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Inflamável por HumanAgain

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Palavras: 4185
Acessos: 414   |  Postado em: 13/11/2022

Capitulo 30 - Despedida

— Aya, por favor… — disse Serpente, com os olhos cheios de lágrimas. — Salve-a. Salve Loenna…

Em volta de Loenna, podia-se ver todos os residentes da mansão Nalan: Eliah, a tesoureira, Euler, o conselheiro, Lenrah, o chefe da guarda real, Maraya e Sharoli, os guarda-costas da rainha e até mesmo Fowillar, o rei que fora preso injustamente, mostrava-se preocupado com o estado de saúde da esposa. Aya se prostrava em frente à rainha ferida, tentando estancar o sangramento, enquanto Serpente se debulhava em lágrimas. 

— Eu estou tentando — A testa de Aya brilhava de suor. — Mas a sutura não está contendo o sangramento. Precisamos levá-la a um hospital. 

— NÃO HÁ TEMPO! — Serpente se exaltou. — ALGO PRECISA SER FEITO AGORA!

— Não precisa gritar comigo, estou fazendo o meu melhor. — As olheiras de Aya estavam marcadas. Sua notável perda de peso refletia na fragilidade da enfermeira e seu estado mental era nada mais que frangalhos. Ainda assim, Aya persistia, buscando a todo custo salvar a rainha. — Eu não estou muito otimista, Serpente. Tenho medo que a facada tenha atingido órgãos vitais, como o fígado ou o baço. 

O rosto de Loenna perdia gradualmente sua cor. Seus lábios estavam tingidos de um cinza morto, a pele estava pálida feito papel. Era possível apenas ver seus olhos cor-de-âmbar, que fitavam um ponto longínquo no alto. Loenna estava partindo. 

— Ela está perdendo o pulso — anunciou Aya. — Serpente, eu temo que… 

Uma lágrima escorreu pelos olhos escuros da ladra. Não queria perdê-la, não a sua garota, não a sua primeira aprendiz. Serpente a amava com todo o seu coração, fora a primeira que ouvira as três palavras da boca de Gillani Gaspez. Havia de ter uma forma de trazê-la de volta; tanto fisicamente quanto psicologicamente. 

Contudo, as feições de Aya não eram nada animadoras. A enfermeira tomou o pulso de Loenna mais uma vez, checou sua respiração e, após alguns segundos tentando reanimá-la, deu seu veredito:

— Loenna Nalan está morta. 

***

Julien espreitava todos os acontecimentos pelos olhos de Darian. Não podia agir, não podia falar, não podia sequer sentir o toque se sua filha pela última vez; a visão que tinha da confusão sequer era nítida, porque Darian escolhera se manter afastado da aglomeração. Contudo, seu coração metafórico apertava-se somente com o som das palavras de Aya, anunciando a morte da criança que ajudara a pôr no mundo. 

— Darian, pergunte como ela está. — O morto estava afoito por respostas. — Por favor, faça isso por mim. Por mim, Darian! 

O garoto, como era de se esperar, ignorou o pedido de Julien. O fantasma praguejou baixinho e cogitou dissociar de Darian mais uma vez, apenas para dar mais uma preocupação àquela corte de hipócritas, mas foi surpreendido por uma visita.

Sim… Uma visita. Foi assim que chamou a materialização repentina de um espírito ao seu lado, uma alma que se tornava cada vez mais nítida com o passar dos segundos. Julien piscou algumas vezes para ter certeza de que não era uma ilusão. Apesar de seus esforços, ela estava ali: Loenna Nalan, a filha que o guerreiro abandonara aos dois anos de idade, vencedora da guerra e ex-rainha de Carmerrum. 

Julien encarou sua filha por alguns segundos mórbidos. Aquilo era possível? O que os poderes de Darian poderiam esconder? 

— O que… — Loenna foi a primeira a se manifestar. Encarou suas próprias mãos, agora transparentes e cobertas por uma gosma azulada, e não demorou a notar que havia algo de errado. — Onde estou? 

