POV THEODORA

Charlles tinha razão, a doutora Izadora Borges era uma espetáculo de advogada, sem contar que ela é uma gata, que mulher linda, Meu Deus! Eu passei mais tempo observando ela do que escutando o que ela dizia.

-Então doutora? – Izadora perguntou me tirando do transe. – O que me diz?

-Me desculpe, eu não ouvi. – Tiago me cutucou limpando a garganta.

-Ela perguntou se você pode ajudar a gente na defesa. -- Meu amigo me explicava de forma envergonhada.

-Sim, pelo o que o doutor Charlles disse, você é uma das melhores e com certeza vamos precisar de ajuda extra.

-Olha Iza, posso te chamar assim? – Respondi sorrindo. – Eu disse ao Charlles que não posso pegar o caso, minha mãe ainda está no hospital e eu não pretendo ficar no Brasil, mas não consigo negar ajuda e uma mulher bonita.

-Theodora!!!– Tiago me repreendeu e Izadora sorriu de canto.

-Brincadeira, mas me dê uma copia do processo, vou analisar e podemos nos encontrar novamamente. – Ela concordou com a cabeça e me entregou uma pasta. –Não prometo nada, mas darei o meu melhor.

-É um caso difícil, e estou sendo muito pressionada. – A coitada estava com o cansaço estampado na cara.

-Olha eu sei que é difícil, mas não se esforce além do limite. – Segurei sua mão por cima da mesa. – E se precisar se distrair pode me chamar, pra tomarmos um drink.

Pisquei pra ela que balançou a cabeça, Tiago fazia uma cara engraçada enquanto observava a cena. Ela precisou ir, pois disse que tinha que pegar a filha na escola, nos despedimos e marcamos de nos vermos quando eu tivesse uma resposta pra ela.

-Puta que pariu, você é uma máquina de flertar. – Tiago me empurrou pelo ombro quando doutora Iza saiu. – A mulher estava até sem graça.

-Quer apostar uma cerveja que ela me liga hoje a noite? – Eu sei ler as mulheres.

-Você precisa me dar uma aulas. – Tiago chamou o garçom.

-Primeiro você precisa aprender a beijar. – Falei sorrindo e ele me mostrou a língua, eu amava zoar ele sobre beijo, ferir o ego de homens é delicioso.

-Vamos embora. – Ele disse irritado.

-Isis me chamou pra ir na casa dela. – Respondi no meu whatsapp com uma mensagem da minha amiga. –Primeiro vou ir ver minha mãe, quer ir?

-Gostaria, quero conhecer minha sogra. – O encarei com cara de brava. – Brincadeira.

-Não vou nem responder você.

Ele passou o braço pelos meus ombros e saímos do restaurante, Tiago até tentava, mas dele eu só quero amizade. Chegamos ao hospital e dei de cara com Bruna, ela abriu um sorriso enorme quando me viu.

-Oi gatinha, que bom ver você aqui. – Me debrucei no balcão. – A recepcionista de mais cedo é antipática.

-Ela é insuportavel. – Ela disse sorridente. – Mas eu fiquei esperando uma ligação pelo menos. – Ela tinha uma carinha de decepcionada.

-Mas como eu iria te ligar? – Respondi sem entender. – Eu não tenho seu número.

-Eu pedi que te entregassem. – Bruna disse com naturalidade. – Enfim, ela deve ter perdido.

-Mas então anota aqui, quem sabe eu não te ligo mais tarde. – Pisquei pra ela e Tiago negava com a cabeça.

Depois de pegar o número da recepcionista subimos pra ver minha mãe, Tiago me encheu a paciência, pedindo o numero pra ele, dizendo que eu sou egoísta, não tenho culpa se ele é um bobo. Entrei no quarto e vi minha mãe lendo algo no ipad.

-Oi filha, entra. – Ela me recebeu sorrindo.

-Oi mãe, trouxe um amigo. – Malvina encarou o Tiago e abriu um sorriso enorme. – Esse é o Tiago, meu amigo que veio de Londres.

-Oi Tiago, muito prazer. – Minha mãe se ajeitou na cama.

-Olá senhora Malvina, é um prazer conhecer a senhora. – Ele se aproximou pegando na mão dela. – Como a senhora tem passado?

