Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 8 - Planos.
Eu não sabia o que dizer, porém eu sabia que não era ninguém para julgar o passado da Yasmin. E o fato dela estar compartilhando uma falha sua comigo, me fez admira-la de certa forma. Assumindo a culpa, não tentou se justificar e nem nada parecido. Quem sou eu para usar isso contra ela?
Era visível que estava arrependida e envergonhada.
— Vai contar aos seus pais? – Ela me encarava.
Tão profundamente, que senti uma agonia.
— Vou. – Ela é tão decidida, corajosa. — Eles merecem saber, não merecem passar por sustos como este.
Ela apontou para a perna imobilizada.
— Ainda bem, pois eles são pessoas maravilhosas. – Cruzei os braços sobre os seios, me sentia um pouco invasiva, não sei ao certo. Eu deveria estar ali? — Você tem muita sorte, tenho certeza que irão te entender.
— Eu espero que sim, Lara, não me orgulho... – Ela soltou o ar de forma impaciente. — Deus, onde eu estava com a cabeça?
— Não se martiriza assim, você já fez, não há como mudar o passado, Yas. – Rafa segurou a sua face com carinho. — Mas sei que jamais faria novamente. Só conversa com os seus pais e continua mantendo aquela maluca longe.
A loira estava séria, falava firme apesar das caricias.
— É exatamente o que vou fazer, Rafa. – O seu olhar vagou até a mim.
— Briga comigo, mas não me olha dessa forma...
Quando o Hugo ligou me dizendo que a Yasmin havia sido espancada, confesso que um pânico tomou conta de mim. Foi desesperador pensar que algo mais grave houvesse ocorrido, fiquei tão preocupada que corri para o hospital sem ao menos pensar duas vezes.
— Você assustou a gente. – Falei séria. — Peça desculpas aos seus pais, ao Hugo.
Yasmin pressionou a própria nuca, parecia uma criança naquele momento.
— Me desculpem por isso. Eu vou me desculpar com eles.
Rafaela segurou a mão de Yasmin e levou aos lábios, ficando daquela forma por algum tempo. O silencio no quarto foi cômodo. Não havia mais o que ser dito naquele momento. A única coisa que importava era que a irritante estava bem.
— Podem ir, eu vou ficar com ela. – Amanda falava, sua face estava cansada e os olhos inchados.
— Tem certeza? Não quer ir pra casa descansar? Eu posso ficar... – Ela segurou as minhas mãos.
— Não, filha, pode ir... – Olhei para Rafaela. — Não conseguiria ficar em casa.
— Então virei amanhã de manhã. – Dona Amanda sorriu. — Mas tente dormir um pouco, sim?
— Vou tentar, querida. Qualquer coisa, prometo que vou te ligar. – Retribui o sorriso.
— Vamos trazer café da manhã, a Yas falou que a comida daqui tem gosto de vento. – Rafaela fez a dona Amanda rir.
— Mesmo toda quebrada, essa menina não perde essa mania de fazer piada com tudo, parece o pai. – Amanda é adorável.
Yasmin tem muita sorte.
— Esse é o maior defeito e também a maior qualidade da sua filha, ser palhaça. – Rafaela falou e arrancou um riso de Amanda.
Não fiquei inume.
Nos despedimos de Alonso e Hugo, saindo juntas do hospital, daria carona a Rafa, que deixou o seu carro em outro lugar, pois quando soube do ocorrido, não se arriscou a dirigir. Quando chegamos ao estacionamento, pude ver a tal de Letícia vindo em nossa direção.
O meu corpo enrijeceu no mesmo momento.
“Eu não posso acreditar que tenho ciúmes dessa... argh!”
— Soube agora. Como ela tá? – Rafa me olhou rapidamente.
— Ela tá consciente, tá com uma torção no tornozelo, mas algumas semanas em repouso e fisioterapia vão resolver. – Ela pareceu ficar aliviada.
— Deus... – Letícia olhou para Rafa. — Perdoe a falta de educação. Sou a Letícia.
— Rafaela, amiga da Yas...
— Eu vou até lá. Fiquei muito preocupada, hoje pela manhã estávamos juntas e agora. – Qual é dessa garota?
— A minha sogra tá com ela, você pode ir até lá. – Sorri.
Tão falsa quanto nota de três reais.
“Me julguem!”
— Boa noite, doutora, Rafaela...
Letícia saiu apressada.
— Quem é ela? – Rafa perguntou.
Abri a porta do carro e entramos.
