Capitulo 19
O homem estava apavorado. Paloma havia descarregado uma bala próxima a perna dele. Por um instante, ele pensou que a garota iria aleijá-lo já que ela havia encostado o cano da pistola em seu joelho. Porém, no último segundo Paloma desviou a pistola para o lado e a bala atingiu a parede. O impacto do disparo queimou a pele do homem, deixando uma sensação de dor quase insuportável.
- Na próxima vez, não serei tão boazinha...
- Tudo bem, tudo bem. Eu falo, mas não faça mais isso!
- Então, desembucha seu monte de lixo!
- Eles vão me matar!
- Vou fazer pior se você não falar - Disse Paloma pressionando a pistola contra o corpo do homem.
- Ok. Mas só estou nessa pela grana. Contrataram-me para pegar Cali Antunes. Não faço parte da quadrilha.
- Quadrilha? O que querem com Cali Antunes?
- Não entendo muito dos negócios deles...
- Mas deve saber alguma coisa.
- Não sei muito, mas tem alguma coisa a ver com Murilo Antunes, tinham negócios com o deputado...
- Que tipo de negócios?
- Alguma coisa com pagamento de propina. Não sei mais nada. Só faço o trabalho sujo...
- E ainda acha pouco? Detesto seu tipo de gente - Falou Paloma com desdém. - Tem como contatá-los? Quero que ligue para seus contatos e tente descobrir o que sabem de Cali Antunes.
Paloma pegou o celular e discou o número que o homem lhe forneceu a contragosto, depois encostou o celular no ouvido dele. Ela ouvia atentamente a conversa do homem com um parceiro seu. Eles também não sabiam de Cali. Haviam tentado pegá-la na universidade, mas não obtiveram sucesso. Alguém da polícia havia levado a garota embora.
Aquilo foi um alívio para Paloma. Porém, precisava ter certeza que ela estava bem.
O homem observou a garota enxugar o suor do rosto e respirar aliviada. Olhando para ela, perguntou, com receio:
- Quem é você?
Paloma encarou o homem de que não sabia o nome, e isso nem lhe interessava. Respondeu, séria:
- Alguém que já lutou do lado certo uma vez, ao contrário de você.
- O que vai fazer comigo agora? - Perguntou, olhando de Paloma para a pistola em suas mãos.
- Vamos à polícia. A casa caiu, otário.
***
Cali acordou atordoada. Olhou em volta e viu que se encontrava em uma cama de hospital.
- Que bom que acordou. Como está?
Thomas sorria gentilmente para ela. Cali, então, lembrou-se de está no carro do segurança antes de desmaiar.
- O que aconteceu comigo? Por que estou no hospital? - Perguntou, confusa.
- Você teve uma ligeira queda de pressão. Achei melhor trazê-la e me certificar que tudo ficaria bem com você.
- Não entendo nada do que está acontecendo, Thomas. Eu só quero ir para casa agora mesmo! Leve-me daqui! - Pediu Cali, agitada tentando arrancar de sua mão a agulha que a ligava ao soro.
- Calma, menina - Disse Thomas segurando Cali.
- Não me chame de menina! Não gosto que me chamem assim!
- Você tem que ficar aqui quietinha e descansar, o pior já passou...
- Pela última vez, O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO?
- Acalme-se, prometo que vou contar tudo agora mesmo para você se me prometer que vai ficar quietinha. Tudo bem?
Cali concordou.
- Para começar, não sou um segurança, Cali.
- O que? Você não é um segurança contratado pelo meu pai? - Perguntou, incrédula. - Então, quem você é?
- Sou da polícia - Disse Thomas mostrando a Cali um distintivo que tirou do bolso - Unidade de operações especiais.
- Operações especiais?
- Sim, operações táticas. Cuidamos de grandes crimes praticados no território nacional.
- E o que eu tenho a ver com isso tudo?
- Fui encarregado de cuidar de você, Cali. Fazia parte do plano.
- Que plano?
- O plano para prender uma quadrilha que monitoramos há dois anos. Trata-se de uma grande operação.
- Mais uma vez, não entendo o que eu tenho com isso?
Thomas adquiriu uma expressão mais séria, antes de dizer:
- Seu pai, Cali. O deputado Antunes tinha ligações com essa quadrilha.
Cali olhou para Thomas, surpresa.
- Há alguns meses - Continuou Thomas, diante do silêncio da garota - Descobrimos o envolvimento de seu pai no esquema de pagamento de propina para deputados que faziam vista grossa para o mercado negro de armas. Não apenas isso, há uma quadrilha específica que utiliza essas armas em assaltos a bancos. Há muito dinheiro envolvido, muitos políticos estavam enriquecendo de forma ilícita. Bem, o deputado Antunes concordou em colaborar com informações em troca de um relaxamento de pena e proteção para sua família. Ele nos forneceu dados importantes inclusive denunciando colegas. Seu pai correu um grande risco.
- Por que vir atrás de mim agora?
- Bem, porque descobriram que alguém estava traindo o esquema. Assim, era uma questão de tempo até chegarem ao seu pai. Todos sabem que a família Antunes possui uma residência com muitos seguranças, uma investida direta seria arriscada. No entanto, com o que os jornais têm noticiado sobre você, eles puderam saber que a filha do deputado Antunes não estavam protegida... Claro que não podiam contar com a intervenção da polícia.
