Capitulo 8
“Todo mundo quer cuidar de mim
e na verdade o que eu quero é sair
Todo mundo quer cuidar de mim
e na verdade o que eu quero é cair”
Trecho da música: “Todo mundo quer cuidar de mim”, Brava
Na manhã seguinte, Cali despediu-se demoradamente de Diogo. Não tinha certeza sobre quando veria o irmão novamente. Diogo pretendia passar na casa dos pais e ver como estavam. Depois voltaria imediatamente para os Estados Unidos.
Cali resolveu sair às compras, precisava urgentemente de um telefone. Demorou, mas finalmente compreendeu que não poderia ficar incomunicável. Havia pessoas de quem realmente gostava muito e se preocupava com elas. Em contrapartida, também poderiam se preocupar com ela e desejar saber onde localizá-la. Na verdade, esse era um dos motivos que a deixara relutante. Durante toda sua vida sempre dera satisfação sobre tudo o que fazia. Estava cansada de ser a garota de vidro, vivendo em uma bolha. Todos queriam protegê-la dos perigos da vida.
Com o celular em mãos, Cali ligou para a mãe para saber notícias de seu pai. As duas marcaram de almoçar juntas. Roberta mandou Thomas para buscar Cali para levá-la a um restaurante. A garota sentiu-se um pouco desconfortável perto dele. Ela ainda não absorvera a conversa que tivera com Thomas no hospital. Então, resignou-se a tratá-lo com educação sem provocá-lo com seus ditos espirituosos que tinha sempre na ponta da língua para as ocasiões em que se sentia acuada por alguém.
O almoço transcorreu muito bem, sua mãe dissera que Murilo estava se recuperando. No momento, Diogo fazia companhia a ele enquanto ainda estava no país. Roberta pediu para manter contato com Cali que prometeu ligar para ela todos os dias.
Naquela tarde, Cali voltou à lanchonete para trabalhar normalmente. Foi como estar em um inferno na terra. O lugar estava lotado de repórteres e fotógrafos ansiosos para falar com ela. Quando chegou, Cali nem mesmo sabia se ainda teria seu emprego já que no dia anterior esquecera-se de avisar que não compareceria ao trabalho. Para sua surpresa, seu gerente nem parecia se importar com isso já que estava muito impressionado com a quantidade de pessoas que ocupavam o lugar. A regra era: para chegar a Cali, os repórteres tinham que comprar alguma coisa. Assim, quando chegavam ao caixa, faziam várias perguntas a ela. Cali ignorava, apenas recebia o dinheiro, passava seu troco e dizia “Volte sempre”. Era mentira, queria que eles voltassem nunca mais.
Foi assim o resto do dia. Cali estava furiosa com o seu gerente. Aquilo era um absurdo. Ele estava claramente se aproveitando dela. Por pouco não pedia demissão. Mas teve que engolir seu orgulho. Ainda precisava encontrar outro emprego. Agora mais que nunca.
- Que canalha! - Exclamou Fábio após ouvir o relato de Cali.
Cali estava no apartamento dos vizinhos. Havia chegado furiosa do trabalho.
- O que vai fazer Cali? - Perguntou Paloma, séria.
- Não sei. Preciso encontrar outro emprego urgentemente.
- Eu e a Paloma pensamos muito nisso, Cali - Falou Fábio. - Acho que conheço alguém que pode ajudar.
- Mesmo? - Perguntou Cali, animada - Por que não disse antes?
- Não é nada certo ainda. Vou falar com meu amigo e providenciar para que se conheçam.
Cali se sentiu feliz pela primeira vez naquele dia. Perguntou eufórica:
- O que ele faz?! O que eu vou fazer?! Quando posso conhecê-lo?
- Calma! Uma coisa de cada vez. É surpresa, logo você vai saber.
- Tudo bem - Respondeu Cali, tentando controlar a emoção - Vocês dois são demais sabiam?
- Eu sei que sou demais - Falou Fábio - Ninguém pode comigo.
- E também nem um pouco modesto, não é senhor Fábio? - Brincou Paloma, jogando-se em cima de Fábio que estava sentado no sofá.
-Desgruda! Não quero mulher em cima de mim, não! - Resmungava Fábio.
Mas era um protesto fingindo, logo Fábio trocou de lugar com Paloma e começou a faze-lhe cócegas.
Cali não controlou o riso.
- Só vocês mesmo para me animarem - Falou ela.
- Ah, é? E o que faz aí, não pense que vai fugir de mim - Ameaçou Fábio avançando para Cali.
Antes que Cali pudesse reagir o amigo já estava fazendo cócegas nela. Os dois acabaram rolando no chão.
Paloma observou os amigos entrarem numa espécie de luta corporal em que era difícil distinguir qual dos dois ria mais. Pensou em intervir e entrar na brincadeira também, mas achou que seria má ideia. Não pretendia manter muito contato físico com Cali, pois certamente seria invadida pelo desejo que tinha de tomar aquela garota em seus braços. Já era difícil se conter quando a abraçava em um cumprimento rápido ou quando ambas se davam as mãos num gesto involuntário.
Já tinha decidido o que fazer. Se contasse a amiga tudo o que sentia corria o risco de perdê-la, mas se não fizesse nada para esquecê-la iria enlouquecer. Só tinha uma coisa a fazer...
Mais tarde, Cali decidiu que era hora de ir. Havia muito que fazer no dia seguinte.
- O que pretende para o fim de semana? - Perguntou Fábio a Cali, antes de deixá-la ir.
- Não sei. Estava pensando em ir ao cinema. O que vocês acham?
- Seria ótimo. Tem um filme passando que quero muito ver – concordou Paloma imediatamente.
- Cinema? Você duas estão malucas, meninas? E depois o quê? Vão tomar sorvete? Fim de semana é tempo para curtir, namorar, dançar, beijar muuuuuuuuito na boca.
- O que tem de mais em ver um bom filme? - Perguntou Paloma.
- É bem legal, Fábio - Comentou Cali.
Fábio olhou de uma para outra, pasmo.
- Não sei não, viu? Mas querem saber o que eu acho de verdade? Acho que vocês duas estão precisando é trans*r!
Paloma e Cali se entreolharam constrangidas.
- Não uma com a outra, né? - Emendou Fábio - Mas é que parece que vocês estão precisando...
As garotas protestaram, indignadas.
- Eu não vou mais ficar aqui ouvindo suas asneiras, Fábio - Falou Cali.
Despediu-se mais uma vez dos amigos e foi embora, pisando forte.
- Você podia ter nos poupado dessa, não é? - Questionou Paloma, depois que Cali se foi.
- Não sei para que tanto estresse. E afinal só falei a verdade, Paloma. Sabe, não reconheço mais você desde que conheceu Cali não ti vi mais saindo com ninguém. O que aconteceu que fez você mudar?
- Não aconteceu nada. Só estou dando um tempo na minha vida de pular de galho em galho.
- E isso tem algo a ver com certa loirinha de olhos esverdeados?
- Não tem nada a ver. Vai continuar insistindo nisso?
- Tudo bem, Paloma. Conheço você muito bem há bastante tempo, só não sei dizer se você está mentindo para mim ou para si mesma. Se um dia quiser falar sobre isso, estarei aqui. Não esqueça que sou seu amigo.
Paloma lançou um olhar compreensivo para o amigo. Tentou afastou duas lágrimas que insistiram em cair teimosamente sobre seu rosto para que ele não visse. Sem dizer mais nada foi para seu quarto.
Por ironia, seria Fábio a acompanhar Cali ao cinema naquele fim de semana. Paloma tinha outros planos.
Fim do capítulo
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