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Nossa canção inesperada por Kiss Potter

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Palavras: 11751
Acessos: 934   |  Postado em: 07/11/2022

Notas iniciais:

Musica de inspiração usada para esse capítulo: https://youtu.be/CkGg1bzfSys 

Capitulo 53 - Contra todas as probabilidades

Pov Liz

     Durante as duas primeiras semanas desde que Artur fora finalmente desmascarado, Liz e sua família ficaram praticamente confinados no condomínio e rodeados de segurança. Luísa temia que algo acontecesse a eles e a própria polícia recomendou que eles fizessem isso. Mas era difícil já que elas precisavam resolver coisas da empresa. Elas tiveram várias reuniões de forma online. Luísa não gostava, mas não tinha outro jeito.

     A rockeira passou a ter pesadelos durante a noite. Há muito tempo não vinha tendo esses sonhos estranhos, mas recomeçaram depois que tudo foi desmascarado e souberam que Artur estava foragido. Acordava no meio da noite, agitada, chorando e assustada.

     O primeiro pesadelo era um que ela já havia tido, quando ainda namorava com Lia, antes da mesma viajar. Só que dessa vez o estranho não era mais estranho. Era o Artur quem atirava... Não gostava nem de lembrar disso que já ficava toda arrepiada e nervosa.

     Na segunda noite foi do mesmo jeito, mas ao invés de sonhar com Lia, dessa vez havia sido com a tia. Aquilo lhe deixou mal e abalada. Precisava fazer alguma coisa. Teve vontade de ir até o quarto dela, apenas para checar que estava tudo bem e aquietar o próprio coração, mas lembrou-se de que Luísa estava com Flávio e ficou sem graça de invadir o cômodo com os dois lá dentro. E assim foi por várias noites seguidas.

     A polícia e o investigador Lobato continuavam atrás de alguma pista de Artur que fosse, mas parecia que o cara havia sumido da face da terra. Não haviam conseguido rastrear nada que os pudesse levar até ele. Nem ligação, ou placa de carro e nem qualquer movimentação bancária ou cartão de crédito. O cretino era mesmo um filho da puta inteligente.

     Liz se limitou a trabalhar em home office ao lado da tia, aproveitar a piscina do condomínio e conversar com Lia, o que era a melhor parte do seu dia. Seu peito ficou muito mais leve depois de ter contado tudo a ela e o entrosamento entre as duas também voltou a fluir como antes. Finalmente poderiam se entender daquele momento em diante.

     Naqueles dias Liz começou a amadurecer a ideia de visitar Lia em Londres. Sinceramente já não estava mais se importando com outra coisa que não fosse isso. Se sentia saudosa, sorumbática até e também porque sentia que estava precisando se afastar de toda aquela loucura. Querendo ou não o medo estava afetando sua saúde mental mais uma vez.

     A única coisa que ansiava era estar perto de sua irritadinha novamente. Tinha certeza que melhoraria ao estar perto dela. Já estavam em outubro, o mês de aniversário dela e seria o presente perfeito ir até lá ficar com ela por algumas semanas. Com isso em mente, a rockeira começou a pesquisar por passagens aéreas.

     O próximo passo seria falar com a tia primeiro. Liz achava o momento ainda delicado para se afastar, mas não estava mais nem aí. Precisava agora pensar em seu futuro com Lia. Era a única coisa que realmente lhe importava agora. Aliás, Lia e também tratar da sua saúde mental. Não tinha mais para onde correr. Os pesadelos estavam lhe deixando mal e ansiosa.

     Flávio se tornou uma presença constante na casa naqueles dias. Vitória e Tomás estranharam demais no começo o envolvimento "repentino" entre ele e Luísa. Liz pediu que a tia não contasse a eles que ela também sabia sobre os dois, pois isso poderia deixá-los com ciúmes, então precisou fingir surpresa também. Porém, ninguém podia negar o impacto positivo que Flávio tinha em Luísa. De longe via-se como os dois estavam apaixonados um pelo outro.

— Eu jamais pensei que iríamos passar por essa situação. — Vitória exclamou sem emoção enquanto se enrolava na toalha.

Era um fim de tarde no condomínio. Liz, Vitória e Tomás decidiram terminar o dia relaxando na enorme piscina que havia ali. Eles pegaram espumantes e ficaram bebendo, nadando e jogando conversa fora apenas para aliviar a tensão dos últimos dias.

— Nenhum de nós pensou, prima. — Liz concordou e tomou um gole da bebida. — Foi uma surpresa. Vocês já conversaram com ela sobre isso?

— Ela conversou com a gente ontem. — Tomás respondeu dessa vez. Ele parecia distante enquanto brincava com o pingente de seu cordão longo de prata. — Você realmente não sabia de nada?

— Claro que não! Eu pensei que os dois se odiassem. Todo mundo pensava.

Não era totalmente mentira. Liz havia descoberto isso há pouquíssimo tempo atrás e lembrava bem o quanto ficara chocada quando os viu juntos pela primeira vez.

— É difícil sair da ideia de que ele era um crápula que tentou matar a nossa mãe para agora ele ser o cara que está na cama dela. — O primo declarou emburrado.

— Mas ela parece feliz de verdade com ele, Tomás. — Vitória disse pensativa e saudosa. Deu um longo suspiro e declarou: — Sei como é bom ter a pessoa que a gente gosta por perto.

— Está com saudades da Jeniffer? — O irmão perguntou certeiro.

     — Muito! Desde que ela voltou, nós ficamos falando por telefone, mas não é a mesma coisa. Ela está distante comigo, estranha até. Ela sabe que eu estou escondendo alguma coisa, com certeza deve estar pensando besteiras que não tem nada a ver.

— Mas se você confia nela de verdade e agora que está tudo resolvido, você deveria contar a verdade. Te garanto que jogar limpo ajuda bastante. — Liz respondeu dessa vez.

Vitória a olhou pensativa e depois sorriu levemente.

— Você e a Lia se resolveram?

— Sim. — Foi impossível conter a risada. — E digo mais, estou me organizando para ir a Londres me encontrar com ela. Só preciso conversar com a tia Luísa sobre isso.

— Isso é ótimo, prima! — Tomás lhe parabenizou com alegria. — Feliz por vocês estarem se entendendo.

— Também fico feliz por você. Dá para ver como a Lia te faz bem. — Vitória lhe deu uma palmadinha no braço. — Certeza que você deve estar morrendo de saudades dela.

— Nossa! Demais mesmo. Sinceramente não sei como aguentei esses últimos meses longe dela.

— Isso aí ainda vai virar casamento. — O primo disse rindo de um jeito maroto.

— Mas isso é o meu maior sonho — respondeu com um sorriso bobo na face e continuou pensando alto. — Assim que estiver tudo resolvido eu vou pedir a mão dela em casamento.

Viu quando os primos ficaram com as expressões de espanto e surpresa ao mesmo tempo. Liz deu de ombros sem entender a postura deles.

— Uau! — Vitória foi a primeira a quebrar o silêncio. — O negócio está mesmo sério. Você falar em casamento foi uma coisa que nunca imaginei.

Tomás ao lado dela apenas sorriu e concordou balançando a cabeça e Liz declarou sem demora:

— Eu achei que isso não seria surpresa para ninguém.

— Estamos surpresos, mas felizes ao mesmo tempo. A gente vê como vocês se dão bem juntas. — Vitória falou por fim.

     Depois de mais algum tempo conversando, eles finalmente terminaram de beber os espumantes e voltaram para a casa. Luísa a chamou no escritório assim que entrou em casa.

     — Algum problema? — Perguntou já em alerta, quando passaram pela porta do escritório.

     — Nenhum problema. Muito pelo contrário. — A tia falou indo até a gaveta de seu escritório, tirando de lá um envelope e lhe entregando o mesmo. — A gente já deveria ter feito isso há muito tempo.

    Liz retirou uma papelada que tinha lá dentro e começou a ler. Era um modelo de medida preventiva de distanciamento e assédio. Estava em seu nome contra Cíntia. Ela ergueu o olhar em direção a tia em surpresa, seu coração bateu acelerado.

     — Isso é um modelo que o nosso advogado me passou. Eu contei para ele toda a situação e ele rapidamente pegou todos os seus dados e os daquela louca e formulou isso. — Luísa explicou, puxando-a para sentar ao seu lado no sofá que tinha ali. — Se você quiser levar adiante basta assinar e ele vai marcar um dia para você ir prestar queixa contra ela na delegacia para poder validar esse pedido.

     A boca de Liz ficou seca em nervosismo. Então era isso que Luísa queria dizer quando falou que daria um jeito na situação. A rockeira nunca havia pensado em chegar tão longe, mas sinceramente não tinha mais o que fazer. Precisava dar um basta em Cíntia de uma vez por todas.

