Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 7 - Tenso, muito tenso.
O perfume de Yasmin adentrou as minhas narinas sem dor. Senti um leve choque, um formigamento se espalhando em meu corpo, me deixando momentaneamente sem reação. Ela precisava mesmo ter sido tão... tão, ah. Pude senti a minha face esquentar e eu nunca havia me sentido tão abobalhada. Chegava a ser patético.
Isso tudo faz parte do “contrato”, então eu deveria me acostumar.
“Reage, Lara.”
— Oi, meu bem. – Abri um sorriso, esperando que não parecesse uma careta. — Bom dia.
Pela expressão de Ana, eu não estava me saindo muito bem.
— Vamos ver os pais de vocês jogando. Falta pouco pra começar a nossa rodada. – Minha mãe falou, eu podia ver o brilho de ódio nas íris castanhas.
— Estou louca para ver vocês jogando, mas já adianto que estou torcendo por minha mãe, querida sogra.
Tive vontade de rir, mas me controlei. Yasmin não tem mesmo noção do perigo ou se tinha, não ligava a mínima.
— Ah, mas a minha torcida é maior, não é filhas? – Ana me olhou.
— Sim, mamãe, estamos torcendo por você.
Ela forçou o sorriso outra vez.
— Sendo assim, trarei o Hugo na próxima vez. – Amanda brincou, alheia ao clima ruim.
Como que se fosse combinado, a minha mão e a da Yasmin se encontraram e o meu corpo voltou a ficar tenso. Ainda bem que a distância até a quadra era curta. A minha namorada de mentira puxou a cadeira para a mãe e depois para mim. Novamente pude sentir a minha bochecha esquentar, mas naquele momento vi que era algo automático de Yasmin.
A minha garganta secou.
— Obrigada. – A ruiva beijou a minha cabeça, pareceu ser espontâneo ou ela fingia muito bem.
— Nada, amorzinho.
“Estou morrendo de cede.”
Peguei uma das garrafinhas que estava no pequeno cooler, coisa do clube, mas não consegui abri, as minhas mãos tremiam levemente. Tentei a segunda vez e fiquei com ódio no mesmo momento.
— Vamos lá, papai. Acaba com o Joaquim. – Yasmin gritou, no mesmo momento em que pegou a garrafa de minhas mãos, a abriu e entregou para mim. — Mãe, como se pontua mesmo?
Eu tive vontade de rir outra vez. Talvez, só talvez não fosse tão ruim assim sua companhia.
— Obrigada. – Agradeci outra vez e ela me olhou e sorriu.
— O papai fica engraçado com aquele short. – Ana cochichou em meu ouvido.
Olhei para a quadra e ri baixinho.
— As pernas finas não ajudam, talvez. – Yasmin falou, nos fazendo rir novamente.
— O que vocês estão cochichando aí? – Amanda perguntou, tocando o meu rosto.
Ela realmente parecia feliz com o meu namoro falso com a sua filha.
— Nada, mamãe... só admirando o jogo. – Yasmin se ajeitou na cadeira.
A olhei de perfil, ela é muito bonita. Muito...
“Merda.”
Quase dez minutos depois, o jogo de nossos pais acabou. Pelo que soube, Patrick havia ido embora pouco antes de chegarmos, o que achei maravilhoso. Minha mãe e dona Amanda assumiram a quadra.
— Querida, me passa esse cooler. – Meu pai pediu.
Ele pegou uma cerveja.
— Vocês serão as próximas? – Franzi o cenho ao ver Letícia ali.
De onde essa mulher saiu?
— Lelé, você aqui. – Yasmin ficou de pé para cumprimenta-la com um abraço.
“Que exagero.”
— Vim para relaxar um pouco. Oi, doutor Alonso, doutor Joaquim. Ana... – Ela olhou para mim. — Doutora...
— Me chama de Lara. – Lembrei da conversa das três taradas no hospital. — Só Lara, Letícia.
— É o habito, me desculpe. – Ela sorriu.
