POV CATARINA

Meu coração dava solavancos, eu não estava esperando por aquele encontro, eu até já havia me conformado com a ideia de me esbarrar com Theodora, mas não agora, não com ela segurando Luna no colo.

-Oi Catarina. – A voz rouca entrou em meus ouvidos me despertando do transe.

-Oi minha princesa!  – Malvina apareceu e brincou com Luna no colo de Theo. – Que saudades de você.

-"Sôdadi" Mal. – Luna beijou o rosto da mais velha.

-Já conheceu nossa princesa, filha? – Theo estava mais perdida que tudo. – Ela é linda, né?

-É uma princesa mesmo. – Ela disse sorrindo. – Filha?

-Oi Theodora. – Ela perguntou me fazendo quebrar o silêncio. – Essa é a Luna, minha filha sim.

-É uma menina linda. – Ela me encarava de forma intensa, parecendo querer respostas. – Parabéns.

-Obrigada! – Eu estava tão sem jeito. – Bom ver você por aqui Malvina, como se sente? 

-Eu estou ótima, e bem feliz em ver minha pequena. – Malvina brincava com Luna que ainda estava no colo de Theodora. – Fiquei esperando vocês lá em casa.

-Ficamos meio sem tempo. – Theo não tirava os olhos de mim e eu não conseguia nem respirar direito. – Precisamos ir, está na hora dessa garota tomar banho.

Me aproximei de Theodora e dei os braços pra pegar minha filha, mas ela se escondeu no pescoço dela, fiquei super sem graça e Theo deu um sorriso.

-Ah porquinha, não gosta de banho, né? – Ela perguntou fazendo Luna sorrir.

-Você também fugia do banho, filha. – Malvina olhava a cena e gargalhou. – Suas babás sofreram com você fugindo.

-Mãe, para com isso. – Theodora repreendeu Malvina que continuava a rir.

-É a verdade. – Malvina deu os ombros.

Fabiana se aproximou trazendo uma bandeja com garrafas de água, Luna passou para o colo de Kátia e eu estava levemente incomodada com o jeito de Theodora, ela estava diferente.

-Cat, peguei os croquis com o Alessandro, gostei de todos. – Malvina se virou em minha direção. – Essa coleção vai ser um sucesso.

-Espero que sim, estou confiante. – Eu esperava muito dessa coleção. –Agora eu preciso ir, vamos, filha?

Luna me deu a mão, mas antes Theo se abaixou pra se despedir.

-Você é uma princesinha, tchau Lulu. – Ela brincou com o nariz da minha filha, que deu um sorriso tímido. – Tchau Catarina.

O meu nome saindo da boca dela era tão diferente, parecia tão frio, Theodora com certeza não é a mesma de oito anos atrás. Ela deu as costas e saiu.

-Cat, amanhã eu irei te mandar as minhas ideias para o desfile. – Malvina também se abaixou pra se despedir da minha filha. – Tchau meu bem, espero você lá em casa.

-Tchau Mal. – Luna beijou o rosto da mais velha.

Saímos e eu ainda não conseguia raciocinar com o que acabou de acontecer, meu coração ainda batia apressado, tudo estava intensificado, e eu precisava desabafar com alguém. Liguei pra Laura e pedi que ela fosse em minha casa.

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-E ai? o que mais ela disse? – Laura e eu estávamos sentadas na varanda do meu quarto.

-Qual parte do "Nós não conversamos", você não entendeu? – Eu já tinha narrado o encontro um milhão de vezes. – Theodora nem ao menos conversou comigo, ela passou o tempo dando atenção pra Luna.

-Ciúmes? –Laura sorria abertamente.

-Me recuso a responder. —Revirei os olhos. — Ela está diferente, não parece nada com a Theo que fez uma festa surpresa pra mim só pra me ver sorrir.

-As pessoas amadurecem, mudam, mas a essência da Theo é a mesma, eu posso garantir. —Laura sempre defendeu Theodora. —Ela se tornou uma mulher, não é aquela garota que deixava a mãe dominá-la.

-Eu percebi isso. – Concordei e Laura me olhava com seu olhar analítico.

-Cat, posso te perguntar uma coisa? – Acenei com a cabeça. – O que você esperava que fosse acontecer? Você estava esperando Theodora pular no seu colo dizendo que te ama?

-Claro que não.

-O que você quer? Você vive pelo seu trabalho, nunca mais te vi apaixonada ou se entregando para alguém, mas você também não quer admitir que dentro desse coração de metal, vive aquele amor de oito anos atrás, aquele amor que quebrou suas barreiras. – Eu não gosto quando Laura tem razão. – Você lembra que disse que não amava ela? E quando viu que estava grávida admitiu em voz alta que estava arrependida, eu me lembro do que disse. 

-Laura, eu não espero que ela venha correndo pra mim, eu não a amo mais, isso já passou. – Respondi em um tom mais baixo. – Eu apenas comentei que ela está diferente.

