Inflamável por HumanAgain
Darian usa algumas palavras de baixo calão com Merit nesse capítulo
Capitulo 24 - Meus verdadeiros pais
— Está bom assim para você? — resmungou Darian, após tomar sua terceira xícara de café. Odiava o gosto daquele líquido amargo, mas Julien implorara para que o rapaz lhe deixasse sentir o sabor dos grãos novamente.
— Maravilhoso! — exclamou Julien, deliciando com cada gota da bebida. — Darian, você só será um homem de verdade quando descobrir as maravilhas do café.
— Obrigado pela parte que me toca. — Ele jamais admitiria, mas ser comparado com uma criança mexia com seu psicológico. — Bem, o que você quer fazer hoje? Não quero ficar trancado nesse quarto o dia inteiro.
— Podemos passear um pouco pela cidade — sugeriu Julien. — Eu não venho aqui desde que fui morto, e já se passaram mais de quarenta anos que isso aconteceu. Quero conhecer novos ares, lugares, mulheres…
Darian deu de ombros. Seria bom conhecer um lugar diferente da floresta sangrenta, para variar.
— Só preciso tomar um banho antes — pontuou Darian. — Eu estou fedendo.
— Realmente, você está — confirmou Julien, deixando o corpo de seu afilhado no mesmo exato segundo. Ele ainda era um fantasma pelado, o que tornava tudo muito mais engraçado. — Qual foi a última vez que viu água, Darian?
No dia anterior, Darian estava tão cansado que apenas deitou-se na cama e mergulhou num sono profundo, sem sequer dar-se ao luxo de tirar a sujeira do corpo. As consequências de sua falta de higiene haviam chegado, afinal.
— Vou passar no quarto da minha mãe — Como se não bastasse o mau cheiro, Darian também não aguentava o próprio hálito. — Ela está com as minhas roupas. Já volto, Julien.
***
— Bom dia, Merit. — Serpente, que já estava desperta há mais de duas horas, observou a amante se levantar. Trazia uma garrafa de cerveja nas mãos, que ela comprara em algum mercado pela cidade assim que o sol nascera. — Você sempre acorda tarde assim?
— Tarde? — indignou-se a bruxa. — São oito da manhã! E… Você já está tomando cerveja?
Serpente sorriu com o canto da boca e bebericou sua garrafa mais uma vez.
— Não há nada como o sabor amargo do lúpulo para começar o dia. — Piscou. Não oferecia sua bebida para a amante, porque sabia que seus antigos problemas com álcool a impediam de degustar qualquer cerveja.
— Você é quem sabe. — E deu de ombros. — Respondendo à sua pergunta… Não. Houve épocas em que eu me despertava antes do sol. Mas acho que perdi esse costume, estou me levantando mais tarde ultimamente.
A ladra riu. Beijou Merit de leve e passou um braço por trás de seu pescoço.
— Como está o machucado? — perguntou, notando a boa cicatrização da escoriação.
— Bem. Narael sabe fazer uma sutura. — respondeu Merit. — Passei um pouco mal ontem à noite, com o pesadelo, mas…
— E você já está se sentindo melhor quanto a isso? — Afinal, problemas psicológicos também eram problemas. — Sobre o pesadelo.
— Não exatamente. — Aquele tópico era mais íntimo de Merit do que Julien era de Darian. — Eu decidi que não irei contar agora. Irei esperar mais um tempo.
Serpente ergueu suas sobrancelhas. Não aprovava tal decisão, mas não cabia a ela se intrometer nas escolhas da amante.
— É mesmo? — perguntou. Merit assentiu.
— Acho que Darian não irá lidar bem com essa informação. — explicou-se. — E eu sou fraca, Serpente. Fraca. Não suportaria perdê-lo bem diante de meus olhos.
— Bom, a palavra final é sua. — Serpente bebericou mais uma vez sua cerveja. — Espero que não se arrependa dessa decisão.
— Eu me arrependo todos os dias. — Merit segurou o choro. — Vejo o rosto dos verdadeiros pais de Darian, e meu coração aperta. Eu não deveria ter feito…
A porta se escancarou, de supetão, com um estrondo ensurdecedor. Um frio contumaz subiu pela espinha de Merit e arrepiou cada pêlo de seu corpo. Pensava estar conversando a sós com Serpente, mas tinha companhia.
E, pior do que isso: Quem se punha atrás da porta com uma expressão séria e os olhos cheios de lágrimas era ele, Darian. A verdade havia chegado justamente à única pessoa que deveria estar alheia dela.
O rapaz estava ali o tempo todo, escutando o que as mulheres mais velhas diziam. Merit sentiu seu coração acelerar; não esperava ser forçada a essa situação de forma tão bruta.
— VOCÊ O QUÊ? — As lágrimas teimosas despejavam pelos olhos azuis de Darian. Ele se sentia ludibriado. — O QUE VOCÊ FEZ, MERIT?
