim - tento sorrir do mesmo jeito - e eu fico muito feliz em ter vindo.

Ela olha de soslaio, depois olha para trás de mim. Ouço passos de alguém chegando perto de mim, e logo a mão firme em meu ombro.

— Bom dia.

É Raquel, que beija o topo da minha cabeça e eu pressiono sua mão que me toca levemente. Fabiane olha sem saber o que dizer, e se levanta, retribuindo o bom dia. Raquel vai falar com os outros, que a recebem animada. Seu olhar está explícito que ela acredita que a casa de família, tão tradicional, foi infestada pela ditadura gayzista ou sabe-se lá que esse pessoal fala hoje em dia.

Ela toma o café, e discute sobre algum jogo com o pai de Isabela e o irmão. Ele me olha de soslaio, e volta a falar com ela. Peço licença e volto pro quarto, indo pegar o suéter marrom de listra central branca que minha tia me presenteou quando saímos pra comprar o presente da mãe de Isabela, e tento ligar pra Isolda, sem sucesso. Isabela dorme apagada, com a boca aberta, na cama, e seu sobrinho brinca com o videogame na sala.

Pego o livro, e volto a me sentar na cama quando meu telefone toca. É Camille, e vou para o lado de fora, que bate um vento frio atende-la. Parece que ontem teve mais briga na hora de grava, mas dessa vez, não posso intervir, e nem desejo. Ela pede - pela primeira vez desde a discussão que tivemos - que eu mande minha parte adaptada de uma cena, e digo que sim. Infelizmente, não estou de férias, e pego meu computador na mochila, seguindo para mais uma edição, usando a cama mesmo como meu pequeno escritório.

Só depois de um tempo sinto braços me envolvendo, e sentando atrás de mim.

— Ocupada? - diz ela apoiando o queixo no meu ombro e me envolvendo com as pernas. Juro que me distraí no mesmo instante a ponto de esquecer até como é que termina essa palavra.

— Um... - respiro devagar - pouco. Preciso enviar essa parte antes de gravarem.

Ela se desvencilha e se deita do meu lado, mexendo no telefone. Após alguns bons minutos - e já desocupada - desligo o computador e o deixo de lado, deitando do seu lado.

— Vamos dar uma volta? - Raquel diz, se virando pra mim - Preciso me exercitar.

Concordo e vou para o banheiro trocar de roupa e escovar os dentes. Ouço ela discutir com alguém no telefone antes de voltar usando o mesmo suéter, mas sem a roupa de dormir. Ela também está com suas roupas habituais e um casaco, e saímos no seu carro, com ela procurando uma quadra ali pelas proximidades.

A cidade não é grande, mas também não é pequena. É bonita, arborizada, limpa, não parece nem um pouco com o caos implodido em que moramos. Ela encontra o local, para o carro em frente e, para minha surpresa - talvez não a dela - o dono do local e outra pessoa a recebem animados, tirando foto, oferecendo algumas coisas. Eu me presto a sentar em um local afastado e continuar a leitura que comecei de Noites Brancas.

Ela treina por uma hora e pouco com um dos homens que a recepcionou, e tiram mais fotos do momento. Depois do banho e da troca do vestiário, me encontra novamente e seguimos para fora depois de mais conversa entre eles. Me pergunto se ela não é uma figura conhecida na modalidade, mas, de qualquer jeito, isso não importa. Depois que ela sai, ainda com o rosto levemente vermelho pelo exercício nas quadras, ela me olha de relance.

— Já quer voltar pra lá? - Raquel olha no GPS logado no carro.

— Ah, não exatamente - nego, fechando o livro - me sinto deslocada em ambientes com pessoas que não conheço.

— Então... - ela diz parando o carro no semáforo - vamos procurar o que fazer.

Andamos pela cidade, paramos em uma praça e Raquel resolve tirar algumas fotos por lá, depois voltamos pro carro e andamos mais um pouco, talvez por meia hora, até que ela para em um lugar mais ermo, tomado pela neblina da manhã.

