Capitulo 17
As garotas chegaram ao apartamento de Paloma de mãos dadas, procuraram por Fábio que ainda não havia chegado. Ficaram então namorando no sofá até perderem totalmente a noção do tempo. Cali estava deitada no sofá com Paloma por cima, suas bocas não se desgrudavam. Cali aproveitava para passar a mão por baixo da blusa de Paloma, tocando suas costas de maneira possessiva. Causava arrepios em Paloma que se excitava com os toques de sua amada. Sua vontade era de fazer amor com Cali ali mesmo, mas não queria assustar a garota. Paloma se conhecia muito bem para saber que quando as coisas esquentavam ela se tornava intensa demais.
- Que horas são? - Perguntou Paloma subitamente.
Cali consultou seu relógio de pulso.
- São quase quatro da manhã - Constatou ela - Não precisa se preocupar já é domingo, teremos o dia livre.
- Sei disso. Mas é que provavelmente Fábio ainda está no bar e você sabe como ele exagera quando bebe.
- E como sei! - Falou Cali lembrando-se dos vexames os quais Fábio passava quando bebia -Você vai buscá-lo?
- Sim, é meu dever cuidar dele.
Cali sorriu para Paloma.
- Você é o máximo! - Disse ela acariciando o rosto de Paloma - Sempre zelando pela segurança de Fábio.
- Não exagera, Cali - Desconversou Paloma, tímida - Não faço nada demais…
- Acho que alguém aqui tem problemas em receber elogios - Comentou Cali, brincalhona.
- Nem tanto, mas é que vindo de você fico ainda mais sem graça.
- Não precisa ficar assim, amor - Disse Cali beijando suavemente os lábios de Paloma.
- É melhor eu ir logo resgatar aquele beberrão antes que ele faça alguma besteira grande demais para ser remediada - Disse Paloma levantando-se do sofá.
- Posso ir com você? - Pediu Cali.
Paloma observou o estado de sua companheira. Cali estava com os cabelo desgrenhados e o vestido todo amarrotado em consequência dos amassos que as duas davam há pouco no sofá. Além disso, a garota tinha um aspecto bastante cansado.
- Acho melhor ficar descansando, Cali. Já tivemos emoções demais por hoje.
- Você tem razão. O dia foi mesmo cheio de surpresas. Gostei principalmente de você vindo me resgatar do castelo de minha família.
- Não deixaria você longe de mim nem mais um minuto - Disse Paloma, sorrindo - Fica aqui hoje. Você pode dormir no meu quarto.
- Hum, achei que você nunca fosse me convidar…
Paloma enrubesceu.
- Cara! Você sabe mesmo como me deixar sem graça - Disse ela.
- É bom saber disso - Comentou Cali, maliciosa - Bem, vou em casa pegar umas roupas, depois volto para cá.
- E você por acaso pensa em vestir aquelas suas roupas de dormir. Com desenhos de anime -Brincou Paloma.
- Ei! Qual o problema com minhas roupinhas de dormir? - Protestou Cali.
- Nenhum problema, a não ser você chamá-las de “roupinhas”.
- Ah, vai dizer que você não gosta delas!
- Gosto sim - Admitiu Paloma - Só porque você fica linda de todo jeito, Cali.
- Ih! É melhor eu ir logo senão é você que vai me deixar sem graça, Paloma.
As garotas se despediram no corredor. No entanto, Paloma dera somente alguns passos quando ouviu Cali chamando-a
- Paloma?
- O que foi, querida? - Perguntou Paloma, voltando-se para Cali.
- Promete para mim que sempre vai estar ao meu lado quando eu precisar?
Paloma viu medo nos olhos de sua amada, não entendia o porquê daquilo.
- Sempre estarei do seu lado, Cali. Eu prometo - Respondeu Paloma, sincera - Mas por que a pergunta logo agora?