     — Onde eu assino? — Foi a única coisa que disse.

     Luísa ao seu lado sorriu orgulhosa e lhe passou uma caneta. Liz assinou em todos os campos e sentiu um peso em seu peito diminuir depois disso. Finalmente as coisas pareciam estar entrando nos eixos.

     — Tem certeza disso? — A tia lhe perguntou quando ela lhe devolveu os papéis assinados.

     — É o melhor. Eu não quero mais a Cíntia se intrometendo na minha vida e nem no meu namoro. Ela que procurou por isso.

     — Eu penso o mesmo. Essa mulher já passou dos limites há muito tempo. Eu vou dar um fim nisso, minha menina. — A tia passou um braço por seu ombro de maneira afetuosa.

     — Obrigada! — Liz se aconchegou nela e por alguns segundos os seus olhos lacrimejaram. Luísa acolheu a cabeça da sobrinha em seu colo e ficou alisando seus cabelos ainda molhados.

     — Não precisa me agradecer. Eu já deveria ter cuidado disso faz tempo. Eu tenho vídeos dela vindo aqui em casa por duas vezes encher seu saco e vamos usar isso como prova.

     — Como assim? — Liz perguntou ainda em tom de choro.

     — Depois de tudo o que aconteceu eu mandei instalarem câmeras aqui em casa. Por via das dúvidas.

     A rockeira estranhou aquilo. Desde quando haviam colocado câmeras ali? Ela nem sabia disso. Mas enfim... pelo menos agora iriam servir de algo. Elas passaram um tempinho em silêncio até Liz se acalmar e suas poucas lágrimas secarem.

     — Tem outra coisa que eu preciso falar com a senhora. — Liz se aprumou no sofá e a olhou. — Eu estou pensando em ir a Londres passar um tempo com a Lia. O que a senhora acha?

     A tia lhe deu um olhar suave e sorriu de leve.

     — Eu acho que isso vai ser muito bom para você. Se é isso mesmo que você quer, então vá!

     Liz sorriu e assentiu.

     — É o que eu mais quero. Eu só estava esperando tudo se resolver para fazer isso.

     Luísa soltou uma gargalhada limpa e honesta.

     — Eu imagino o quanto você deve estar com saudades dela.

     — Mas e as coisas por aqui...?

     — Ah, não se preocupe por enquanto. O Flávio está do meu lado, me ajudando na empresa. E agora Vitória e Tomás também estão aqui comigo. Vai dar tudo certo. — Liz sorriu e as duas se abraçaram de forma carinhosa. — Eu quero que você seja feliz, minha menina. E acho que vai ser bom você ficar longe de tudo por um tempo. Você aguentou tantas coisas nos últimos meses. Ainda está tendo os pesadelos?

Liz assentiu sem graça e olhou para as próprias mãos. Certas coisas eram difíceis de admitir. Contudo, era cada vez mais fácil se abrir com as pessoas que amava e confiava. E também era mais fácil admitir que precisava de ajuda.

— Eu acho que vou começar a fazer terapia quando voltar de Londres. — Liz confessou ainda fitando as próprias mãos. Depois olhou para a tia.

Luísa parecia surpresa com o que ela acabara de dizer, mas viu quando um sorriso tomou conta de seus lábios.

— Eu acho isso muito válido. Acho que até eu estou precisando. Todos nós. Depois de tudo isso. Ainda mais você que já carrega uma bagagem emocional mais pesada.

— Talvez se eu tivesse ido antes muita coisa teria tido um rumo diferente na minha vida. — Disse pesarosa, pensando em todas as pessoas que ela fez sofrer quando trancava tudo dentro de si. — Eu só quero ficar sã. E poder me entregar para a Lia do jeito que ela merece. Não quero esconder mais nada dela.

A tia apertou sua mão de leve em apoio e falou:

— Isso que você está fazendo é a coisa mais importante, Liz. Cuidar de si mesma primeiro. Isso é muito certo.

Liz ficou sem graça por alguns segundos e tentou disfarçar. Já havia sido um grande passo falar tudo isso, mas por hora já estava de bom tamanho.

— Eu preciso comprar algumas roupas pra viagem. Como é que a gente faz?

— Você está pensando em ir quando?

— O mais rápido possível. Assim que eu comprar as roupas que preciso já vou comprar a passagem. Semana que vem, eu acho.

— Ok. Eu acho que vou mandar você com dois seguranças numa loja da minha confiança. — Luísa disse pensativa. — Ou então eu posso chamar aquela minha amiga que tem uma loja de roupa. Ela vai trazer tudo o que você pedir.

— Não. Não precisa. Eu tenho muita coisa para comprar, é melhor eu ir num shopping logo e fazer tudo de uma vez.

— Nesse caso vou mandar você no meu carro blindado e com dois seguranças, só por via das dúvidas.

— Tudo bem! — Liz não se sentia nada confortável em estar numa situação como essas. Logo ela que era a pessoa mais livre e espontânea do mundo. Ter que estar sendo observada o tempo todo era estranho.

     Assim que se encontrou sozinha no quarto, viu que Lia havia mandado mensagem dizendo que precisava contar algo e imediatamente começou a conversar com ela.

Liz: "Aconteceu alguma coisa?"

Lia: "É que a agência do intercâmbio abriu vagas de estágio. E já faz alguns dias que eu me candidatei à vaga. O resultado sai na semana que vem."

A rockeira ficou surpresa com a notícia. E apesar de ficar feliz com o fato de que ela poderia ter essa grande chance, também não pode deixar de pensar no tanto de tempo que levaria para ela voltar para o Brasil. Passariam ainda mais meses longe um da outra, mas tentou disfarçar e dar todo apoio.

Liz: "Uau, Lia! Isso é incrível! Tenho certeza que você vai conseguir, meu amor. Você acha que vai gostar caso consiga a vaga?

Lia: "Claro que sim. Aqui é muito bom. Eu achei a agência muito bem organizada e o ensino aqui é perfeito. Eu tô me sentindo muito mais avançada aqui esses meses do que todos os anos de cursinho que já fiz por aí. Kkkkkk"

Liz suspirou pesado. A namorada estava mesmo animada com a ideia. Antes de começar a sofrer por antecipação, a rockeira finalmente conseguiu pensar de forma mais clara. Agora nada a impedia de ficar em Londres com a namorada o tanto de tempo que quisesse.

Liz: "Fico feliz de te ver assim tão animada. Que bom que você não deixou de ir para esse intercâmbio. Eu nunca teria me perdoado."

Lia: "Eu tenho que concordar com você.
Eu nunca estudei tanto na minha vida quanto nesses meses, mas está sendo incrível conhecer Londres aos poucos.
A gente já visitou um monte de pub e alguns pontos turísticos. Kkkkk.
Só faltava mesmo você aqui para completar minha felicidade de conhecer a Inglaterra.

Liz sorriu sapeca quando leu aquela última parte. Queria chegar lá de surpresa mesmo. Tinha certeza que ela até choraria de emoção quando a visse ali, esperando do lado de fora do local onde estava vivendo. Aliás, precisava pegar o endereço de onde ela estava direitinho e fez uma nota mental de falar com Pedro assim que possível.

Liz: "Quem sabe a gente ainda não consiga fazer alguns passeios juntas por aí?"

Lia: "Está querendo dizer o quê com isso????"

Liz: "Que talvez não agora, mas nada impede de que um outro dia a gente consiga ir juntas."

Digitou com um sorriso sapeca na face. Não iria dar a ela nenhuma certeza, apenas suposições.

***

Liz se preparou para sair na manhã seguinte e fazer as compras que tanto queria. Precisava adquirir mais alguns casacos e roupas mais grossas. Sempre que havia falado com Lia nas últimas vezes ela relatara que lá estava fazendo frio e que tinha muito vento forte, o que era típico do outono.

     Depois de fazer todas as compras, Luísa foi se encontrar com ela e o advogado na delegacia para darem início no processo contra Cíntia. Lá o depoimento foi demorado e a tia serviu como testemunha das queixas de assédio, além dos vídeos das câmeras de segurança da casa.

     Liz deixou bem claro que não queria nenhum dinheiro desse processo, apenas a medida de distanciamento. Era a principal coisa. Já estava cansada de ter sempre a sombra daquela mulher pairando sobre sua vida. Era hora de deixar tudo para trás de vez.

     — Eu estava pensando da gente sair qualquer dia desses para jantar antes de você ir. — Luísa falou pensativa. As duas voltavam para casa no banco de trás do carro. Liz a olhou e sorriu. — Ademais os meninos estão entediados dentro de casa o tempo todo. Creio que se sairmos com os seguranças não teremos maiores problemas.

     — Gostei da ideia. Até eu já estou cansada de ficar em casa o tempo todo. — Confessou de forma serena.

