CAPÍTULO57: 

MARCADA

Enquanto isso do outro lado da montanha....

 

― Esther vem aqui, ela está se mexendo! — Gilles gritou.

 

Eu senti passos fortes de urgência, fazerem o solo oscilar levemente o som era muito idêntico ao de um tambor tocado bem distante, acompanhado de muitos outros, senti também muita gente se aproximando do meu corpo, que tentava despertar, tudo doía, mas o meu receio era de ter sido arrastada pelo  teletransporte mental da Esther, que usou da nossa ligação e me arrastou na hora da emoção mais forte e que todas barreiras de proteção estavam caídas, se fosse isso eu estaria em cima da Nyxs no auge do gozo.

 

― Abra os olhos garota, consegue me ouvi?

 

Eu preferi fingir que não estava acordando e olhei disfarçadamente com os olhos semicerrados, para fazer uma varredura no ambiente e ter certeza que não estava nua.

 

― Consegue me ouvir? Abra os olhos, garota! ― Essa voz cheia de amor, disfarçado de preocupação, era da minha beta, com certeza, não sei como pude confundir essa voz com as das gêmeas, suas  filhas, onde todas elas estavam? Me mexi tentando abri os olhos e tentando sentir Nyxs, ela não estava próxima e sua ausência deixava um vazio, sabia, no entanto, que ela estava ali, eu tinha que ver.

 

― Olha mãe ela está abrindo os olhos, você nos deu um susto dos diabos. Como se sente? ― Ameth como sempre era exagerada, me sentei amparada por Gilles e passei os olhos pelo ambiente, as lobas estava todas próximas com ares de assustadas, e mais distante muito mais distante estava as guerreiras, Nyxs me olhou mais uma vez e sorriu, eu sabia que era um sorriso de despedida, então elas viraram às costas e todas guerreiras  correram juntas, desaparecendo no ar, me deixando com um vazio.

 

― Deixa eu ver como está o ferimento da flecha. — Esther abriu minha roupa, que por milagre, eu ainda estava usando, puxou a parte de cima da minha roupa e ficou examinando o ferimento onde a flecha tinha me atingido. A beta ficou calada, me olhou nos olhos buscando algo que não dava para saber o que era, caiu sentada, olhando para o ferimento e para meus olhos.

 

― O que foi? Está tão ruim assim o ferimento? ― Eu perguntei, sem entender, e com isso as lobas vieram todas pra cima de mim juntas pra ver o que tinha acontecido.

 

― Parece que você nunca levou flechada, no lugar tem esse sinal que se parece muito com…

 

― Uma asa, é uma asa. ― Gilles anunciou.

Eu baixei a parte de cima da minha roupa e lá estava, em cima do meu peito direito, tinha agora um sinal imenso de uma asa aberta, como eu sou muito branca dava para ver as cores azuladas e prateadas se misturando, formando uma asa linda.

Gilles sem pedir permissão foi para a parte de trás do meu corpo que permanecia sentado, puxou minha roupa na altura do meu pescoço e gargalhou alto com a mão na boca, Esther vendo isso foi para perto ver.

 

― Garota, tem um par de asas belíssimas em suas costas tatuadas na sua pele como se tivesse nascido com elas, por onde andou enquanto estava lutando contra o veneno? Consegue lembrar? ― Minha família em peso veio para minha frente aguardando uma explicação, que eu não saberia por onde começar a explicar, ali na minha frente, estava minha beta e minha melhor amiga. Como eu poderia dizer a elas, que o que me trouxe de volta foi o fato de ter completado o laço com a filha de uma e neta da outra? E o pior, como dizer á Amkaly, que  eu estava laçada e prometida na vida e na morte com outra loba?

 

― Não lembro de nada, tudo que sei é que ouvi a Gilles gritando e quando me virei para avisar que estava bem, eu caí. ― Não sei dizer quem desconfiava mais das palavras, se era Esther, Gilles ou Nahemah, que ainda estava por ali em recuperação, já não tinha mais marcas de hematomas, até mesmo sua perna estava normal, tudo no seu devido lugar.

