Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 16 - Inferno particular.
Era quinta-feira e eu esperava por meu pai em meu apartamento. Antonella já havia me preparado sobre a conversa que teve com a Yasmin, que contou a verdade aos pais, mas pediu para que Alonso ocultasse a parte do nosso acordo. Eu queria poder ir até ela, a noite em que estive em seus braços me assombrava. Cada mínimo suspiro estavam intactos em minha mente, eu só queria estar com ela agora, a ouvindo me chamar de chatinha, sentir o calor do seu corpo.
Suspirei, me sentindo agoniada.
— Papai chegou. – Ana surgiu em meu quarto.
— Já estou indo lá. – Aspirei o ar com calma.
— Vou tá do seu lado, vamos...
Deixamos o quarto lado a lado, o meu pai estava parado no meio da sala, os braços cruzados para trás, admirando a fotográfica na parede. Era tão injusto o que ele estava passando. A minha mãe voltaria amanhã, não aceitou o pedido de divórcio e agora ele sabia que um dos seus melhores amigos é um crápula.
— É de tirar o folego. – Ele me encarou, um sorriso cansado enfeitou a face bonita. — A Antonella tem um olho magnifico.
Fui até ele e o abracei forte.
— Me desculpa te trazer mais notícias ruins, papai. – Ele me apertou contra si. — Eu juro, não foi a minha intenção, eu realmente achei que conseguiríamos resolver toda essa bagunça.
— Acho que deveria ter me dito antes, filha. – Nos encaramos. — Alonso me contou tudo e eu me sinto um péssimo pai por você tá passando por tudo isso.
— Não, papai, nada disso é culpa sua. – Ele segurou a minha face por algum tempo.
— Eu vou te proteger dessa mulher, filha, ela não irá te fazer mal algum. – O seu olhar, ele estava me matando.
A culpa é minha.
— Sentem, minhas meninas. – Fizemos o que ele mandou. — Pedi para o advogado obter algumas informações a respeito dessa mulher, ela é filha de um juiz e ex-ministro da justiça, não será tão fácil, mas em breve, ela será notificada. Infelizmente, no país em que vivemos, é capaz de não chegar a lugar algum. Teremos que ter cuidado...
— Yasmin havia dito algo sobre o pai dela ser um homem importante. – Mordi a bochecha por dentro. — Essa mulher, ela é doente, vê a Yasmin como uma propriedade. Foi por causa dela que a Yas foi agredida...
Passei as minhas mãos sobre o rosto.
— Lara, não quero nunca que ache que não pode me contar as coisas. Eu sempre vou te proteger, filha, sempre. Você e a sua irmã são os meus bens mais preciosos, então não me deixem de fora da vida de vocês. Ainda mais em algo tão sério...
— A gente achou que conseguiria, papai, mas as coisas mudaram quando a ex da Yas falou com a Nicole. Ela ameaçou expor coisas pessoais da Yas. – O meu pai cruzou as pernas.
— Entendo, você quis proteger a sua namorada. – Senti a minha bochecha esquentar.
— E o Patrick, papai? Como iremos lidar com aquela cobra? – Ana perguntou.
— Farei uma reunião no hospital, somente os sócios majoritários e vocês, nossos futuros sucessores. Deixarei tudo em panos limpos, quero que ele saiba que estamos cientes de suas ações. Nunca achei que ele chegaria a isso...
— Sinto que esse será o início de um longo confronto. Patrick é um homem ardiloso, usa a filha pra chegar onde quer.
— Ele sempre foi o mais ambicioso de nós, mas sempre achamos normal, afinal o nosso objetivo era muito grande, difícil de se alcançar, mas isso vai acabar. Vamos arrumar uma forma de resolver todas essas questões, porém desta vez juntos.
— Papai, você deveria pedir pra alguém investigar o Patrick, talvez surja algo que possa ser usado contra ele e com isso, o afastamos do hospital. – Ana falou.
— Alonso disse o mesmo, então decidimos contratar um detetive particular. Se existir alguma coisa obscura, iremos saber em breve. – Os olhos do meu pai ficaram rasos.
Ana e eu nos aproximamos, o envolvendo em um abraço.
— Estaremos com você, pai, sempre. – Ouvi um soluço baixinho.
— Você é uma pessoa incrível, papai, não vamos deixar o senhor sozinho. – Ana completou.