A bruxa engoliu em seco. Notou que Darian não mais a chamava de "mãe". Era a hora da verdade, e não havia mais tempo para postergar essa revelação.
— Você estava aí? — Ela tentou ainda ganhar tempo. — Darian, o que eu te falei sobre escutar por trás da porta?
— Não mude de assunto, Merit Kantaa. — Era a primeira vez que o rapaz erguia sua voz contra a mãe e a primeira vez que ele a chamava pelo nome completo. O tão magro e assustado Darian havia invocado toda a sua fúria naquele momento. — O que você estava falando com Serpente? sobre meus pais verdadeiros?
— Eu… Droga, não era a hora, Darian! — Exclamou Merit, frustrada. Serpente, que até o momento havia se eximido da confusão, deu de ombros e viu uma brecha para se manifestar:
— Nunca seria a hora, Merit. — E deu uma golada na sua cerveja. — Nós duas sabemos disso.
Uma nitidamente irritada Merit pensou em rebater, mas Darian estava furioso demais para deixar isso acontecer.
— Eu quero saber, da sua boca… — Darian cerrou os punhos. — Que história é essa de "meus verdadeiros pais". Você não é minha verdadeira mãe, sua bruxa velha?
— Mais respeito comigo, mocinho! Eu sou sua…
— MINHA O QUÊ? — Gritou o rapaz, já vermelho. — MINHA O QUE, MERIT? DIGA!
Merit suspirou fundo. Ela sequer poderia dizer que Darian estava errado; Que moral teria ela para impor respeito a uma criança que havia roubado?
— Eu fiz por amor, Darian. Quando soube que você havia nascido na virada do dia dois para o dia três, tive medo que manifestasse poderes e fosse renegado. Como eu fui. — Explicou-se. — Por isso eu… Eu te roubei. Eu te tirei da sua verdadeira família quando você ainda era um bebê de colo. Me desculpe…
E ajoelhou-se, rendida, as mãos cobrindo o rosto e o choramingar baixinho de uma mulher arrependida. Nunca, em toda a sua vida, sentira-se culpada pelo que fizera; Agora, a dor do remorso batia implacável em seus ombros. Era como uma dívida, cobrada depois de quase vinte e dois anos.
— Como você pôde… — Darian cerrou os dentes. — Me arrancar de uma família feliz… E me levar para dentro do mato…
— Eu fiz isso por você. — Merit fungava. Ver seu filho tão querido se voltando contra ela daquela forma era arduamente doloroso. — Para que você tivesse um futuro…
— MENTIRA! — Gritou Darian, apontando o dedo para sua algoz. — Você fez isso por si mesma. Depois de tantos anos vivendo sozinha, resolveu ir atrás de alguém para dar sentido à sua vida medíocre. Não satisfeita em ter a própria vida arruinada, você resolveu arruinar a minha também.
Era uma acusação cruel. Mas poderia Merit dizer que era falsa? Quem a havia salvado do alcoolismo? Quem havia trazido cor à sua vida, feito com que ela tivesse um propósito? Darian não estava errado. Merit queria alguém ao seu lado, uma segunda vida para fazer da sua menos vazia. E por isso, apenas por isso, sequestrou Darian e o trouxe para viver no meio da selva... Isolado da civilização e do contato humano, fazendo com que o garoto crescesse solitário e com problemas de socialização.
Talvez de fato não fosse a melhor opção para ele. Talvez sua família original poderia tê-lo criado melhor.
Havia, no entanto, um porém.
— Você tem poderes, Darian. — Lembrou-se ela. — Você sabe o que poderiam fazer contigo se isso viesse à tona?
— Não. E você também não sabe, porque não conhecia os meus pais. — Disparou ele. — Sabe como eles seriam agora, depois da revolução? Não. Você não sabe. Porque você só pensou em si mesma e no seu umbigo. Sua mocréia!
Merit chorava copiosamente. Cada palavra de Darian era como uma adaga que feria seu peito.
Não, ele não havia saído de dentro dela. Mas a bruxa o amava como se tivesse.
— Eu não tinha como saber… Da revolução, eu não tinha… — Era tudo o que sua cabeça conseguia formular. Ela lia mentes, não o futuro.
— Não importa. Você deveria ter pensado melhor antes de tirar uma criança do seio de sua família. Mas eu aposto que você estava bêbada, não estava? — Incapaz de negar, Merit fez que sim. — Eu sabia. Você é uma vadia egoísta e nojenta. Eu nunca mais quero olhar na sua cara, Merit. Não enquanto você viver.
E, deixando a que um dia foi sua mãe afogando-se em suas lágrimas, Darian bateu a porta do quarto num ruído estrondoso. A mensagem que ele queria passar era clara: Merit Kantaa não mais existia para ele.