— Bem vinda ao corpo de Darian! — lançou Julien, abrindo um sorriso acolhedor. — É meio apertado aqui, mas cabe todo mundo. 

— Quem é Darian? — A pergunta lógica a ser feita. 

— Darian é meu afilhado espiritual. Ele é meio bobinho e faz umas idiotices às vezes, mas tem bom coração — respondeu Julien. — E ele também é a ponte entre o mundo dos mortos e o dos vivos. 

— Eu… — Loenna piscou algumas vezes. Olhou ao seu redor, e se surpreendeu com a ausência de roupas. — Estou morta? Por que eu estou pelada? 

— É meio chato, mas você se acostuma. — Julien fez um sinal com a mão. — Sim, Loenna, você está morta. E eu sou o seu pai, Julien Regin.   

Enquanto boa parte dos presentes se debulhavam em lágrimas pela morte da rainha — Sendo Serpente a mais escandalosa — Darian tentava se livrar das vozes que o atormentavam. Sabia a quem pertenciam; participar em terceira pessoa daquela conversa estava deixando-o louco. 

— Darian? — Merit notou seu desconforto. Preferiu não fazer parte do funeral; a comoção de Serpente a respeito da morte de Loenna a incomodava um pouco. — Você está bem? 

— Eles estão… — O garoto levou ambas as mãos ao topo de sua cabeça. — Eles estão conversando. Dentro da minha cabeça. 

Os olhares se voltaram ao rapaz. Logo Darian se deu conta de que havia pronunciado suas palavras um pouco alto demais. 

— Eles quem? — Após ver Julien nu no meio do calabouço, nada mais chocava Fowillar. 

— Julien e Loenna — respondeu o jovem. 

Ainda dentro do corpo de Darian, Loenna coçou o couro cabeludo. Fora criada até os onze anos com sua mãe, e até os dezoito no abrigo para crianças órfãs de Euler. Nunca tivera pai, ao menos não que tivesse notícias. Se um dia teve, preferia que ele se mantivesse anônimo, porque não queria descobrir que fora abandonada. 

— Eu não tenho pai — alegou, embora sua voz vacilasse. — Nunca tive. E, se você porventura for o homem com quem compartilho metade de meus genes, saiba que eu não o considero assim. Eu nunca o conheci. 

— Eu entendo, Loenna. — Julien sentiu-se compadecido. Afinal, como poderia julgar sua filha após sumir sem deixar vestígios? — Eu e Gara éramos um belo casal. Eu não quis deixar nossa família pública, porque eu era um revoltoso… E tive medo que matassem minha família. Você sabe que os Eran eram capazes disso, não sabe? 

Loenna comprimiu os lábios. 

— Sei… — suspirou fundo. — Por isso eu quero aniquilar qualquer vestígio deles. Não quero que voltem ao poder, não quero que tornem a ameaçar a paz de Carmerrum. 

Julien soube, naquele momento, que era a sua vez de intervir. Balançou a cabeça em negação, reprovando as atitudes da filha. 

— Loenna… — contrapôs-se. — Você acha mesmo que valeu a pena… Se tornar tudo o que você jurou destruir? 

— Como assim? — questionou a rainha. 

Darian, do outro lado, queria afogar sua cabeça no vaso sanitário. 

— Como isso é possível? — Perguntou à mãe. — Como é possível que três almas ocupem o meu corpo? 

— Darian, eu não estou certa disso ainda… — Merit tinha todas as respostas na ponta da língua. Havia decorado o livro de cabo a rabo. — Mas acho que o que você está vivenciando é um evento extremamente raro. Alguns magos da morte são capazes de abrigar mais de duas almas em seu corpo, caso as almas adjacentes tenham parentesco entre si, mas…

Darian ergueu uma sobrancelha. 

— Mas…? 