- Não sei. De repente tive um pressentimento ruim. Senti o coração apertado. Acho que agora que estou com você, tenho muito medo de perdê-la…
- Não se preocupe, não vai me perder. Estarei aqui Cali. Por você.
Cali pareceu bem mais tranquila com as palavras de Paloma. Acreditava que aquela mulher forte e confiante à sua frente seria capaz de protegê-la a todo custo. Faria o mesmo por ela.
***
Quando chegou ao bar, Paloma deparou se deparou com uma cena lamentável. Fábio estava encostado em uma parede, debruçado sobre uma garrafa de cerveja vazia e meio adormecido. Ela não se surpreendeu tanto, os porres do amigo costumavam ser homéricos. Para Fábio se era para embriagar-se que fosse até não conseguir mais ficar de pé.
Paloma carregou o amigo até em casa. Pensou em jogar-lhe uma ducha de água bem gelada, mas lembrou o quanto Cali repudiava aquele tipo de tratamento, ela não gostaria de contrariá-la. Então, ajudou Fábio a despir-se e deixou-lhe dormir tranquilamente em sua cama.
Em seu quarto, Paloma encontrou Cali já complemente adormecida em sua cama. Admirou por alguns minutos a deslumbrante figura da loirinha que se parecia com um anjo dormindo em meio aos lençóis de Paloma. Era como um lindo sonho ter Cali ali.
Paloma tomou um banho e deitou-se ao lado de Cali. A garota mexeu-se e abriu os olhos sonolentos.
- É você, amor?
- Sim, sou eu - Disse Paloma, acariciando os cabelos da loirinha - Dorme, querida. Está tudo bem.
Cali voltou a cair no sono. Instantes depois era Paloma que adormecia. As duas dormiam abraçadas enquanto o dia amanhecia lá fora.
***
Os dias que se seguiram foram de imensa felicidade para o trio de amigos. As garotas faziam todo o possível para não afastar Fábio delas, pois qualquer descuido era motivo para o amigo acusá-las de o estar abandonando.
- Vocês só ficam se agarrando por aí e me deixam ficar ao Deus dará - Dizia Fábio, ofendido - Só porque ainda não encontrei minha metade da laranja...
- Não é verdade, Fabinho. Sempre incluímos você em nossos programas - Argumentava Cali.
Os dois estavam esparramados no sofá da sala no apartamento de Fábio, enquanto Paloma preparava um lanche para eles na cozinha.
- Nem sempre isso acontece. Ontem, por exemplo, vocês me deixaram sozinho. Ouviu bem, sozinho aqui e se mandaram só Deus sabe para onde.
Cali olhou para Fábio com cara de culpada. No dia anterior, havia convidado Paloma para caminhar na praia e ver o pôr-do-sol.
- Foi uma exceção, Fabinho. Passamos uma tarde romântica na praia, não tinha porque você ir. Algumas coisas temos que fazer sozinhas...
- Tudo bem, me façam inveja. Um dia, vou encontrar um gato só para mim. Aí vocês vão ver como é bom ser ignorado!
- Você ainda enchendo o saco com isso, Fábio? - Perguntou Paloma, aparecendo de repente - Para de perturbar a Cali com essa sua carência.
- É Fabinho, troca o disco - Concordou a loirinha.
- Isso é um complô agora contra mim? Vocês são umas chatas, sabiam?
- Chato é você, senhor “ó como estou carente”! - Provocou Paloma, em tom de brincadeira.
- Olha aqui sua... sua... grandona - Disse Fábio, apontando o dedo em riste para Paloma - Não pense que tenho medo de você!
- Ah, é? Essa eu quero só ver - Disse Paloma, impondo-se diante de Fábio.
- É verdade! Você não me põe medo, Paloma Albuquerque. Você nem está com essa bola toda. Todos se impressionam só em ouvir que você é campeã de Jiu Jítsu. Mas há uns dias atrás estava aí, se borrando de medo de ir falar com a Cali...