Sexta, 16 de setembro.
Estava no hospital desde as sete, havia feito uma cirurgia de emergência em um empresário que sofreu um acidente grave e teve uma fratura exposta. Foram cinco horas difíceis, o paciente perdeu muito sangue, entretanto, conseguimos um bom resultado.
Decidi ir até o terraço, precisava de um pouco de ar. Os últimos dias estavam complicados.
— Ora, eu estava procurando por você. – A minha mãe saia da sala de Nicole.
Olhei ao redor, não queria ter nenhuma conversa com ela.
— Espero que esteja satisfeita com tudo o que tá acontecendo. – Aspirei o ar com calma. — Por sua causa o meu casamento está indo pro lixo. Anos de dedicação sendo jogados fora por seu capricho, Lara.
— Eu não quero ter essa conversa, mamãe... – Tentei passar por ela, mas fui impedida.
— Não ligo a mínima para o que você quer, Lara. Espero que morra de culpa, colocou o seu pai contra mim, a sua irmã, agora o meu casamento vai chegar ao fim. Tá feliz?
Os meus olhos ardiam e eu me controlava para não chorar na frente dela.
— Não bastava a vergonha de ser sapatão? Onde eu errei, garota? Onde?
— Eu não tenho culpa se você é uma pessoa ruim, mamãe. – Eu não deixaria mais que ela me colocasse para baixo. — Você precisa de ajuda, mas eu não sei se caráter ruim tem solução.
— Tome cuidado com o que fala, eu ainda sou a sua mãe e não vou permitir que fale comigo dessa forma, sua insolente!
— Eu não tenho mais respeito por você. A senhora passou anos me sufocando, anos sufocando a Ana e até o meu pai. Como você acha que ele está? Não sabe, né? Você não liga, não se importa com a gente. Você tá se destruindo sozinha, dona Telma. Espero que a sua máscara de pessoa boa caia logo e todos fiquem sabendo quem é você de verdade, um ser humano vazio e desprezível...
Então o meu rosto foi acertado brutalmente por um tapa, dei um passo para trás, sentindo a minha face arder.
— A verdade dói, não é? – Engoli um nó que se formou em minha garganta. — Eu tenho pena de você, mamãe, deve ser difícil ser uma pessoa tão ruim. Até mesmo o papai que sempre te tratou com devoção, agora te ver como você realmente é...
Me afastei, caminhando até a escada que daria ao terraço. Quando senti o vento forte contra a minha face, me permiti chorar. Abracei a mim mesma, o meu corpo sacudia inteiro, doía a minha alma. Até quando seria daquela forma? Eu queria ser forte, queria encarar as coisas sem lágrimas nos olhos.
— Calma... – Fui abraçada pelas costas. — Calma.
O vento frio me trouxe o perfume já conhecido.
— Eu... eu não consigo. Dói... – Passei a soluçar, o choro rasgava a minha garganta. — Dói muito.
— Lara...
— Você não entende... não. Sua mãe, ela é boa, te ama... você não entende! – Falei em desespero, tentei me soltar, mas Yasmin continuou a me abraçar forte.
— Vou ficar aqui com você, meu amor, não vou a lugar nenhum. – Desisti de lutar, então apenas fiquei ali.
Doía tanto, tanto.
— Por que, Yas, por que ela me odeia tanto?
Yasmin me virou para si, escondi a minha face em seu pescoço e molhei aquela área com o meu choro. Eu não sei por quanto tempo permanecemos daquele jeito, mas ela não me soltou nem por um segundo.
Olhava para o copo com água em minhas mãos, enquanto era observada por Yasmin e Antonella. Elas respeitaram o meu silencio, apenas me faziam companhia, zelavam por mim.
— Preciso voltar pro meu consultório. – Bebi mais um gole.
— Tem certeza? Não quer ir pra casa? – Encarei Yasmin.
Era tão bom olhar para ela.
— Tenho, já chega de dar poder a ela de me deixar mal. – Fiquei de pé.
— Eu cuido dela, ruivinha, não se preocupe. – Antonella abriu a porta.
Me aproximei de Yasmin e a abracei, forte, com saudade, aspirei o seu cheiro.
— Obrigada, Yas. – O meu coração acelerou, o meu corpo reconheceu o dela.
Nos afastamos, presas um no olhar da outra.