Mas a bruxa não conseguia apagar de sua memória todos os momentos bons que passou junto de sua criança. Ele era, embora concebido de uma forma torta, seu filho.
— "Vadia egoísta e nojenta"? — Serpente, ao contrário de Merit, não esboçava a mínima preocupação. Era como se ela não se importasse, ou não levasse aquilo a sério. — Que boca suja. Eu não usaria essas palavras com a minha mãe.
— Eu não sou mais a mãe dele. — Admitiu Merit, com o coração apertado. — Darian acabou de partir. Para sempre.
— Ah, eu não diria isso. — E, de uma só vez, Serpente terminou a garrafa de cerveja. — Os jovens são todos assim, meio intensos. E Darian é um bom rapaz, logo ele voltará para você. Só precisa de um tempo sozinho, para refletir sobre o que aconteceu. Relaxe.
— Como você pode ter tanta certeza disso? — O jeito otimista e pouco preocupado de Serpente costumava seduzir Merit, mas agora ele a irritava.
— Eu não leio mentes, mas eu já vivi o suficiente para saber que este é um motivo pouco contundente para abandonar a mulher que te deu lar e comida durante sua vida toda. — Respondeu Serpente. — Darian está confuso, aborrecido e não sabe lidar com os próprios sentimentos. Mas ele vai voltar.
Merit se levantou e enxugou as lágrimas com as costas da mão.
— Espero que você esteja certa. — Disse ela, por fim.
***
Darian correu. Correu o mais intensamente que podia. Correu até que suas finas pernas não suportassem mais o peso de seu corpo, e quando este momento chegou, ele correu mais ainda. Queria sentir dor, dor física, qualquer dor que superasse o sofrimento que assolava seu corpo. As lágrimas cegavam sua visão e ele quase foi atropelado por uma carroça duas vezes, mas isso não importava. Afinal, seria de todo ruim se morresse?
Enquanto martirizava-se solitário, torcendo para que a exaustão física o consumisse, uma aura azul aproximou-se pela direita. Era Julien, acompanhando seu afilhado espiritual em sua trajetória.
— Para onde estamos indo? — Questionou, voltando-se para Darian.
— Lugar nenhum. — Para Darian, esta resposta lhe era custosa. Havia aprendido a apreciar a companhia de Julien, mas às vezes ele mais se parecia com um fardo. — Só quero me consumir pela dor.
— Não é melhor você parar? — Insistiu o fantasma. — Eu sou fisicamente incapaz de sentir dor. Não acho que o mesmo se aplique a você, e se me permite, o senhor não parece estar muito em forma.
— CALE A BOCA, JULIEN! — Definitivamente, a última coisa que ele precisava era de um espírito zombeteiro azucrinando-lhe a cabeça.
— Está certo! Está certo! — Grunhiu Julien, irritadiço. — Todo mundo me diz: “Julien, você só pensa em si”. Claro, quando eu penso em outra pessoa sou recebido desta forma. Eu tentei te ajudar, mas quando você tiver uma cãimbra e suas pernas ficarem inutilizáveis, não chame por mim. Eu estou tentando.
As palavras do fantasma pareceram distrair Darian de sua dor inicial. Instantaneamente, o peso da corrida pareceu cair sobre si e ele desabou no meio da rua, exausto. Seu cabelo gotejava suor e seu rosto estava vermelho como um pimentão.
Caído na avenida, Darian abraçou os próprios joelhos e começou a chorar baixinho. Um pranto tão silencioso e cortante que foi capaz de comover até mesmo Julien, seu padrinho espiritual egocêntrico. O fantasma pôs-se ao lado de Darian e mordeu o próprio lábio.
— Você quer contar para mim o que aconteceu? — Compadeceu-se.
— Você sabe o que aconteceu. — Balbuciou Darian, meio a murmúrios sôfregos.
— Eu não sei. — Julien balançou a cabeça de um lado para o outro. — Eu estava lavando o cabelo.
E, naquele momento, Darian interrompeu seu choro apenas para encarar Julien com uma expressão confusa.
— Julien… — E limpou as próprias lágrimas. — Você é um fantasma.
— Tudo bem, tudo bem. — Rendido, Julien ergueu as mãos para cima. — Eu sei o que aconteceu. Estava tentando fazer com que você se abrisse. Mas, olhe, não é tão ruim. Você cresceu com a figura materna, ao menos. Eu fui criado em um lar de freiras, não sei quem é ou onde está a minha mãe.
— Eu não tenho mãe. — Disse, ríspido, quase como se rosnasse. — Merit Kantaa não é e nunca foi minha mãe. Ela me sequestrou, apenas isso.
— Bom, ela lhe deu comida, carinho, lar e lições. — Disse Julien. — Isso se parece com uma mãe para mim. As freiras que me cuidaram me deram tudo isso, mas elas queriam que eu me tornasse padre. Merit não te obrigou a ser padre, obrigou?
— Você não está ajudando.