Paloma apressou-se em tapar a boca de Fábio antes que saísse mais algo dela.
Cali que se divertia assistindo a cena, perguntou:
- Que história é essa?
- Não é nada, Cali - Desconversou Paloma.
Cali, notando o constrangimento de Paloma, decidiu não insistir. Fábio, por sua vez, parecia ter dado uma trégua à sua batalha contra as duas amigas. Segundo ele, aquela era uma briga injusta devido a diferença numérica e pelo fato de só Paloma já valer por duas com toda a sua altura. Então, os três puderam divertir-se juntos vendo uma comédia, comendo pipoca e bebendo refrigerante.
Em certo momento, ouviram a companhia do apartamento ao lado tocar.
- É na sua casa, Cali - Constatou Fábio.
- Sim, eu ouvi. Mas quem será?
- É melhor você ir logo - Sugeriu Paloma - Pode ser importante.
Cali recebeu a visita de sua mãe que mais uma vez apareceu inesperadamente. Ela apresentou a mãe à Fábio. Os dois se deram muito bem. Fábio ficou deslumbrado em conhecer Roberta Antunes que antes de se casar era a famosa modelo Roberta Montenegro, um ícone brasileiro de elegância e charme. Fábio admirou a beleza da mãe de Cali. Foi amor à primeira vista. Roberta adorou a tietagem do rapaz que falava educadamente e parecia conhecer tudo sobre moda.
- Você acredita nesses dois? - Cochichou Paloma para Cali.
- Não poderiam ter se dado melhor - Comentou Cali
- Quem sabe assim ele gruda na sua mãe e nos deixa em paz...
- Quem sabe! Estão se tratando tão bem.
- No entanto, viu o modo como sua mãe me tratou? - Perguntou Paloma, preocupada.
Cali também havia reparado na frieza com que sua mãe se dirigiu a Paloma.
- Sim, reparei. Mas depois daquela noite em que você quebrou a cara do Igor no aniversário do meu tio, duvido que ela vá ser gentil com você.
- Cali, e o que sua mãe vai fazer quando souber de nós? - Questionou Paloma.
- Certamente ela vai pirar. Mas terá que aceitar isso, meu amor. Porque não pretendo me separar de você por nada nesse mundo.
Paloma olhou para Cali, apaixonada. Queria beijá-la novamente naquele instante, mas Roberta poderia ver, por isso se conteve.
- Te amo - Sussurrou ela para que somente Cali a ouvisse.
- Também te amo - Falou Cali, com carinho olhando profundamente nos olhos de Paloma - Agora, vamos lá separar esses dois senão eles são capazes de passar o resto do dia conversando.
Cali interrompeu a discussão acalorada que Fábio e sua mãe estavam tendo sobre qual marca de bolsa seria a tendência da estação. Ela convidou a mãe para conversarem em seu apartamento. Fábio despediu-se de Roberta dramaticamente dizendo que sentiria muitas saudades e que eles deveriam combinar de se encontrarem o quanto antes. Roberta, por sua vez, despediu-se dando dois beijinhos nas bochechas do rapaz e disse como estava feliz por tê-lo conhecido. Para Paloma, Roberta não deu nem mesmo um aceno de cabeça.
- Ainda não posso acreditar que uma celebridade como Roberta Montenegro Antunes esteve aqui. Você viu que fina que ela é. Uma verdadeira Katharine Hepburn - Dizia Fábio a Paloma após Cali sair com sua mãe.
- Fina? Fábio você viu como ela me ignorou propositadamente?
- Não reparei nisso - Confessou Fábio, que enquanto Roberta esteve presente só reparou na elegante figura da mulher - Mas você fez por onde, Paloma.
- Essa mulher me odeia!
- E a filha dela te ama. Isso é o que importa.
A garota achou que Fábio tinha razão.
***
- Amei seu amigo - Disse Roberta à filha.
- Fábio é muito sensível para algumas coisas.