— Uma do fã club da sua amiga. – Coloquei o cinto. — Não faz muita questão de esconder.
— Eu não gostei dela, senti uma coisa estranha. – Rafaela abaixou o vidro.
— Então somos duas.
Dei partida.
— Estou muito preocupada com ela. O que aconteceu, poderia ter sido muito pior, Deus, me agonia só em pensar.
Bati os dedos no volante.
— Eu ainda não consigo acreditar que a Yasmin teve uma relação com uma mulher casada. Não parece o tipo de coisa que ela faria. – Rafa suspirou.
— Quando elas se conheceram, a Yas não fazia ideia de onde estava se metendo, sabe. Foi uma paixão forte, mais para o lado sexual mesmo, ela percebeu isso depois de um tempo. – Mordi o meu lábio inferior. — A Yas tentava se afastar, fugia de todas as formas, mas a Camille sempre vinha com uma conversa bem elaborada, dizia que a amava e não podia viver sem ela, um blá, blá, blá infinito. Não estou tirando a culpa da minha amiga...
A noite estava fria.
— Ela fez merd*, mas se arrepende muito, isso eu posso garantir. Yas tem um coração incrível, Lara. Não pense mal dela...
— Eu não penso, Rafa. Sou a última pessoa que pode julgá-la... – Olhei o retrovisor. — Vivi em uma mentira desde que tive a certeza da minha sexualidade, fingia ser alguém pra minha família, morria de medo...
— As coisas estão difíceis na sua casa? – Minha perna não parava quieta.
— Muito... – Segurei firme no volante. — Ela não olha na minha cara, parece que deixei de existir. Até mesmo a Ana entrou na mira da dona Telma. Ela teve tanta coragem, tanta que me inspira. Me defendeu, se defendeu, ela é muito forte e eu morro de orgulho dela.
— Sua irmã é muito corajosa. Ela tá se esforçando muito pra chegar ao objetivo que estabeleceu. Se não for muita intromissão da minha parte, você pode me dizer onde começou?
Pensei por um segundo.
— Quando ela ainda tinha quatorze anos, ela era um pouco mais cheinha, mas nunca ligou muito pra isso, a Ana foi uma criança que não pulou etapa, então sua aparência não era importante e isso foi reprovado por nossa mãe, que achava que ela já estava na idade de se vestir melhor e parecer mais mulher. – Ri sem humor. — Ela fode com tudo que tem a sua frente, nada nunca é bom o suficiente pra pomposa Telma. Sempre que podia, ela fazia a Ana se sentir mal por ser mais gordinha.
Podia sentir a atenção de Rafaela.
— Mas a gota d’agua foi quando uma garota idiota da escola dispensou ela, porque os outros achavam que a Ana não se encaixava nos padrões estabelecidos, então automaticamente, não poderia ser digna de namorar essa imbecil. Ah, eu enlouqueci, Rafa, fui até a escola, mas de nada adiantou. Depois disso vi a minha irmã emagrecer de uma forma anormal.
Lagrimas escorriam por meu rosto.
— Eu queria ter feito alguma coisa...
— Ela disse que você passou a leva-la ao psicólogo, que deu todo o apoio que ela precisou. Vocês são muito fortes, Lara, muito fortes. A Ana vai recuperar a autoestima, a saúde mental. Você tá do lado dela, vamos conseguir.
Senti a mão de Rafaela em meu ombro.
— Sim, eu tenho fé que sim...
A conversa acabou ali, mas o quanto essa conversa me aliviou, foi imediato e era o que eu precisava. Deixei a Rafaela em casa e fui para a dos meus pais. Ao passar pela sala, a minha mãe falava ao telefone, sua voz preocupada não condizia com a expressão em sua face. Ela fingiu que eu não estava ali e continuou falando com a Amanda.
Ela passou a fingir que eu não existia e era doloroso o quanto era fácil para ela.
Na segunda de manhã receberia a chave do meu apartamento e deixaria a casa dos meus pais o mais breve possível. Levaria a Ana comigo, cortar os laços com a minha mãe de uma vez por todas seria o alivio que buscávamos.
Domingo.
Quando passei no quarto de Ana na noite anterior, ela já estava dormindo, porém essa manhã a encontrei me esperando na cozinha. Tomamos café juntas e saímos cedo, os meus pais ainda estavam dormindo.
Antonella havia me enviado uma mensagem que estava no hospital.
— Então não foi assalto... – Contei parcialmente a minha irmã o que ocorreu.
— Tem toda uma história por trás, mas acho que só a própria Yasmin pra contar. – Estacionei.