 

― Seja lá o que tenha  acontecido enquanto estava lutando pela vida, somos eternamente gratas, porque te trouxe de volta. ― Esther falou e todas concordaram.

 

― Se tem uma coisa que aprendi nesses anos de vida lá embaixo, é que essas marcas que a alfa  de vocês trás no corpo, é produto de uma reivindicação e consentimento, entre almas. ― Nahemar falava e sorria com aquele ar de sedução de sempre e minha vontade era de tirar aquele sorrisinho da cara dela, mas foi Esther que tomou a frente.

 

― Não fale besteira, minha alfa tem sua companheira. ― Essa última palavra foi dita bem lentamente e com Esther se virando para o meu lado à medida que ia se lembrando que não sou laçada.

 

― É disso que estou falando Estherzinha, lembra da vez que quase morreu quando estava lá embaixo, e sua alma se recusou a completar o laço com qualquer fêmea lá de baixo? E o jeito foi fazer um acordo, para você sair viva. Pois bem, parece que sua alfa aceitou o laço, quando estava do outro lado.

 

As lobas olharam para Esther aguardando uma resposta, aproveitei para ficar de pé limpando a sujeira da roupa, enquanto arrumava uma resposta sem mentir para o meu povo.

 

― Como eu poderia esquecer se você  faz questão de lembrar. ― Esther respondeu grosseiramente, e virando-se para as lobas explicou. ― O acordo que fiz foi com ela, ela me trazia de volta à vida e no dia que fosse preciso eu tiraria a vida dela.

― É verdade, esse dia está chegando. Por isso eu estava esperando todas vocês  para negociar, selar novos acordos, ratificar os velhos, e escolher lados. Mas o que a Estherzinha não falou é do bônus e gratificação que esse acordo me beneficiava. ― Nahemah passava a mão no corpo em uma carícia lasciva, olhando para o da Esther, todas entendemos o que ela quis dizer com bônus e gratificações, Esther mudou o olhar fingindo organizar as armas, antes que se virassem me enchendo de perguntas sobre o meu laço, falei para Nahemah.

 

― E você Nahemah como está se sentindo? E o que pretende fazer, pelo que me lembro seu pai parece não te amar tanto assim. ― A Filha do homem lá de baixo, continuava me olhando e sorrindo daquela forma irônica quando me viu pela primeira vez.

 

― Como eu disse, ninguém tem certeza de quem realmente gosta, laços podem ser desfeitos e promessas podem ser quebradas, certo ou errado depende do lado em que se está lutando.

 

― E eu ainda continuo afirmando a mesma coisa que te falei lá atrás.

 

― Alfa, como vai explicar para sua mulher que você agora é uma loba laçada? E se sua companheira sentir desejos, você vai ter que chegar junto no lesco lesco. ― E fazia movimentos com o quadril para demonstrar o que dizia. ― Mas pode ser que não, pelo par de asas tatuado nas suas costas, sua parceira é um anjo, se livrou, anjos são cheios de altruísmo quando amam.

 

Aquela conversa estava me enchendo a paciência, e eu sabia que era isso mesmo que ela queria, me tirar do sério, não por maldade, mas esse era seu jeito de dizer verdades, me aproximei, prendendo os cabelos, e nesse gesto eu senti o cheiro da Nyxs, quando cheirava eles, acho que Nahemah viu de alguma forma o que pensei pois seu sorriso aumentou.

 

― Eu tenho tanta coisa mais importante para me preocupar, que a minha vida sexual e conjugal, são o de menos. — Virando para o lado das lobas e dando as costas para Nahemah, eu expliquei o que deveríamos fazer. ― Vamos terminar de subir e completar nossa missão, você vem com a gente ou tem outros planos? ― Nahemah me olhava de uma forma desconcertante, meu receio era que ela gritasse ali para todas ouvir, o que tinha acontecido dentro da gruta.