Julien suspirou. Era difícil enxergar a situação da perspectiva de Darian; Para ele, ter saído do ventre de alguém ou não era irrelevante. Merit Kantaa notoriamente desenvolveu laços afetivos pelo garoto, e era isso que importava.
Mas, para ele, sempre foi um esforço árduo se pôr no lugar de outra pessoa. Darian tinha razão, ele era um ser egoísta e pouco empático.
— Bom, então me diga… — Julien se pôs de frente para o rapaz. — De que forma eu posso te ajudar?
Darian respirou fundo. Inspirou. Expirou. Havia como ajudá-lo naquele momento? Ele gostaria de poder se desligar do mundo, não existir por um momento. Ser apenas uma névoa, uma planta, um ser irracional. Qualquer coisa para não absorver toda aquela dor.
— Não há como me ajudar. Eu só queria poder me desligar do mundo. — Fungou. — Ir para outra dimensão, outro universo… Não sei.
— Ah, que bom que não existe alguém que pode possuir o seu corpo por um momento enquanto você tira umas férias. — Julien repousou as mãos na cintura. — Quem será que pode fazer isso? Claramente impossível.
Darian levou um susto. Sim, ele poderia embarcar numa viagem espiritual enquanto Julien apossava-se de seu corpo, mas será que uma visita ao além não o deixaria ainda mais mentalmente exausto? Como se isso apenas não bastasse…
— Julien… — Talvez não fosse a melhor coisa a se dizer, mas Darian não estava em seu momento mais reflexivo. — Eu não confio em você para tomar conta do meu corpo.
Julien arqueou as sobrancelhas. Parecia profundamente ofendido.
— Não confia? Como assim, não confia? — Ele estava indignado. — Claro, porque eu sou um qualquer. Eu vou jogar o seu corpo em um vulcão, ou cortar o seu braço fora, sei lá. Eu não sou, sabe… Seu padrinho espiritual. Não. Eu sou apenas um espírito qualquer que veio lhe pentelhar.
— É quase isso. — Lembrou-se o garoto. — Eu não escolhi você como meu padrinho. Quando isso aconteceu, eu não sabia o que estava fazendo.
Julien abriu a boca, espantado. Parecia não saber o que dizer diante de tamanha afronta.
— Quer saber? Eu me recuso a ser seu padrinho espiritual. — E cruzou os braços. — Arranje outro. E não faça isso por acidente desta vez.
— Você não pode fazer isso. — Aparentemente, Julien havia se esquecido de todos os detalhes do “contrato”. — O vínculo é vitalício.
— Bom, isso é problema seu. Não me chame quando tiver um problema, quando precisar dos meus belos músculos ou do meu engenhoso cérebro. A partir daqui, eu rompo com você. — Não que isso fosse possível, mas Julien se sentia humilhado demais para recorrer à razão. Apenas virou-se de costas, simbolizando sua ruptura com Darian; O que, efetivamente, não significava nada.
O menino bufou. Julien dizia ter sido um guerreiro épico, de muitas vitórias e muita honra, e provavelmente havia vencido todas as batalhas irritando seus inimigos até seu último fio de paciência.
— Tudo bem, você pode tomar conta do meu corpo enquanto eu embarco em uma viagem para o além. — Era a forma mais fácil de restaurar a paz entre eles. — Mas tome cuidado. Não permito que você entre em confusão, nem que você faça dívidas em meu nome, e, por favor, eu preciso de todos os meus membros, ok?
— Que drama, Darian! — Era quase como uma autocrítica. — Eu me pareço com alguém que te colocaria em risco?
— Sinceramente…
— Não responda.
Darian revirou os olhos. Tentar discutir com Julien era, sem sombra de dúvidas, uma batalha perdida.
Sem mais delongas, era a hora de visitar o plano espiritual, como fizera outrora. O rapaz não tinha certeza se iria conseguir fazer aquilo de novo — Nem todas as suas conquistas eram capazes de serem repetidas. Ele fechou os olhos, inspirou fundo e tentou levar sua mente para longe… Para outro lugar. Sentiu o ar entrando e saindo, observou o peso desprender-se de seu corpo… De repente, ele estava leve, muito leve…
O chão aos poucos desaparecia de seus pés. Ele estava flutuando, tão leve quanto uma pluma. Repentinamente, sentiu-se como se um ímã o puxasse pelas costas, e agora Darian estava voando num ritmo veloz para o seu destino. De alguma maneira, soube que não estava mais na terra, não naquele plano. Sua alma havia se dissociado de seu corpo e ele era, agora, apenas névoa. Concentrou-se, ainda sem abrir os olhos, e sentiu que esta névoa agora tinha o formato de seu corpo, mas não a sua materialidade… O jovem Kantaa se tornara mais um espírito.