— Eu entendo...
Nos encaramos.
— Seus olhos estão inchados, você chorou? – Ana é sem igual.
— Um pouco...
— Vamos superar a mamãe juntas. – Ela me puxou para um abraço apertado.
A porta do quarto de Yasmin estava movimentada, Antonella veio até nós assim que nos viu. Havia um policial conversando com Alonso. Sua expressão era fechada, só suavizou ao nos ver e o sorriso característico surgiu.
Acenei para ele, sem querer interromper o seu diálogo.
— Um delegado veio até aqui. – Antonella falou. — A Rafa e a dona Amanda estão com ela.
— Você a viu? – Minha amiga sorriu.
— Eu acho incrível o senso de humor dela. Você tá muito encrencada... – Franzi o cenho.
— Isso porque você não viu o amasso. – Ana e Antonella não facilitavam.
Fingi que não entendi.
— Que bom que já chegou, querida. – Alonso me abraçou. — Entra, vai vê-la.
— Como o senhor passou a noite? – Ele segurava a minha face.
— Dormi poucas horas, mas estou muito aliviado que aquela garota esteja bem. – Ele sorriu.
Com carinho, beijei a sua face.
— Pode deixar que darei uma bronca nela. – Pisquei e ele riu.
— Contarei com você então, querida...
Sorri.
Entrei no quarto e novamente fui abraçada, mas desta vez por Amanda.
— Que bom que já chegou filha. – O carinho, ele sempre me quebrava inteira.
— Você pode convencer essa boba a usar a muleta? – Rafa falou.
Olhamos para Yasmin, que fez bico.
— Vamos deixar vocês a sós... – Amanda e Rafaela saíram.
Yasmin estava na cadeira de rodas, os fios cor de cobre estavam úmidos.
— Vai ficar aí me encarando, chatinha? – De fato, o senso de humor estava intacto.
— Contou a eles? – Me mantive longe.
— Contei... tudo sobre ela. – Yasmin estava com a testa um pouco roxa. — Lara, eu... sinto muito. Estou envergonhada por você saber sobre as besteiras que fiz.
— Não sou nenhuma santa, então não sou ninguém pra te julgar. Se puder pedir algo, queria que tomasse um pouco mais de cuidado. – Os olhos verdes me analisaram.
— Eu prometo!
Ouvimos batidas na porta e logo o meu pai passou por ela.
— Como você está? – Ele foi até ela. Minha mãe veio logo atrás.
Os três passaram a conversar, o meu pai era o mais preocupado.
— A Lara pode cuidar da sua recuperação, temos também ótimos fisioterapeutas e logo você está totalmente recuperada.
— Querida, foi assalto? Esses monstros te machucaram muito. – Minha mãe se meteu.
Me coloquei atrás da cadeira de rodas.
— Foi, mamãe, eles tentaram levar o carro. – Menti.
Coloquei uma mão sobre o ombro de Yas e o apertei de leve.
— O susto já passou, o que importa é que você tá bem. – Meu pai beijou a mão de Yasmin.
Os que estavam do lado de fora entraram, ficamos por mais meia hora conversando, até que decidimos ir, entretanto não tão fácil quanto pensei, pois fui arrastada para a casa dos meus “sogros”, onde me foi dada a missão de acompanhar a Yasmin até o quarto.
— Não precisa fazer isso, Lara. – Fechei a porta. — Posso chamar a Rafa.
— Só vou te auxiliar, não é nenhum incomodo. – Encostei a muleta na cômoda.
— Vai mesmo me dar banho? – Ela arqueou a sobrancelha.
— Você pode ficar de lingerie, eu já vi outras mulheres de pouca roupa. Já fui residente, Yasmin. – Cruzei os braços.
— Ok, doutora. Desculpa! Vou começar a me despir então.
Yasmin passou a tirar a blusa, ela usava um top preto por baixo da blusa branca. Desviei o meu olhar, fixando em um ponto qualquer, fingindo indiferença.
— Preciso de ajuda com o short. – Fechei os olhos, aspirando o ar com calma.
Não havia nada a ser temido.
Peguei a muleta e entreguei para ela, a ajudei a ficar de pé e assim pude abaixar o short e assim que o fiz, senti uma pequena vertigem e um alvoroço em lugares inapropriados. A calcinha pequena e preta me deixou desnorteada. Agachei para tirar por completo o short e a posição sugestiva me fizeram pensar em coisas que não me atreveria a dizer.
— Se apoiei em mim. – Fiquei de pé.