— Você quer jogar com a gente? Podemos jogar em dupla. Você e eu contra a Lara e a Ana. – Yasmin convidou, me fazendo arquear as sobrancelhas.
“Espera, ela acabou de escolher uma desconhecia e não e... aaah!”
— Se não for incomodo, eu adoraria. – É claro que adoraria. — Não há muitas jogadoras mulheres por aqui.
— Então fique e jogue conosco. Não sou muito atlética, mas prometo dar o meu melhor.
“Blá, blá, blá, o meu melhor.”
Levei a garrafinha de água até a boca, tomando uma quantidade considerável, quando olhei para Ana Clara, a mesma me encarava com uma expressão de divertimento explicita. Aspirei o ar devagar, tentando exorcizar o que fosse que estivesse preso.
— Minha mãe tá dando uma surra na sua. – Yasmin me olhou pela primeira vez depois de vários minutos de papo com a Letícia.
Apenas rolei os olhos.
— A sua sogra é boa, não é? – Alonso empurrou o meu ombro de leve.
— Ela é a melhor. – Sorri para ele.
Era sincero.
— Então você virou mesmo a casaca, Lara? – Meu pai fingiu estar magoado.
Isso me despertou risadas.
— Viu só, Yas? Você corrompeu o meu time. – Yasmin piscou para o meu pai.
— Desculpe, Joaquim, mas é quase impossível resistir aos nossos cabelos ruivos. – Ela jogou o cabelo para o lado. — Reclama com o meu pai.
Outra vez, rolei os olhos.
— Não é mentira. As residentes e os residentes ficaram apaixonados pela Yas. – Letícia riu. — Mas todos já estão cientes que não são páreos pra doutora Lara.
Passei a bater o pé. O que estava se passando comigo? Por que estava tão incomodada?
— Fim de jogo. – Alonso falou, assoviando. — Pessoal, a minha esposa é a melhor.
Dona Amanda estava suada e sorridente, assim como a minha mãe.
“Tão raro.”
— Vamos jogar, Lara. Ainda bem que a sua namorada não te escolheu. – Senti a zombaria. — Pior pra Letícia, afinal a Yas nem sabe jogar.
Sim, a Ana tem toda razão.
— Vamos mostrar como se faz. – Eu não era tão boa assim, mas com toda a certeza, seria melhor do que ela que nem ao menos jogou uma partida na vida.
Levantei confiante.
— Tenta jogar todas as bolas na Yas. – Falei para a minha irmã, que sorriu e concordou.
Ana e eu fomos para o nosso lado da quadra, passamos a nos alongar. Yasmin e Letícia, que ria de algo que a boboca falou, apenas se posicionaram. A cada coisa que a minha falsa namorada dizia, a outra se desmanchava, sempre a tocando, mexendo no cabelo.
“Todos sabem que não são páreos pra mim é uma ova! Que irritante.”
— Vamos acabar com elas. – Falei, pois sabia o quanto Ana era competitiva.
— Pode deixar, maninha... – Ela sorriu.
Então o jogo começou com os gritos animados de nossos pais. Diferente do que pensei, Yasmin estava se saindo muito bem para quem nunca havia jogado, na verdade, bem até demais.
Um pequeno público se espalhou ao redor da quadra.
— É minha... – Ana foi buscar a bola no fundo da quadra.
A bola passou entre as duas, que não puderam fazer nada.
— Ponto! – Gritei.
— Essas são as minhas filhas! – Ouvi o meu pai gritar e algumas pessoas ao redor também.
— Foi sorte. – Yasmin gritou do outro lado.
— Não chora, amorzinho, tem mais de onde saiu essa. – Mostrei o meu melhor sorriso.
Yasmin sorriu de volta.
“Irritante.”
— Não fica toda convencida, amorzinho, isso foi só um aquecimento. – A ruiva piscou.
Uma nova rodada começou, Letícia fez uma grande jogada e ao comemorar, abraçou a Yasmin. Segurei a raquete com mais força, aspirando o ar com calma e pronta para vencer. Queria mesmo era dar uma raquetada nas duas.