-Apenas Malvina, por favor. – MInha mãe odiava o termo senhora. – Estou ótima, pronta pra ir pra casa.

-Apenas com a liberação do medico. – Respondi me sentando na cadeira. – E eu espero que esteja lendo alguma obra de Simone de Beauvoir, e não esteja trabalhando.

-Eu preciso responder alguns emails, isso não é trabalho. – Neguei com a cabeça.

-Mãe, você tem uma equipe a sua disposição, será possível que ninguém possa fazer isso? – Minha mãe era uma viciada em trabalho.

-Me desculpe filha, é mais forte que eu. – Ela desligou o aparelho. – Me conte mais sobre você Tiago, também é advogado?

Os dois começaram a conversar esquecendo da minha presença, assunto não faltou pros dois e eu já estava achando tudo um tédio, peguei meu celular e fui zapear minhas redes, quando dei por mim já estava caindo na gargalhada com o grupo que Isis criou comigo e Ester. Depois de ver que a conversa dos dois ainda rendia, fui dar uma volta pelo hospital e vi Bruna de longe mexendo no celular.

-Que perigo uma moça sozinha por aqui. – Cheguei bem perto e ela se assustou.

-Que susto. – Bruna deu um sorriso lindo e se virou no banco.

-Posso me sentar? – Ela confirmou com a cabeça.

-Claro, estou fazendo meu horário de descanso.

Começamos um papo animado, ela era muito inteligente e me contou várias coisas sobre ela, me disse que cursa enfermagem e que logo logo se formaria. Ela era uma mulher interessante e quando dei por mim estávamos em um local mais afastado trocando alguns beijos intensos.

-Eu preciso voltar, Theo. – Ela interrompeu o beijo.

-Só mais um beijo. – Respondi sorrindo e avancei sobre sua boca.

-É sério, eu preciso ir. – Bruna me deu mais alguns selinhos e nos despedimos.

Marcamos de nos vermos depois e voltamos para dentro do hospital, subi pro quarto com um sorrisão e Tiago ainda batia papo com minha mãe.

-Filha, onde você estava? – Minha mãe perguntou assim que entrei em seu quarto.

-Fui dar uma volta. –Tiago me encarou e sorriu de lado.

-Tiago me disse que vocês vão pegar um caso aqui.

-Não sei ainda, eu estou pensando. – Olhei pro homem e ele ficou sem graça.

-Você deveria aceitar, filha. – Minha mãe parecia empolgada. – Assim tem mais tempo pra ficar aqui no Brasil.

-Eu ainda preciso resolver muitas coisas, mãe. – Tiago é um boca de sacola. – Mas eu prometo que ficarei até você se recuperar.

Ficamos conversando amenidade até o médico vir e dizer que minha mãe teria alta em breve, ficamos feliz com a notícia, hospitais não é algo que eu goste muito. Isis me mandou mais mensagens, Ester também queria me ver, então despedimos da minha mãe e eu pedi a Ramires pra nos buscar, Tiago se despediu prometendo visitar minha mãe novamente.

-Você estava com a garota da recepção, né? – Tiago perguntou quando já estávamos dentro do carro.

-Claro que não. – Respondi debochada.

-Para Theodora, eu te conheço. – Dei os ombros e não respondi mais.

Ramires seguia o trânsito, que não andava de jeito nenhum, o motorista parecia preocupado e ele me perguntou se podia fazer uma ligação, concordei e ouvi ele dizendo a alguém que não conseguiria buscar a pequena Luna, era a segunda vez que ouvia aquele nome, mas eu não fazia ideia de quem era. Deve ser alguma amiga da minha mãe, ou alguma modelo, também não me interessa, pois eu não estou interessada no trabalho de Malvina. Depois de longos minutos presos no trânsito, Ramires estacionou em frente ao prédio de Isis.

-Theo, me apresenta alguém aqui no Brasil, pelo amor de Deus. – Tiago desceu do carro e eu gargalhei.

-Minha amigas não são pro seu bico, mas quem sabe. – Ele sorriu de volta e entramos no prédio.