Controlei a minha respiração.
— Tá bom...
Coloquei a minha mão sobre a curva da cintura nua e o choque se alastrou por meu corpo. Eu não podia acreditar no quão afetada estava com tão pouco. Evitei olhar para ela. Me senti uma tarada tendo pensamentos babacas, enquanto a mulher ao meu lado estava toda machucada.
— Ainda bem que tem esse quarto aqui embaixo. Seria difícil subir e descer todos os dias. – Falei o obvio por conta do meu estado.
“Ai, Lara, só fica calada.”
— Eu não queria ficar longe do trabalho. Logo agora que comecei, é frustrante. – Com cuidado, Yasmin se colocou embaixo do chuveiro.
A soltei, pegando um roupão atoalhado e deixando próximo. Evitei ao máximo olhar para qualquer lugar que não fosse o seu rosto.
— Vou te esperar lá no quarto. Evite molhar o gesso. – Não esperei por sua resposta.
Andei pelo cômodo, me sentia incomodada. Sentei, fiquei de pé, fui até a janela, até que ouvi o meu celular tocar e não reconheci o número.
— Alô?
— Doutora, até que enfim. – Franzi o cenho. — Não reconhece a minha voz? Que decepção, Lara. Achei mesmo que iria reconhecer a voz do amor da sua vida.
— Amor da minha vida? Desculpe, eu realmente não faço ideia. – Quem é? Uma pegadinha?
— Que tal isso... a gente se beijou atrás da escola no primeiro ano. – Sentei na pequena poltrona branca. — Eu te pedi em namoro.
— Cat? – Pude ouvir sua risada.
— Então o meu beijo de fato foi marcante. – Eu nem sabia o que dizer. — Queria te ver, Lara. Estou de férias, voltando pro Brasil em dois dias...
Aspirei o ar com calma.
— Eu gosto de você, Lara, queria muito que pudéssemos ser namoradas. – As minhas mãos foram seguradas.
— Eu também gosto de você, Caterine e eu também quero que sejamos namoradas. – Sorri, sentindo um frio na barriga.
— Posso te beijar? Eu morro de vontade desde a primeira vez que te vi. – Olhei ao redor, com receio de ser pega.
Fechei os olhos e senti os lábios macios sobre os meus.
— Claro, a gente pode sim se encontrar. Temos alguns anos pra pôr em dia... – Sorri.
— Ótimo, porque estou cheia de saudades... – Mordi o lábio.
Eu não estava acreditando.
Coloquei o roupão que Lara havia separado e quando me preparava para chama-la, ouvi ela atender o seu celular. Notei que o seu tom de voz mudou, ficou suave e um pouco mais baixa. Ela marcou algo com alguém. Eu não sou fofoqueira, mas atiçou a minha curiosidade.
Quem é Cat?
— Lara, terminei. – Segurei a muleta com firmeza.
— Vamos... – Ela entrou, se colocando ao meu lado e segurou por minha cintura.
O seu perfume inundou os meus sentidos, a proximidade com o corpo que tive colado ao meu ontem, me atiçou, e notando isso, me reprimi e tentei afastar qualquer tipo de pensamento sexual. Só bastava o que aconteceu há minutos atrás, quando ela tirou a minha roupa.
Saímos do banheiro lentamente, ela me ajudou a sentar na cama. Mordi a bochecha por dentro, mexi nas pontas do laço do roupão.
— Você quer que eu separe alguma roupa pra você? Moletom seria bem melhor.
— Quem é Cat? – Não aguentei.
Lara me encarou, os seus olhos vasculhavam o meu rosto demoradamente.
— Você ouviu a minha conversa? – Limpei a garganta.
— Não tinha como não ouvir. – Por que ela só não responde?
Lara se apoiou na cômoda, cruzou os braços sobre o busto.
— Caterine foi a minha primeira namorada. – É claro. — Primeira tudo, na verdade.
— Seu primeiro amor... – Ela concordou com um acenar. — E vão se encontrar?
A ideia não me agradou, fazendo algo queimar em meu peito.
— Sim... – Apertei a cordinha do roupão com mais força. — Vou vê-la no hotel, ela tá voltando pro Brasil e quer me ver.
E você vai assim? Sem nem levar em conta que temos um acordo? Que pode ser vista e eu vou ficar com fama de chifruda?
— Você pode chamar a Rafa? – Lara franziu o cenho. — Por favor.
— Não quer que eu fique aqui? Eu iria...