Disputamos cada ponto, as pessoas ao redor ficaram excitadas, até mesmo incentivando. O meu lado competitivo estava aflorado, eu queria mesmo vencer.
— Esse é o ultimo ponto e ganhamos, Lara. – Ana e eu trocamos olhares.
Aspirei o ar com calma, Letícia sacou a bola, eu rebati e Yasmin mandou de volta, a minha irmã se esticou toda e conseguiu buscar e depois de um disputado rally, Ana e eu vencemos.
— Isso!
Comemorei.
Ouve alguns aplausos dos nossos espectadores, isso me empolgou, me curvei para eles em um reverencia. Nos aproximamos da mesa que ocupávamos. O meu pai nos entregou garrafinhas com suco. Cheia de energia, abri com facilidade.
— Nossa, que jogo lindo. Lara, na próxima podemos jogar em dupla. O que acha, Telma? – Minha mãe tomou um gole de suco.
— Acho ótimo, pois sei que vamos vencer. – O seu bom humor perante os outros as vezes era como cutucar uma ferida.
A minha ferida.
— Com toda certeza, eu topo. Ah, Letícia e eu vamos querer uma revanche. – Yasmin falou.
Forcei um sorriso.
— Vou tomar banho, já volto. – Peguei a minha bolsa.
Eu não deveria deixar que a minha mãe entrasse tanto na minha cabeça, mas era a minha mãe. A mulher que me colocou no mundo e eu daria qualquer coisa para ter a sua admiração, o seu carinho, uma fagulha de um olhar orgulhoso. Um sorriso verdadeiro, um sorriso por minha causa.
“Eu sou uma estupida.”
— Tá tudo bem? – Me assustei, mas não me virei para olhar.
O meu humor ficou péssimo.
— O que você quer? – Tirei a minha toalha da bolsa.
— Nossa! O que foi que eu te fiz? – Aspirei o ar com calma, mordi a bochecha por dentro.
— Não fez nada, Yasmin. Absolutamente nada!
As duas mulheres que estavam no vestiário nos olharam e logo saíram.
— Pode sair? Quero tomar banho. – Continuei de costa para ela. — Se não for muito incomodo.
— Há vários boxes, Lara. – Fechei os punhos com força. — Minha presença aqui não te impede de nada.
— Sua amiga pode se sentir sozinha, melhor voltar. – Me movi para entrar em um boxe, mas fui surpreendida. — Ah!
Me assustei com o movimento brusco.
— Por que você tem que ser tão irritante, garota? – Yasmin me segurou pela gola da camisa polo branca. — Não consegue ser agradável por muito tempo?
Por um instante, fiquei atordoada.
— O que... o que pensa que tá fazendo? Me solta. – Tentei empurra-la, mas ela conseguiu me prender contra o armário. — Você que é irritante. Topou fazer essa merd* e agora fica flertando com outra na frente de todo mundo.
A minha respiração ficou irregular, ruidosa.
— Se fosse em outra circunstancia, diria que você tá com ciúmes, chatinha. – Tentei tirar sua não da minha blusa.
— Vai sonhando, garota! Me solta... tá machucando, Yasmin.
Ela me apertou mais, ficando perigosamente perto. O perfume amadeirado invadiu as minhas narinas outra vez e mesmo depois de quase uma hora de jogo, ela continuava cheirosa.
“Merda!”
— Que merd*, Yasmin. Solta a porr* da minha blusa! – A encarei.
— Você precisa esfriar essa cabeça.
Ela me puxou com mais força, me colocando dentro de um dos boxes e ligou o chuveiro, a água estava muito gelada.
— Yasmin! – A minha roupa ficou encharcada em segundos. — Tá... tá louca? Louca!
— Esfriou? Hein? – Ela desligou o chuveiro. — Agora você vai ficar com essa boca fechada, sua irritante.