     — Precisamos ir até a empresa amanhã. Pedi para marcar uma reunião com todo a equipe. Eles estão esperando esclarecimentos. Temos obrigações com nossos colaboradores.

     — A senhora acha isso uma boa ideia?

     — Eu conversei bastante sobre isso com o Flávio ontem a noite. Ele concordou comigo. Estaremos seguras na empresa. Acho que não teremos mais problemas.

     — Tudo bem. O que decidirem para mim está bom. — Liz estava curiosa com uma coisa e sorriu sapeca antes de perguntar. — Falando nisso... Flávio tem passado várias noites no seu quarto, não é? Como estão as coisas entre vocês?

     Liz viu como as bochechas da tia coraram e ela soltou uma risadinha nervosa. Parecia uma adolescente sem jeito. Não pôde evitar sorrir também. Era estranho falar sobre esses assuntos com a própria tia, mas lembrou-se que nunca fora um anjo de candura mesmo. Muito pelo contrário. Sempre fora descarada.

     — Estamos bem. — Ela pigarreou nervosa. O sorriso bobo não largava seu rosto. — Muito bem na verdade.

     — E foi como a senhora imaginou que seria? — Perguntou com um tom de voz presunçoso.

     — Muito melhor!

     As duas desataram a rir e foram trocando confidências baixinho até chegarem no condomínio.

***

     Liz e Luísa seguiram para a empresa naquela manhã morna e gostosa. Era quarta-feira já. Meio da semana. A rockeira estava feliz. Aliás mais do que feliz. Na noite anterior Liz comprara a sua passagem de ida para Londres e sua viagem seria daqui a dois dias. Mal podia esperar para se encontrar com sua irritadinha. Aliás, acordara naquela manhã com uma mensagem dela em seu telefone.

Lia: "Estou morrendo de saudades de você. Ainda falta quanto tempo para eu voltar pro Brasil, hein?😞"

     Liz sorriu mais uma vez. Ah se ela soubesse que apenas dois dias as separavam uma da outra! Mas não queria dizer nada. Queria que ela tivesse uma surpresa. Já até pegara o endereço dela com Pedro. Sorrindo, finalmente respondeu a mensagem de sua irritadinha. Ela estava ao lado da tia no carro enquanto seguiam para a empresa.

     Liz: "Eu tenho uma surpresa para você. Kkkkkkk"

     Lia: "Que surpresa?"

Liz: "Assim que a gente se ver pessoalmente eu te mostro'"

Lia: "Aff Liz. Fala sério! Você 'tá me deixando cheia de curiosidade com essas conversas. O que é que você tá aprontando, hein?"

Liz: "Espero poder mostrar logo logo. Aliás, tia Luísa e eu estamos indo para a empresa agora. Vamos ter uma reunião demorada. Mais tarde a gente se fala."

Lia: "Vocês saíram de casa? Pelo amor de Deus, cuidado!😩"

Liz: "Kkkkkkkk... calma! Estamos no carro blindado da tia Luísa e com dois seguranças. Está tudo ok.
Te amo muito. Bjs e até mais tarde."

Lia: "Também te amo muito. Um beijo bem grande nessa sua boca gostosa."

Liz: "Hummm... que delícia!🤤Assim me deixa cheia de vontade."

     Lia: "É só você vir pra cá que a gente mata essa vontade. Eu vou subir em você e nem guindaste me tira mais."

Liz soltou um um suspiro junto de um gemido contido ao ler aquilo. Lia não tinha pena nenhuma do seu autocontrole.

Liz: "kkkkkkk. Fiquei toda molhada com essa conversa. 🤤. Pode crer que eu é que não vou mais deixar você sair de cima de mim. Eu te quero muito!"

Lia: "Ai ai! Enfim... vou deixar você ir para sua reunião agora. Essa conversa está me deixando com tesão. Boa sorte em se concentrar. Bjs"

Em seguida Lia lhe mandou uma foto e por aquela ela não esperava. Ela lhe enviou uma foto nua do quadril para cima. Liz teve que disfarçar sua safadeza por conta de Luísa que estava ali do seu lado. Quando olhou para a tia disfarçadamente, viu que ela lhe encarava com um sorriso sugestivo no rosto.

— Faz tempo que você sorri que nem uma boba! — Luísa disse e caiu na gargalhada em seguida.

     A rockeira sorriu junto dela. Não dava para disfarçar o tanto de vontade que tinha de ir atrás de sua irritadinha. Ainda bem que apenas dois dias as separavam. Já não aguentava mais de saudade.

     A reunião foi mais demorada do que pensava. Eles saíram da empresa meio-dia. Flávio voltou junto delas no carro. Luísa estava satisfeita com a lealdade dos colaboradores para com a empresa mesmo passando por um momento tão delicado. Assim que eles chegaram em casa para almoçar se depararam com Marina, filho de Artur, sentada no sofá da sala à espera de Luísa. Vitória e Tomás estavam ao lado dela. Os seguranças estavam na sala também.

     — Será que a gente pode conversar, Luísa? — A ruiva perguntou sem perder tempo assim que a mais velha parou à sua frente.

     A tia pareceu tensa e receosa com o pedido e trocou olhares discretos com Flávio que estava ao seu lado. Imediatamente um dos seguranças falou:

     — Já a revistamos, senhora Luísa. Ela está limpa.

     — Tudo bem, então. Vamos conversar no meu escritório. — Luísa disse decidida e em seguida falou com Flávio. — Vem comigo, por favor!

     Os três se encaminharam ao escritório enquanto Liz e os primos os observavam com a tensão pairando no ar. Já fazia um bom tempo que eles não se encontravam com Marina. Nem lembrava mais dela para falar a verdade. A garota parecia assustada e abatida. Talvez fosse uma inocente que nada tinha a ver com as atrocidades do pai. A rockeira sentou ao lado dos primos.

     — Ela chegou aqui bem mal. — Tomás começou a falar e tinha o pensamento distante. — Ela disse que não tinha nada a ver com as coisas que o Artur fez. Marina disse que está chocada com tudo isso. Nunca imaginou que ele fosse capaz de ter feito tudo aquilo. Disse que as coisas estão bem complicadas

     — Coitada!

— Você nunca mais falou com ela? — Liz perguntou a Tomás. Lembrava que no começo do ano ele parecia bem chegado a ruiva.

— Não. Já faz uns três meses que a gente parou de se ver. A gente ficou algumas vezes, mas depois eu descobri que ela voltou para o ex dela.

Liz arregalou os olhos de leve ao ouvir aquilo. Os três passaram mais algum tempo em silêncio e ficaram esperando Luísa sair do escritório com a garota. No final elas conversaram basicamente sobre a mesma coisa que os primos haviam falado. Marina não conseguia acreditar no que Artur havia feito e disse estava morando com sua avó materna no interior do estado. E ainda pediu desculpas a Luísa por tudo o que o pai havia feito. Aparentemente ela era inocente.

***

Na manhã seguinte Liz se acordou sentindo ânimo. Já fazia muitos meses que ela não se sentia assim. Ela tomou um delicioso café-da-manhã com Luísa, Flávio e os primos, depois nadou bastante na piscina do condomínio e por último conversou com Lia por vídeo chamada. Estava se contendo em dizer algo sobre a viagem a ela, mas conseguiu controlar a língua.

Pela tarde Luísa declarou que deveriam sair para jantar em algum restaurante para se despedirem de Liz antes da viagem que já seria no dia seguinte... ah, apenas um dia lhe separava do seu amor.

Todos ficaram animados com a notícia, já fazia um bom tempo que a familia Moraes não saia de casa. Seria apenas uma janta, por apenas uma noite e estariam cercados de seguranças. Nada poderia dar errado.

A tia fez questão de levá-los a um dos melhores e mais caros restaurantes da cidade. Durante a janta, entre uma taça e outra de vinho, Luísa declarou alegremente:

— Vamos brindar! — Ela levantou a taça e todos fizeram o mesmo ao redor da mesa. — Primeiro um brinde  por tudo ter sido esclarecido e poder estarmos juntos aqui agora. — Depois ela olhou bem para Flávio ao seu lado e para Liz a sua frente e sorriu carinhosamente. — Segundo brinde ao amor e por todas as loucuras que fazemos por ele.

     Liz não pode deixar de sorrir com aquilo. Com certeza era bem verdade tudo o que a tia falara. Sentia que poderia fazer de tudo pelas pessoas que amava de verdade e sorriu ainda mais ao pensar em sua irritadinha.

     Eles passaram bastante tempo no restaurante que tinha uma vista linda da orla. Liz tirou muitas fotos com todos da família e depois de 4 garrafas de vinho eles decidiram ir para casa. Já era quase meia-noite. Aguardaram no estacionamento enquanto os seguranças revistavam para ver se estava tudo certo.