— Tá tudo bem. Você não precisa bancar a namorada legal agora, não tem plateia. – Saiu um pouco mais rude do que quis. — Eu prefiro que ela faça isso. Sei o quanto deve estar sendo incomodo pra você estar aqui
— Por que tá sendo grossa? – Passei a mão sobre a testa, soltei o ar com força. — Por que tem que ser tão estupida?
— Lara, me desculpa...
— Vou chamar a Rafa. – Ela não esperou nenhum segundo para sair do quarto.
Me joguei na cama, peguei o travesseiro e coloquei sobre o meu rosto.
— Sua estupida! Estupida! Idiota! Yasmin, sua imbecil.
O que eu tenho a ver com a Lara e a ex-namorada? Merda, eu não deveria ter perguntado nada. Temos um acordo, nada além disso e isso não me dá o direito de ser intrometida ou sentir...
Sentir nada!
— A Lara passou igual um foguete. Vocês brigaram? – Hugo entrava com uma bandeja em mãos.
— Eu fui grossa sem nenhuma razão. – O meu irmão puxou a cadeira de rodas e sentou à minha frente.
— Quer contar o que aconteceu? – Ele me entregou um copo com suco.
Pensei por um segundo.
— Acho que fiquei com ciúmes. – Hugo ergueu as sobrancelhas.
— Ciúmes? – Soltei o ar com força, tomei um gole do suco de laranja.
— Acho que foi uma péssima ideia ter entrado nessa, Hugo. – Rafa entrou.
— O que você fez? – Ela fechou a porta. — A Lara inventou alguma coisa e foi embora com a Ana e a Antonella.
Os dois me olhavam em reprovação.
— Eu fiz besteira, ok? Ela recebeu uma ligação de uma ex-namorada, as duas vão se encontrar e eu fiquei com muito ciúmes. Estão satisfeitos? – Hugo me olhava surpreso, mas Rafa apenas estava com um “eu avisei” estampado na face.
“Eu deveria ter ficado calada.”
— Inferno...
Os dois optaram por ficar calados e eu achei uma escolha perfeita. Já bastava aquela voz chata na minha cabeça me dizendo que eu havia sido muito idiota. Sempre fui muito direta e firme com as decisões que tomei na vida, então por qual motivo estava agindo dessa forma?
Faria Lara saber que estou atraída por ela. Sim, é isso o que faria. Mataríamos à vontade e depois disso ela poderia ficar com quem fosse de sua vontade.
“Pratico.”
A noite chegou, jantei com os meus pais e o meu irmão. Para o meu alivio, eles não mudaram ou agiram estranho. Me ouviram atentamente, me aconselharam e me pediram para ser mais aberta, que eu não podia carregar o mundo nas costas. Isso foi libertador, pois por muito tempo achei que os decepcionaria por ter me metido em um casamento alheio.
Se pudesse voltar atrás...
— Obrigada. – Os três me olharam. — Obrigada por não terem me julgado.
— Filha, a gente sabe que você e o seu irmão não são perfeitos. – O meu pai me encarava. — Criamos vocês da melhor forma que pudemos, mas nunca com a ilusão que acertariam sempre.
— Pessoas boas também comentem erros, filha. Seu pai e eu só pedimos que tome cuidado, a gente vai zelar por sua segurança. – Os meus olhos arderam.
Cocei, tentei disfarçar, mas acabei por chorar.
— É um bebezão... – Hugo zombou, me fazendo rir.
— Calado... – Funguei.
— Vamos melhorar a aparência desse gesso branquinho depois, tomatinho. – Aquele apelido.
— Esse negócio de tomatinho... – Torci o beiço.
Eu estava mais leve.
— A vovó que inventou, até eu tive que ouvir ele por um tempo. – Rimos.
— O tomatinho tá meio amassado agora. – Recebi um olhar de advertência da minha mãe.
— Não brinca com isso, menina...
O meu pai, Hugo e eu gargalhamos.
Continuamos a comer, Lena havia feito uma sobremesa deliciosa e só sai da mesa depois de repetir. Com a ajuda de Hugo, fui para o quarto. Ele e Rafaela me encheram a tarde toda para que eu fosse me desculpar com Lara e que fosse sincera. Faria isso no dia seguinte.
O meu celular tocou e era um número privado, mas eu sabia bem de quem se tratava.
— Que caralh* você quer? – Eu a encheria de porr*da se pudesse. — Que porr* você quer, Camille? Fica longe, para de me ligar, esquece que um dia a gente já esteve na vida da outra.
— Eu não fiz isso, Yasmin...