— Mas todos eles, e com isso eu estou falando de um total de dois, relatam terem sido atormentados por vozes até o fim de suas vidas. — Embora a realidade fosse dura, Merit estava decidida a não esconder mais nada de Darian. — Você vai precisar de muita resiliência para lidar com essa situação.

Darian mastigou o lábio. Desgraça pouca é bobagem, pensou ele. 

Em sua mente, a conversa continuava: 

— Eu não posso permitir que o nosso país volte a ser o que era antes! — alegou Loenna. — As pessoas passavam fome. Isso é inaceitável!

— Com certeza. O seu país é muito melhor que o de vinte anos atrás. — Julien já havia visto o suficiente da nova Carmerrum para chegar a essa conclusão. — Mas me diga, Loenna, por que você está morta? 

Loenna abraçou as próprias pernas. Pensava no motivo que levou ao seu fim e a dor chegava ao seu coração metafórico. 

— Porque eu quase matei Serpente — disse. — Eu estava prestes a tirar a vida do meu maior amor. E isso não é digno de uma pessoa justa, e sim de um monstro. 

— Valeu a pena? — insistiu Julien. — Valeu a pena ter perseguido moinhos de vento? Valeu a pena ter entrado numa espiral insana pelo poder?

— Eu não persegui moinhos de vento. — Loenna cruzou os braços. — Eu tentei fazer o melhor pelo meu país. 

— Você tentou satisfazer o seu próprio ego. — Tornou Julien a argumentar. — Entrou em uma espiral neurótica pelo poder. Tanto que quase matou sua Serpente. 

— NÃO É VERDADE! — Loenna agarrou os próprios cabelos. — Eu só queria… Eu só queria…

E se afastou do pai. Suspirou fundo, prendeu as lágrimas dentro dos olhos. A realidade a atingia com um baque; pensar que cogitara matar Serpente lhe trazia sentimentos horríveis.

Isso que Loenna havia se tornado. Um monstro, uma coisa grotesca. Uma governante não digna do poder que lhe foi dado. 

— Eu passei dos limites. — A rainha suspirou fundo. — Eu prendi Aya. Eu prendi Fowillar. Eu matei os Eran, eu quase matei Serpente… Meu deus, eu quase matei Serpente! 

— Loenna, você não é uma pessoa ruim. Eu sei disso. — atestou Julien. — Mas é muito rancorosa. E eu preciso que você reconheça isso, porque não se combate monstros se tornando pior do que eles. 

— Eu me tornei pior do que eles? — O maior pesadelo de Loenna era realidade. 

Julien, para sua infelicidade, não foi capaz de negar.

Não era possível que um espírito chorasse, mas Loenna estava bem próxima disso. Enxergando todos os seus erros, ela tinha vergonha do que havia se tornado; jurara proteger Carmerrum, e havia se tornado somente mais uma tirana, a ponto de sacrificar até mesmo seus aliados em nome do poder. Era assim tão diferente dos Eran? 

— Eu quero conversar com eles. Com cada um deles — pediu, voltando seu olhar a Julien. — É possível?

— Não é a mim que você deve pedir. — Julien, então, se pôs a bater palmas. — Darian! 

O garoto, que não aguentava mais ser atormentado pela discussão entre pai e filha, manifestou-se:

— Eu só permito se vocês prometerem ficar quietinhos pelas próximas duas horas. — concebeu. — Só Deus sabe o quanto esse falatório na minha cabeça está sendo infernal. 

— Eu fico. Fico quieta pelo tempo que você desejar. — Loenna ajoelhou-se e uniu as mãos, ainda que Darian não fosse vê-la. — Por favor. 

— Eu não prometi nada — resmungou Julien. 

Sendo a promessa de Loenna suficiente, Darian resolveu conceder permissão ao seu corpo. Fechou os olhos, impulsionou-se para trás, entrou em um transe… E, quando voltou, não eram mais os olhos azuis de Darian que encaravam os residentes da mansão Nalan; naquele rosto jovial, via-se as feições severas de Loenna Nalan. 