Toquei campainha e rapidamente o Arthur abriu a porta, dei um beijo no loirinho e ele nos deu passagem.

-Theoooo to aqui na cozinha. – Isis deu um grito e eu sorri pro Tiago.

Fomos até lá e a morena preparava uma bandeja de petiscos, ela estava vestida de um jeito mais despojado e estava gata.

-Oi minha gostosa. – Beijei seu rosto. – Esse aqui é o Tiago.

-Oi Tiago, beleza? – Os dois se cumprimentaram.

-Nossa, você encontrou alguém lá embaixo? – Isis perguntou receosa.

-Não, quem eu encontraria? – Dei os ombros.

-Deixa pra lá.

Mudamos de assunto e logo Ester chegou, eu estava com saudades da minha loirinha e finalmente conheci Valentina, filha dela e Luiza, as duas resolveram adotar a garotinha depois de dois anos de casadas.

-Que princesa mais linda! – A menina era a coisa mais linda e eu estava feliz pelas minhas amigas. — Meu Deus, todo mundo da faculdade arrumou filhos e casou.

-Falta o seu, né furacão? – Ester me abraçou apertado. – Estou feliz em ver você aqui.

-Eu também estou feliz em ver vocês. – Beijei minha amiga e fomos pra sala.

Apresentei o Tiago pra Ester e fomos colocar o papo em dia, elas me contavam mais fofocas e eu estava amando saber de todos os babados, mas Ester era outra que não tocava no nome de Catarina, eu não sei o motivo, mas eu queria saber como estava a vida dela, e o mais engraçado é que mesmo ela trabalhando pra minha mãe, eu não sabia nada sobre ela, não fazia ideia de quem ela se tornou.

-Mas e o resto da galera? – Perguntei querendo saber mais.

-Viramos adultos, Theo. – Ester respondeu. – Agora todos estamos muito ocupados.

-Você é filha da toda poderosa, então não precisa se preocupar. – Isis debochava de mim. – Mas cuidado, daqui a pouco o projeto de Malvina rouba seu lugar.

-Quem é essa? – Ester cutucou Isis e a campainha tocou, fazendo ela mudar completamente de assunto.

Isis abriu a porta e Enzo entrou com um sorrisão no rosto, corri e pulei nos braços dele, eu estava morrendo de saudades do meu Enzinho.

-QUE SAUDADES!!! – Nosso abraço era apertado e carregado de saudades.

-Que saudade, meu furacão. – Ele me beijou no rosto.

Apresentei ele pro Tiago e fomos colocar o papo em dia, eu sentia muita falta dele e estava apaixonada em como ele ficou lindo. Conversamos tanto que nem vimos a hora passar, só percebemos que estava tarde quando Luiza ligou pra Ester após o show, estava amando ver como as duas eram apaixonadas e eu estava mais que feliz pela minha amiga, estava com o coração quentinho por elas terem se acertado. Tiago precisou ir embora e Ester também, Valentina já estava cochilando e amanhã ela teria aula cedo. Conversei mais um tempinho com Enzo e Isis até que eu decidi ir pra casa.

Eu estava cansada e já estava tarde, eu já havia dispensado o Ramires então fui pra casa de uber, as palavras de Isis martelavam minha mente, alcancei meu celular e digitei Catarina no instagram, apareceu varias, mas nenhuma era a minha Catarina, quer dizer a Cat que eu conheci. Entrei no perfil da Malvina's e fui procurar por lá alguma Catarina, rolei o feed e encontrei uma foto dela ao lado da minha mãe, cliquei na marcação e aparecia por Cat Avelar. Ela sempre me disse que queria um nome marcante pra quando fosse uma grande estilista, cliquei no nome e logo apareceu várias fotos dela, todas eram sobre trabalho, parecia tudo robótico, quase uma extensão da minha mãe, neguei com a cabeça e saí do perfil dela, não dava pra saber nada sobre ela, apenas que ela era linda e que fez seu nome, ela conseguiu, se tornou uma grande estilista, assim como ela sempre sonhou.