— Eu sei que não, foi seu marido ou sua filha. Para de me ligar, Camille... para. – A minha mão tremia. — Acabou aquela merd* de relação que tínhamos.
— Eu te amo, Yasmin... eu quero e vou atrás de você. Eu me divorciei, eu fiz isso por nós. – Ri de forma nervosa.
Era o cumulo.
— Não existe nós e eu não acredito em nada do que acabou de dizer. Para de me ligar ou terei que pedir uma medida protetiva. – Senti o tornozelo doer, assim como as minhas costelas.
— Não vou desistir. Eu te amo...
— Vai se foder e enfia esse amor naquele lugar. – Desliguei.
O meu corpo tremia, o meu coração estava acelerado. Com muita dificuldade, peguei o remédio na mesinha ao lado e a jarra com água. Bebi direto dela, me molhando um pouco no processo.
Eu acabei de ter um ataque de pânico? Há quanto tempo não ocorria?
— Não, não, não... – Passei a fazer um exercício de respiração. — Ela tá longe, estou protegida aqui.
Pensei em ligar para a Rafa, porém me segurei, pois já havia dando muita preocupação a todos eles. Me acalmei sozinha e vencida pelo remédio forte para dor, dormir minutos depois.
Segunda.
Pela manhã liguei para a Ana, pois queria saber se Lara estava em casa, mas ela havia saído cedo, não foi para o hospital. Ainda tentei convencer os meus pais a me deixar trabalhar, entretanto sem sucesso. Entrei em contato com o Claudio, que gentilmente me mandou vários documentos por e-mail, isso me ocupou a manhã inteira.
— Pode entrar... – Alguém batia na porta.
— Dona Yasmin, tem uma moça na portaria. Ela se chama Letícia e pediu pra vê-la...
A senhora de meia idade abriu a porta.
— Peça que seja liberado, Lena, obrigada...
— Vou fazer um bolinho pra senhora. – Sorri.
— Eu já disse que te amo?
— Ah, dona Yasmin, deixe de coisa. – Ela riu, fechando a porta.
Tentei esticar as costas, um pouco desajeitada, senti as costelas. Alguns minutos depois, a porta foi aberta e Letícia apareceu em meu campo de visão. Ela tinha em mãos uma sacola de papel.
— Trouxe brigadeiros. – Sorri.
— Maravilha! – Peguei a muleta e com um pouco de dificuldade, fui até ela. — Adoro brigadeiro.
— Esses você vai amar, são os melhores de BH.
Sentamos no pequeno sofá do escritório e ela não estava brincando quando disse que eram deliciosos. Não contente, devo ter comido para mais de cinco brigadeiros, sob o olhar divertido de Letícia.
— Você parece uma criança. – Ela riu.
— Adoro chocolate e isso tá divino.
— Yas, eu vir aqui te ver, mas também te contar algo. – Letícia ficou séria.
Deixei o doce de lado, pois parecia ser algo que pedia seriedade.
— Pode falar, Lelé...
— A dona Nicole, ela me procurou ontem à noite e me fez uma proposta esquisita. – Letícia passou a mão sobre o próprio braço. — Ela me pediu pra vigiar você e a doutora Lara.
É claro.
— Fica longe da Nicole, Letícia, aquela mulher não presta. Ela está fazendo de tudo pra ficar com o cargo de diretora do hospital. – Isso estava cada vez mais fora de controle.
— Então é isso... – Letícia passou a mão sobre os fios castanhos claros, quase loiros. — Ela me ofereceu regalias e disse que quando fizessem a peneira do hospital, minha vaga continuaria lá.
Peneira?
— Essa maluca vai demitir funcionários? Preciso contar isso a Lara. Obrigada por me contar, Letícia. E se possível, não deixe ela se aproximar de você, a Nicole não é uma boa pessoa.
— Se ela é tão perigosa assim, então acho que o mesmo vale pra você e a doutora Lara.
— Estamos cuidando disso...
Pouco mais que duas horas depois, Letícia foi embora. Almocei com Lena e Isadora, que há sete anos trabalhavam para os meus pais. Liguei para o detetive, que até aquele momento não tinha nenhuma novidade. Faltava poucos dias para a reunião com o conselho e não tínhamos nenhum trunfo. Falei com a Rafa, que pareceu um pouco estranha por telefone, mas disse que me ligaria a noite para conversar.
Decidi sair um pouco, talvez não faria tanto esforço se fosse de cadeira de rodas.
— Aonde a senhorita pensa que vai? – Isadora me encontrou na porta e eu ri.