— Você está gostando do passeio?

— Muito - concordo com um aceno sucinto - eu... Nunca tinha feito esse tipo de coisa.

— Que tipo?

— Viajar com pessoas que gosto, ir pra casa de um amigo - rio constrangida - essas coisas?

— O que mais você nunca fez?

— Bom... - mordo os lábios brevemente ressecados, pensando - não tenho tatuagens, piercings, nunca participei de uma briga física... E você?

— Acho que desses, só não tenho o piercing - ela diz dando os ombros, rindo.

— Você tem uma tatuagem? - ela concorda que sim - Sério? Aonde?

— Foi coisa de adolescente imprudente - suas bochechas ficam levemente coradas - é feio, fiz quando tinha uns quinze anos...

— Posso ver?

Ela levanta a camiseta em parte, e abaixa o cós da calça, mostrando o que acredito ser uma letra S em tribal.

Mas o que presto atenção é em outra coisa.

Quando eu era criança e comecei a desconfiar que eu era “diferente” das outras meninas que falavam como tal artista era lindo e eu só conseguia endeusar as artistas mulheres, procurei na Internet o que significava ser homossexual, já que uma conhecida na quinta série já tinha me chamado disso quando falei que tal professora era bonita. “Isso é coisa de sapatão, Morgana, você é?” então perguntei o que era uma sapatão, e ela disse que era coisa de homossexual.

Homossexuais são pessoas que se atraem pelo mesmo sex*, ou seja, quer estar de forma afetiva com alguém que se encaixa nisso. É achar alguém atraente quer dizer que você gostaria de estar com ela e praticar qualquer conotação que se encaixe no afetivo, seja abraçá-la, fazer carinho, tudo o que se encaixa nisso, inclusive sex*. Fiz um teste, e deu que eu era homossexual. Fiz outro, mais uma vez. Fiz cinco, e todos deram a mesma coisa, mas só tive certeza mesmo quando comprovei, afinal só o campo das ideias não funciona sem realmente testar.

Eu nunca fui aquilo que pode se chamar de figura sexual - isso sempre esteve em último plano na minha vida - e não saberei responder se isso vem de mim mesmo ou dos inúmeros traumas que cercam minha vida mesmo que - e para a minha sorte, digamos assim - nunca tive nenhuma importunação do tipo na minha vida, mas acredito que, por ter presenciado coisas terríveis relacionadas a isso, fez com que eu desse dez passos pra trás nesse assunto.

Mas, minhas fantasias sempre envolveram estritamente mulheres, sejam atrizes, bailarinas, escritoras. Eu queria ser elas e tê-las. Era algo muito confuso que só foi se esmaecendo quando comecei a dar vasão a tais sentimentos sem me culpar achando que eu era uma sodomita ou algo do tipo. Porém, isso não quer dizer que as coisas ainda sejam fáceis.

Digo, agora indo para uma questão mais pessoal, minha vida dentro de um manicômio assassina qualquer lascívia sexual, seja pela quantidade de remédios que consumi ou por todo o contexto que vivi - por longos anos, inclusive - com o meu receio de me envolver com alguém atrelado ao fato de que nunca conseguiria trans*r com alguém se não a conhecesse bem para isso.

Mas porque estou trazendo tudo isso à tona?

Porque eu tinha esquecido completamente o que era sentir isso ao ver a curvatura do corpo e sua barriga com leves linhas indicando os gomos formados pelo abdome definido - o que já dava pra sentir quando eu a abraço - mas ver é outra coisa.

Deve ser porque eu estou tocando aquele desenho desbotado e com linhas falhadas e subindo a ponta dos dedos, como se a curiosidade fosse maior. Chega sinto o calor subir pelo meu corpo, como se eu praticasse um pequeno e prazeroso delito.

