Capitulo 6
Cali ficou parada à porta enquanto Diogo entrava à sua frente no apartamento. O rapaz largou sua mala no sofá. Colocou as mãos na cintura enquanto observava o local.
- E então, não vai dizer nada? - Perguntou Cali ansiosa.
- Não é tão ruim.
- É só isso tem a dizer? - Perguntou Cali, impaciente.
- Maninha, o que quer que eu diga? Você sai de casa para vir morar nesse lugar distante, sozinha. Isso é muito perigoso para uma garota como você...
- Uma garota como eu? - Interrompeu Cali. - O que quer dizer com isso?
- Desculpe. Não estou dizendo que você seja frágil.
- Mesmo? Porque foi o que pareceu - Disse Cali sentindo a irritação aumentando. - Você também acha que não sei me cuidar sozinha, não é?
Diogo segurou a mão da irmã.
- Acho que você é muito corajosa, maninha. Mas sou seu único irmão e não quero que nada de ruim aconteça com você.
- Não se preocupe, está tudo bem comigo e não estou sozinha. Tive sorte de encontrar bons amigos aqui.
Logo após esboçarem essa pequena discussão, Cali e Diogo voltarem às boas. Cali ajudou o irmão a se instalar em seu apartamento. Ele decidira passar noite lá. Então, aproveitaram para colocar a conversa em dia.
- Como assim você não tem telefone? - Perguntou Diogo, perplexo.
- Ainda estou juntando dinheiro para comprar um. - Explicou Cali como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Isso é inadmissível! Não vai me dizer que também não tem computador...
Cali não respondeu. Apenas olhou para o irmão com cara de culpada.
- Claro! No que eu estava pensando. Se não tem celular porque teria um computador! Inadmissível! Como você faz suas tarefas da faculdade?
- Ah, quando preciso os vizinhos me emprestam...
Cali observou o irmão procurar alguma coisa em sua mala enquanto repetia a palavra “inadmissível” uma dúzia de vezes. Quando finalmente achou o que queria, virou-se para Cali.
- Vou fazer um cheque para você. Amanhã mesmo quero que compre um celular e um notebook novos. Está entendido?
- Diogo, não quero seu dinheiro...
- Nem começa, maninha! - Disse Diogo, determinado - Sei que você quer ser independente e tal. Se não quiser minha ajuda, pelo menos aceite isso como um empréstimo. Um dia você me devolve.
Cali pensou por um instante. Queria recusar novamente, mas sabia o quanto seu irmão estava realmente determinado a lhe dá aquele dinheiro. Teimosia era algo comum na família Antunes. Portanto, recusar não era uma opção.
- Esse cheque é de uma conta num banco aqui no Brasil. Amanhã você passa lá e saca o dinheiro, tudo bem?
- Obrigada. Um dia vou devolver tudo a você. Eu prometo!
- Tenho certeza que sim, guria.
Seu irmão sempre a chamava de maninha. Cali gostava. Amava o irmão e amava a maneira carinhosa com que sempre a tratava. Para ela, o dia que Diogo saiu de casa para construir sua vida em outro país fora um dos dias mais difíceis pelos quais passara. O pior veio depois. Chorou uma semana inteira. Sua mãe dizia que aquilo não era o fim do mundo. Diogo ligava para ela todo dia e pedia para se animar que as coisas ficariam bem. Seu pai nem sabia pelo o que ela estava passando. Embora soubesse quanto aquilo era importante para seu irmão, uma parte dela achava que tinha sido abandonada. Só agora, depois de tomar as rédeas de sua própria vida, ela entendia o quanto fora egoísta em relação ao irmão. Todos têm o direito de fazer o que consideram melhor para si. Mesmo que tenham que se afastar das pessoas que ama. É um preço que se paga.
Desde que chegaram, Cali tivera a impressão que Diogo queria lhe contar alguma coisa. Ela conhecia bem o irmão para saber quando ele escondia alguma coisa importante. Ficava dando voltas, até disparar a notícia. Ela estava certa.
- Conheci alguém! - Disse Diogo de repente.
- O quê? Fala sério? - Perguntou Cali, animada - Por que não me contou logo?
- Você sabe como sou quando tenho boas novas...
Cali assentiu.
- Com o papai doente decidi adiar o anúncio.
- Mas me conta como ela é?
Os olhinhos de Diogo brilhavam enquanto falava de sua namorada. Confessou estar apaixonado com nunca na vida. Natalie era uma linda ruiva, filha de um inglês com uma americana. Vivia em Nova Iorque desde pequena e era advogada assim como Diogo. Ele contou que acabaram de ficar noivos e pretendiam se casar no natal. Diogo planejava trazê-la para o Brasil em breve para anunciar o noivado. Mas o problema com seu pai fez com que mudasse os planos de última hora.
- Então, quando pretende trazê-la? Quero muito conhecer a mulher que deixou meu irmãozinho tão apaixonado.
- Como disse, ainda não sei. Vou esperar que o pai melhore.
- Você sabe que ele não quer me ver, não é? - Perguntou Cali.
- Sei sim. Será tão estranho não poder contar com toda a família reunida quando trouxer Natalie. Será que há alguma maneira de fazer vocês voltarem a se falar?
- Diogo, sinceramente acho que não tem volta para mim e nosso pai. Eu não guardo rancor dele, afinal é meu pai. Mas por outro lado, papai é intransigente. Nunca vai me perdoar, eu sei que não e não espero por isso.
Diogo ouvia as duras palavras da irmã. Já ouvira falar de pessoas que passavam a vida inteira sem voltar a se falar devido alguma mágoa. Ressentimentos que ameaçam matar o amor que ainda resta. O ódio vai separando as pessoas aos poucos até tudo se transformar em um caminho sem volta. Isso era algo realmente triste, pensou. Não queria isso para sua família, aliás, para a de ninguém.
- Quero ajudar você, maninha.
- Você já está ajudando... então me fala mais sobre sua amada.
- Já falei muito sobre ela. Fala de você, conheceu alguém? Diga-me, Cali, por quem seu coração bate?
Cali engoliu em seco. Conheceu alguém? Era algo para se pensar...
- Por ninguém. Minha vida está bem complicada no momento.
- Melhor assim. Não quero ninguém pondo as mãos na minha irmãzinha.
- Que história é essa? - Cali começou a dar socos no braço do irmão. Mas foi surpreendida por um ataque de cócegas começado por Diogo.
Era muito bom está com seu irmão novamente. Como diz aquela conhecida expressão: era como nos velhos tempos...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]