     Já iam começar a entrar no carro quando Artur apareceu do nada, disparando tiros para o alto e assustando a todos. Ele tinha uma arma prata na mão e seu olhar estava desvairado. O barulho foi ensurdecedor e as pessoas que estavam por ali saíram correndo apavoradas e gritando.

     O coração de Liz disparou de medo e terror quando viu aquela cena e por instinto abaixou-se e tentou se esconder atrás do carro. Viu quando Flávio tentou correr com Luísa para longe, mas Artur foi mais rápido e apontou a arma para a direção deles.

     — PARADOS! — Ele bradou a plenos pulmões. — Ou eu atiro para matar!

     — NÃO! — Liz ouviu o grito desesperado de Vitória e Tomás. Os primos estavam com as faces avermelhadas e apavoradas.

     Artur dessa vez apontou a arma para Luísa e puxou-a para si, fazendo-a de escudo contra os seguranças que o miravam com as próprias armas. Foi com desespero que todos viram ele levar a revólver lentamente até a cabeça de Luísa e depois rir malignamente. Liz se desesperou mais ainda com aquilo e tudo ficou pior quando a tia começou a chorar e tremer de medo enquanto todos gritavam desesperados.

     — SILÊNCIO TODOS VOCÊS!!! — Artur gritou enquanto apertava a arma ainda mais contra a cabeça de Luísa, que estava paralisada. — Calados ou eu termino agora o que comecei.

     Liz nunca havia ficado tão apavorada em sua vida quanto naquele momento. Ficou paralisada por alguns segundos e sentiu como se quisesse desmaiar. Parecia que tudo estava em câmera lenta e um torpor a atingiu. Isso misturado a bebida foi como se tivesse sido drogada. Não podia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Parecia mais com um daqueles pesadelos que ela tinha a noite.

     Ouviu as lamúrias de desespero dos primos ao seu lado e quando deu por si, Flávio também sacou um revólver em direção a Artur e gritou para que ele deixasse Luísa livre, mas é claro que isso foi pior. Só o deixou com ainda mais raiva. Podia ver a cara de maníaco que ele tinha agora. Totalmente barbado e com os olhos tomados pela loucura. Artur exalava loucura e maldade.

     Precisava fazer algo, não poderia deixar a tia passar por aquilo, mas quando tentou se aproximar deles, um dos seguranças lhe segurou com força impedindo-a de avançar mais.

— Quieta, Liz, por favor! — Um deles falou afobado. — Ele pode tentar algo contra ela.

     — DEIXA ELA LIVRE! — Flávio, que estava ao seu lado gritou. Liz pode ouvir o desespero na voz dele. — ME LEVA NO LUGAR DELA!

     — Você! — Artur focou os olhos no tio e apontou a arma para ele. — Eu posso até não sair dessa com vida, mas eu levo algum de vocês comigo. Filhos da puta!

     — Não! — Dessa vez Liz gritou. Era como se não fosse ela, mas sim uma outra pessoa. Quando deu por si já estava gritando. Era estranho de explicar com o horror que sentia. Seu rosto já estava banhado em lágrimas.— Não faz nada com ela, por favor!

     — A culpa foi sua de tudo ter dado errado. — Artur passou a apontar a arma para Liz e nesse momento ela viu ódio no olhar dele. — Sua fedelha mimada! Passou tempos longe daquela empresa. Não sei porque tinha que voltar e atrapalhar tudo.

     — Liz se afasta, por favor! — Luísa pediu em desespero em meio a uma careta de dor. Podia ver como Artur apertava com força o braço em volta do pescoço dela. — Parem com isso vocês! O que você quer Artur?

     — Vocês já me foderam! — Ele disse mais baixo e com ainda mais raiva. — Sei que não vou sair daqui com vida, mas ao menos vou atirar onde vai fazer mais estrago.

     — Não faça nada! Nós podemos negociar. — Flávio disse mais uma vez em uma tentativa vã e foi se inclinando aos poucos e depositou a arma no chão se rendendo. — Eu sei que é dinheiro o que você quer.

     Artur deu uma gargalhada maléfica naquele momento. Liz sentiu seu coração bater ainda mais de medo. Ele poderia puxar o gatilho a qualquer momento. Podiam ver como a mão dele tremia de raiva. Ele estava totalmente fora de controle.

     Realmente Liz não conseguia entender as motivações que ele tinha para fazer tudo aquilo. Imaginava que ele havia fugido para longe a essa hora. Afinal, com certeza ele devia ter muito dinheiro sujo por aí.

     Percebeu como já estava começando a formar uma burburinho de pessoas lá fora do estacionamento. Mesmo tarde da noite a comoção estava sendo grande. De repente ouviram a sirene de polícia ao longe. Alguém devia tê-los acionado. Isso pareceu distrair Artur por alguns poucos segundos.

Vitória desmaiou ali mesmo no calçamento e Tomás a amparou. Liz já estava com os olhos cheios de lágrimas quando tudo aconteceu de maneira muito rápida. Tão rápida que não conseguiu acompanhar.

     Ouviu um disparo e fechou os olhos por poucos segundos com horror. Não podia ser. Mas quando voltou a abri-los viu que Artur estava caído no chão com dor e Luísa também estava caída e arquejante ao seu lado. Liz focou sua atenção na tia e correu por impulso na direção dela.

     Tudo aconteceu muito rápido. Tão rápido que Liz não conseguiu acompanhar direito, apenas ouviu mais um tiro ao longe e sentiu algo a lhe atingir na região do estômago. Rapidamente foi ao chão e antes de perder a consciência viu Artur mais uma vez banhado em sangue e com a arma apontada em sua direção...

***

Pov Lia

     — Calma, Lia! — Ela escutou ao longe a voz de Luísa. Como assim ela tinha coragem de lhe pedir calma depois de dizer que Liz tinha levado um tiro? — O tiro foi sim grave, mas ela está estável. Os médicos a operaram e ela está se recuperando já. Liz está fora de perigo, mas eu tinha que lhe avisar.

     Ouvir aquilo diminuiu um pouco a tremedeira em suas pernas e um pouco do medo que a tomou, mas mesmo assim ainda se sentia quase que em estado de choque.

     — O que aconteceu? — Perguntou entre lágrimas e tentando controlar os soluços que queriam sair por sua garganta. — Ela disse que vocês estavam tendo cuidado.

     — Saímos para jantar e Artur nos seguiu. Ele tentou me fazer de refém, mas um tiro acabou pegando nela. Eu sinto muito! — A voz de Luísa estava fraca e conseguiu identificar um tom de culpa nela, mas agora não era hora para isso. — Ela delirou algumas vezes e ficou chamando seu nome sem parar. Eu sei que você está em Londres, mas...

     — Eu vou voltar pro Brasil o mais rápido possível. Pelo amor de Deus! — Disse rapidamente e dessa vez os soluços lhe tomaram para valer. — Eu preciso vê-la com urgência.

     — Eu te agradeço se puder vir. Tenho certeza que sua presença aqui vai deixar ela mais calma! E eu faço questão de arcar com seus gastos, não se preocupe!

     — Luísa, essa é a última coisa que passa na minha cabeça. Eu vou desligar aqui e comprar uma passagem imediatamente.

     — Tudo bem, Lia. Eu fico no aguardo. Obrigada!

Lia sentou no chão por cinco minutos esperando seus braços e pernas pararem de tremer. Precisava criar forças para se levantar e resolver o que precisava. Naquele momento, Rachel, a coordenadora do intercâmbio passou por ela no corredor e imediatamente lhe prestou socorro ao vê-la caída aos prantos no chão.

— Liana. O que aconteceu? — A voz da mulher saiu preocupada e ela a amparou nos braços enquanto Lia chorava sem parar. — Vamos até minha sala. Vem!

Rachel ajudou-a a se levantar e em poucos minutos elas chegaram em sua sala. A mulher lhe ofereceu água e sentou-se ao seu lado, acalmando-a assim que entraram no seu pequeno escritório.

— O que aconteceu, Lia? — A coordenadora lhe perguntou quando a viu mais calma.

— Acabei de receber uma ligação de que a minha noiva levou um tiro e está muito mal no hospital. — Disse sem pensar bem nas palavras. Mas precisava de uma boa dispensa do intercâmbio.

— Jesus Cristo! — A mais velha respondeu estarrecida ao seu lado. — Onde ela está agora?

— Ela está no Brasil. Eu preciso ver como ela está. Com urgência!

— Mas é claro! Eu entendo perfeitamente. Eu vou te liberar por uns dias das aulas para que vá até ela. Me responsabilizo por você colocar em dias depois. — A forma tão solicita que a coordenadora a ajudou pegou Lia de surpresa. Não imaginava que seria assim tão fácil. — Desculpe perguntar isso, mas de quantos dias no máximo você acha que precisa?