— Queria pegar um ar fresco na praça. – Ela cruzou os braços sobre o busto.
— Sua mãe me deixou ordens pra não a deixar sair e fazer esforço. – Torci o beiço.
— Então vai comigo até lá, Isa. Só quero um pouco de vento na cara. – Dei o meu melhor sorriso.
Ela desmanchou a carranca.
— Tudo bem, eu vou com você, menina.
— Amo você, Isa...
Ela se colocou atrás da cadeira de rodas e segundos depois, deixávamos a casa. Demorava cinco minutos a pé até a praça, havia um pequeno lago e desde sempre, me deixava leve ficar só olhando.
Havia alguns garotos brincando de futebol. Ficamos embaixo de uma árvore.
— Sua filha mais nova conseguiu o estágio? – Isadora brigava com os moleques que derrubaram um outro.
— Meninos danado, meu Deus. – Eles saíram correndo. — Conseguiu, menina, ela ficou muito feliz. Aquela menina é tão estudiosa, as vezes me dá dó do quanto ela se dedica, não sai muito.
— Ela tem um objetivo, Isa, e já tá colhendo o primeiro fruto. – A mulher me olhou.
— A minha do meio me contou uma coisa que eu ainda não consegui dizer nada. – Franzi o cenho. — Ela me disse que...
— Diga, mulher, desde quando você tem vergonha de mim? – A empurrei de leve pelo ombro.
— Ela disse que gosta de moças, menina, e eu não sei o que dizer a ela. Sabe, a minha família sempre foi muito fechada sobre essas coisas, eu nunca lidei com nada assim... – Isadora me encarou. — Queria saber de você, menina, eu sei que você gosta de moças também.
Pensei por um momento.
— O primeiro de tudo, Isa, é você entender que a sua filha não escolheu gostar de mulheres, ela só se sente atraída, não há um botão que ligue ou desligue. – Eu tinha toda a atenção dela. — Sexualidade não tem a ver com caráter também, conhecendo você, sei que as suas filhas devem ser incríveis, então isso não irá mudar.
— Tenho um pouco de medo, sabe menina, as pessoas são maldosas. – Uma preocupação genuína.
— Quando contei aos meus pais, não fiz por medo, eu fiz porque a única opinião, o único apoio que me interessava era o deles. Quando temos as pessoas que mais amamos ao nosso lado, o resto é só resto.
Isadora lacrimejava.
— Só diz a ela que você a ama e que estará com ela não importa o quanto essa droga de mundo seja ruim, diga que se orgulha, Isa, isso com toda certeza deixara ela muito feliz...
— Eu me orgulho, menina, farei ela saber disso. Estou com o coração mais aliviado, muito obrigada.
— Pode acreditar, ter uma nora é mil vezes melhor. – A olhei de canto. — Quem sabe sua filha não consegue um partidão como eu... aí.
Isadora puxou a minha orelha.
— Deixa de ser assanhada, menina, que você tem uma namorada. Inclusive, ela é uma ótima menina. Todas as vezes que esteve na casa da dona Amanda, me tratou muito bem. – A minha orelha ficou quente. — Diferente da mãe dela, oh mulher mal educada.
— Que sorte a minha ter uma sogra tão gente boa. – Isa riu.
— Espero que você seja boa com aquela menina, viu? Porque bem lembro que você adorava paquerar as meninas do condomínio.
Não controlei o riso, ainda levei bronca por vários minutos.
“O que ela estaria fazendo agora? Eu queria vê-la.”
Fim do capítulo
Bom dia, minhas deusas.
Comentar este capítulo:
Dessinha
Em: 10/11/2022
Eu quero Ver o fogo pegar hehe... Esse povo apaixonado que complica tudo, porque será? Gente, essa Lara é ótima, adoro sua forma de ver a vida e é justa acima de tudo. A Yasmin tambem, não sei de quem gostar mais hehe. Que leitura maravilhosa, adoro!! Salva meus dias chatos. Beijos, queridas autoras, obrigada por esse presente ;)
Resposta do autor:
kkkkkkk e ele vai.
Sempre e nem posso julgar kk, na real, é dessa forma mesmo. A gente sempre complica o simples.
Você pode gostar de todas sem culpa :)
Obrigada, vocês salvam os meus dias ruins. Volto aqui e me dá força para dar o meu melhor. A Tany divide o mesmo sentimento. :)
Um beijo, querida.
HelOliveira
Em: 09/11/2022
Tô adorando a história, nossa parece que as coisas só vão se complicar mais para Lara e Yas, já estou desconfiando de todo mundo...