Quando se sentiu seguro, Darian abriu os olhos. E, de fato, ele havia sido teleportado. Já estivera ali antes; Conversou com Gara e Quentin, com Digan. Era um imenso fundo escuro com algumas luzes piscando, aqui e ali, a galáxia de outrora. No entanto, desta vez, ele não estava sozinho com o seu alvo; Os espíritos caminhavam ao seu redor e conversavam uns com os outros, alguns tinham formato de gente e outros eram apenas uma neblina esbranquiçada.
Darian olhou para si mesmo. Seu corpo estava acinzentado e translúcido. Não sentia o chão, mas imaginou que poderia caminhar. Pôs um pé à frente, em seguida outro… De alguma forma, Darian estava se locomovendo pelo amontoado de luzes que se punha diante de seus olhos. Era relaxante; Ele se sentia em casa. Aquele era o seu lugar.
Enquanto o garoto aproveitava seu momento consigo próprio, um espírito passou ao seu lado: Careca, gordo, bigodudo. Darian não se atentou a ele, porque não conhecia o homem, mas o mesmo não podia ser dito do careca, que levantou a mão direita e o cumprimentou:
— Ei, Darian!
Darian interrompeu sua trajetória no mesmo exato segundo. Acenou para o senhor, um pouco confuso, esperando que ele o chamasse para conversar, mas o espírito apenas seguiu seu caminho.
E sequer teve tempo para processar o que aconteceu, porque um grupo de meninos também passou, dirigindo algum tipo de bicicleta espiritual, cumprimentando-o:
— E aí, mano Darian?
Aquilo estava começando a ficar esquisito. Ele achava que não conhecia o senhor, mas tinha certeza de que não conhecia aqueles garotos. De alguma forma, as pessoas ali pareciam saber quem ele era; Todos o conheciam, mas ele não conhecia ninguém.
E assim se prosseguiu para os próximos cinco ou seis rostos que cruzaram o seu caminho; Cada um deles chamando Darian de uma maneira diferente, como um amigo íntimo ou um companheiro de longa data. Cogitar a hipótese de que todo o mundo dos mortos sabia seu nome o deixava com dor de cabeça, era algo significativo demais para apenas ignorar…
Enquanto o mundo girava ao seu redor, uma voz masculina irrompeu de trás de si:
— Helriant. — Chamou.
Aliviado, Darian suspirou. Não eram todos que o conheciam por ali.
— Você deve ter se confundido. — E virou-se em direção da voz. Ela partia de um homem forte, cabeludo e barbudo, e ele estava acompanhado de uma mulher esguia e alta. Os dois, adicionalmente, traziam ao seu lado duas crianças. Era uma família. — Meu nome é Darian.
— Não. — Insistiu o homem das longas madeixas. — O seu verdadeiro nome é Helriant. Significa “corajoso” em Kantaa antigo. Eu lhe dei esse nome no dia em que você nasceu.
E, num estalo, Darian se deu conta do que estava acontecendo.
— Pai? — Seus olhos lacrimejaram. — Mãe? Irmãos?
Com o coração batendo a mil, Darian correu para abraçar sua família, mas o seu toque os dissipava, como se fossem feitos de gases. Eles eram espíritos, afinal; O jovem Kantaa se afastou e encarou sua família, a família que ele teria se Merit não o houvesse roubado.
— Eu não posso acreditar… — Ele sequer imaginou que era possível chorar tanto no plano espiritual. — Que vocês estão aqui…
— A gente já te esperava, Helriant. — Disse a mulher, que possuía uma voz extremamente doce. — Desde que você era um feto.
— O sacerdote nos disse que você seria a ponte entre os dois mundos. — Continuou o homem. — O espiritual e o material. Você é muito bem vindo aqui. Eu sou o Esben, Esta é a Angelika. Nós somos os seus pais.
E ele jamais havia se sentido tão confortável em toda a sua vida.
— Se eu não tivesse sido roubado… — Darian cerrou os punhos. — Eu estaria com vocês agora. Eu jamais perdoarei Merit pelo que ela fez…
Esben balançou a cabeça em negação.
— Merit fez o que tinha de ser feito, Helriant. — Respondeu, sereno. — Você tinha um futuro à sua frente. E este futuro não poderia ser alcançado entre nós.
Darian ergueu uma sobrancelha.
— Todos vocês tinham um futuro. — Por que sua vida seria mais importante que a de outra pessoa? — Eu não sou especial.
— Quando eu estava grávida, Helriant… — Angelika se manifestou. — Eu tive um sonho. Não foi muito detalhado… Mas ele dizia que você teria um papel essencial no reinado de Carmerrum.
O rapaz piscou. Ele? Um papel especial? Mas o rapaz era apenas um semi-médium que sequer tinha a capacidade de se comunicar com as pessoas! Esse futuro brilhante que prediziam a ele não tinha como ser real.
— O que quer dizer com isso? — Questionou Darian, ainda atônito.