- O que pretendiam fazer comigo? - Quis saber Cali, mesmo temendo qual seria a resposta para sua pergunta.
- Acho que haviam duas possibilidades. Eles poderiam querer sequestrá-la e usar você como moeda de troca por seu pai ou poderiam querer vingança, dando fim a sua vida, Cali.
A garota estremeceu.
- Então, eu poderia está morta uma hora dessas...
- Não pense nisso - Tranquilizou Thomas.
- Mas eles vão vir atrás de mim. Não poderei voltar para casa - Constatou Cali, com receio.
- Não se preocupe, Cali. Em breve poderá ir para casa e seguir sua vida normalmente.
- Como? - Duvidou Cali.
- Nesse momento, a polícia está executando a operação para desmontar a célula-chave da quadrilha. Vamos atrás dos peixes-grande. Estão invadindo o esconderijo deles e cumprindo mandatos de prisão. Seu pai foi de grande ajuda nisso, Cali.
- Thomas, você mesmo disse que meu pai estava envolvido nesse esquema. Eu nem mesmo acredito nisso. Poderia esperar tudo vindo de meu pai, menos que ele é um criminoso - Desabafou Cali, indignada.
- Ele esteve bem preocupado com sua segurança, Cali. E está arrependido de deixar você numa situação difícil. O deputado Antunes já está resignado em cumprir sua pena.
- Eu não sei o que pensar, Thomas. Tudo isso é demais para mim, demais para um dia e até para uma vida inteira...
- Você tem razão, Cali. Uma garota jovem como você, com toda uma vida pela frente, não merece passar por isso. Essa quadrilha é bastante perigosa. Não sei se tem visto os noticiários sobre o aumento dos assaltos a banco nos últimos anos no Brasil.
- Sim, tenho visto. Inclusive utilizam explosivos.
- Isso mesmo. Utilizam explosivos potentes o que acaba sendo um risco para a população.
- É mesmo um perigo!
Thomas continuou relatando a Cali sobre os assaltos a agências bancárias quando o seu telefone tocou.
- Você pode me dá licença um minuto? - Pediu ele.
- Sim, claro - Disse Cali.
Thomas se retirou. Cerca de quinze minutos depois ele estava de volta.
- Tenho informações importantes - Anunciou ele à Cali.
- Então?
- A operação está quase concluída. A polícia fechou o cerco.
- Isso é ótimo! - Comemorou Cali.
- Também tenho informações sobre seus amigos.
- Paloma e Fábio? Eles estão bem?
- Sim, estão na delegacia - Informou Thomas - Seu apartamento foi invadido Cali.
- O quê?
- Isso mesmo que você ouviu, Cali. Estiveram em seu apartamento. Mas aconteceu uma coisa inusitada. Sua amiga rendeu o invasor. Na verdade, ele precisou ser hospitalizado.
- Paloma fez o quê? Como isso é possível, é demais até mesmo para ela.
- Nem tanto. A garota sabe o que faz - Disse Thomas, com entusiasmo - Além do mais, ela já foi uma das nossas...
- Do que está falando? - Perguntou Cali, boquiaberta.
- Pensei que soubesse que sua amiga já foi da polícia...
Cali não podia acreditar naquilo. Paloma nunca tinha falado nada...
- Isso é novidade para mim, Thomas - Disse Cali, ressentida - Isso foi há muito tempo?
- Não foi há muito tempo, sua amiga entrou na polícia muito jovem, logo se destacou e foi designada para operações especiais. Ela tinha um futuro brilhante pela frente. Deveria ter continuado com a gente.
- E por que ela deixou a polícia?
- Cali, é melhor você perguntar isso a ela. Não tenho o direito de me meter.
- Não tem nada que possa me dizer? Estou morrendo de curiosidade...
- Só posso dizer que ela era uma exímia atiradora, pelo que me contaram. Não cheguei a conhecer sua amiga quando ela estava na polícia. Quando você foi morar ao lado dela pesquisei a ficha de Paloma Albuquerque. De certa forma foi um alívio ver que teria alguém como ela ao seu lado, Cali. Paloma é uma boa companhia para se ter em uma situação de crise. Não acha?
- Eu não sei o que achar, Thomas. Mas estou cansada de todos esconderem algo de mim.
- Todos tiveram seus motivos para isso, Cali. Acredito que sua miga também - Disse Thomas, compreensivo - Sabe, me afeiçoei muito a você nos últimos meses. Você é uma pessoa incrível, não gostaria de vê-la sofrer.
- Obrigada, Thomas. Por sua ajuda e me desculpe por ter sido tão dura com você no início.
- Não precisa agradecer. Fiz meu trabalho. No entanto, sua amiga se arriscou por você hoje. Não seja dura com ela - Aconselhou Thomas.
- Com todo respeito, oficial Thomas. Mas o que você sabe sobre isso?
- Sei o que vejo quando você duas estão juntas, Cali. Vocês se amam.
- É tão óbvio assim?
- Eu diria que sim. Vocês formam um belo casal e tenho certeza que ela saberá cuidar de você, Cali. Agora porque não descansa um pouco. Sua mãe está a caminho.
Cali concordou e fechou os olhos e ficou pensando no que Thomas havia lhe dito.
Fim do capítulo
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