Narael arregalou os olhos. Tinha medo que a rainha se exaltasse e, em um rompante de raiva, matasse todos. Não havia acompanhado a conversa na cabeça de Darian, afinal.

— Fique calma. Loenna só quer se despedir de seus amigos. — Merit a acalmou. — E, de qualquer forma, Darian não pode emprestar seu corpo por mais de duas horas. 

— Duas horas é suficiente para realizar um massacre — murmurou.            

O primeiro ato de Loenna, contudo, foi sorrir. Sua expressão era bem diferente da rainha tirana, severa e cruel que habitara o seu corpo morto há horas. Todos os pares de olhos apontados para o seu rosto, em especial o de Serpente, que ainda não havia cessado seu pranto melancólico. 

— Oi. — Loenna encarou as mãos de Darian, e em seguida os pés do rapaz. Era um corpo bem diferente ao que ela estava acostumada, mas, ainda assim, era um corpo. — É bem diferente estar aqui. Parece estranho… 

Ninguém sabia ao certo o que acontecia, mas a voz de fato era da rainha. Os presentes não arriscaram uma frase sequer, com medo do que aconteceria em seguida; estavam suficientemente vulneráveis para temer uma reencarnação. 

 — Rainha… — Lenrah Moran foi o primeiro a se manifestar. Em sinal de respeito pela sua superior falecida, o homem dobrou o joelho. 

— Lenrah, não é necessário. — Loenna o dispensou com um sinal de mãos. — Eu queria agradecê-lo por todos estes anos em que me serviu. Não há homem mais fiel que você; esteve ao meu lado mesmo depois de todos os meus surtos. 

Lenrah ergueu-se de uma vez. Encarou os olhos cor-de-âmbar de Loenna e, após uma reverência, disse:

— Muito obrigado, Vossa Majestade — disse. — Muito obrigado. 

— Euler… — Loenna chamou o conselheiro. O homem se destacou no meio do amontado e ergueu seu pescoço para melhor ouvi-la. — Queria agradecer por seus conselhos. Embora eu não os seguisse, você sempre me dava a alternativa mais sábia. 

— Eu… — Não era algo que o homem esperasse. Contudo, estava suficientemente grato por aquele gesto de carinho. — Agradeço, rainha. Sua estima é muito valiosa para mim. 

— Eliah… — Desta vez, a tesoureira se aproximou do corpo de Darian. — Você foi uma boa amiga. Em todos os momentos. E é uma tesoureira excelente, nosso reino está em ótimas mãos. Muito obrigada por isso. 

Eliah abriu um sorriso jovial. 

— Toda a sorte do mundo no além-vida, rainha — desejou. — Você fará muita falta. 

— Narael… — Foi a vez da garota do fogo erguer seu olhar. — Você é uma jovem promissora. Eu sinto muito que tenha sido cruel com você; tenho certeza que sua presença no reino será muito cara. 

— Eu… Obrigada. — Ela ainda estava rancorosa pela maneira como Loenna a prendera, mas, ainda assim, não podia negar que estava surpresa. — Irei levar suas palavras no meu coração. 

— Maraya e Sharoli… — Os homens se viraram de súbito, ambos com os olhos inchados, demonstrando que não eram rochas sem sentimento. — Vocês foram os melhores guarda-costas do mundo. Muito obrigada por tudo.

— Foi uma honra servi-la, rainha. — Maraya e Sharoli fizeram uma reverência sincronizada. 

— Fowillar… — O rei se virou no mesmo exato segundo. Tinha marcas das algemas no pulso, olheiras marcantes em bolsões abaixo dos olhos, estava magro como um palito; a prisão realmente o havia impactado. — Eu fiz muito mal a você, não fiz?

— Você não tem ideia do quanto — murmurou o rei, esfregando seus pulsos com a mão. 

— Espero que você possa me perdoar. — Loenna falava com genuíno arrependimento. — Você foi a razão de termos conquistado este país, e o motivo deste reinado não ter ruído antes. Obrigada por tudo, mesmo que eu tenha falhado com você. 