Que ela percebeu, quando segurou minha mão e levou o meu queixo para perto dela. E o calor só piora. É do jeito que me senti na primeira vez que nos beijamos no seu quarto, só que bem pior.

É pior porque eu levo minhas mãos para o seu pescoço e a beijo, como se minha vida dependesse disso. Minha língua toca a dela com tanta urgência que ela me puxa para perto dela, segurando-me. Eu não consigo entender como é que eu sinto isso. Parece que meu corpo necessita disso mais do que tudo, que se eu não tocar o seu corpo e a ver suspirar, não vou me perdoar. Inclusive, meu corpo inteiro treme com o seu suspiro pesado, escondendo um gemido.

Que me leva para o banco de trás do carro sem que eu perceba com exatidão o que está acontecendo. Sento no seu colo, e volto a beijá-la. Minha mente funciona no automático. Não tenho o mínimo de experiência com essas coisas, mas sinto como se eu soubesse o que estou fazendo.

Até que sua boca encontra meu pescoço, e dessa vez eu que me vejo segurando um gemido. Eu, sentindo isso? Não, tem alguma coisa errada comigo, começando por esse calor. Deve ser esse suéter que esquenta, que me incomoda, que parece me queimar... Tiro ele lentamente, deixando só minha regata por baixo, e ela volta a me beijar com força.

E sinto aquilo. Sim, aquilo como um formigamento em meio a minhas pernas, e meu coração levemente acelerado. Ela segura minhas pernas com força, e sinto minhas pernas quererem se colar uma com a outra. Não sou de palavrões, mas...

Puta que pariu, o que está acontecendo comigo?

Arranho seus braços devagar, e suas mãos deslizam até...Meus seios, no que ela toca o mamilo direito devagar. Fecho os olhos, tentando me controlar, mas é impossível. Sinto o formigar novamente, agora quase como se latejasse, e cerro os dentes com força enquanto ela levanta a camiseta devagar, trazendo para baixo contra ela.

Não, eu não... Posso.

Sua boca toca meu colo e desce onde ela está tocando. Não, não faz isso comigo, eu vou...

Isso parece uma tortura, e a prendo contra minhas pernas no momento que sua língua toca aquilo. Meu interior pulsa mais uma vez, e arranho seu corpo, fechando os olhos, me esfregando lentamente contra ela.

Eu não tenho palavras pra descrever o quanto isso é bom. Será que isso foi tão bom quanto está sendo ou eu simplesmente tinha esquecido? Ou porque não tomo mais nada daquilo e meu corpo, agora limpo, consegue sentir as coisas com mais intensidade?

Mordo meus lábios. Minha mente é repleta de pensamentos promíscuos que tenho até vergonha de trazer à tona, como deixar escapar propositalmente um gemido meu para ela saber o que está acontecendo.

E é o que faço, com ela me segurando com mais força contra ela, e descendo a mão até onde bem sei, puxando meu cabelo. É só quando sinto seu toque que percebo que talvez as coisas estão rápidas demais e que eu preciso parar, se não... Isso não vai demorar muito.

— Eu acho... - digo com a voz ofegante próxima a ela - melhor a gente...

Minhas pernas pulsam mais uma vez, e ela procura por aquilo.

— Parar.

Seguro sua mão antes que prossiga, e ela me encara.

— Por quê? - ela olha ao redor - Não está gostando?

Esse é o problema. Estou gostando, e muito.

— Por que não deixamos isso pra mais tarde? - tento recobrar minha consciência, mas tudo está girando. Ela puxa os lábios para o lado, e dá com os ombros.

— Tudo bem.

Tento arrumar minha roupa, mas ainda estou atordoada. Preciso de um banho gelado, mesmo em todo esse frio. Ela me ajuda com o suéter, e voltamos para o lugar onde estávamos. Raquel respira fundo, parecendo estar tão confusa quanto eu, e dá a partida. Ela sugere irmos em algum ponto turístico, mas minha cabeça está longe, pensando que queria continuar com isso, entretanto...