-Provavelmente vocês ainda vão se esbarrar por aí, ela não vai embora por agora e você é o braço direito da mãe dela, não dá pra você surtar toda vez que se encontrarem.

-É muito difícil desabafar com você, vamos mudar de assunto.

Acabamos mudando de assunto, mas vez ou outra ela tocava no nome de Theodora. Eu preciso parar de pensar nessa pessoa, isso não deve me atormentar mais, a partir de hoje eu me proíbo a sentir algo quando eu encontrar a Theo, a partir de agora ela será apenas a filha de Malvina, eu fiz a minha escolha anos atrás e vou mantê-la.

Depois do meu encontro com Theodora, nós não nos vimos mais, na verdade eu me afundei no trabalho e não vi quase ninguém, a coleção precisa ser entregue na próxima semana e o tempo estava passando rápido. Alê não saiu do meu lado, ele era meu braço direito, e a pessoa que mais me entendia.

-Pausa pro café. – Alessandro entrou em minha sala com uma bandeja nas mãos. – Deusas precisam se alimentar.

-Obrigada. – Ele me serviu uma xícara de café. – Estava precisando.

-Eu sei, pois você tá ai focada. – Alessandro se serviu e se sentou em minha frente. – Precisa descansar um pouco, você passa mais tempo aqui do que na sua casa.

-A gente precisa terminar essa coleção. – Respondi me encostando na cadeira.

-Mas você também precisa viver.  – Ele sempre estava ao meu lado, mas me chamava atenção quando necessario. – Você nem ao menos viu sua filha essa semana.

-Vamos mudar de assunto? Não aguento mais ouvir que estou trabalhando demais. – Ele suspirou e concordou.

Tomamos nosso café conversando amenidades, Alê me arrancava boas risadas, voltei a atenção aos meus papéis do casting de modelos e ele estava no celular olhando as redes sociais dele.

-Nossa, a filha da Malvina é uma gata. –Alessandro soltou sem se ligar no que dizia. – Olha isso?

-Alessandro? – Ele me encarou.

-Desculpa Cat, eu não fiz por mal. – Alê ficou super sem graça. – Eu viajei aqui.

-Tá tudo bem. – Dei os ombros e voltamos a trabalhar.

O resto do dia passou voando, Alessandro e eu focamos na coleção, ia ser tudo muito incrível, eu confio no meu potencial. 

A curiosidade estava me matando, desde a hora que Alessandro me mostrou a foto de Theodora, eu queria muito ir olhar o perfil dela, mas estava me contendo pra não fazer isso. A noite caiu e Alessandro foi pra faculdade, eu resolvi continuar e fiquei ali deixando a coleção ainda mais incrível.

Quando cheguei em casa já passava das uma da manhã, todos já estavam dormindo, passei no quarto de Luna e deixei um beijinho em seu rostinho, segui pro meu quarto e coloquei a banheira pra encher.  Retirei minha roupa e peguei meu celular, respondi algumas mensagens, inclusive a de Bianca que me cobrava confirmação na festa do Bento, avisei que iria, respondi alguns outros contatos e resolvi entrar no instagram, havia meses que minha rede social estava parada, quem tomava conta pra mim era o Alessandro. Rolei o feed até que minha curiosidade falou mais alto e eu digitei Theodora Barcellos na barra de busca.

THEODORA BARCELLOS

Advogada criminalista

Londres/Brasil

"Isso também passa"

Era o que estava escrito em sua biografia, desci mais e encontrei várias fotos do seu cotidiano, ela sempre estava sorrindo e brincando, havia várias fotos com uma garota chamada Johanna, mas não pareciam ser um casal, me deu uma pontadinha estranha no peito, mas embaixo tinha uma foto com o rapaz que eu vi na porta do prédio de Isis, os dois estavam abraçados e eu senti raiva ao encarar a foto.

Flash back on:

-Fico feliz que você tenha tirado aquela ideia da cabeça. – Laura e eu estávamos em um coquetel da Malvina ́s. – Isso era loucura Catarina, eu sei que quem deve decidir sobre o seu corpo, é você, mas isso pode te matar.

-Eu sei, e já me decidi. – Dei um gole na minha água. – Eu vou ter esse bebe.

-Fico feliz, e aviso que quero ser madrinha.

-Eu vou precisar de você ao meu lado. – Suspirei e ela alisou minha mão.

-Eu sei. – Ela me abraçou. – Mas e quanto ao pai?

-Eu não quero que ele saiba, ele é um babaca, Laura. – Minha amiga concordou com a cabeça. – Vai ser mais uma criança sem registro paterno.

-Não vou julgar, e qualquer coisa mentimos que ela é fruto de uma inseminação. – Deu um sorriso de lado.

-Sim, principalmente agora que a nova coleção leva a minha assinatura. – Laura prestava atenção no que eu dizia. – Seria péssimo se descobrirem que eu engravidei daquele modelo de quinta categoria.