— Ora… — Mesmo Fowillar, após todo o sufoco que passara, não conseguiu deixar de se comover com a despedida de Loenna. — Foi uma honra lutar ao seu lado, Loenna. Você sabe disso, mulher. Quanto a te perdoar… Se considere perdoada. Por mim, ao menos.

— Aya… — Loenna chamou; a enfermeira, com as mãos sujas de sangue, voltou-se para sua algoz. — Eu não sei o que devo fazer para ser digna de seu perdão. Me exaltei, mandei prendê-la, fiz com que você passasse meses nas masmorras…

— Foi bem traumático — concordou Aya.

— E, mesmo assim, você fez tudo o que poderia para me salvar. — Uma lágrima escorreu pelos olhos da rainha. — Eu jamais serei capaz de me perdoar por tudo que fiz. Eu te amo, Aya. Você foi um dos maiores amores da minha vida. 

Aya esboçou um sorrisinho de canto de boca. 

— Você terá de fazer mais que isso para obter o meu perdão. — Foram tempos difíceis na masmorra, afinal. — Mas eu fico feliz pelo carinho, de qualquer forma. 

— E, por último… Serpente… — A ladra arregalou os olhos. Caminhou até o corpo de Darian, com o rosto totalmente inchado. — Eu não sei o que dizer para você, Serpente. Você é uma pessoa incrível, uma das minhas maiores inspirações… E eu quase a matei. Ainda bem que recobrei a consciência antes disso acontecer.

— Você não precisava ter feito isso, meu amor. — As lágrimas continuavam a escorrer pelo rosto de Serpente. — Eu queria que você estivesse aqui agora, reconhecendo os seus erros ainda em vida.

— Eu precisava. — Utilizando as mãos de Darian, Loenna limpou as lágrimas que corriam pelo seu rosto. — Algumas coisas precisam acontecer para que tudo entre nos eixos. 

— Mas não é justo… — Serpente tornou a chorar. — Você era tão jovem… quarenta e sete anos, meu amor. Não precisava ter partido assim. 

E, numa demonstração tenra de afeto, Loenna a abraçou. 

— Serpente, você despertou em mim sentimentos que eu nem sabia que existiam — começou. — Eu te amo tão profundamente, sempre amei. É por isso que, apesar de tudo o que se passou, eu nunca te esqueci. Você foi o grande amor da minha vida. 

— Eu também te amo, Loenna. — Serpente apertou com força o corpo de Darian. — Você sempre estará viva dentro de mim. Sempre. 

— Eu vou precisar ir embora agora, meu amor. — Loenna deslizou os dedos de Darian pelo rosto de Serpente. — Obrigada por ter aparecido na minha vida. 

E, de uma só vez, Darian fechou os olhos. Impulsionou-se para trás, deixando uma desalentada Serpente segurando os braços do rapaz à sua frente. Quando os olhos azuis do Kantaa voltaram às suas órbitas, Serpente ainda estava deslocalizada. 

— Loenna… — disse, chorosa. — Loenna se foi… 

Darian assentiu. 

— Para sempre — concordou. — Para todo o sempre.

***

Era impossível consolar Serpente após a súbita aparição de Loenna. A ladra chorava sem parar, incapaz de conter sua tristeza. 

— Vai dar tudo certo, Serpente. — Aya a envolvia com seu abraço. — As pessoas vêm e vão. 

— Tão jovem, sabe… — Os cabelos da criminosa estavam totalmente bagunçados. — Por que ela tinha de ir? Isso não é justo, Aya, não é mesmo. 

— Sinta a dor, porque a dor faz parte de nós. — Aya deu-lhe um beijinho na bochecha. — Um dia, vai parar de doer. Eu sei disso. 