— Não posso te dar detalhes. Também não sei de todos os desdobramentos, isso foi há muito tempo. Você estava dentro do meu ventre… — Ela se lembrava da gravidez com muito carinho. — O que importa é que você está vivo. E com uma missão a cumprir, Helriant.
— Preferia estar morto. — As lágrimas se continham dentro de seus olhos. Esben balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Helriant, você sabe quem era Arsi Kantaa? — Tornou ele a perguntar, num tom sério e sisudo. Darian fez que sim com a cabeça.
— O pai de Merit. Ele era um general de guerra. — E isso era tudo que ele sabia sobre o homem. A bruxa não costumava mencioná-lo muito quando estavam juntos, dizia que o pai era uma pessoa de má áurea. — Por quê?
— Meses antes da guerra, Helriant, quando você ainda era um bebê… — Quem se pôs a falar foi Angelika. — Nerken deu-nos a opção de juntar-nos com os Eran ou não.
— Nós e muitas outras famílias fomos contra. — Complementou Esben. — Não queríamos nos unir aos nossos algozes. Eran e Kantaa são inimigos naturais, como cão e gato.
— Nós perdemos. — Tornou Angelika a dizer. — A união com os Eran venceu por uma larga diferença. Ainda assim, alguns Kantaa disseram que não iriam se dar por vencidos. Não iríamos entrar na guerra ao lado dos Eran.
O rosto de Esben se tornou sombrio. O que ele tinha a dizer em seguida era devastador.
— Foi perto do Natal que Arsi Kantaa invadiu nossa casa. — Enquanto as palavras de Esben tocavam sua mente, Darian imaginava com riqueza de detalhes o que havia acontecido naquela noite. — Ele dizia que não permitiria um peso morto em seu exército.
— Mais de 800 famílias Kantaa foram dizimadas naquele dia. — Angelika não parecia mais feliz em narrar o acontecimento. — Peso morto, ele nos disse. Apesar de cada uma dessas famílias ter encontrado a lâmina e a morte da mesma maneira, ter visto a crueldade de Arsi Kantaa de perto foi uma experiência terrível.
— Ele cortou nossas cabeças com um machado. — Disse Esben. — Manchou nosso carpete de sangue. As pessoas que ele deveria proteger, pois bem. Tivemos um fim trágico.
Boquiaberto, Darian apenas ouvia atentamente. Arsi era muito pior do que imaginara.
— Até mesmo as crianças? — E apontou para suas duas irmãs. Uma delas deveria ter em torno de nove anos, e a outra não mais que quatro.
As garotas assentiram com a cabeça.
— Generais de guerra não têm piedade com os pequenos. — Respondeu Angelika, voltando sua atenção às meninas. — Entretanto, nós descobrimos que Arsi…
— Ele fazia coisas piores com crianças. — Completou Esben, visto que Angelika não parecia estar disposta a contar todos os detalhes.
E Darian entendeu; Era este o motivo de Merit tremer sempre que ouvia o nome do pai. Foi isto que ela viu em suas visões, isto que o tornava um homem tão asqueroso.
— Não sabemos o que ele seria capaz de fazer com você, Helriant. — Agora, Angelika estava muda. Quem conduzia a conversa era Esben. — Diziam que ele preferia os meninos. Se ele o raptasse, apenas deus sabe o que aconteceria…
— E eu fui adotado… — Darian sentia-se engasgar com a própria saliva. — Pela sua filha…
— Chega a ser irônico, eu sei. — Pela primeira vez, Esben foi capaz de esboçar um sorriso. — Merit te salvou de um destino cruel. Sei que está irritado, Helriant, mas você não teria nenhum futuro conosco.
— Ainda assim, Merit não tinha esse direito. — Darian relutava para aceitar aquele destino; Merit havia interferido diretamente em sua vida, mudado o curso natural de seu desenvolvimento. — Ela fez por puro egoísmo.
— Darian… — Angelika não o chamou de Helriant; Escolheu usar o nome que Merit havia lhe dado. — Laços de sangue são tão importantes assim?
— Nós somos seus pais. Te amamos. — Complementou Esben. — Mas ela também te ama. Ela lhe deu comida, abrigo, carinho e lições. Tudo isso deve ser jogado no lixo apenas porque não foi de dentro dela que você saiu?
Darian mordeu os próprios lábios. Fez que não com a cabeça; Se hoje ele era um homem, era a Merit quem devia.
— As coisas acontecem como elas tinham que acontecer. — Disse Angelika. — Você era apenas uma criança indefesa, Darian. Queríamos que o Helriant tivesse existido e crescido junto a nós, mas isso é impossível.
— O Helriant nunca existiu. — Retornou Esben. — Quem existe é o Darian. E você deve a ela a pessoa que você é. Merit tomou para si o trabalho que nós não pudemos cumprir.