— Vou ficar de olho em você, mesmo de longe. – O seu sorriso me aqueceu por dentro e de repente, os problemas pareceram insignificantes.
Senti vontade de beija-la, tanto, até que não pudesse mais sentir os meus próprios lábios.
— Vamos antes que alguém veja você aqui. Não podemos confiar em mais ninguém. – Antonella chamou.
— Vai, Lara...
— Obrigada, Yas. – Ela beijou as minhas mãos.
— Eu... – Franzi o cenho. — Eu vou estar aqui.
Mesmo sem querer, deixei a sala de Yasmin.
— O que ela te disse? Eu sinto vontade de esganar a sua mãe, Lara. – Antonella colocou os braços sobre os meus ombros.
— Me culpou por meu pai ter pedido o divórcio. – A minha amiga soltou um grunhido.
— É claro, a Telma jamais assumiria a própria culpa. – Aspirei o ar com calma.
— Eu a odeio, Antonella, se um dia desejei que tivéssemos um bom relacionamento, agora não quero mais. – Paramos no meio do corredor vazio.
Antonella me abraçou forte, ela mais do que ninguém me entendia.
— Vamos cuidar uma da outra. – Não pude deixar de sorrir.
— Graças ao universo, tenho você e a Ana...
— Ainda bem que você existe, Lara, ainda bem...
Era sábado à tarde, o meu pai havia marcado uma reunião com Patrick e Nicole, que chegariam em breve. Hugo e Alonso estavam presentes, o meu pai estava em pé, de frente para a janela.
Yasmin ainda não havia chego.
Eu passava o meu tempo pensando nos meus problemas pessoais e nela, na noite maravilhosa que tivemos. A minha mente foi além, imaginando como seria se fossemos de fato namoradas.
Eu desejava que pudesse ser assim em algum momento...
— Desculpem a demora. – Imediatamente, os meus olhos caíram sobre a figura na porta.
O meu coração acelerou e um frio gostoso me visitou o estomago.
— Havia muitas coisas pra resolver. – Os olhos verdes encontraram os meus.
Ela estava linda, tão linda.
— Tudo bem, filha, eles ainda não chegaram. – Yasmin abraçou Alonso e falou carinhosamente com o meu pai.
— Oi, chatinha. – Ela sussurrou em meu ouvido ao me abraçar.
Me arrepiei inteira.
— Oi, Yas. – Ela sentou ao meu lado.
— Como você tá? – Passamos a ignorar a existência dos outros. — Tem se alimentado direito?
— A Antonella não me deixa pular nenhuma refeição. – Ela tocou a minha face e eu fechei os meus olhos. — Ela e a Ana, na verdade. E você, como você tá?
Nos encaramos e ela sorriu.
— Eu sinto sua falta. – O meu peito arfou.
Não pude evitar o sorriso.
— Espero que isso seja mesmo importante, eu tenho um paciente pra atender. – Patrick entrou, acompanhado Nicole.
Yas e eu interrompemos o contato. Ela nos olhava, parecia atordoada.
— Se não fosse importante, jamais teríamos o chamado. – O meu pai falou, indo até a porta e a trancando.
Patrick ergueu as sobrancelhas, parecia inabalável.
— Então vamos direto ao ponto. – Ele se sentou, olhou para Yasmin e eu com descaso.
— Quer que sejamos diretos? Ok. Já estamos cientes das artimanhas que você e a sua filha usaram pra ela chegar à diretoria. – Nicole arregalou os olhos, ela estava toda coberta mesmo estando um calor infernal lá fora.
— Não faço a menor ideia do que estão falando. – Filho da puta.
— Não brinque com a gente! – Alonso se alterou. — Você e a sua filha usaram de chantagem pra tirar o Claudio da diretoria e fizeram o mesmo com a Lara e a minha filha.
Patrick cruzou as pernas.
— Você tem alguma prova disso, Alonso? Porque se não tiver, acho que acabamos por aqui. – Ele sorriu, um sorriso carregado de cinismo.
— Seu desgraçado... pegou um assunto particular da minha filha, a colocou em uma situação ruim. – Alonso estava vermelho.
— Calma, papai. – Yasmin o fez sentar.
— Sua filha é uma devassa, se meteu com uma mulher casada, deveria estar repreendendo a ela, a educando. Minha filha e eu não temos nada a ver com isso e volto a repetir, se nenhum de vocês têm alguma prova do que dizem, então eu vou me retirar.