Então senti a boca dela se chocar contra a minha, me paralisando no mesmo segundo, me deixando incapaz de reagir, afasta-la ou enfiar a mão na sua cara. Arregalei os olhos. Os lábios tão macios quanto veludo, mas exigentes, ch*param o meu lábio inferior ruidosamente, para voltar a gruda-los outra vez. Fechei os meus olhos, entre a indignação e o choque. O beijo bruto e sensual me deixaram vergonhosamente submissa, segurei a sua nuca com as duas mãos, então passei a corresponder àquele beijo.
Não consegui conter o gemido quando a minha língua foi ch*pada com sensualidade.
Senti as mãos de Yasmin sob os meus seios por cima da blusa, que àquela altura estava grudada ao meu corpo, e foi como se cada poro do meu corpo fosse invadido por um desejo sufocante. Os nossos corpos se grudaram, a urgência de cada toque não me deixava raciocinar.
Essa boca que devorava a minha, essa mulher que me subjugava...
— Aí, caramba... – Nos afastamos.
Yasmin colocou a mão na cabeça, jogando os fios vermelhos para trás.
— Meu Deus, eu não estava esperando por isso. – Ana Clara falou, muito chocada.
Eu estava chocada.
— Eu vou... vou pra piscina.
Yasmin saiu apressada, igual a um foguete, me deixando ali, sem saber o que fazer.
— Lara...
— Eu sei, Ana, eu sei... – Liguei o chuveiro. — Não fala nada, por favor.
Cobri o meu rosto com as mãos, toquei em meus lábios e eles estavam inchados, doloridos. Sentia uma pressão entre as minhas pernas e os bicos dos meus seios estavam duros como pedra.
Que porr* eu deixei acontecer?
— Me passa o sabonete, por favor...
Tomei banho com roupa e tudo.
Fiquei mais que o necessário no vestiário, troquei de roupa em silencio, pois Ana foi solicita e não falou nada, nem tentou nenhuma piada. Quando saímos, caminhei um pouco no automático. O gosto presente em minha boca não saia.
— Oi, querida... estava esperando vocês. Vamos pra piscina? Pedi um coquetel de frutas pra você. Aquele seu preferido... – O meu pai segurou em minha mão e na mão de Ana.
Ele nos conduziu até a área das piscinas.
— As encontrei...
Minha mãe se aproximou.
— Sua namorada é bem popular. – Minha mãe cochichou de forma maldosa. — Pelo visto, ela não leva tão a sério essa palhaçada.
Me afastei.
Olhei para onde ela apontava e Yasmin estava com a Letícia e mais duas garotas que eu não fazia a menor ideia de quem eram. Ela estava dentro da piscina, somente a parte de cima do biquini estava visível, uma peça preta. Uma tatuagem ficou a mostra no ombro direito, não dava para ver o que era.
Desviei o olhar, tomando a bebida que o meu pai pediu. Para o inferno ela e todas aquelas garotas.
— Quando vamos falar sobre o que aconteceu? – Ana sussurrou.
— Agora não, Ana. Por favor, agora não. – Coloquei os meus óculos escuros.
Precisava de Antonella.
A verdade é que eu não estava ouvindo nada do que as três mulheres a minha frente diziam, pois a minha cabeça não estava ali. Aproveitei que estava de óculos escuros e olhei para onde Lara estava. Ela mexia no celular, em sua outra mão havia um copo com um liquido amarelo. Já estava com outra roupa, os fios negros estavam úmidos.
“Vamos aos fatos: ela é uma mulher atraente, o que aconteceu foi consequência disso. Certo? Somos adultas. Não foi nada demais ou foi? Claro que não.”
Bobagem.
— Meninas, vou deixa-las um pouco. – Sorri.
— Tudo bem, Yas, vai ficar com a sua família e sua namorada. – Letícia retribuiu o sorriso. — E vou esperar o convite pra mais uma partida.
— Precisamos de revanche. – Tentei brincar.
Droga, o meu corpo ainda estava afetado pelo o que ocorreu.
Me despedi delas, nadando devagar até a borda da piscina. O que eu deveria fazer? Fingir demência? Pedir desculpas? Perguntar se ela queria outra vez? Beijar aquela irritante foi delicioso, eu não posso e não vou negar.