Lia fez uma careta e sentiu mais algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. Não conseguia raciocinar por hora sobre nada daquilo. Não importava se terminaria o intercâmbio ou não, só Liz importava agora.

— Eu sinceramente não sei. A tia dela me disse que ela foi operada e ficou delirando, chamando o meu nome. — Sua voz saiu tão quebrada quanto se sentia por dentro. — Quantos dias você consegue me dar?

— Bem, Lia. Logo agora que estamos perto dos exames finais e que você passou no estágio, não posso liberar mais do que duas semanas, infelizmente.

"Só isso?" Lia pensou desesperada. Mas iria aceitar. Agora só o que importava era a saúde de Liz. Mais nada. Depois iria ver o que fazer.

— Tudo bem! Eu vou pegar o voo mais cedo que tiver e tentar voltar em duas semanas. — Lia limpou as lágrimas do rosto e se levantou. — Muito obrigada pela compreensão, Rachel.

— Não precisa me agradecer. Eu super entendo. Melhoras para sua noiva. Vou rezar por ela.

— Muito obrigada. Eu vou lá, então.

Lia saiu apressada de volta para casa e nem esperou por Vanessa. Apenas mandou uma mensagem para ela. Ao chegar no apartamento, viu Candace na cozinha e resolveu pedir ajuda para comprar a passagem. Prontamente ela lhe ajudou e depois fez um chá para lhe acalmar. Por sorte tinha um voo para Brasil ainda com vagas para a madrugada.

Perto do meio-dia, Vanessa chegou preocupada à sua procura. Lia já arrumava as malas enquanto contava para ela o que havia acontecido.

— Caraca, Lia! — A ruiva sentou-se na cama ao seu lado com os olhos arregalados. — Mas como ela está agora?

— A tia dela disse que ela estava estável, mas eu não sei. Desde ontem eu estava com um pressentimento ruim e não estou me sentindo bem. Eu senti. Sabia que tinha algo errado com ela.

Era bizarro aquela conexão que tinha com Liz. Sempre que algo acontecia com sua rockeira sentia um aperto no peito e uma angústia. Todas as vezes que teve essas sensações, Liz estava passando por algum momento difícil. Mesmo a milhas e milhas de distância isso não havia mudado.

     Lia quase não conseguiu comer nada pelo restante do dia. Por volta das duas da tarde ligou para Luísa a fim de avisar que já havia comprado sua passagem e que provavelmente estaria chegando no final do outro dia no Rio e perguntou com ansiedade sobre o estado de Liz. A mais velha disse que ela ainda estava na UTI e que não a tinha visto ainda, mas que as enfermeiras a atualizavam de que ela estava se recuperando bem e seu quadro era estável. Ao menos aquilo lhe deixava um pouco menos nervosa e ansiosa.

     Lia recebeu uma mensagem de Cris naquela tarde, onde ela lhe mandou o print de uma notícia que estava rondando a internet sobre o tiro que Liz havia levado. A loira queria saber se Lia tinha conhecimento do que estava acontecendo e perguntou preocupada sobre o estado de Liz. A irritadinha gravou um áudio para Cris, avisando que estava voltando para o Brasil e contando tudo o que havia acontecido. A amiga ficou chocada com seus relatos.

     Vanessa se prontificou a levar Lia até o aeroporto e ficar ao lado dela até o momento final. As duas se abraçaram de maneira carinhosa e a amiga disse baixinho:

     — Tenho certeza que a Liz vai ficar bem. Fica calma! Vai dar tudo certo! Me avisa quando você chegar, ok?

     — Claro! — Lia falou agradecida pela atenção da ruiva. — Obrigada Vanessa. Até mais!

     — Até!

     ***

     Muitas horas de voo direto e cansativo depois, Lia finalmente pisou em solo carioca. Assim que saiu do aeroporto aquele sol e cheiro de mar lhe atingiram com força. A irritadinha, por um momento, fechou os olhos e sorriu por estar de volta ao seu país. Como sentia falta daquele clima maravilhoso. Por mais que estar em Londres fosse bastante proveitoso, não podia negar. Não trocaria seu país por nada.

     Havia um motorista de Luísa a lhe esperar lá. E sem mais demoras, Lia passou direto para o hospital. Era madrugada ainda, por volta de umas quatro da manhã, quando lá chegou. Assim que passou pela porta do apartamento onde Liz estava internada, viu Luísa e Flávio sentados e recostados, meio que dormindo ali no grande sofá. Eles estavam em uma salinha do lado de fora. Com certeza Liz estava lá dentro.

     Lia se aproximou da porta com passos pesados. Quando olhou pela parte de vidro na porta, se deparou com uma maca vazia. Então ela ainda não havia sido transferida da UTI. Seu coração palpitava no peito com a ansiedade de ver Liz. Seus olhos marejaram e sem se importar com a hora, acordou Luísa.

     A mais velha despertou rapidamente e olhou atordoada para os lados procurando por quem a havia acordado. Quando os olhares das duas se encontraram, Luísa se levantou rapidamente do sofá e lhe deu um longo abraço emocionado. Logo as duas estavam em prantos novamente.

     — Como é que ela está? Pensei que ela já estaria por aqui nessa altura.

     — Ela está bem. Está bem. Ela já despertou uma vez, mas me disseram que ela estava muito agitada ainda e a sedaram novamente. Disseram que iam transferir ela agora pela madrugada para cá. Estou aqui aguardando.

     — O que aconteceu de fato, Luísa?

     Naquele momento, Flávio acordou também e se juntou a elas. Lia ficou meio sem jeito de falar com ele. Todas as vezes que precisou estar perto do tio de Liz, sempre o viu por um prisma diferente. Por isso foi estranho quando ele se aproximou de Luísa e carinhosamente passou a mão pela cintura dela e as cumprimentou de forma educada. Até seu olhar parecia mais amoroso, bem diferente do que ele costumava ser. Mal pode acreditar quando Liz lhe contara sobre tudo entre os dois.

     — Você acabou de embarcar, não foi? — Luísa a encaminhou até o sofá e a faz sentar-se ao seu lado. — Muito obrigada por ter vindo. Ela vai ficar muito mais tranquila quando te ver aqui.

     — Não precisa me agradecer, Luísa. Eu jamais ficaria longe dela num momento como esses. Mas me conta tudo, por favor!

     Luísa suspirou pesado e segurou sua mão.

     — É uma longa história, querida! Eu acho que é melhor você ir no condomínio tomar um banho e trocar essa roupa. Eles pediram todo o cuidado do mundo com quem vai ficar de acompanhante da Liz por esses dias. Eles disseram que ela está ainda muito fraca e se recuperando.

     Lia se sentiu contrariada. Não via a hora de ver sua rockeira. Seu estômago estava embrulhado desde o dia anterior. Queria estar lá para recebê-la assim que ela chegasse, mas tinha que concordar com Luísa. Precisava de um banho e roupas limpas.

     — Ok, eu vou! — Acabou concordando e suspirou. — Mas eu vou num pé e volto no outro. Só mesmo tomar um banho e trocar a roupa. Quero estar aqui quando ela chegar.

Sendo assim Lia fez isso. Foi para a mansão de Luísa, tomou banho e se trocou rapidamente. Quando estava descendo as escadas, foi interceptada por Silvia, que praticamente a intimou a comer alguma coisa por ordens de Luísa antes que partisse de volta para o hospital.

Lia aceitou o leve desjejum, mas levou para viagem. Não iria mais perder tempo. Já havia gasto mais de uma hora desde que saíra do hospital. Queria estar lá para receber Liz. Estava ansiosa já e com as palmas da mão frias. Ainda não sabiam o real estado da rockeira e não queria perder nada.

Assim que lá chegou, correu para o apartamento que ela estava. Luísa e Flávio estavam lá, mas ela ainda não havia chegado. Já passava das seis da manhã quando uma enfermeira adentrou no quarta avisando que iria preparar o quarto, pois Liz estava chegando.

O coração de Lia bateu freneticamente. Não aguentaria esperar nem mais um segundo. Assim que eles a trouxeram desacordada em cima da maca Lia sentiu suas pernas tremerem e uma angústia misturada a tristeza lhe tomou. Não tinha nenhuma palavra que descrevesse o que a irritadinha sentiu ao ver sua rockeira naquele estado tão frágil re debilitado...

***
Pov Liz

Liz não se lembrava de muita coisa depois de ser atingida pelo tiro. Quando desmaiou inconsciente no chão a última coisa que ouviu rápido antes de perder a consciência foram o grito de pessoas ao redor e mais um tiro. Só. Depois disso só alguns relances ou lapsos de memória como Luísa caída no chão.