Ele ficou de pé, arrumou o jaleco.
— Nicole, como você pode? Esse monstro...
— Não temos mais nada a dizer, Yasmin! – Nicole a cortou.
O seu olhar parecia amedrontado.
— As coisas vão mudar por aqui, Alonso, Joaquim. Quem não se adequar as novas normas, será retirado do nosso quadro. Vocês sempre foram muito moles, não tem pulso pra manter o nosso prestigio.
— Você é um canalha, Patrick. Sempre fomos os seus amigos, erguemos isso aqui juntos e você tá jogando tudo no lixo por poder?
— Vocês dois são amigos, eu sempre fui só um tanto faz. – Ele olhou em seu relógio. — Tô aliviado por poder dizer isso...
E sem dizer mais nada, ele deixou a sala de reuniões com a filha.
— Acho que não precisamos de mais nada, já temos certeza que ele realmente deixou de ser o homem que conhecíamos. – O meu pai falou.
— Vamos ter que começar a tomar medidas, Joaquim. – Alonso passou a mão sobre a cabeça.
— Já sabem o que irão fazer? – Hugo perguntou.
Yasmin se mantinha calada, olhava para um ponto qualquer.
— Reunir provas e bani-lo do hospital. Precisamos saber se alguém do conselho está compactuando com isso. – O meu pai estava triste.
Ele já estava passando por tanta coisa.
— Não consigo acreditar que ele se tornou esse... esse ser sem escrúpulos. – Alonso lamentou.
— Temos muita coisa a fazer, mas por enquanto, manter a Lara e a Yasmin seguras é o que vem em primeiro. Eu queria fazer um pedido a você, Yasmin. – Ela finalmente pareceu sair do transe.
— Acho que imagino o que seja, Joaquim. – Franzi o cenho.
— É o melhor, até que possamos resolver tudo isso. Eu não quero mesmo que isso ocorra, eu gosto muito de você, mas o melhor pra vocês é que você fique longe da Lara...
— Papai...
— Ele está certo, Lara. – Ela também ficou de pé. — No momento, eu represento um risco a sua integridade física. Vou manter distância, Joaquim, eu estou apaixonada por sua filha e a última coisa que desejo é fazer qualquer mal a ela.
O meu coração errou a batida, senti as minhas pernas ficarem bambas e até pensei ter ouvido errado.
— Eu preciso ir, acho que estou sem condições de trabalhar hoje. – Yasmin me olhou, mas a sua face estava neutra.
Então ela saiu da sala, me deixando com a frase martelando em minha cabeça. Agoniada, tentei ir atrás dela.
— Yas...
— Lara, filha, é melhor não. – Alonso me segurou com delicadeza pelo ombro. — Deixei as coisas se resolverem.
— Mas ela precisa de mim... – Estava atordoada. — Eu não posso deixá-la sozinha. O senhor ouviu o que ela disse?
O olhei em desespero.
— Ela... – Está apaixonada por mim.
— Ela não vai ficar sozinha, querida, nós iremos dar suporte a ela. Por favor, obedeça ao seu pai...
Senti os meus olhos arderem.
“Ela... ela sente o mesmo. Como eu vou ficar longe sabendo disso? Como?”
Sentei no chão, aspirei o ar com calma e deixei as lágrimas correrem livres, seria a última vez, eu não aguentava mais me lamentar. Tigrão, alheio a tudo o que se passava, deitou sobre as minhas coxas, arranhando a minha calça. O meu celular tocou, pude ver o nome de Nicole, mas não atendi. Peguei o meu notebook e busquei por um nome nas redes sociais e quando a achei, enviei uma mensagem no chat.
“Preciso falar com você, me responda assim que receber essa mensagem.”
Mandei o meu número e aguardei, não demorou mais que cinco minutos para o meu celular tocar.
— Estou muito surpresa, a que devo a honra? – Aspirei o ar com calma.
— Preciso que venha até Minas, é sobre a sua mãe. – Ouvi vozes ao fundo.
— Ela tá aí?
— Sim, apesar da surra que você mandou me dar, preciso da sua ajuda.
— Espera, que surra? Do que tá falando? Eu não fiz absolutamente nada. – Franzi o cenho.
— É claro que foi você. – Ofeguei. — Se não foi você, quem foi?