Mas e agora?
— Toma. – Ana me entregou um roupão atoalhado. — Tem gente demais olhando pro seu corpitio.
Um sorriso sapeca enfeitava a sua face.
— Obrigada. – Eu estava envergonhada? — Por zelar por minha honra.
Brinquei.
— Por nada, cunhada. – Ela tombou a cabeça para o lado.
— O que foi? – Amarrei o roupão.
— Então, você e a minha irmã. – Soltei o ar devagar. — Que amasso.
— Ela deve tá querendo me matar. – Ana riu.
— Disso, não tenha dúvida. – Mordi a minha bochecha por dentro. — Mas bem que ela estava gostando.
Ergui as sobrancelhas.
— Não me diga que vão levar a sério o namoro? – Ela riu baixinho.
— Olha, cunhadinha de mentira, sua irmã e eu namorando seria algo quase que impossível.
— Bem... é como você disse, Yas... – Ela piscou. — Quase.
— Impossível, pestinha, impossível...
— Sei... vocês iriam trans*r no vestiário. Impossível é uma palavra inexistente neste caso.
Resolvi ficar calada.
Caminhamos lentamente até a mesa que ocupávamos e o meu pai, sendo o cavalheiro que é, me deu o seu lugar ao lado de Lara. Ela não me olhou, parecia que eu nem estava ali. Ótimo, porque eu não sabia nem o que dizer. Passei apenas a ouvir a conversa dos mais velhos. O meu pai, que já havia tomado duas garrafinhas de cerveja e somente aquilo já era o suficiente para deixa-lo “alegrinho”, pegou a minha mão e a de Lara, colocando uma sobre a outra em cima da mesa.
— Assim é melhor. – Ele sorriu e voltou a conversar.
Não me atrevi a olhar para ela. Ana, que estava de frente para mim, apenas mexeu as sobrancelhas. Ela estava se divertindo horrores com o momento tenso. Eu só queria que acabasse o mais breve possível, para que eu pudesse voltar para casa e me açoitar.
Quase uma hora depois estávamos no estacionamento.
— Próximo sábado, aguardo vocês. – Joaquim falou. — Você joga muito bem, Yasmin.
— Não melhor que a Lara e a Ana, elas foram incríveis. – Certamente, eu acordaria dolorida.
Ao menos o pé que Lara atropelou estava bem melhor.
— Olha, parece que além de uma ótima namorada, a minha filha ganhou uma fã. – Pude ver Lara rolar os olhos.
— Foi ótimo o dia de hoje. – Minha sogrinha resolveu pôr um fim a todo aquele papo. — Vamos? Essa partida acabou comigo.
E eu fique levemente agradecida.
— Tá precisando de um cálcio, querida... – Joaquim brincou com a esposa.
— Então, a gente vê logo, querida... – Limpei a garganta.
— Sim, querida, vou te ligar. – Se ela tentou sorrir, não conseguiu, mais pareceu uma careta.
Nos abraçamos rapidamente, totalmente tensas. Ela entrou no carro com os pais e eu pude respirar, soltar o ar que nem havia percebido que segurava. O meu pai assumiu a direção, o que achei perfeito, pois assim poderia deixar a minha mente vagar.
“Que beijo... delicioso.”
Dei um beijo nos meus pais e subi para tomar banho, ficando quase uma hora dentro da banheira, ouvindo uma música nacional em meu celular. Me sentia estupida, dando importância a algo tão natural. Quantas mulheres já beijei? Tudo bem sentir tesão por Lara, mas ficar igual a um retardada por um beijo?
Toquei os meus lábios.
— Eu preciso trabalhar.
Me arrumei, saindo de casa depois das duas da tarde. Cheguei ao hospital e estava movimentado. Falei com algumas pessoas no caminho até a sala do diretor, que não estava trabalhando aquele sábado. Abri um documento no notebook, onde estavam as informações sobre a quantidade de médicos e especialidades. O hospital Pinheiro Gentil & Leal, contava com um amplo leque de especialidades. A estrutura estava impecável, pois Claudio fez um trabalho surreal. Era referencia no estado, atendia a pessoas de todos os estados do país.