Ana é incrível torcendo para que posso superar tudo isso.
Ansiosa pelo próximo capítulo
Resposta do autor:
Até o último capitulo, teremos muitas coisas para ler. Lara e Yas irão encontrar dificuldades, nelas proprias e nas outras pessoas também.
Ana é um amorzinho. :)
Mais tarde irei posta-lo.
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laisrezende
Em: 09/11/2022
Já tô sentindo que Ana e Rafa serão meu casal preferido hein
Resposta do autor:
Ah...
Bem, um casal bem fofo e igualmente complicado.
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CatarinaAlvesP
Em: 09/11/2022
Eu nunca deixei de patrocínar o autor por causa de vocês, pra mim também são as melhores autoras, vocês tem sempre as melhores histórias disparadamente ??‘???????‘???????‘???????‘?????
Resposta do autor:
Isso é ótimo de se ler, estamos trabalhando há meses nessa história e estavamos loucas pra postar. Obrigada por ler, é muito bom ter o reconhecimento de vocês.
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barbara7
Em: 09/11/2022
SO VOCÊS, escutem bem... SÓ VOCÊS AINDA SALVAM ESSE SITE AQUI. As melhores autoras da vida
Resposta do autor:
Estamos nos esforçando muito para manter o ritmo, como leitora sei o quanto é bom encontrar algo que nos mantenha longe da realidade, ao menos um pouco. Obrigada pela confiança, daremos o nosso melhor.
:)
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patty-321
Em: 08/11/2022
Yasmin toda envergonada, bom que sua família é maravilhosa. Já a da lara. A mãe e uma me geral, contaminou as duas com tanto desamor. Estória ótima, valeu
Resposta do autor:
Não é fácil, é algo que simplesmente a gente se pergunta porque fez. Uma bosta.
Mas a Yas tem todo o surporte que todo mundo deveria ter. A Lara e a mãe, infelizmente, a realidade de muitas.
Daqui a pouco mais um cap.
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Lea
Em: 07/11/2022
Essa família da Yasmin é tudo o que há de melhor, são incríveis, são especiais demais! Não compreensivos,sem julgamentos, são verdadeiros!
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Rafaela conhecendo um pouco mais,da nossa menina forte. Creio que o caso da Ana Clara,será um dos tópicos mais complicados a ser trabalhado. O fator autoestima vai pesar,quando ela se declarar para a Rafaela e se não for correspondida isso pode acarretar em mais problemas.
Torcendo pela nossa garota!
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Lara só aceitou o convite dessa "Cat",para fugir da bagunça que está sentindo pela Yasmin.
É sério ruiva, você acha que uma transa vai resolver o tesão que está sentindo pela Lara?? É piada! Kkk
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Camille ainda vai trazer mais "dor de cabeça" para a vida da Yasmin!
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Nicole não desiste, até a Letícia ela está coagindo!!
Será que a Letícia pode está do lado da Nicole? Afinal ela demonstrou ter um "queda" pela Yasmin. Iria quer vê-la longe da Lara!
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Falei demais!! Kk
Próximo capítulo,por favor! Kk
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Boa tarde, meninas!
Vocês arrasam e já estão no TOP 20 DO LETTERA. PARABÉNS!
Resposta do autor:
Família da Yas baseada em fatos reais. Dona Amanda me lembra a minha mãe, a gente virou confidente. Melhor coisa do mundo.
Ana tem uma jornada incerta no campo pessoal e amoroso, ela merece todo amor do mundo e alguém que a veja como a deusa que ela é. A Rafa é uma mulher de caracter impar.
Lara está confusa, pé atrás, mas com razão. Não é fácil se jogar de cabeça no desconhecido.
Camille é a toxicidade em pessoa.
Nicole é uma marionete, quer ser vista, deva ter muita coisa embaixo desse desejo de poder.
Mais tarde vou postar o cap, estou editando e esperando passar pela Tany, daí será postado.
:)
Adoro os seus comentários.
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JeeOli
Em: 07/11/2022
Nao gosto da Letícia também, Rafa conhecendo um outro lado da Ana e Yas com ciúmes da Lara pelo visto com razão, agora é esperar para ver
Resposta do autor:
kkkkkk magoou kkkkkkk
A minha chara é uma injustiçada kkkk
Mas quem vai julga-la? Yas é uma coisa...
Ana ganhou vocês, né? Isso é ótimo. Lara e Yas, elas ainda precisam de muito dialogo.
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