— Você ainda tem alguma dúvida? Eu jamais me sujeitaria a isso, você já estava longe, por qual motivo mandaria alguém te machucar? – Aspirei o ar com calma.
Aquela desgraçada.
— Ela está fora de controle, eu preciso que você tome providencias, Luna, a sua mãe vai acabar matando alguém ou sendo morta. – Controlei a minha voz.
— Você teria coragem?
— Eu não sei, ela ameaçou a minha família, está totalmente louca. Pedi uma medida protetiva, ela continua aqui...
— Não posso deixar tudo aqui de uma hora pra outra, tenho muitas coisas, mas irei assim que possível. Vou ter uma conversa franca com os meus avós, logo entro em contato. – Deixei Tigrão na cama.
— Acha que eles vão resolver algo? O seu avô sempre encobriu todas as merd*s da Camille.
— Ele andou conversando comigo, disse que tá preocupado com a saúde mental da mamãe. Isso também é culpa sua, Yasmin.
— Eu sei, mas não sou eu quem está ameaçando de morte a algum de vocês, ou é? – Pude ouvir sua respiração. — Nem que eu tenha que ir até eles.
— Não acho que os meus avós irão gostar de ver a ex amante da minha mãe. Vou conversar com eles, aguarde contato...
A chamada foi encerrada.
— Você é muito forte, Yas... – Hugo apareceu em meu quarto.
— Não me sinto dessa forma. – Enxuguei o meu rosto. — Não deveria estar na faculdade?
— Queria ver como você estava primeiro. – Ele sentou ao meu lado. — Você pegou a Lara de surpresa, não achei que iria dizer aquilo.
Suspirei.
— Quando percebi, as palavras já haviam saído da minha boca. – Apoiei a cabeça no ombro dele.
— Ela quis ir atrás de você, mas o papai não deixou. Sinto muito por tudo isso, Yas.
Sua mão procurou a minha.
— Eu também, Hugo...
Sentia todo o peso das minhas escolhas ruins.
Alguns dias depois.
As coisas na casa dos meus pais ainda estavam estranhas, a minha mãe falava somente o essencial. Havia conversado com a Rafaela, iria passar algum tempo em sua casa, somente até tudo melhorar. Precisava daquele tempo, nada na minha vida estava no caminho certo.
Estava vivendo no automático.
— Oi, você deve ser a Carla. – Estendi a minha mão. — Sou a Yasmin.
— Eu sei, o seu irmão fala muito de você. É um prazer finalmente te conhecer. – A menina sorriu.
— Oi, desculpem a demora, o trânsito tá horrível. – O meu irmão ofegava. — Vamos?
Ele havia pedido para receber a mãe do bebe, enquanto chegava ao hospital.
— Temos uma consulta com a pediatra Laura. – Hugo falou a recepcionista. — Bom dia.
— Bom dia, irmãos ruivos. – Luciana sorriu. — Ela está aguardando.
— Eu os levo, Lu. – Falei.
Seguimos pelo corredor, até o consultório.
— Vou esperar vocês aqui...
— Não, você vai entrar, Yas. – Hugo segurou o meu braço.
— Você será a madrinha, até onde sei. – Carla falou. — Ainda bem que foi você quem veio, a sua mãe me deixa nervosa.
Ela havia ido conhecer a minha mãe durante a semana.
— Ok, eu entro... – Olhei o relógio.
Entramos, eu me acomodei no sofá do canto enquanto a medica conversava com ambos. Ela faria alguns exames e uma ultrassom para ver como estava o pequeno ser. Outra vez, fui arrastada para a sala de ultrassonografia.
— Então vamos ver como ele ou ela está. – Ela posicionou o aparelho sobre a barriga de Carla.
Sua barriga já estava bem visível, estava em seu terceiro mês de gestação.
— Olha, eu tenho uma novidade... – Ela mexeu no aparelho. — Ouçam...
Os batimentos cardíacos ecoaram pela sala, eu senti o meu coração acelerar. Uma emoção inédita me visitou.
— Doutora, não me diga que... – Hugo arregalou os olhos.
Fiquei sem entender.
— O que? O que? – Perguntei.
— Gêmeos... – Hugo falou.
Abri a boca de leve, totalmente perplexa.
— O que? Gêmeos? – Carla se agitou.