Era uma pena que Claudio teria de deixar o cargo.
— Tão organizado.
Havia uma ala inteira de psicologia e uma lista grande de pacientes. O hospital abria vagas para pacientes de baixa renda para tratamentos, todos os meses mais de oitenta pacientes eram atendidos gratuitamente. Incrivelmente, a ideia nasceu de Patrick.
Me perdi nas horas, até que ouvi o meu celular tocar.
— Alô...
— Preciso conversar com você. – Rafa parecia estar em um lugar movimentado.
— Aconteceu alguma coisa? – Tirei a minha atenção do computador.
— Recebi um buque de flores na clínica. Foi você? – Franzi o cenho.
— Não, não foi eu. Você tem um admirador secreto?
— Admirador secreto? Que coisa mais infantil, Yas. – Ela estava de mau humor.
— Tem algum bilhete? – Segurei o riso.
— Tem sim... – Ouvi sua respiração. — Penso em você todos os dias...
Ri baixinho.
— Você vai mesmo ficar rindo de mim? É sério?
— Por que acha que eu te mandaria um buque com um bilhete desses? – Gargalhei.
— Sei lá, achei que você podia estar fazendo alguma gracinha. – A loira estava mesmo brava.
— Você deveria ligar pra sua peguete, a Sarah, trans*r loucamente. Isso vai melhorar o seu humor de velho. – Tirei os óculos de leitura. — Isso tudo por causa de um buque?
— O meu chefe resolveu testar a minha paciência. Me conta como foi no seu encontro com os seus sogros. – Torci o beiço. — Talvez melhore o meu humor.
Demorei alguns segundos para responder.
— Nossa... tão ruim assim?
— Eu beijei a Lara, me comportei como uma mulher das cavernas e agora estou no escritório, em um sábado à noite, porque não estou sabendo lidar. – Agora ela ficou em silencio.
Fui até a janela.
— Por essa eu não esperava. – Ri sem humor. — Foi bom?
— Teria sido bem mais fácil se tivesse sido ruim. Ela poderia ter bafo ou beijar mal, sei lá. – Rafaela gargalhou e eu soltei o ar com força. — Eu não queria misturar as coisas, Rafa, mas admito pra você, eu me sinto atraída por ela. Senti vontade de arrancar a roupa dela.
— E como ela reagiu a isso?
— Ela me correspondeu, a Ana pegou a gente no flagra e depois, ficamos fingindo que nada havia acontecido. – Suspirei. — Foi ridículo.
— Vai levar a frente? – Afastei o celular e olhei a tela.
— Levar a frente? Levar a frente o que, Rafaela?
— Yas, como eu disse, vocês são adultas e pelo o que parece, há uma atração mutua. Matem à vontade, o que pode dar errado?
— Pensei que não fosse adepta a sex* casual. – Ouvi sua risada.
— E não sou, mas se essa é a única forma de vocês resolverem, então façam. Não complica o simples...
Olhei para o relógio.
— Você tem razão. – Estalei os dedos.
— Eu sei. Eu sempre tenho... – Rolei os olhos. — Dessa vez vou seguir o seu conselho, preciso descontar as minhas frustrações em alguma coisa.
— Vai trans*r loucamente?
— Vou...
— Ótimo, então te vejo amanhã. – Era hora de ir.
— Até amanhã, ruiva. E vê se não pira...
A ligação foi encerrada.
Desliguei o computador, verifiquei se estava tudo certo, apaguei as luzes e deixei a sala. Caminhei pelos corredores do hospital, falei com algumas pessoas no percurso e quando me aproximei do meu carro, novamente notei alguém escorado nele.
Havia virado mania dessas pessoas.
— Posso ajudar? – Um homem alto e forte sorriu de forma sinistra. — Conheço o senhor?