Merit também estava na sala, junto a Darian, Arien e Narael, mas não ousou dizer uma palavra sequer. Sentia-se um pouco estúpida por seus sentimentos acerca de Serpente, uma vez que a ladra era nitidamente apaixonada por Loenna. Qualquer coisa que pensasse em dizer soava errada, soava… Intrusivo. 

E, em meio a lágrimas, medos e sentimentos não correspondidos, Fowillar abriu a porta, munido de uma enorme pasta. Todos os olhares se voltaram a ele, mas, por alguma razão, ele parecia especificamente interessado em Darian. 

— Darian e Aya — chamou. — Nós temos uma proposta a fazer para vocês.

O garoto se ergueu de súbito. Embora a enfermeira também tivesse sido chamada, o interesse no rapaz era inusitado. 

— Sim? — Perguntou Darian, curioso. 

— Não! — Merit grunhiu. — Vocês não vão levar o meu bebê. Eu não vou deixar!

— O seu “bebê” tem vinte e um anos, Merit. — Fowillar fez cara feia para a bruxa. — E deixe que ele ouça a minha proposta. Quem tem de aceitar não é você. 

Merit suspirou fundo e ajeitou-se no sofá. Como um sinal de que não aceitava o que seria dito, a bruxa cruzou os braços. 

— Muito bem. — Fowillar limpou a garganta. — Com a morte de Loenna, este país se torna órfão. A sucessora natural seria Narael, porém…

— Eu prefiro morrer a ser rainha — completou a princesa. 

— Exato — Fowillar ajeitou o seu terno. — Eu poderia assumir o compromisso por algum tempo, mas eu sou Saphira de origem, e não tenho certeza se a população aceitaria um ex-Saphira governando-os. Desta forma, eu e Euler tivemos a ideia de criar um conselho. 

Aya ergueu uma sobrancelha. 

— Conselho?

— Sim, um pequeno grupo de pessoas que governaria Carmerrum por um tempo — explicou. — Evitamos, assim, que todo o poder seja centrado nas mãos de uma pessoa, o que aconteceu com Loenna. Até o momento, integram o conselho eu, Euler, Eliah e Lenrah. 

— E vocês querem me convidar para integrar este conselho — adivinhou Aya. 

— Precisamente. — Fowillar era muito bom com as palavras. — É claro que não é uma obrigação, mas seria uma honra tê-la governando Carmerrum. Gostaríamos de saber se você aceita, Aya. 

— Vou precisar pensar um pouco. — Aya jamais havia se visto em posição de governança; sua vida era tão pacata e simples… — Não tenho certeza se serei capaz de aguentar tamanha responsabilidade. 

— Gaste o tempo que quiser pensando — disse Fowillar, solícito. Ele e Aya haviam se aproximado bastante depois do tempo nas masmorras. — Mas saiba que sua presença será singular neste conselho. Precisamos de alguém com a sua sensatez.  

— Vou me lembrar disso. — Aya piscou. 

— Mas e quanto à mim? — Darian estava confuso. Qual o seu papel no meio de toda aquela confusão? 

— Bem… — Fowillar esfregou os braços. — A despeito de todos os erros de Loenna, não podemos negar sua participação na guerra e o amor que a população tem por ela. Por isso, Darian, você está convidado para integrar o conselho como representante de Loenna. 

O garoto arregalou os olhos. Ele, um menino de apenas vinte e um anos, sendo alçado a governante de Carmerrum. Era muita responsabilidade para alguém tão jovem lidar! 

— Uau. — Loenna soprou em sua cabeça. — Por isso eu não esperava. 

— Eu não a chamaria, se estivesse no lugar deles. — Julien não era capaz de perder uma oportunidade de dar sua opinião. — Você fez bobagem demais. 

— Ah, cale a boca, Julien — retrucou Loenna. 

— Mais respeito comigo, mocinha! Eu sou seu pai! 

Darian balançou a cabeça, buscando dispersar as vozes que agora dominavam sua cabeça. 