A menina estava com os olhos marejados, encarava a própria barriga. O meu irmão passou de surpreso a emocionado. Eu também fiquei mexida, na verdade, fiquei muito mexida. Ri com a alegria de Hugo, que tocava o monitor.
Os meus pais ficariam loucos.
— Bem, daqui a dois meses poderemos saber o sex* dos bebes. – Enxuguei o meu rosto. — Aqui está todos os cuidados e tenho um pedido, vá a uma nutricionista, vai ajudar muito.
— Rafaela. – Hugo e eu dissemos juntos.
A medica continuou a falar e logo nos dispensou.
— Tá tudo bem? – Hugo perguntou a Carla.
— Só fiquei um pouco... emocionada. – Ela passava as mãos sobre a barriga.
— Irmãos ruivos, que bom ver a beleza de vocês por aqui. – Antonella estava na recepção.
Fizemos uma breve apresentação.
— Gêmeos? Hugo, você não veio a esse mundo a passeio. – Antonella sorriu. — Parabéns, papais.
— Mais dois cabelos de fogo vindo por aí. – Hugo brincou.
— E quem disse que não podem nascer com os cabelos pretos iguais aos meus? – Carla colocou as mãos na cintura.
Hugo e eu ficamos lado a lado, passamos as mãos nos cabelos, fazendo Antonella gargalhar, pois entendeu no mesmo momento o que quisemos dizer.
— Acho que você tem que se acostumar, Carla, perdeu essa, minha amiga.
— Não é justo carregar nove meses e ainda ser a cara do Hugo. – Antonella e eu gargalhamos.
— A minha cara não é tão ruim...
— Eu sou bem mais bonita que você, minha beleza deveria prevalecer. – Carla respondeu nos fazendo rir outra vez.
Ela e Hugo tinham uma ótima relação.
O meu irmão se despediu, levando a mãe de seus filhos. Segundo ele, deixaria para contar a novidade para os nossos pais a noite. Antonella me convidou para comer algo na lanchonete, havia virado mania.
A gente não falava sobre a Lara, havia sido um pacto mudo.
— E esse sorrisinho besta? – Antonella digitava em seu celular, parou o que estava fazendo e me encarou.
— A Ana me mandou uma mensagem, perguntou se eu já comi. – Ergui as sobrancelhas.
A morena me encarou.
— O que foi? – Os olhos dela passearam por minha face.
— Nada. – Antonella deixou o aparelho sobre a mesa. — Bem, vocês duas já conversaram?
— Não, a gente ainda não conversou, por parte por pura covardia minha. Eu estou em conflito, Yas, uma parte de mim fica jogando na minha cara que eu conheço a Ana desde que ela era uma pirralha, sou doze anos mais velha... – Eu entendia.
— E a outra parte? – Antonella passou a mão sobre a testa.
— A outra parte fica ansiosa por vê-la, ansiosa por ouvir a voz dela. Eu até tento, mas aquela cena fica se repetindo na minha cabeça. Sinto que vou enlouquecer. – Busquei a sua mão. — Eu tenho trinta anos, achei que havia chegado a fase de controlar os meus próprios sentimentos. Eu estou perturbada por causa de um beijo.
Eu podia enxergar a sua dualidade.
— Estou com medo, ela estava apaixonada pela Rafaela. – Antonella passou a mão sobre a cabeça. — Eu estou um pouco... perdida. Ainda não falamos direito sobre o que aconteceu, estou tentando agir com naturalidade, mas quando percebo, estou olhando pro celular à espera de uma mensagem. Sinto que entrei em uma zona que não dá mais para voltar atrás. Tô com medo de ter estragado as coisas, ter estragado anos de amizade.
Ela sorriu, mas não foi um sorriso feliz.
— A Ana é maior de idade, Antonella, você não tá fazendo nada de errado, mas acho bom que ambas não atropelem nada. Sobre a Rafa, não vou mentir, vê o que rolou na boate mexeu com ela, mas ela é muito certinha e jamais interferiria na vida da Ana sem ter certeza de alguma coisa.
Antonella mordiscou a unha, olhou para a xicara a sua frente.
— É engraçado, sabe, ver uma mulher tão cheia de si como você, apavorada com a possibilidade de se relacionar. – Ela sorriu, tomou um pouco de seu chá.