— Você é a Yasmin Leal? – Senti um arrepio.
— Sou eu...
— Temos um recado pra você, princesa...
Senti o primeiro golpe nas costas, me levando ao chão e logo em seguida um chute que acertou o meu estomago e me tirou o ar, os meus olhos lacrimejaram e eu não consegui gritar, ficou preso em minha garganta. Um deles pisou em meu tornozelo com ainda mais violência, me causando uma dor indescritível.
Lagrimas inundaram os meus olhos.
— Não é nada pessoal, gatinha. Uma pena, você é muito gostosa, mas devia aprender a ficar longe da mulher dos outros...
— Que desperdício... você é bem gostosinha pra gostar de mulher.
Levei mais um chute que acertou as minhas costelas e logo em seguida, eu só vi escuridão. Pude ouvir algumas vozes ao fundo, pareciam distantes, passos e muitos vultos, nenhum tomavam forma. Não consegui me mexer e nem abrir os olhos.
Só sentia uma dor tremenda, fui perdendo os sentidos aos poucos.
Senti o meu corpo pesado, um som irritante de “bipe”, os meus olhos não davam conta de abrir, tentei me mexer, mas sem sucesso. Com muita dificuldade, consegui abri um dos meus olhos e estava tudo desfocado.
Que merd* aconteceu? A minha garganta estava seca.
— Por favor, meu Deus, que a minha menina acorde logo. – Ouvi aquela voz conhecida.
— Mãe? – Abri os olhos por completo.
— Oi, oi... estou aqui. – Ela olhava por toda parte, tentou pegar em minha face, mas recuou. — Tá tudo bem, minha filha, você tá segura.
— O que aconteceu? – A minha garganta doía, a minha voz saiu falha.
— Toma... – Mamãe colocou o canudinho em minha boca.
A água desceu rasgando.
— Vou chamar o seu pai, espera só um segundo. – Ela saiu quase que desesperada.
Eu estava em um dos quartos do hospital. A minha perna direita estava imobilizada.
— Yasmin... – O meu pai entrou acompanhando da minha mãe e o Hugo. — Não tenta se mexer, minha filha.
Ele focou uma lanterna em meus olhos.
— Sabe que dia é hoje? – Franzi o cenho.
— Eu estou bem, papai.
— Você estava desmaiada quando te encontraram, Yas. O que aconteceu? – Merda. — Tentaram te assaltar?
Como eu contaria isso a eles? Mil vezes maldita a hora em que me envolvi com aquela mulher.
— Mãe, depois a gente pergunta isso. – Hugo sorriu. — A Yas tá muito fraca.
Era visível que os três haviam chorado e eu me sentia péssima.
— Já mandei as imagens pra polícia, aqueles desgraçados vão ser pegos. – A voz do meu pai embargou.
Eu estava me odiando, as merd*s que fiz voltaram para me assombrar. Eu teria que contar tudo a eles.
— Foi tudo muito rápido, papai. O que aconteceu com a minha perna?
— Seu tornozelo foi torcido, vai passar um tempo sem andar sozinha. Você teve hematomas nas costelas e um corte na testa, mas graças a Deus, não quebrou nada e a lesão na testa foi superficial.
— A Rafa e a Lara estão lá fora. – Hugo falou. — Vamos sair pra elas entrarem. Elas estão muito preocupadas.
— Tudo bem... – Minha mãe beijou a minha testa. — Mãe, não chora.
— Eu só estou feliz, filha, você tá bem. – Os meus olhos arderam, mas não iria chorar na frente deles.
Preocupa-los mais ainda.
— A sua filha é forte...
Sorri.
— Estaremos lá fora, filha...
Eles deixaram o quarto, então pude deixar as lagrimas correrem. Um nó se formou em minha garganta. Contaria a verdade, não iria esconder mais essa merd* que havia feito. Quem teria mandado? A filha de Camille ou o marido?
Merda!
— Yasmin... – Rafaela entrou, vindo até a mim.
Ela segurou a minha mão.
— Estraguei a sua trans*...