 

― Vou voltar para casa, desfazer as mentiras que espalharam a meu respeito, e preparar o terreno para a grande batalha, sempre que precisarem estarei à disposição de vocês, devo minha vida a cada uma aqui, e essa dívida será eterna. ― Essa Nahemah me surpreendeu, procurei a ironia e não achei, aquela era um ser que em outras condições eu gostaria de ter no meu leque de amizades.

 

― Você sabe que pode ficar e viver na reserva conosco se quiser e se um dia voltarmos. ― Fiz a oferta de coração, aprendi a gostar do jeito dela.

 

― Serei mais útil lá embaixo, juntando um exército para servir a vocês no momento certo, eu só fiquei, porque estava esperando sua recuperação, se desse errado eu te levaria lá embaixo e te traria a vida, e garanto que quando voltasse a vida, não era esse par de asas que teria no seu corpo. — Nahemah se curvou para todas em agradecimento e sumiu no ar ainda olhando pra mim e sorrindo, ela sabia o que tinha acontecido.

 

― Vamos subir e libertar o anjo, mas antes eu quero contar uma coisa a todas vocês.

 

Não Me preocupava com o olhar de surpresa misturado com censura do restante das lobas, minha preocupação ali, era somente minha amiga Ameth, Jana  a mae da Amkaly e minha beta, essas duas  últimas tinha como contornar qualquer situação a preocupação aumentava quando eu pensava eu  como  Ameth iria reagir. Eu tinha um carinho imenso por ela e sei que era reciproco, isso vinha desde quando foi diagnosticado que na barriga da mulher que gerou as irmãs, tinha sete filhos e a mulher estava com dores, no momento em que toquei na barriga, os pezinhos da Ameth chutaram e quando ela nasceu toda diferente das outras ela passou a ser meu xodó eis o motivo da hesitaçao.

―Eu realmente fui reivindicada e foi aceito o pedido, tudo dentro das nossas tradições, houve o ritual completo.

Silêncio explicava muito bem o que estava se passando ali com todos me olhando, não sabia decifrar o que se passava na mente de cada uma senti vibrações positivas vinda da ligação com minha Beta, fiquei aliviada, Esther entendeu tudo por ser uma loba que honrava as tradições, Ameth também entendeu, somos lobas puras, de linhagem, mesmo eu sendo filha de uma ex humana, segundo Ananya em meu Dna tudo era do meu pai crescemos dentro das tradições de nossos pais que vieram dos deles e esses ensinamentos passavam adiante.

―A sua companheira, é conhecida nossa, da reserva? não isso não.... ela não teria poder de estar nesse mundo, quem é sua companheira Nara? ―Esther fez a pergunta que todas ali queriam fazer.

―Nyxs ―alguém abafou um grito com a mão, e eu sabia quem era.

―Ameth, eu não tive culpa..juro a você..  que não foi culpa minha e nem dela, eu estava morrendo a Inaê e a Iara preparam as ervas, a Heloise e a Gilles que conveceram ela. ―Acho que falei cedo demais os detalhes, com uma força descomunal Ameth me derrubou colocando o pé em cima do meu pescoço.

―Está  falando que minha filha fez isso forçada, que ela não queria. ―A cada palavra ela fazia força com a ponta da bota no meu pescoço.

―Larga ela Ameth, deixa ela explicar. ―Aos poucos ela foi diminuído a força mas ainda me mantinha no subjugada no chão.

―Ela não queria fazer da forma com tinha que ser feita, sem me dar o direito de escolher. Sua filha é a loba mais digna que já conheci. ―senti que minhas palavras saíram com mais admiração do que eu esperava.

          ― Quantos anos ela tem? ― Ameth tentava manter a calma com seus gestos de passar as mãos na roupa tirando uma sujeira que não existia.