Parece até piada, e penso que se alguém souber disso iria rir, mas a verdade é que eu tenho problemas disfuncionais sexualmente falando. Resumindo, tenho certeza que se ela me tocar, eu vou chegar lá em menos de um minuto, porque...

Bem, pra tentar resumir, eu só tive uma companheira, que foi minha única namorada, e não é aquilo que se possa dizer de vida sexual comum, se é que tem uma. Digo, nós duas tínhamos problemas e Valentina que era a experiente e nem era tanto assim, então... Como vou saber se estou fazendo o certo?

Porém, desde o começo eu sempre cheguei primeiro. Parece que eu sou uma panela de pressão que cozinha e, no mínimo balançar dela, ela explode. É exatamente como me sinto. Vem o toque, as carícias, e quando é para concretizar algo... Eu sinto aquilo esvair pelas minhas pernas. A terapeuta dizia que era psicológico, mas como é que arruma isso? Talvez eu tenha vindo com defeito.

Mas isso é inevitável, não que Raquel esteja me forçando ou coisa assim, mas é que, com nossa convivência, eu vou me sentindo mais à vontade e... Querendo ou não, mais atraída.

E estou bastante atraída por ela, de muitos jeitos, como um lembrete da minha sexualidade escondida por tantos pormenores. Quer dizer, não é porque eu tenho meus problemas que eu tenha sido totalmente castrada. Fui em parte, mas sempre tem uma que me lembra que ainda sou um ser cercado pelo pecado da carne - e no quão bom ele pode ser quando estamos envolvidos.

O que me faz concluir que, talvez, minha promessa de ainda agora vá realmente se concretizar, dependendo de como as coisas se darão. Ela estaciona o carro e para em frente a um monumento, falando um pouco sobre ele, mas minha mente ainda divaga.

Voltamos para a casa de Isabela e, quando saímos, me vejo querendo segurar sua mão, e o faço. Ela entrelaça seus dedos nos meus quando entramos, e para nossa não tão surpresa, a casa tem bem mais gente do que quando saímos.

Raquel olha pra uma das pessoas, curiosa. Ela é loira, cabelos ondulados presos, o rosto parcialmente vermelho, olhos verdes, como uma personagem saída de uma história clichê. Não chega a ser alta como Isabela, mas tem o nariz sinuoso que parece ser marca da família dela.

Ela está conversando com dois homens quando nota a nossa presença e, quando olha pra Raquel mais uma vez, arregala os olhos como se não acreditasse no que está vendo. Ainda segurando minha mão, Raquel os cumprimenta, mas ela continua sem dizer nada além de falar de volta.

Entramos no quarto, e Isabela continua dormindo. Raquel a cutuca com força, mas ela não acorda.

— Você sabe quem é a mulher lá na sala? - Raquel pergunta pra mim, e nego - Sério? É a Cláudia Schafer, ela...

— A Cláudia chegou? - Isabela se levanta no mesmo instante - Bah, desgraçada! Já volto.

Ela sai do quarto, ainda trôpega, e olho confusa.

—  O que tem ela? - pergunto pra Raquel, que ri.

— Ela é uma nadadora conhecida - diz ela pegando a mochila - ganhou bronze nas últimas olimpíadas e tudo, só não lembro qual modalidade... Você não acompanha? - nego novamente. Esportes estão longe de ser algo que faz parte do meu interesse.

— Só sei que Isabela não vai com a cara dela - Raquel ri, arrumando as coisas na sua mochila.

— Deve ser porque na época deu o maior comentário que ela tinha um caso com a Rafaela Almeida... - e levanta o olhar - do time também. Ganhou até medalha de ouro, você não viu mesmo?

Nego mais uma vez, e ela guarda os materiais que tirou.

— Guria miserável - Isabela volta a entrar no quarto - o que veio fazer pra cá?

— O que ela é pra você, Isa?

— Prima - ela responde revirando os olhos, olhando pra Raquel - e tu, o que foi?