A rockeira se sentiu despertar de verdade pela primeira vez e se viu sozinha em um quarto de hospital. Seu corpo estava bastante fraco e dolorido, quase como se estivesse com febre. Parecia também anestesiada. Ela tinha um daqueles canos de hospital em seu nariz e sua boca e garganta estavam extremamente secas. Tossiu bastante por alguns segundos e viu uma enfermeira se aproximar.

Agitada, Liz começou a olhar de um lado para o outro à procura de algum rosto conhecido, mas não havia ninguém, apenas outros pacientes e mais enfermeiras. De repente o baque de tudo o que tinha acontecido foi voltando à sua mente e naturalmente ficou toda agitada em cima da maca.

— Shhhiu! Calma, querida! Você está bem. Você está na UTI se recuperando de uma cirurgia. Fica tranquila. — A enfermaria segurou em seu ombro com firmeza para mantê-la deitada.

De repente ouviu-se bipes mais acelerados vindos de algum lugar e logo a enfermeira ao seu lado se levantou.

— Ela ainda está muito agitada. Vamos dar mais um calmante a ela.

— Não! — Liz falou meio sem forças. — Cadê minha tia? O que aconteceu?

— Está tudo sob controle, Liz. Você só precisa se acalmar e descansar. —

Nesse momento viu a mulher aplicar algo na sua bolsa de soro. Em poucos minutos sentiu uma sonolência tomar conta de seu corpo e acabou apagando novamente...

Despertou novamente várias horas depois, ainda atordoada, mas dessa vez foi diferente.

     — Tia Luísa! Flávio! — Arquejou um pouco. Estava muito fraca e dolorida.

     Antes de conseguir abrir os olhos, a primeira coisa que sentiu foi um cheiro maravilhoso. Um cheiro que ela mais amava no mundo, mas não era possível. Talvez fosse sua imaginação.

Remexeu-se levemente e sentiu um toque morno e suave em sua face. Reconheceria aquele toque em qualquer situação e assim que abriu os olhos, avistou Lia bem ali a sua frente, olhando-a com um misto de preocupação e felicidade. Imediatamente o seu coração disparou de alegria e um sorriso tomou conta de sua face de maneira automática.

— Lia? — Sussurrou fraquinho a fim de saber se aquilo era mesmo real. — Lia... Lia...

— Sou eu, meu amor! — A voz dela estava ainda mais aveludada e tinha tom de choro. Sem mais demoras Lia se aproximou, encostando a testa na sua. — Como você está se sentindo?

Liz estava extremamente confusa e preocupada, mas ver sua irritadinha lhe deixou muito feliz. Seu coração pulsou apaixonado dentro do peito. Apurou mais ainda o cheiro maravilhoso dela e o perfume que ela exalava foi lhe acalmando aos poucos. Sorrindo, tentou levar a mão até a face dela, mas algo lhe prendeu em dor.

— Calma! — Lia voltou a dizer e dessa vez ela segurou seu rosto ficando ainda mais perto. Podia sentir o hálito de pasta de dentes a tocar sua face. — Fica parada, por favor. Não se esforça, você precisa descansar.

— Eu morri? — Perguntou sem acreditar que Lia estava mesmo ali na sua frente e a irritadinha sorriu como quem ri de uma tolice. — Como você pode estar bem aqui?

— Não fala bobagem. Você não morreu. — Ela respondeu ainda falando perto de sua boca. — Está no hospital se recuperando. Eu voltei para o Brasil para ficar com você. — Lia colou a testa na dela e depois lhe deu um selinho muito rápido e leve. — Como é que você está?

— Estou me sentindo toda quebrada. — A rockeira ficou aproveitando o contato e fechou os olhos mais uma vez. De repente lembrou-se da tia. Apesar de estar amando a bolha com sua irritadinha, precisava saber o que tinha acontecido. — O que aconteceu Lia? Cadê a tia Luísa?

— Estou aqui minha menina.

     A voz de Luísa soou do outro lado. Ela virou sua cabeça na direção oposta a namorada e viu a tia parada de pé ali. Ela estava com uma aparência muito abatida e cansada, mas estava bem. Um alívio instantâneo tomou conta de seu ser ao ver que ela não estava nem minimamente ferida. A última coisa que lembrava era de vê-la caída no chão antes de perder a consciência. Pensava que a tia havia levado um tiro também.

     — Está tudo bem. — Luísa voltou a repetir e se aproximou mais. Ela parecia mesmo bem.

— O que aconteceu? Cadê o Artur?

— Liz. — A namorada disse pertinho do seu ouvido lhe chamando a atenção, depois lhe deu um sorriso meigo. — Vamos falar sobre isso em outro momento, por favor! — A voz dela estava muito diferente. Parecia ainda mais meiga que de costume e ela lhe deu um beijo na testa. Depois ficou passando o nariz em sua face com muito carinho e cuidado. — Está todo mundo bem, ok?! Você só precisa descansar e se recuperar.

A rockeira sentiu um leve aperto em sua mão e voltou a olhar para a tia, que tinha um sorriso tranquilizador nos lábios.

— Descansa, minha menina! Estamos todos bem. Você tem que descansar e se recuperar agora. É só isso que importa.

Liz se sentiu finalmente mais aliviada e seu coração reduziu as batidas frenéticas. De forma espontânea um sorriso lhe tomou a face e voltou a olhar para sua irritadinha. Lia ainda estava com o rosto pertinho do seu e bastou uma troca de olhares para que a namorada entendesse que a rockeira queria mais do carinho e chamego dela.

     Lia começou a distribuir vários beijinhos ternos e suaves por todo o seu rosto. Aquilo lhe acalmava demais. A maciez do toque de seus lábios em sua pele, misturado ao cheiro dela fizeram com que Liz voltasse a um estado de dormência. Como talvez ainda estivesse sob o efeito de várias medicações, acabou pegando no sono novamente com um sorriso nos lábios...

***

Pov Lia

     — Eu sabia que ela ia ficar mais tranquila com você aqui. — Luísa disse assim que Liz pegou no sono novamente. — Ela delirou algumas vezes a caminho do hospital. Ela chamava seu nome o tempo todo. Por isso fiz questão de te ligar o mais rápido possível.

O coração de Lia deu uma pontada dolorosa ao ouvir aquilo. Ainda estava olhando para a face agora serena da namorada que dormia e lhe deu um beijo leve na testa antes de olhar para Luísa.

— Será que agora você pode me contar o que aconteceu? — Lia se sentia angustiada, triste e com muita raiva por sua rockeira estar naquela situação. Nunca antes havia sentido tanto medo em toda sua vida.

Luísa a chamou para se sentarem uma lado da outra no espaçoso sofá que havia no quarto e ficaram conversando por um longo tempo. Estavam somente as duas ali. A enfermeira havia dado ordens restritas de que evitassem receber muitas visitas até Liz estar mais disposta e tranquila.

Lia ficou horrorizada com as coisas que a mais velha lhe relatou. Só de pensar que aquela bala quase acertara o coração de Liz... aquilo a faz chorar novamente sem parar. Não passava em sua cabeça viver em um mundo onde Liz não existisse. Era doloroso demais só de pensar em tal possibilidade.

— Quer dizer que ela ia mesmo me visitar?

— Sim. Ela estava toda animada, dizendo que estava morrendo de saudades e que ia te fazer uma surpresa. — Luísa relatou e sua voz quebrou. Ela pôs as duas mãos na face e chorou. — Eu não deveria ter marcado aquele jantar. Como eu pude ser tão burra? Foi tudo culpa minha...

— Ei! — Lia aproximou-se de Luísa e fez ela lhe encarar retirando as mãos que cobriam sua face. Lia sabia que Liz não ia querer Luísa se culpando por isso. É claro que eles não deveriam ter saído, mas jamais a culparia por isso. — A culpa não foi sua, Luísa. Não pensa assim. A culpa de tudo isso foi daquele amaldiçoado do Artur. Que filho da puta! — Lia vociferou com ódio. Se ele não estivesse morto seria bem capaz dela o procurar e matar com suas próprias mãos de tanta raiva pelo que ele fizera a Liz.

— E pensar que eu confiei nele por tanto tempo. Foi a Liz que me convenceu a falar com o Flávio. Foi tudo um terror sem fim.

— E o Flávio? Como é que ele está nessa situação toda?

— Ele está bem para falar a verdade. Ele já foi na polícia prestar depoimento de que atirou no Artur am auto-defesa e para proteger a todos nós que estávamos lá na mira dele. — Luísa passou a mão nos cabelos nervosamente. — Flávio disse que não se arrepende do que fez.

— Eu no lugar dele também não me arrependeria. — Lia confirmou com ódio na voz. Ela teria feito a mesma coisa e não tinha dúvidas disso. Teria feito qualquer coisa para proteger Liz do mesmo jeito que ele havia feito para proteger Luísa. Artur mereceu o que aconteceu. Finalmente agora tudo está acabado!