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Os dias se passaram e minha mãe teve alta, agora ela estava em casa e eu fiquei mais tranquila, meu pai não conseguiu vir ao Brasil, mas disse que viria visitá-la em breve, minha mãe revirou os olhos, mas eu sei que ela ficou animada com a notícia. Eu comecei a ler o processo do amigo de Charlle, me propus a ajudar a doutora Iza e faria o que pudesse, fiquei tão envolvida no processo que nem via os dias passando, vi Isis algumas vezes, mas foi muito rápido, soube que Luiza estava de volta à São Paulo e eu estava ansiosa para vê-la.

-Com licença, a senhora Malvina lhe aguarda em seu quarto. – Claudia entrou no escritório.

Pensei que ela estivesse sentindo alguma coisa, então subi correndo, cheguei quase ofegante em seu quarto.

-Está tudo bem, mãe? – Ela me encarou confusa.

-Eu estou ótima. – Minha mãe estava de pé se vestindo. – Só vim te avisar que estou indo a Malvina's.

-Negativo, o médico não liberou você pra trabalhar.

-Eu não estou indo trabalhar, mas preciso ir ver o andamento da minha nova coleção.

-Mãe, você não vai. – Falei decidida.

-Theodora, eu preciso ir. – Ela abotoou o colar. – Eu juro que não vou fazer nenhum esforço, mas eu preciso ir até lá. Catarina, ficou de vir aqui, mas teve um imprevisto, e não foi ao ateliê hoje.

-Então eu irei com você. – Minha mãe me encarou.

Em menos de meia hora eu me aprontei e desci, minha mãe já me esperava lá embaixo, e me encarou com uma expressão diferente.

-Gostei da roupa, fez as combinações certas, apesar de não ser da minha marca. – Ela falou sorrindo. – Vamos?

Entramos no carro e conversamos amenidades, minha mãe estava muito mais tranquila, e leve, até mesmo com o Ramires ela conversou durante o caminho, coisa que nunca vi ela fazer. Chegamos em poucos minutos, subimos e um sentimento nostálgico me atingiu, não sei se era bom ou ruim. As portas do elevador abriram e vi os funcionários assustados correndo de um lado para o outro.

-Senhora Malvina, não esperamos vê-la aqui hoje. – Uma moça loira e alta nos recebeu.

-E eu esperava vê-los trabalhando, Fabiana. – A mulher engoliu seco. – Onde está o Alessandro?

-Está na sala de criação. – Ela respondeu em um fio de voz e eu encarei minha mãe.

-Vou até lá, e essa é minha filha, Theodora. – Dei a mão pra mulher e ela me deu um sorriso tímido. – Você vem, filha?

-Acho que vou ficar por aqu. – Sorri pra Fabiana e ela colocou uma mecha de cabelo pra trás.

-Ok, se precisar de algo peça Fabiana. – Minha mãe saiu e nos deixou sozinhas.

-Então Fabi, bonito nome. – Elogiei e vi suas bochechas corar.

-Obrigada, aceita uma água ou café? – Ela perguntou timidamente.

-Água, pois está quente aqui. – Respondi de forma cafajeste.

-Ok. – Ela saiu e eu olhei para o seu rebol*do.

Fui prestar a atenção no ateliê e nada aqui tinha mudado muito, tudo era a cara da minha mãe, e sorri ao lembrar de como eu detestava essa decoração, hoje eu entendo que minha mãe é a melhor no que faz.

-Luna, não corre. – Ouvi uma voz atrás de mim e uma gargalhada infantil, quando fui me virar a garotinha se enroscou em minhas pernas.

-Hey, cuidado. – Me abaixei e ela me deu os braços. – Você pode se machucar, princesa.

-Me desculpe senhora, ela está terrível hoje. – A mulher que parecia ser a babá respondeu tentando pegar a garota do meu colo, mas ela não quis.

-Como é o seu nome? – Perguntei sorrindo.

-Lulu. – Ela respondeu com a vozinha infantil que me derreteu.

-Katia, eu pedi que você me esperasse lá embaixo. – A voz firme de Catarina ecoou atrás de nós.

-MAMÃEEE. – Luna se virou e quase caiu, se eu não estivesse segurando.

Me virei lentamente, meu coração batia apressado e quase saiu pela boca quando vi Catarina parada em minha frente sem reação.

-Oi Catarina.

Fim do capítulo