— Eu… — Darian pensou em uma resposta, mas tudo soava tão abstrato... — Eu não sei…
— Sabemos que está confuso. — Esben o compreendeu. — Você vai precisar de um tempo para digerir isso.
— Gostaríamos de viver esse processo com você. — Disse Angelika. — Mas o nosso tempo aqui acabou.
— Hã? — Darian comprimiu os olhos. — Como assim? Vocês… Não! Não vão embora! Pai…?
— Não podemos ficar mais, Darian. — Esben mexeu a cabeça de um lado para o outro. — O mundo espiritual tem regras. Espero poder vê-lo novamente.
— Por favor… — Implorou o garoto.
E, em meio às súplicas de Darian, Esben estalou os dedos. Um clarão tomou conta da visão do menino e ele se sentia puxado por uma força invisível, voando há milhares de quilômetros por hora. Ele fechou os olhos, e sentiu pouco a pouco a sua velocidade diminuindo… Até que chegasse a zero.
Quando o clarão foi embora, Darian sentiu todo o peso de seu corpo retornando a si. Ele se sentia cansado. Abriu os olhos; Estava um pouco perdido. Ainda com a visão embaçada, Darian bocejou, esfregou os próprios olhos e em cerca de alguns segundos pôde enxergar de forma nítida novamente.
Notou, então, que ele estava em um quarto. Era um cômodo simples, as rachaduras e o mofo na parede denunciavam sua idade. As paredes eram pintadas de cinza e o sol que adentrava pelas janelas sem cortina era um anúncio das primeiras horas da manhã. Ele não reconheceu o local; Deveria ser mais uma das extravagâncias de Julien. Quando voltou seu olhar para baixo, percebeu que estava nu por debaixo das cobertas.
Quase que instantaneamente seus olhos correram para o lado. Ao vislumbrar a moça nua deitada a alguns centímetros de distância, Darian teve vontade de gritar. Compreendeu de imediato o que havia acontecido e um rubor cobriu suas bochechas.
— Julien! — Disse, baixinho, para não acordar a garota. — O que você fez?
— O que é? — Como uma entidade invisível presente apenas em sua mente, Julien o respondeu. — Não entrei em brigas, não contraí dívidas e você ainda tem todos os seus membros. Embora, eu devo ressaltar, quando eu era vivo um dos meus era maior que o seu…
— Eu não acredito que você fez isso! — Darian queria sumir novamente. Desta vez, para sempre. — Eu vou matar você!
— Bom, eu já estou morto. — Disse, num tom de voz despreocupado. — Sua ameaça não tem valor.
— O que eu vou fazer se eu for pai? — E levou suas mãos ao couro cabeludo. — Eu não estou preparado para isso.
— Relaxe, eu me deleitei fora da garota. — Respondeu Julien, com a maior serenidade do mundo. — Eu me preocupo com você, viu?
— Julien… — Darian cerrou os dentes. — Isso não garante nada.
— Como não? — Questionou o fantasma. — Sempre fiz isso quando era vivo.
— E você tem dois filhos! — Berrou Darian. — Julien, nunca mais faça isso! Eu disse NUNCA!
No que Darian emitiu seu grito estridente, a moça ao lado acordou. Era jovem, ruiva, tinha olhos cinza e era levemente acima do peso. Deveria ter dezoito ou dezenove anos, não muito mais que isso.
— Julien? — Ela balbuciou, com a voz carregada. — Por que você está falando sozinho?
Darian soltou um grito. Suas mãos começaram a suar e a sua falta de habilidades sociais veio novamente à tona.
— O-oi. — Era uma moça bonita, sem dúvidas. — Eu sou o Darian…
A moça franziu a testa.
— Seu nome não é Julien?
— Não! Quero dizer, sim… — Darian repousou as mãos sobre sua cabeça. Tudo parecia estar girando. — É complicado de explicar. Você é a…?
— Wuari. — Sussurrou Julien, dentro de sua cabeça. — O nome dela é Wuari.
— EU NÃO PERGUNTEI PARA VOCÊ, JULIEN! — E, novamente, Wuari pareceu confusa. — Droga, me desculpe. O Julien…
— Você? — A este ponto, ela já pensava que Darian fosse louco.
— Não! Quero dizer, sim, mas é que…
— Olhe, eu acho melhor você se vestir e ir embora. — Wuari jogou para Darian as suas roupas. — Meu pai está para chegar.
— Mas…
— Eu te pedi para ir embora, não pedi? — Disse, irritadiça. — Vista-se.
Darian obedeceu. Pôs a cueca, vestiu sua camiseta, seu espartilho e suas bermudas e tomou para si um chapéu que nem sequer era dele (Talvez Julien houvesse roubado de alguém); Mal havia se aprumado, Wuari lançou:
— Pule pela janela. — Disse. — Meus irmãos não podem vê-lo aqui.