Luísa a olhou surpresa, na certa por suas palavras fortes e decididas. Mas não estava brincando. Artur morto era sim menos um problema para todo mundo e a culpa de tudo havia sido dele sim.

As duas passaram muito tempo conversando baixinho para não perturbarem o descanso de Liz. Depois disso, Lia voltou a se sentar ao lado da cama da namorada e ficou observando-a ressonar pesado enquanto Luísa finalmente tirava um cochilo no sofá. Via-se que ela estava bastante cansada e com olheiras visíveis.

     Lia segurou a mão de Liz de leve e deitou a cabeça na maca, perto do braço dela. Em poucos minutos acabou cochilando também ao ouvir o seu ressonar tranquilo...

    Não soube quanto tempo se passou, mas acordou sentindo um carinho em sua mão. Aprumou-se meio assustada e deu de cara com Liz, já acordada e sorridente. Ela lhe olhava e fazia carinho em sua mão.

     — Faz tempo que acordou? — Lia falou rapidamente e ajeitou os cabelos que caíam por sua face. — Está sentindo alguma coisa?

     — Estou bem, calma! Só com um pouco de mal-estar. Acordei agora a pouco e te vi dormindo. — Liz tocou a face dela de leve e sorriu. — Vem cá!

     Sem demora Lia obedeceu-a, aproximando o rosto do dela e passando o braço pela sua cintura com cuidado de não fazer peso nela. Liz a olhou intensamente e fechou os olhos a espera de um beijo. E Lia a beijou sim, muito de leve, foi apenas um encostar suave de lábios, tinha medo de machucá-la.

     — Estou com mau-hálito, não é? — Liz falou quebrando o beijo de repente e virando rosto para o outro lado. — Desculpe!

     Lia gargalhou com aquele ato totalmente aleatório dela. Ela estava sim com mau-hálito, mas não era o suficiente para lhe afastar. Aquilo era um detalhe tão imbecil e pequeno que nem era uma questão. Liz sempre fora muito cuidadosa com sua higiene pessoal e não havia esquecido disso nem mesmo nesse momento.

     — Para com isso, vai! — Lia tentou trazê-la de volta para o beijo, mas ela não deixou.

     — Não. Só depois que eu estiver melhor. — Disse firme, mas baixinho.

     Lia a olhou descrente e bufou impaciente, mas respeitou sua vontade. Não era hora de discutir e deixá-la agitada. Então ficou apenas lhe acariciando a face e fazendo cafuné.

A enfermeira de plantão chegou na sala com um saco transparente e colocou o embrulho sobre um móvel que tinha ali.

— Boa tarde! — Elas as cumprimentou e apontou para as roupas. Lia e Liz a olharam. — Essas são os pertences que você estava usando. Estão todas aqui.

— Obrigada! — Lia agradeceu com um leve sorriso e voltou a olhar para Liz que apenas parecia pensativa.

— E como está a nossa jovem? — A enfermeira se aproximou de Liz e checou a bolsa de soro dela.

— Estou me sentindo toda dolorida. Principalmente aqui. — Ela apontou na altura da barriga e fez careta.

— É normal depois do que você passou, mas vou passar mais um analgésico por enquanto até o doutor vir amanhã. — Ela pegou uma prancheta e anotou algumas coisas. — Eu vou aplicar mais medicação para passar sua dor.

— Quando eu vou poder tomar um banho e escovar os dentes? — Liz perguntou com um sorrisinho na face. Imediatamente a enfermeira a olhou e sorriu com surpresa.

— Você não pode se levantar por alguns dias, exceto quando extremamente necessário fisiologicamente falando. Também não pode fazer esforço por conta da cirurgia. Foi em um local muito sensível. Infelizmente vai passar um tempinho até você poder levantar de vez. — A mulher explicou para aa duas e as olhou por cima dos óculos de grau que usava. — Mas se estiver tão incomodada podemos passar panos úmidos em você aqui mesmo. Quanto a escovar os dentes é mais fácil. Você quer fazer isso agora?

— Sim, por favor!

Lia sentiu suas bochechas corarem. Liz estava fraca e se recuperando ainda. Internada a três dias em um hospital, depois de ter feito uma cirurgia séria no estômago. Sério que ela estava mesmo pensando em beijo? Como ela tinha cabeça para pensar nisso?

— Você pode providenciar uma bacia, pequena mesmo, e coisas de higiene para ela? — A enfermeira perguntou para Lia. — Vou te passar uma lista de coisas para trazer.

— Tudo bem. Eu vou agora mesmo. — A irritadinha respondeu solicita.

A enfermeira saiu da sala por alguns instantes deixando-as a sós.

— Sério que ainda está preocupada com mau-hálito? — Lia perguntou meio que a repreendendo. — Está brincando, não é?

Liz a olhou sapeca e deu um sorrisinho culpado. Lia não resistia quando ela fazia isso.

— Eu quero beijar você! — Foi a única coisa que ela falou.

— Mas como pode ter cabeça para pensar nisso depois de tudo o que aconteceu?

— Lia, eu estou morrendo de saudades de você. — A rockeira pegou em sua mão. — Não acredito que está aqui comigo agora.

Lia sentiu seu coração se encher mais ainda de amores por ela, se é que isso era possível.

     — Sua boba! — Lia se aproximou e com cuidado a envolveu em um abraço. — Eu te amo.

     — Também te amo.

     As duas ficaram se olhando até que a enfermeira voltou para a sala. Luísa acordou e se juntou a elas e Lia disse que ia sair para comprar as coisas que precisavam para Liz e as duas ficaram finalmente a sós para conversarem um pouco sobre tudo o que tinha acontecido.

Lia decidiu ir ao shopping mais próximo pois ali encontraria tudo o que precisava. Também aproveitou e fez uma refeição reforçada. Ver que Liz estava bem e se recuperando lhe abriu o apetite que estava travado a dias.

     Assim que Lia voltou com as coisas, Liz pediu privacidade a todos para ficar a sós com a namorada e pediu para que ela lhe desse o "banho" sugerido pela enfermeira. Depois disso Lia encheu a bacia que comprara com água e a ajudou a escovar os dentes como ela tanto queria. Foi uma experiência nova. Lia já havia ensaboado a namorada várias vezes quando tomavam banho juntas, mas naquela hora tudo o que pensava era em cuidar dela com todo o amor que tinha em seu ser. Nada mais importava além disso.

     Liz estava com a garganta seca e conseguiu realmente beber bastante água pela primeira vez depois de tantos dias. Depois disso nem foi preciso dizer que as duas trocaram o super beijo que tanto ansiavam. Sentir a língua dela novamente era tão incrível. Era como ch*par o seu doce preferido e de fato era mesmo.

Naquela noite Lia insistiu em ficar de acompanhante de Liz para que Luísa fosse para casa descansar um pouco.

— Obrigada por ter vindo. — Liz agradeceu pela segunda vez naquele dia. — Eu quase não acreditei quando acordei e te vi bem aqui.

— Luísa me ligou dizendo que você tinha levado um tiro. Eu fiquei louca. Peguei o voo mais cedo que tinha disponível e vim direto para cá, mas você ainda estava na UTI.

— E como foi isso? Você veio para cá e o seu intercâmbio?

— Eu conversei com a minha coordenadora e ela me deu alguns dias.

— Mas você está perdendo conteúdo...

— Para com isso! — Lia pôs um dedo sobre os lábios dela. — Você acha mesmo que eu ia deixar isso me impedir de vir te ver? Por Deus, Liz.

Liz sorriu e beijou a ponta de seus dedos.

— Sinto muito por ter te dado tanta preocupação. Eu já estava com tudo pronto para ir a Londres ficar com você.

     — Luísa me contou tudo. Que você já ia no dia seguinte. — Lia encostou a testa na dela e lhe beijou os lábios.

     — Hum... estou gostando desse mimo todo.

— Nem vem que eu sempre fui carinhosa com você. — Lia defendeu-se e tentou se afastar, mas Liz a segurou pelo pescoço.

— Eu sei, amor. É só que eu estava com muitas saudades de você. — A rockeira fez carinho na face dela com seu nariz. — Me beija!

As duas conversaram e ficaram de carinho até Liz pegar no sono por conta da medicação.

***

     O médico visitou Liz no outro dia para checar como ela estava indo e passou para ela fazer alguns exames naquele mesmo dia. Ele disse que assim que o resultado saísse eles falariam sobre a alta da rockeira, mas que desde já tinha uma perspectiva positiva de sua recuperação.

As enfermeiras trocavam os curativos de Liz duas vezes ao dia e tinham todo o cuidado com a cirurgia dela. Lia e Luísa ficavam mais do que satisfeitas em ver como eles estavam cuidando e lhe dando toda a assistência.