— Bom, eu… — Darian engoliu em seco. — Eu não sei se consigo lidar com essa responsabilidade. É algo muito… 

— Como eu disse para Aya, não é sua obrigação aceitar — lançou Fowillar, cordial. — E nós entenderemos caso diga não. 

— Não aceite, Darian. — Merit o abraçou. — Você é apenas uma criança. Um bebê. Não tem idade para assumir esse tipo de responsabilidade.

E, previsivelmente, aqueles dizeres inflamaram em Darian o sentimento oposto. O rapaz não queria mais ser visto como um bebê chorão, é claro que não; ele já era um adulto. Um adulto de vinte e um anos, mas ainda assim, um adulto. Já tinha idade para arcar com as próprias escolhas e para assumir responsabilidades.

— Eu aceito. — E levou a própria mão ao peito. — Eu me comprometo com Carmerrum. Eu me comprometo a ser o representante de Loenna na terra. 

Merit se encontrava estarrecida, mas Fowillar abriu um sorriso. Era um homem sábio; tinha ciência de que a presença de Darian no conselho teria mais a acrescentar do que faltar. 

— Darian… — Merit tentou argumentar. Darian, contudo, ergueu uma mão. 

— Eu não sou mais criança — impôs-se, firme. — E você não pode me tratar como se eu fosse, mãe. Eu tenho idade o suficiente para lidar com esse problema, e aceito, sim, ser empossado como parte do conselho de Carmerrum. 

— Mas a mamãe não pode vir morar em Quentin Nalan com você, Darian. — Merit fez beicinho. — Você tem certeza que é isso o que quer? 

— Caramba, Darian, sua mãe é muito chata — comentou Julien. — É por isso que nunca transou? Por que ela não deixou? 

— Eu já tenho idade para vir morar sozinho. — Darian ignorou a voz de Julien em sua mente. — Tenho certeza que os moradores da mansão Nalan irão me tratar muito bem. 

— Tudo bem, mas eu irei te visitar. — Merit deu-se por vencida. Afinal, não havia muito o que podia ser feito acerca das escolhas de seu filho. — Não vou deixar você farrear aqui sozinho, meu amor. 

— Eu espero que você faça isso. Ficaria muito triste se nunca mais tivesse que lidar com as suas broncas.

E, num abraço tenro, mãe e filho selaram um de seus últimos contatos. Merit encontrava-se com o coração apertado, mas era melhor assim. Não poderia manter o filho numa redoma de vidro para sempre. 

— Muito bem. — Fowillar ajeitou os óculos. — Obrigado, Darian. E espero a sua resposta, Aya.

Antes de fechar a porta, Fowillar lançou um recado:

— Darian, se puder esconder do país que você é um Kantaa… — O homem pediu. — Ficaríamos gratos. 

O rapaz assentiu e, com um aceno de mão, Fowillar se despediu. 

 

Seria um novo recomeço para Darian, e ele deveria estar pronto para os obstáculos a serem transpostos.

Fim do capítulo

Notas finais:

Eu ODIEI esse capítulo, então se puderem me dizer como posso melhorá-lo, eu ficaria grata <3


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Comentários para 30 - Capitulo 30 - Despedida:
AMANDA
AMANDA

Em: 18/12/2022

 

Diria que apesar de chorar boa parte do capítulo ele é um dos melhores da obra. Creio que depois daaparição de Serpente ninguém queria a morte de Loenna, mas foi necessário. Simplimente incrível!
Resposta do autor:

Sim, infelizmente é o único fim para essa história...

 

Obrigada pelo carinho!

Responder

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Lea
Lea

Em: 20/11/2022

A dor de ter que matar a Loenna é compreensível que,tenha odiado o capítulo.

Porém,acho eu que, não havia outro jeito!

*

Senti mais a dor da Serpente por perder a Loenna,do que a própria morte da Loenna.

Espero que agora seja mais justo,o modo como governarão o país.


Resposta do autor:

Não é por isso que eu odiei nãoooo hahaha achei que ficou mal escrito

mas sim, esperamos todos que dê tudo certo

Responder

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