— Imagine ter uma medalhista olímpica na família - Raquel dá com os ombros - ainda bem que não sou você.

— Não que eu me importe com isso - ela diz em um tom revoltoso.

— Então pode me tirar a dúvida - Raquel se aproxima de Isabela, que cerra os olhos, e abaixa o tom de voz - aquilo lá dela é verdade?

— É claro que é - Isabela diz assertiva - só quiseram esconder porque a Rafaela é reservada e pediu pra que não fosse vinculado em nenhum canto.

— E sabem?

— Fingem que não, mas todo mundo aqui sabe - elas compartilham isso como um segredo a qual não entendo nada.

Tiro da mochila o presente pra mãe da Isabela, e vou para a cozinha, onde está a família reunida. Ela me recepciona com um sorriso, e entrego o pequeno embrulho.

— Feliz aniversário, senhora Diana - o coloco em suas mãos - é uma pequena lembrança, espero que goste.

— Ah, muito obrigada, não precisava, sério! - ela se levanta, e me abraça com firmeza - Eu sou curiosa - e ri - vou abrir logo.

Assinto que sim, levemente nervosa me perguntando se ela vai gostar. Isabela que me deu a dica do que ela gostava, então vou confiar no seu gosto.

Só que, quando ela abre o embrulho, todos olham com surpresa, principalmente ela e Fabiane.

— É original? Não acredito! - diz ela chocada, segurando um certificado que vem dentro do perfume - Fabiano, vem cá ver!

—Eu gostaria de dar algo melhor, mas - nego assertivamente - eu não consegui pensar em algo...

— Como algo melhor? - ela diz ainda olhando para o característico rótulo - Mas eu não posso aceitar, isso é...

— A senhora não gostou? - digo já sentindo a tristeza na minha voz, mas ela logo nega.

— Não, eu amei, é... - ela dá um largo sorriso - eu não esperava, muito obrigada.

— Bah, esse perfume é tri caro, não é? - seu esposo pega o presente, o olhando com calma enquanto Fabiane concorda com um aceno.

— Obrigada de novo - ela volta a me abraçar - eu já vou até usar hoje.

Ela pega o presente das mãos dele, e vai mostrar para os demais, que sorriem animados. Não é nada demais para mim. Sequer paga esse momento de alegria que sinto em estar aqui.

Volto para a casa, onde vejo Isabela conversar com Cláudia com um sorriso forçado no rosto enquanto Raquel tenta esconder o riso dela de fundo, olhando alguma coisa no telefone.

— Então, quer dizer que você ainda fala aquela sua grande amiga lá de cima? - Cláudia comenta enquanto me sento ao lado de Raquel, encostando minha mão em sua perna. Ela me olha de soslaio, me dizendo que tenho que prestar atenção nessa conversa, e assim o faço.

— Sim, temos uma amizade assim bem próxima... - Isabela pressiona os lábios - acho que você se identifica, já que tem aquela sua amiga lá, a... Rafaela. Como ela está?

Cláudia morde os lábios, dando um riso contido.

— Ela está muito bem, mando as lembranças pra ela. E como está o trabalho, prima? Já entregou sua tese?

— Está fluindo tri bem - Isabela dá um sorriso ainda mais falso - e imagino que sua vida de nadadora está cada vez mais requisitada. Deve ser ruim ficar sozinha nessas horas, longe de casa...

— Acho que onde quer que fiquemos, sempre seremos bem amparadas, como tu foi lá fora também - ela segura no ombro de Isabela - sabe bem como é isso.

Acho que, se tivesse como exemplificar o que é uma guerra fria, seria exatamente o que estou vendo dessas duas.

— Sei?

— Sabe sim - Cláudia sorri, e vejo o ódio latejante no rosto de Isabela. Tenho vontade de rir - até porque longe de casa, temos mais liberdade de sermos nós mesmos, e isso é ótimo, não é?