Como prometido o médico as visitou pela tarde no dia seguinte e disse que Liz estava se recuperando bem e que seus exames estavam todos normais.

     A sua rockeira estava completamente impaciente em estar naquela maca o tempo todo sem poder se levantar, mas o médico disse que infelizmente o repouso era extremamente necessário para sua recuperação e que ela não deveria fazer nenhum esforço para não abrir a cirurgia. Mas ele também deu uma boa notícia de que na segunda-feira ela seria liberada para voltar para casa.

     Naquele dia as visitas foram liberadas e Liz recebeu Flávio e os primos, Vitória e Tomás. Todos ficaram muito emotivos, mas se mantiveram cuidadosos para não a agitarem.

     No outro dia ela recebeu a visita de Fernando, Fabrício e Vivi. Liz havia pedido para avisar a amiga que ela estava no hospital e ela veio lhe ver sem hesitar. Lia achava lindo demais a amizade das duas. Eram realmente como duas irmãs.

     Lia avisara a família que estava de volta ao Brasil, até porque seus pais e Pedro ficaram sabendo da notícia que estava espalhada pelos jornais do país. Lia contou que a namorada já estava bem e que estava no hospital com ela.

Lia ficou ao lado de sua rockeira todos os dias até ela sair do hospital. Liz estava sim se recuperando, mas ainda estava muito fraca também. Os remédios lhe deixavam com mal-estar e por conta disso não conseguia comer quase nada. Foram dias horríveis. A irritadinha conseguia sentir o desgaste dela com tudo isso.

Chegaram de volta ao condomínio já pela noite na segunda-feira. Liz deixou o hospital de cadeira-de-rodas e o médico disse que ela também evitasse ao máximo andar de pé nos próximos dias a fim de não fazer tanto esforço por conta da cirurgia.

Vivi foi outra presença constante. A morena acompanhou Liz até em casa e ia lhe visitar todo dia. As vezes Lia deixava as duas a sós para que conversassem mais a vontade, mas geralmente as três ficavam sempre conversando e rindo.

     Lia e Luísa ficaram de tratar dos curativos da rockeira. Não se sabia dizer quem era mais atenciosa com ela. A irritadinha conseguia ver como ela estava adorando ser mimada daquele tanto. Ver esse lado mais frágil da namorada foi totalmente novo. Sempre viu Liz como a rebelde cheia de atitude e dona de si. Aquilo só deixou a irritadinha ainda mais apaixonada.

O domingo chegou. As duas estavam deitadas na cama de Liz depois do almoço. O som estava ligado e espalhando uma melodia romântica pelo quarto. Lia estava conversando com Pedro por mensagem enquanto Liz repousava deitada no meio de suas pernas.

— Lia? — A rockeira a chamou baixinho. Lia teve um leve susto, Liz estava tão quieta que pensava que ela estava dormindo. — Pode me fazer um favor?

— Claro que sim. — A irritadinha se aprumou e deu um beijinho em seu pescoço, deixando o celular de lado. — O que você quer?

— Pega as minhas ali em cima da cômoda. — Liz apontou para o mesmo embrulho que a enfermaria lhe entregara no hospital.

Desde que voltaram para casa ainda não haviam mexido nele. Lia saiu de trás dela com cuidado e colocou dois travesseiros em suas costas deixando-a confortável. Rapidamente trouxe as coisas que ela pedira e lhe entregou.

Liz despejou tudo sobre a cama sem nada dizer. Ela começou a revirar por entres roupas e parecia procurar por algo específico. Lia apenas a observava e já ia oferecer ajuda quando ela finalmente sorriu ao encontrar um longo colar prata de corrente fininha. A rockeira pegou a corrente e suspirou aliviada. Lia nunca viu Liz usando aquele colar antes. Deveria ser novo, maa parecia significar muito para ela.

— Eu pensei que tivesse perdido na confusão toda. — Ela disse sorridente e levantou o colar totalmente, deixando-o bem visível.

Só naquele momento Lia entendeu do que se tratava. Pendurado no cordão feito um pingente estava a sua aliança que pedira para Liz guardar. Sentiu seus olhos marejarem e também sorriu.

— Eu usei o tempo todo. Coloquei ela nesse cordão para ficar sempre comigo. — Liz comentou emocionada e logo em seguida ela abriu o fecho do cordão deixando a aliança cair na palma da própria mão.

Lia se aproximou dela emocionada e selou seus lábios aos dela. Trocaram um beijo emotivo, mas ainda assim, carinhoso. Foi o beijo mais intenso que trocaram desde então.

Assim que se afastaram Liz a segurou pelo pescoço e lhe fez carinho na nuca. Lia queria se atirar nela e lhe sufocar em um abraço, mas não podia. Precisava ser cuidadosa, ela ainda estava muito frágil e também para não machucar o local da cirurgia.

As duas entraram dentro de uma bolha naquele momento. Uma olhando fundo nos olhos da outra. Podiam sentir amor mútuo emanando entre elas. Aqueles meses afastadas e mais ainda o medo de perderem uma a outra apenas aumentou o amor e paixão que sentiam. Elas apenas ficaram caladas em um silêncio confortável por alguns poucos minutos, até que Liz voltou a falar com a voz embargada:

— Eu queria tanto fazer isso de uma forma diferente. Já tinha planejado tudo. Já tinha todo um discurso pronto na cabeça. — Lia sorriu perante as palavras dela. É claro que ela já planejara tudo (seja lá o que fosse) como a boa virginiana que era. — Mas preciso que você me diga uma coisa, linda!

— O quê? — Lia perguntou tentando conter suas emoções.

— Está tudo bem entre nós mesmo com toda essa loucura? Você realmente ainda quer ficar comigo?

Lia teve vontade de rir com aquela pergunta estúpida dela. Será que Liz ainda tinha mesmo dúvidas de que tudo o que queria era ficar com ela?

— Você ainda tem alguma dúvida? — A irritadinha respondeu com outra pergunta e observou-a sorrir aliviada. — É claro que eu quero ficar com você. Eu te amo, Liz.

Elas trocaram mais um beijo apaixonado e depois disso, Liz falou sobre seus lábios:

— Então casa comigo! — Respondeu toda sorridente e com uma forte convicção na voz. — Todos os caminhos levam a gente uma pra outra. Mesmo com todos os problemas e contra todas as probabilidades. Casa comigo, Lia!

Aquilo sim pegou Lia de surpresa, como sempre. Ela realmente não esperava um pedido desses assim. Arregalou os olhos sem se conter e seu coração bateu tão acelerado que pensou que fosse sair pela boca. Liz realmente não parava nunca de lhe surpreender, mas ao mesmo tempo que ficou espantada, uma forte emoção tomou conta de seu ser.

— A gente não precisa casar agora, mas só diz que sim e deixa eu colocar esse anel no seu dedo. — Liz voltou a falar quando a viu calada em choque. — Eu quero que seja minha noiva!

Lia dessa vez não aguentou mais segurar o choro e buscando sua voz perdida dentro das emoções que somente Liz conseguia lhe despertar, disse sem mais delongas e entre lágrimas:

— Eu aceito! É claro que aceito!

É claro que ela aceitaria. Não havia mais dúvidas. Não poderia se enganar. Seu coração era dela, assim como seu corpo e alma. Liz era o amor de sua vida e depois de um susto tão grande como aquele jamais se afastaria dela novamente. Não queria mais ninguém que não fosse ela e mal podia esperar para a chamar de sua pelo resto da vida...

***

Fim do capítulo

Notas finais:

N/A: Eita que dessa vez a porra ficou séria mesmo! Gente, eu disse que ia postar ontem, mas não consegui terminar. Kkkkkk. Sorry!


Mas enfim... chegamos ao final. Finalmente né?!????. Coisa difícil!


Eu estou muito feliz de ter conseguido concluir minha primeira história. Podem ter certeza de que é difícil para caramba. Eu me esforcei muito para conseguir concluir por vocês e por mim mesma também.


O capítulo não ficou do jeitinho que eu queria, mas terminou como eu sempre havia planejado, bem clichê e romântico. Já tem muita tristeza na vida real.


Mas calma... esse aqui deveria ser o capítulo final, mas ia ficar muito longo, então dicidi dividir em dois. Quero deixar tudo muito bem explicado e fechado para ninguém sentir falta de nada.


E sim, terá um super hot no próximo!????


Bjs!


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Comentários para 53 - Capitulo 53 - Contra todas as probabilidades:
patty-321
patty-321

Em: 07/11/2022

Cara, demorou mas agora teremos um fim e que fim maravilhoso, chorei aqui viu? Amo essa estória,muito linda e bem escrita. Parabéns.a rockeira se entregou completamente ao amor.

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