— Eu havia me fechado totalmente pra essas coisas, a minha última experiencia não foi uma das melhores, Yas. Nunca havia sofrido tanto quanto sofri por uma idiota aí. Só a possibilidade de deixar o meu coração nas mãos de outra pessoa outra vez, me apavora. Ainda mais em uma situação como essa.
— Eu queria ter algo decente pra te dizer, mas no momento, a minha vida amorosa não é uma das melhores. – Pela milésima vez somente naquele dia, me lembrei da Lara, queria tanto vê-la.
— Bom dia. – Letícia passou por nós, sem esperar resposta.
— Ela ainda está chateada? – Antonella perguntou.
— Está e eu nem posso culpa-la. – Mordi a bochecha por dentro. — Vamos voltar a trabalhar? Assim evitamos pensamentos intrusos.
— Estou totalmente de acordo. Preciso mesmo focar em outras coisas...
Durante aquele tempo, apenas admirava a Lara de longe. Lutei contra a vontade de ir até ela, de ligar, eu era assombrada pelas lembranças das vezes em que estivemos juntas, assombrada pela noite em que me perdi em seus braços, pelo sentimento de estar no lugar certo, pelo calor de nossos corpos unidos, pelos risos.
Eu a queria...
Camille havia recebido a notificação da justiça, mas ainda assim, não parava de me ligar. A convivência com a Nicole era nula, raramente precisávamos falar sobre algo, Patrick viajou para fora do país, segundo rumores, para uma convenção em Nova Iorque.
A amizade entre a sua família e a do meu pai se rompeu de vez.
— Pode entrar... – Massageei as minhas têmporas.
— Trouxe pra você. – Fiquei surpresa com a presença de Letícia.
Ela segurava um copo enorme com café.
— Obrigada, Le. – Fui até ela. — Entra, senta...
— Na verdade, vim te chamar pra irmos. O meu plantão terminou e acho que a sua hora também. – Ela apontou para a janela.
Olhei e me assustei, não havia percebido que já era tão tarde.
— Que horas são... – Olhei em meu relógio. — Deus, são nove horas.
— Vamos, soube por aí que o seu carro tá na oficina, eu te dou uma carona. – Tomei um gole do café.
— Le, sobre aquela noite, eu sinto muito. Eu não achei, na verdade, nunca pensei que a Lara chegaria a tanto. – Letícia sorriu.
— Ela tinha razão, eu estava mesmo criando expectativas com alguém que já tinha um compromisso. Não me orgulho disso, mas naquela noite ficou muito claro, você é louca pela doutora e duvido muito que outra pessoa tenha espaço.
Mirei o copo com café.
— Vocês duas, mesmo distantes agora, é visível que querem estar juntas. Eu observo as coisas, vejo como a doutora te olha. Eu não sei o que se passou entre vocês, mas ficou claro que se amam.
Amor... amor?
— Eu sou apaixonada por ela, eu... – Suspirei.
— A ama, não é só paixão. – Franzi o cenho.
Amor? Seria possível amar alguém em tão pouco tempo?
— Me contento com sua amizade, eu realmente gosto de você. – Eu não sabia o que dizer. — Vamos? As minhas costas estão implorando por um banho quente.
— Sim, claro, vou apenas desligar tudo...
Peguei a minha bolsa, desliguei o computador e as luzes. Ao passar em frente à sala de Nicole, ouvi alguns barulhos, porém, apenas ignorei. Pegamos o elevador, o hospital estava calmo, era uma noite atípica. Chegamos ao estacionamento, ele estava deserto. Letícia parou para procurar as suas chaves, olhei ao redor e por um momento, senti como se houvesse levado um soco no estomago. Segurei a minha bolsa com mais força, trinquei o meu maxilar.
Ela seguiu em frente.
Lara e a ex-namorada estavam aos beijos ao lado de seu carro.
Senti os meus olhos arderem, um nó se formou em minha garganta e o meu coração, ele doeu, uma dor física. Virei de costas para elas, tentando me recompor e olhei para Letícia, que achou as chaves.
— Finalmente!
— Yas...
Fechei os olhos, aspirei o ar.
— Boa noite. – Me virei, coloquei um sorriso. — Já estávamos indo, até qualquer hora.
Lara me encarava, parecia assustada, mas eu ignorei totalmente. Segui a diante, sendo acompanhada por Letícia. Que esses sentimentos morressem sufocados, para o inferno.
Para o inferno!