— Não brinca, Yas. – Ela me olhou feio.
Olhei para a mulher parada logo atrás, sua expressão denotava desconforto.
— O que aconteceu? – Lara perguntou. Olhou para a minha perna imobilizada. — Isso parece que foi pessoal.
— Por que fizeram isso com você? – Aspirei o ar com calma.
— Yasmin, a Nicole, ela teria sido capaz de mandar alguém fazer isso com você? Aquela piranha teria a...
— Não, Lara, não foi a Nicole. – Abaixei o olhar, pois a vergonha não me permitiu encara-la.
— Você sabe quem fez isso? – Rafa perguntou.
— Não tenho certeza de quem foi, mas sei o motivo. – Olhei para as duas. — A Rafa já sabe disso, mas vou te contar, Lara...
Tentei me mexer, a minha costa doía naquela posição.
— Tive um caso com a minha chefe por um tempo. – Lara arqueou as sobrancelhas. — Ela é a dona da concessionaria em que trabalhava. Logo no início, eu não sabia que ela era casada, quando descobri, até tentei me manter longe, mas ela continuou vindo atrás...
Mordi a minha bochecha por dentro.
— Eu cedi, a gente foi amantes por uns dois anos, até que eu cansei e botei um fim. A filha dela ou o marido, um deles foi o mandante. Os caras que me espancaram deixaram claro o motivo.
— Filhos da puta... – Rafaela xingou.
Lara permaneceu calada, apenas me encarando fixamente. Isso só triplicou a minha vergonha, esse foi um dos piores erros da minha vida. Não me orgulhava em nada e se pudesse, faria tudo diferente.
Agora é hora de lidar com as consequências.
Fim do capítulo
É as coisas começam a complicar.
Comentar este capítulo:
Dessinha
Em: 04/11/2022
Affs que tenso isso hein! Mas é cada uma que nos aparece, justo agora essa loucura da Yasmin vir a tona, senti na pele a vergonha triplicada dela. Tomara que a Lara consiga passar por cima, uma pena.. mas faz parte do amor, conhecer até as piores falhas do outro. Adorei, mais um capítulo maravilhoso ;)
Resposta do autor:
Deve ter sido muito difícil pra Yas conta a verdade, mas ela foi bem corajosa e assumiu que errou e está arrependida, todos nós cometemos erros no passado que ruim de concertar. Mas a Lara foi bem compreensível, não julgou, seria bom de todos as pessoas fossem assim.elas ainda passaram por muito coisas juntas que terem que ser fortes juntas.
obrigada pelo comentário, vamos já postar o outro.
Ps. Tany
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patty-321
Em: 04/11/2022
Gente que capitado! Tensão total, os ciumes, o beijo e a agressão coitada da yas . Melhor foi contar a verdade.
Resposta do autor:
Foi difícil segurar o ciúmes em haha, acabam por ser transparente sem querer ser. Difícil resistir a um beijo pra quando se tá querendo muito beijar.
Yas fez o certo, confessar logo a verdade. Lara foi um amor de pessoa, todos nós um dia precisamos colocar algo pra fora. Ela fez sem medo, foi muito bom para as duas.
Vamos de cap novo??
Ps. Tany
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Lea
Em: 03/11/2022
Brasil,que beijo!!!!
Lara com ciúmes, não conseguiu nem esconder!
*
Eles quase que matam a Yasmin. O sonho que ela teve foi um aviso!
Com será que a Lara vai reagir a esse episódio,ocorrido com a Yasmin ?
*
Ana Clara já começou a agir, até flores para Rafaela ela enviou!
*
Boa noite, meninas!!
Resposta do autor:
Bom dia querida :)
O beijo que ambas precisavam pra bagunçar a cabeça delas haha. Lara com ciúmes foi fofa.
os sonhos as vezes são bem assustador mesmo quando algo acontece parecido, que sabe um aviso mesmo que em??
Ana clara tá toda apaixonada mesmo, vamos ver como Rafa vai reagir a isso..
Um Abraço.
Ps Tany
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