— Mas…
— AGORA! — E o empurrou para perto da janela. Darian não teve outra opção senão pular; Caindo diretamente em uma poça de barro, todas as suas roupas ficaram sujas de lama. O jovem praguejou baixinho.
— Você me mete em cada uma, Julien…
— Eu tentei encontrar uma garota para você. — Respondeu o fantasma. — Vamos, agradeça-me. Eu sou o seu intermediador de batalhas e casos amorosos.
— Você NÃO pediu a minha autorização para usar meu corpo com garotas. — Darian estava bravo.
— Darian, você é simplesmente INSUPORTÁVEL. — Disse Julien, e o rapaz revirou os olhos. — É sempre assim quando se deita com uma garota?
— Eu nunca me deitei com uma garota. — Ele estava irritado demais para esconder esse fato infeliz de sua vida.
— Não? — Julien estava verdadeiramente surpreso. — Nunquinha?
— Nem todo mundo vive na esbórnia como você! — Gritou. — Eu moro no meio do mato, sabe? Só se eu fosse foder com a porr* de um animal.
— Olhe a boca! — Debochou o morto. — Tenho certeza que não foi assim que sua mãe te ensinou.
— FODA-SE! — Ele berrou. — Eu não me importo. E também não me importo com você. Lá-lá-lá, não ouço o Julien!
— Ei? — Darian ouviu uma voz desconhecida atrás de si. — Você está bem?
E virou-se de súbito. Era um moço na faixa dos 20 anos, negro, alto, olhos escuros penetrantes, cabelos crespos e lábios grossos. Ele era bastante magro, um pouco menos que Darian, e o jovem o julgou bastante atraente; Quase que no mesmo momento, sentiu suas bochechas queimarem.
— Eu… Eu não sou louco. — E começou a suar. — Meu nome é Darian, e eu…
— Quem é Julien? — Por incrível que pareça, o moço não estava assustado. Ele parecia… Curioso. — Ele está aqui?
— Julien é… Ninguém. — As mãos de Darian suavam. Ele não estava acostumado a trocar palavras com um garoto tão bonito; principalmente considerando a péssima situação em que eles estavam se conhecendo. — Eu estou falando sozinho.
— Você fala sozinho?
Restou a Darian concordar com a cabeça. Ele não tinha muito tempo para formular uma desculpa melhor.
— Não sei… Me parece loucura o suficiente para mim.
E, proferidas tais palavras, Darian teve certeza que queria apenas sumir; Explodir; Fugir do planeta e entrar em outra viagem espiritual para a eternidade. Ele sequer poderia contrariar o garoto, que tinha motivos o suficiente para crer em sua falta de sanidade.
No entanto, ao contrário do que seria intuitivo, o menino riu.
— Gostei de você. — E ofereceu sua mão a Darian. — Meu nome é Faer. Faer Syazin, para ser mais exato. Você é o…?
— Uh… Darian. — Ele preferiu omitir seu sobrenome da apresentação. — Você…
— Gostaria de te conhecer melhor, mas eu estou atrasado para o serviço. — E apontou para um relógio que carregava no pulso. — Você vai na festa de Digan sábado?
Darian franziu a testa.
— Festa de Digan? — Ele jamais havia escutado esse termo em toda a sua vida.
— Você sabe do que eu estou falando, certo? — Darian estava tentado a dizer que não. — Em homenagem a Digan Wuri. Durante todos os anos eles fazem. Este ano eles adiantaram, geralmente é feito no dia de sua morte, em dezembro…
E Darian fingiu se lembrar.
— Claro! Claro! — Se ele havia presenciado situação mais embaraçosa, não se lembrava. — Festa de Digan… Que bom que… Não precisa de convite… Certo?
— Pois é! — Faer confirmou, e Darian suspirou em alívio. — Bom, eu tenho que ir agora. Te vejo lá, Darian!
E saiu correndo pelas ruas, cumprimentando as senhoras nas janelas e sorrindo para o carteiro. O garoto Kantaa permitiu-se soltar um suspiro, encantado com o moço que tinha acabado de conhecer.
Tão encantado que mal havia percebido Julien tagarelando em seu ouvido.
— ...Mas é claro que você não vai. — Quando a voz do fantasma foi notada por Darian, a frase já estava no seu fim.
— Hã? Como assim? — Questionou ele.
— Ora, Darian, todos nós sabemos que você não vai nessa festa! — Grunhiu Julien. — Você odeia aglomerações e multidões. O que é uma pena, porque eu iria me divertir bastante.
O rapaz revirou os olhos. Conviver com um fantasma egocêntrico e reclamão era um tanto quanto exaustivo às vezes.
— Eu vou na festa.
— Eu falei! Eu falei que… Espere, o quê? — Julien estava surpreso. — Você vai?
Darian assentiu.
— Vou me encontrar com Merit e avisá-la. — Decidiu-se. — Preciso também resolver algumas coisas com ela.
Fim do capítulo
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