Fim do capítulo
Eita!
10 k
Muito obrigada, queridas leitoras.
Comentar este capítulo:
laisrezende
Em: 02/12/2022
Eu Jurava que a Yas ia beijar a outra pra se vingar também.
Eu não acredito que a Lara fez isso, vai ter que se explicar agora e a Yas já mostrou quando fica com raiva. Coitada, tanta coisa ruim acontecendo.
Resposta do autor:
Yas poderia fazer, mas ela não se colocaria de forma tão baixa, nem usaria a Letícia. Ainda mais sabendo que Letícia estava desenvolvendo sentimento por ela. Muito justo Lara dar uma explicação a Yas. Elas já estão passando por tanta coisa, pra quer complicar mais a vida.
obrigada pelo comentário. Logo postaremos mais pra vocês.
Um abraço.
Tany
CatarinaAlvesP
Em: 02/12/2022
Não acredito nisso!
logo agora que ela confessou que estava apaixonada? Que raiva ????
Resposta do autor:
Yas deve ter pensado dessa mesma forma. Logo agora que ela externalizou o sentimento, Lara apronta uma dessas. Yas não tem um minuto de paz.
Segunda tem mais. Obrigada pelo comentário
Tany
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jakerj2709
Em: 02/12/2022
Olá auroras lindas...
Sai da moita pra pedir um momento de paz pra Yas e Lara ,não gosto da CAT acho que ela vai acabar se aliando a Camile...Já a Letícia foi sincera com a Yas .Bom autora fiquei com um pouco de dó da Nicole apesar de tdo acho q 3la n é tão ruim assim e apenas manipulada pelo pai...Bom queria tanto que Camile sumisse de uma vez por todas ...um acidente derrepente como disse acho q as nossas meninas merecia uma trégua
..vai autora esta nas suas mãos
..Obrigado sempre admiei sua escrita...
Resposta do autor:
Um momento de paz pra nossas meninas, seria muito bom. Mas quando pensamos que estamos indo bem. A vida nos dar uma rasteira. Seria bem triste pra Lara se Cat se aliasse a Camille. Letícia é uma boa garota, ela super entendeu que Yas já está com o coração ocupado. Nicole ainda nos reserva grandes surpresas. Um acidente em rsrs. Logo poderá seu destino.
muito obrigada por comentar :)
Um forte abraço.
Tany
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Dessinha
Em: 02/12/2022
Noss mãe agora eu tive que rir com o primeiro comentário: o choro é livre, lembrei-me dos episódios anteriores do nosso país, pos eleição quando sai com amigos a uma pizzaria e alguém gritava que o Brasil escolheu erradohehe, apenas uma lembrança legal sob a perspicácia da amiga que comentou tão rapidamente.
O choro de fato é livre, mas a Lara tinha de beijar alguém, né? Parece eu... complicando tanto as coisas... a vida imita a arte ou a arte imita a vida, sinto-me tão confusa :/ tudo tão real...
Autora incrivel, maravilhosa... obrigada por sua disponibilidade.
Resposta do autor:
Eu também rir do comentário, ela foi bem curta e direta rs.
Isso que a gente gosta de trabalhar, que tudo pareça bem próxima do real, pois em algum momento alguém já viveu algo parecido. As vezes realmente somos nós que complicamos mais as coisas na vida. Bom que as vezes temos a chance de concertar, mas só as vezes. Bora ver como Yas vai lhe dar com isso.
Um cheiro e até segunda.
Tany
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patty-321
Em: 01/12/2022
Que me erra Lara fez. Fazer nossa ruiva sofrer mais ainda. Que merdis
Resposta do autor:
Deu uma dorzinha da Yas. Ninguém merece ver uma cena assim da pessoa que você gosta, mas Lara vai ter que ter uma boa explicação pra isso.
Um Abraço querida.
Tany
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HelOliveira
Em: 01/12/2022
Ah não pode Lara,....tem armação aí ....meu casal não tem um minuto de paz....não gosto dessa Letícia e nem da Cat..
Não arrisco nada do que pode acontecer, só me resta esperar pelos próximos e capítulos......
Muito bom a história está cada vez melhor
Resposta do autor:
Letícia e Cat só pra complicar as coisas com nossas meninas né?. Pode esperar que segunda tem muito mais.
Obrigada pelo comentário querida leitora :)
Abraços.
Tany
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