― Trinta e três, ela é  a sua cara,  tem a a determinação da Lili,  mas o resto é seu..sua doçura, beleza, encanto e tem também a tenacidade da Esther. ―

Senti meu coração disparar quando falei das qualidades da loba, essa emoção era novidade pra mim, talvez por agradecimento ao que ela me deu, mas era gostoso de sentir.

― Você a machucou muito? ― Senti a tristeza na voz da minha amiga, e saber que ela estava decepcionada comigo era terrível, mas eu não queria mentir.

― Da forma como foi feito o ritual sim, quando eu voltei a vida eu fui, mas Nyxs soube como dominar a fera que eu era naquele instante, e me controlou de modo que eu não a estuprei como  acontece em rituais como esses. juro que não queria ser.

― Infelizmente não tinha como ser de outra forma Nara, quando uma reivindicação é feita para salvar a vida do companheiro ele nasce outra vez, e toda nascimento vem com dor para os dois lados. ― Gilles explicava a Ameth que já sabia tudo isso estudaram essa parte de ressuscitação de parceiros não reivindicado. O problema é que era com a filha dela.

―Nara você falou uns nomes desconhecidos suponho que seja nossas filhas, pode nos mostar? ―Gilles pediu

―Não posso passar para vocês as imagens por que não vi, só ouvi. Mas a Gilles é a sua filha ela um anjo foi ela quem voou comigo quando morri, a Heloise é medica e filha da Ananya e sua Jana, Inaê e Iara as filhas da Esther o restante uma parte  fez a vigília na na entrada da caverna e o restante vieram para cá estavam aqui com vocês vieram todas Agatha vieram duas filhas tuas estavam aqui.

Ninguem recriminou ou falou algo, mas eu sentia a hostilidade por parte da Jana, o que eu entendia.

―Pergunte Jana o que esta te chateando. ―Dei a minha sogra o direito de me questionar.

―E agora, o que pretende fazer, com sua companheira quando voltarmos, sim por que você transou com outra, e pelo que vejo gostou, vai ficar com as duas?

―Pela lei e nossas tradições minha companheira é a Nyxs. Amkaly é minha mulher, ela nunca quis me reivindicar, a Nyxs falou que quando chegarmos no nosso mundo ela não se lembrará de nada. Mas eu vou contar tudo a sua filha não vou mentir.

 

― Meninas Ninguem aqui é criança e conhecemos nossas tradições foi feito o que tinha que ser feito para nossa alfa. Como vão resolver isso só diz respeito a ela, Amkaly e a Nyxs quando tiver idade para saber. Isso serve para você também Jana.

― Olha garotas eu sei que muitos de vocês estão decepcionada comigo inclusive você Jana que deve estar achando uma cachorrada com sua filha. Mas a minha vida é minha vida, não vou admitir que deem pitaco ou tentem resolver os problemas por mim, conselhos eu aceito. Mas só isso. Vamos resolver o resgate do anjo. Minhas batalhas eu vou lutar quando chegar o momento.

Juntei minhas armas espalhadas no chão coloquei nas costas e comecei a subir poucos segundos ouvi a movimentação de armas e passos logo atrás  Esther chegou junto.

― Como é minhas filhas? ―parecia ansiosa pela resposta olhei de canto de olho ela estava disfarçando olhando para cima.

― Elas se chama Iara e Inaê  como falei mas não sei dizer quem é quem, são a cara da Sandy, mas a semelhança fica por ai, por que a voz, o sorriso a boca suja e a parte da magia parece contigo quando elas falaram com a Nyxs eu pensei que fosse você. ― Pela primeira vez eu não tive medo do sorriso da minha beta, esse era o  olhar de uma mãe amorosa.

O resto da subida foram fazendo perguntas sobre as filhas, eu não podia partilhar a imagem do que aconteceu dentro da gruta, nem Esther conseguia ver, era como se nunca tivesse existido, não tinha lembranças desse momento, pelo menos não gravado na minha cabeça estava marcado no meu corpo e no meu coraçao.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo