Capitulo 5
O primeiro mês de Cali longe de casa passou muito rápido. Dividia-se entre o trabalho e a faculdade. Sempre encontrava uma hora do dia para conversar com Paloma e Fábio, este último não permitia que as garotas o deixassem de fora de nada. Queria fazer parte de todas as conversas. Assim, não demorou muito para eles serem realmente os três mosqueteiros. Cali adorava os vizinhos, eles passaram a serem verdadeiramente seus amigos. Sentia-se acolhida como nunca na vida, somente com seu irmão tivera uma cumplicidade assim. Ainda estava encantada com Paloma, encanto que só crescia à medida que ela a conhecia melhor. Às vezes, quando ia para seu treino à tarde, Paloma dava carona para Cali ir ao trabalho.
Paloma e Fábio não se conformavam que Cali trabalhasse numa lanchonete.
- Mas é um trabalho digno - Argumentava Cali.
- Ninguém disse que não era - Rebateu Fábio - O que estamos dizendo é que uma garota inteligente como você poderia encontrar algo melhor.
- Isso mesmo, Cali. Você fala inglês, espanhol e francês. É ótima fotógrafa. E disse que entende tudo de computadores - Falou Paloma.
- Já pensei nisso, pessoal, mas não é tão fácil assim.
- Vamos ajudar você - Disse Fábio
- Vocês fariam isso? - Perguntou Cali, emocionada.
- Claro - Respondeu Paloma - Afinal, para que servem os amigos?
Naquele mês Cali só viu Thomas em uma ocasião, ele estava mais uma vez na universidade, sentado em um banco do campus. Ao avistá-lo de longe, Cali decidiu falar com ele.
- Que surpresa vê-lo por aqui, detetive - Alfinetou ela - Deixam qualquer um entrar.
- Está feliz em me ver? - Provocou Thomaz.
- Nenhum pouco. O que faz aqui?
- Nada de mais, só trabalhando. E você não vai me perguntar notícias sobre os seus pais?
- E você tem alguma?
- Engraçadinha. Bem, continuamos na mesma. Eles estão com saudades, claro.
- E você continua me monitorando e contando tudo para eles, não é?
- Como disse, estou fazendo meu trabalho.
- Bom trabalho então, adeus
Cali afastou-se e deixou Thomaz sozinho. Não queria admitir, mas estava adorando provocar o detetive.
***
Apesar das dificuldades financeiras tudo corria bem para Cali, até que...
Era uma quarta-feira. Cali acordou para preparar-se para a faculdade. Seguiu sua rotina matinal normalmente, tomou banho, fez o café da manhã. Como não teria a primeira aula resolveu ir até a padaria. Adorava pão fresquinho e sempre que possível fazia questão de ir comprar.
Estava terminando de tomar café quando bateram na porta. Uma batida forte e apressada.
- Calma, já estou indo! - Gritou.
Quando abriu a porta se deparou com os rostos aflitos de Fábio e Paloma.
- Você leu ou assistiu a algum jornal hoje? - Disparou Fábio.
- Não - Respondeu Cali, prontamente - Aconteceu algo?
- Acho melhor você se sentar - Disse Paloma que entrou logo após Fábio.
Cali puxou uma cadeira na mesa e sentou-se.
- O que aconteceu pessoal? Vocês estão me assustando.
- Ok. Vamos te contar tudo - Falou Fábio - Seu pai está no hospital, Cali.
- No hospital? O que houve, ele está bem? - Perguntou Cali, nervosa.
- Calma, Cali - Pediu Paloma - Parece que ele teve um ataque cardíaco.
- Meu Deus! Ele sempre sofreu problemas no coração. Preciso ir vê-lo! Onde ele está?
- Parece que ele está no Hospital Central - Informou Fábio.
- É muito longe, posso te levar - Sugeriu Paloma -Posso faltar minha aula. Mas Fábio precisa ir trabalhar.
- Obrigada - Disse Cali - Vamos, então.
- Espera, tem mais uma coisa que não dissemos - Falou Fábio, sério.
- O que vocês não me contaram? - Assustou-se Cali.
- Parece que o seu pai passou mal após um repórter ter perguntado a ele algumas coisas de você - Contou Paloma, com receio.
- De mim. Como assim?
Paloma contou tudo o que sabia pelas poucas informações que a imprensa deu. Ao que parecia, um repórter de um jornal local havia descoberto que a filha do deputado Murilo Antunes estava trabalhando no caixa de uma lanchonete no centro. Ele havia provocado diretamente o deputado. Por que a filha de um homem tão rico estaria trabalhando num lugar daqueles, por acaso ele não era capaz de cuidar da própria filha?
Cali não sabia o que pensar da situação. A única coisa que sabia era que precisava chegar o quanto antes ao hospital, descobrir como estava sua família, pois apesar de tudo seus pais sempre seriam sua família. Assim, pediu a Paloma que a levasse para lá imediatamente.
***
Meia-hora depois chegaram ao hospital Central. Uma grande quantidade de repórteres, jornalistas e fotógrafos estava estacionada em frente ao prédio. Ao descer do carro, Cali fez questão de colocar seus óculos escuros. O que era inútil, pois quando viram a garota, logo a reconheceram. Cali lutava para escapar à multidão de pessoas com microfones, máquinas fotográficas e câmeras que se lançaram de repente sobre ela. Para sua sorte, Paloma tratou de abrir caminho em meio às pessoas que perguntavam:
“Só uma palavrinha, Cali.”
“É verdade que está brigada com seu pai?”
“Você foi expulsa de casa?”
“Você acha que seu pai vai sair dessa?”
Quando finalmente conseguiram entrar, informaram-se em que quarto se encontrava o paciente Murilo Antunes.
- Vocês são da família? - Perguntou a recepcionista, friamente.
- Sou. Ele é meu pai - Falou Cali.
A mulher examinou Cali.
- Quarto 303. Terceiro Andar.
- Obrigada.
Paloma e Cali chegaram ao corredor do terceiro andar, Cali seguia à frente, apressadamente. Logo, avistou algumas pessoas sentadas na sala de espera. Entre elas, Cali reconheceu sua mãe, Roberta. Era uma mulher de uns quarenta e cinco anos, rosto expressivo e olhos profundos. Lágrimas desciam por sua face.
- Mamãe!? - Chamou Cali.
- Filha? - Surpreendeu-se Roberta, sem acreditar no que via - Filha!
Roberta correu até Cali e a abraçou apertado. As lágrimas ainda correndo pelo seu rosto, mais intensamente. Cali também não conseguiu conter o choro. As pessoas em voltam observavam a cena. Além de Roberta, havia mais três homens na sala, entre eles, Cali reconheceu Thomas.
- Como ele está? - Conseguiu dizer Cali após se soltar dos braços da mãe.
- Melhor, Filha. Que bom que veio. Já ia pedir para o Thomas ir buscá-la - Disse Roberta enxugando as lágrimas com um lenço - E você, me diz, pelo amor de Deus, como você está, Cali? Você tem comido alguma coisa? Está tão magra! Por que não volta para casa?
Roberta observava a filha como se nunca a tivesse visto na vida. Cali sorriu um tanto constrangida.
- Estou bem, mãe.
Roberta não parecia convencida. Cali decidiu não insistir, havia coisas mais importante para se preocupar naquele momento. Só então, Cali reparou nas outras pessoas na sala. Thomas a olhava enigmático, mas ainda mantinha seu ar de superioridade que enchia o local. O homem barbudo e de terno, Cali reconheceu como o advogado de seu pai, Herbert. O outro homem era seu tio Rodrigo, irmão mais velho de seu pai.
Rodrigo abraçou Cali. Mas não a poupou de um grande sermão.
- Estava com saudades, menina. O que você está fazendo da vida? Quer matar seus pais? Sabe o que tem causado a essa família? ...
Cali ouvia tudo calada. Para ela, não era hora para discutir aquilo. Para seu alívio, sua mãe cortou a ladainha de Rodrigo.
Herbert a cumprimentou, sério. Thomas manteve-se à distância, impassível. Cali fingiu não o reconhecer. Afinal, seria constrangedor reconhecer o homem que a estava vigiando para sua família.
- Mamãe gostaria de lhe apresentar minha amiga, Paloma - Disse Cali.
Paloma que observava tudo a um canto desde que chegara aproximou-se de mãe e filha.
- Muito Prazer em conhecê-la - Falou ela apertando a mão da mulher mais velha.
- Prazer, Roberta Antunes.
Roberta observou a garota mais alta que ela à sua frente. Se não tivesse tão preocupada com o marido, talvez Roberta esmiuçasse mais a fisionomia da garota, como era seu costume quando era apresentada a alguém, mas no geral achou Paloma uma jovem muito bonita. Cali não pode deixar de observar que Paloma havia passado no crivo de Roberta Antunes. Uma conquista que poucos alcançavam.
Roberta contou o que os médicos haviam dito. Felizmente não fora nada muito grave. Murilo tivera um princípio de infarto. Ele andava muito estressado nos últimos dias com os acontecimentos políticos, mas era a revolta de Cali que lhe causara o maior choque, o estopim de seu aborrecimento se deu quando a imprensa descobriu que sua filha andava se humilhando num emprego que não condizia com “sua posição social”.
Depois de se informar sobre o estado de saúde de seu marido, Roberta pediu para ter uma conversa séria com Cali.
- Vamos até a cafeteria, Cali - Convidou ela.
- Certo, mamãe - Disse Cali, depois se voltou para a amiga - Paloma, se você quiser ir embora tudo bem. Eu sei que você tem muita coisa para fazer.
- Você tem certeza?
- Claro, eu vou ficar bem - Confirmou Cali.
- Tudo bem, então.
Cali aproximou-se da amiga e lhe lançou um olhar de ternura.
- Obrigada por tudo que você está fazendo por mim - Falou. - Eu não sei o que faria nesse momento sem você e o Fábio...
- Não precisa agradecer - Disse Paloma, séria. Depois abraçou Cali. Um abraça rápido, mas cheio de significado - Fica bem!
Cali ainda olhava Paloma se afastar quando ouviu sua mãe a chamando.
***
Na cafeteria, Roberta pediu um café para si e um lanche reforçado para Cali.
- Você está muita magra, querida. Precisa se alimentar melhor. Está ficando desnutrida.
- Mamãe!
- Isto é sério, Cali. E o seu cabelo... está malcuidado. Sinceramente, filha o que está fazendo com si mesma?
- Mamãe, você me chamou aqui só para reclamar da minha aparência!
- Não foi por isso. Quero que volte para casa - Falou Roberta.
- Não vou voltar. E eu não quero discutir isso. Já sou maior de idade, sei o que faço.
Roberta respirou fundo e falou:
- Não adianta discutir com você. É cabeça dura como seu pai. Sei que já tomou sua decisão, apesar de tudo.
Cali não estava acreditava no que ouvia.
- Isso é sério, mamãe?
- Não apoio a sua decisão - Disse Roberta, séria - Mas andei pensando muito nesses últimos dias desde que você foi embora. Sei que errei como mãe e gostaria que me perdoasse.
Roberta parecia à beira das lágrimas novamente, Cali nunca a vira tão abalada. Sabia o quanto sua mãe era orgulhosa e se ela estava pedindo perdão aquilo deveria ser realmente muito sério.
- Não se preocupe. Está tudo bem - Disse Cali segurando a mão de sua mãe.
- Quero você de volta, filha. Me aproximar de você novamente, sinto que não a conheço mais há um bom tempo. Por que nunca me falou como se sentia? Eu poderia ter ajudado.
- Eu tentei lhe contar mãe, mas você não estava escutando...
- Juro que será diferente daqui para frente - Prometeu Roberta - Eu te amo, filha.
Cali sentiu um arrepio. Há muito tempo não ouvia aquelas palavras vindas de sua mãe. Apertou mais forte a mão que segurava e disse, com sinceridade:
- Amo você também, mamãe.
Mais tarde, Cali e sua mãe voltaram para a sala de espera abraçadas. Encontraram Rodrigo e Thomas. Segundo eles, Herbert havia saído para falar com a imprensa. Em seguida, o Dr. Rocha apareceu avisando que Murilo havia acordado e poderia receber visitas.
- Espere aqui, Cali. Vou avisar seu pai que você veio.
- Tudo bem.
Um tempo depois, Roberta apareceu. Cali percebeu que estivera chorando e estava mais séria que nunca.
- Sinto muito, Cali - Disse ela com voz suave - Seu pai não quer vê-la. Eu tentei convencê-lo de todas as formas, mas ele está impassível.
Cali lançou um olhar triste para sua mãe, depois a abraçou.
- Ele vai ficar bem?
- Acho que sim. Vamos dar um tempo a ele, filha.
- Fique com ele, mamãe.
Roberta convidou Rodrigo para acompanhá-la. Deixando Cali sozinha com Thomas.
- Você está bem? - Perguntou Thomas, percebendo as lágrimas que caíam no rosto da garota.
- Isso não é da sua conta.
- Calma, só quero ajudar - Disse Thomas, paciente.
- Não preciso de sua ajuda.
Diante das recusas da garota. Thomas não tentou mais insistir. Sentou-se ao lado dela e ficou calado.
- Você vai ficar aí muito tempo? - Perguntou Cali.
- O tempo que for necessário.
- Tudo bem, você que sabe - Disse Cali dando de ombros
- Sua mãe tem razão. Dê um tempo para seu pai.
- Você acha que sabe tudo, né? 0 Desdenhou Cali. - E porque fica se intrometendo?
- É verdade, isso não é da minha conta. Mas não gosto de ver você sofrendo, garota. Você pode não acreditar, mas só quero o seu bem.
Cali surpreendeu-se com as palavras de Thomas. Aquele realmente estava sendo um dia de muitas surpresas para a garota. Estava avaliando se gostava ou não do detetive quando alguém apareceu.
- Meu Deus! Não posso acreditar! Diogo!
Um rapaz loiro e alto abraçou Cali fortemente.
- Como estava com saudades!
- Vim assim que soube. Como ele está?
- Parece que está melhor. Mamãe e o tio Rodrigo estão com ele. - Informou Cali - Como você chegou tão rápido?
- Peguei um avião assim que soube. Mamãe ligou para mim ontem à noite. Tive que enfrentar horas de viagem.
Cali observou o irmão, como poderia ter estado sem vê-lo há tanto tempo?
- Preciso ver papai e mamãe. Depois quero ter uma conversa séria com você. Soube das coisas que andou fazendo, garota.
- Ok. Depois conversamos. Papai está no quarto 303.
- Por que não está com eles?
- Papai não quer me ver.
Diogo a olhou espantado. Depois a abraçou novamente.
- Sinto muito, mana.
Cali pensou ter esperado uma eternidade quando sua mãe finalmente apareceu acompanhada de Diogo e de Rodrigo.
- É tão bom ver meus bebês finalmente juntos! - Exclamou Roberta abraçando os filhos.
- E então? - Perguntou Cali, ansiosa.
- Vai ficar tudo bem, filha. Amanhã ele volta para casa - Assegurou Roberta - Eu vou ficar a noite aqui com ele, mas vocês precisam descansar.
- Tudo bem, mãe - Falou Diogo - Eu aluguei um carro no aeroporto, posso levar a Cali para casa.
- Cuidem-se vocês dois.
Todos se despediram e Diogo levou Cali até o carro que havia alugado, depois de desvencilharem-se de alguns repórteres.
- Então, onde está morando?
Fim do capítulo
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