- E muito educado também. Bastante diferente de sua outra amiga.
Cali não gostou nenhum um pouco do tom desdenhoso o qual sua mãe usou para referir-se a Paloma.
- Escuta, mãe. Você não veio aqui só para falar mal de minha amiga, veio? Porque se for isso, saiba que eu não estou nem um pouco interessada em ouvir, ok?
- Tudo bem, Cali. Sei que não adianta discutir esse assunto com você. Ouvi muito bem da última vez quando disse que confiava em sua amiga. Mas nem por isso vou me esquecer do barraco que ela armou na casa de minha família.
- Nem por isso precisava tê-la tratado tão mal - Disse Cali, magoada.
- Sinto muito. Foi um modo que encontrei de fazê-la entender o quanto desaprovei sua atitude naquele dia. Ainda não consigo compreender o motivo de tudo aquilo. Será que não poderia me explicar, Cali?
- Não foi nada de mais, mãe. Era assunto nosso. Já resolvemos tudinho.
- Por que ela teve que bater no Igor, o coitado do rapaz teve o nariz quebrado.
- Você quer mesmo saber, mamãe?
- É óbvio que sim, tudo que diz respeito a minha filha também diz respeito a mim
- Tudo bem, você que sabe. - Disse Cali, dando de ombros - Paloma estava com ciúmes de mim... Naquele momento, ela precisava me dizer uma coisa que não podia esperar, mas aí ela nos viu juntos e Igor falou coisas desagradáveis, ela não se controlou.
- Não entendo o por que disso - Falou Roberta, confusa - Vocês duas nem mesmo são um casal ou coisa assim...
Roberta afastou aquela ideia que lhe parecia absurda, mas ao julgar pela expressão séria e significativa de Cali, ela perguntou desconfiada:
- Cali, está acontecendo alguma coisa entre você e essa menina que não está me contando?
Cali respirou fundo.
- Sei que isso pode parecer difícil para você aceitar, mas a verdade é que Paloma e eu nos amamos.
Roberta olhou espantada para a filha. Não podia acreditar no que estava ouvindo dela. Já desconfiava de algo desde àquele dia na residência de seus pais. Mas era apenas uma ideia vaga e indefinida que ficava divagando em sua mente. Enfrentar a realidade daquilo era mais forte do que qualquer negação.
- Sinceramente, não espero que entenda, mamãe. Seria esperar demais de sua parte... - Falou Cali diante do silêncio de Roberta.
- Vejo que ainda espera o pior de mim, Cali. - Respondeu Roberta - Mas saiba que não sou tão insensível. Só não pense que é fácil para uma mãe ouvir de uma filha que ela é lésbica.
- Certo. Demore o tempo que quiser para aceitar isso. Mas, por favor, não venha tentar me fazer mudar. Eu não suportaria isso vindo de você.
- Filha, acredite eu entendo. Mas não precisa definir nada agora, pode ser apenas uma fase, acredite até eu mesma tive relacionamentos com mulheres nos meus tempos de modelo em Paris. Aquela vida boêmia e desregrada. Experimentávamos de tudo! Uma vez...
- Mamãe! - Repreendeu Cali - Isso é demais para meus ouvidos! Não quero saber sobre suas aventuras de juventude, mas quero que saiba que isso não é uma fase! Eu estou completamente apaixonada pela Paloma e quero passar minha vida ao lado dela!
- Posso ver que está mesmo determinada a seguir em frente com isso. Acho que devo ir então. Preciso pensar melhor. Até logo, meu bem.
Roberta deu um beijo na bochecha da filha e saiu pela porta sem dizer mais nada deixando Cali sozinha pensando em como tudo havia mudado em tão pouco tempo. As coisas na vida da garota estavam acontecendo muito rápido e outras ainda estavam por vir mais cedo do que ela poderia imaginar.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 01/12/2022
Segura Cali que o perengue esta chegando.
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