Laura caiu na gargalhada e continuamos curtindo o coquetel. Eu já havia me acostumado com a ideia de ser mãe, Cadu e dona Geralda estavam mais felizes que pinto no lixo, até meu pai me parabenizou, mas logo perguntou de quem era o bebe, menti dizendo que era produção independente. 

Laura saiu para ir ao banheiro me deixando sozinha na mesa, peguei meu celular e fui fuçar o instagram, a rede social estava bombando e eu já havia ganhado muitos seguidores, principalmente depois que dei uma entrevista ao lado de Malvina. Depois de um tempo mexendo, cai em um perfil de fofocas e o primeiro post fez meu coração palpitar.

"Herdeira da maior estilista brasileira curte noite britânica ao lado de um possivel affair"

Os dois chegaram juntos a boate e passaram a noite trocando carícias. Theodora Barcellos, filha de Malvina Barcellos, não quis seguir os passos da mãe, e agora entendemos o porquê.

Depois de ler aquilo comecei a pesquisar por ela, mas não encontrei nada, Theo não tinha instagram, e eu não fazia ideia de quem era aquele cara que estava com ela, me senti mal e logo pedi ao garçom uma taça de Gin. De uma taça logo virou uma garrafa, e quanto mais Catarina pedia pra eu parar, mais eu queria beber.

-Catarina, você está gravida! – Ela disse enérgica.

-Eu não devia ter deixado ela ir, Laura. – Falei entre lagrimas. – Eu faço tudo errado.

-Ela quem? – Laura perguntou sem entender.

-A Theo. – Respondi soluçando. – Eu deixei ela partir sem dizer que eu também a amava. 

Flash back off:

Sai dos meus pensamentos quando a  água começou a esfriar, tirei uma selfie antes de ir e postei com uma música que gostava, não sei porque fiz isso, mas acabei postando e indo dormir.

O sábado amanheceu ensolarado, fui ao ateliê, eu não podia me dar o luxo de folgar fins de semana com o desfile em cima, passei o dia trabalhado e só me dei conta das horas quando Alessandro me ligou. Peguei meus croquis e fui pra casa, novamente não encontrei ninguém, fui direto ao meu quarto tentar dormir um pouco.

No domingo acordei com o barulho do latido do cachorro que Cadu deu a Luna, eu fui totalmente contra, mas minha filha era apaixonada no bixo, cobri minha cabeça, mas vi que era impossível dormir com aquele barulho.

-Será que dá pra vocês brincarem com esse cachorro em outro lugar. – Desci emburrada e fui logo xingando.

-Bom dia pra você também Catarina. – Minha mãe respondeu tomando café. – Que humor horrível. 

-Não dá pra ter bom humor quando se acorda com latidos estridentes. – Me servi com uma xícara de café e vi Luna entrando em casa correndo. – Luna vai sair?

-Hoje é a festa do Bento. – Minha mãe disse dando os ombros. – E também é a festa do sobrinho da Katia, ou seja, você  deu folga pra babá meses atrás, e também confirmou presença na festa do Bento.

-Ai, eu me esqueci disso. – Massageei minhas têmporas.

-Já tá "ponta" mamãe? – Luna ficou ao meu lado brincando com a fita do meu robe.

-A mamãe não vai poder levar você, filha. – Luna fez bico e encheu os olhos de lágrimas. – Mas você pode ficar aqui em casa brincando com seus brinquedos.

-Catarina você prometeu. – Minha mãe me repreendeu.

-Mãe, eu não posso ir, eu tenho mais o que fazer além de ir em festa de crianças. – Luna começava a chorar baixinho, minha filha nunca foi de chorar quando estava comigo. – A mamãe te leva pro ateliê, você que ir?

-Eu não acredito nisso. – Minha mãe se levantou irritada. – Vamos Luna, a vovó leva você.

As duas subiram e eu fiquei na mesa atolada em meus pensamentos, eu sei que havia prometido, mas me esqueci desse detalhe com Kátia, e também não podia deixar meu trabalho de lado pra ir em festinha de criança.

As duas saíram e nem me deram tchau, minha mãe estava irritada, e eu achava isso uma grande bobagem. Resolvi trabalhar de casa mesmo, passei o dia trancada em meu mini estúdio, fiquei tão concentrada em meu trabalho que nem vi as horas passado, só me dei conta quando ouvi a voz de Luna, desci e vi as duas sorridentes, minha filha estava toda descabelada e cheia de desenhos pelos corpo.

-Meu Deus, quem fez isso com você? – Perguntei assustada com a sujeira em que minha filha se encontrava.

-Foi a tia Theo. – Luna respondeu sorrindo, e eu fiquei sem palavras.  

-Por que você não me disse que a Theo estava no Brasil? – Minha mãe perguntou inquisitiva.

Fim do capítulo