Acho que nunca vi uma conversa com tantas trocas de farpa e sorrisos irônicos pessoalmente, só nós livros, e esse daria um ótimo capítulo.

— Ah, se é - Isabela sorri mostrando os dentes, e tenho a impressão que ela quer voar no pescoço dela. Raquel segura minha mão e a acaricia brevemente, se deleitando no caos formado à nossa frente - principalmente com pessoas que nos respeitam de verdade.

E essa acertou bem Cláudia, que faz uma breve cara de desagrado, mas volta a sorrir com ironia.

— Ou quando respeitamos os outros, como seus relacionamentos e tudo mais...

Raquel cerra os dentes, me olhando de soslaio como se questionasse a minha reação. Presto-me a olhar, me perguntando até onde isso vai.

— Ruim é quando não alguém dentro do nosso não o respeita - Isabela dá um tapinha no ombro da prima, que pressiona os lábios - aí temos que fingir algo que não é. Essa é a pior parte.

— Cláudia - um homem diz de fundo - vem me ajudar aqui com as coisas. Vocês duas - e aponta pra ambas, que se entreolham com desgosto e o seguem.

Isabela sai a passos pesados da sala, e olho surpresa para aquela reação.

— Aposta quanto que daqui pro final da noite elas brigam?

— Nada - nego com a cabeça - porque também acho o mesmo.

Seu telefone toca novamente, ela se levanta e vai atender do lado de fora. Já Marcos, o irmão de Isabela, entra na sala e se senta no sofá do lado de onde estou sentada, segurando um copo. Ele me olha sério de novo, e isso dessa vez me incomoda.

— Não quer assistir alguma coisa? - ele entrega o controle pra mim - Pega Netflix aí, essas coisas.

Dou com os ombros. Não sei o que responder.

— Ela é sua namorada? - ele pergunta, apontando com o queixo pra direção da porta.

Nego. Ela não é realmente minha namorada, mas faço isso porque Isabela já tinha dito que a família dela é do tipo conservadora, logo já imagino pessoas com a atitude igual a de Eleanor.

— Então, tem namorado?

Nego novamente, e ele assente com a cabeça.

— Por escolha, imagino.

Por quê ele está dizendo isso? Cerro os olhos, e concordo com um aceno.

— Não quer beber nada? - ele aponta com o copo pra mim, mas nego com a cabeça - Bah, está com vergonha de quê? - ele insiste, gesticulando para que eu beba - Pega logo!

— Não, moço, eu não quero, obrigada.

Só que ele continua a insistir.

— Só um pouquinho, pega logo...

— Eu - digo pausadamente, grave - não quero, obrigada.

Mas parece que minhas palavras são em vão, já que ele se levanta para tentar sentar do meu lado. Antes que ele o faça, Raquel se aproxima, e o encara. Ele para, a olha dos pés à cabeça e volta a olhar pra mim de soslaio, dando um gole no conteúdo do copo como se dissesse o que está fazendo.

Porém, cerro os olhos de volta, repetindo o mesmo gesto que ele, que vai embora sem dizer nada. Torço para que a tensão de briga se resuma somente as duas, e não chegue até o resto da casa, e com isso me incluo no meio. A única tensão que desejo é aquela que senti mais cedo, mas esse é o tipo de coisa que não pode ser dita em voz alta.

— Quer ver alguma coisa então? - ligo a televisão, e ela senta do meu lado. Ela sugere vermos algum filme, e quando coloco no filme que nós, depois de alguns bons minutos, escolhemos, logo Isabela e o sobrinho se sentam conosco.

Pelo menos ele não parece se importar com ela segurando minha mão, mas também, ele parece estar mais ocupado brincando com a tia que acabou dormindo de novo, mas agora no sofá.

Fim do capítulo


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Comentários para 28 - Ainda de manhã:
Billie Ramone
Billie Ramone

Em: 08/12/2022

Hmmmm..... prevejo tretas?  

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