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A tragicomédia de Morgana por shoegazer

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Palavras: 3653
Acessos: 513   |  Postado em: 02/11/2022

Pílulas de dopamina

Camille acabou se tornando nossa nova diretora, para minha sorte. Ela, diferente de tantos outros que conhecemos, costuma ouvir as ideias que vem do corpo criativo e faz questão de ter, segundo suas palavras, uma boa relação com a roteirista principal que, nesse caso, sou eu.

E hoje é o dia do processo de audição dos atores principais e secundários, que se constituem em oito. Inclusive, ela já mudou a cor do cabelo pra rosa e fez um risco nas laterais, usando uma camiseta de uns dois números maior que o habitual e uma camisa tão folgada quanto indo contra a calça skinny de joelhos ralados. Já eu... Não se espera grandes mudanças visuais de mim além do esperado, com a diferença que resolvi aderir a peça que ganhei há uns dias atrás.

 

Hoje já é último dia de audições, e ainda não fechamos o ator principal. Já vimos pelo menos vinte atores, dos mais experientes a novatos, mas nenhum nos agrada. O personagem principal é alguém carismático, do tipo que te chama atenção no momento em que bate os olhos nele, peculiar, único. Sabíamos que não seria uma tarefa fácil, ainda mais com as especificações que o personagem pede, mas todos... Parecem superficiais demais.

E o ritmo de trabalho é intenso, o qual vai piorar conforme começarmos a gravar. São muitos pormenores até que se chegue ao produto final... E é cansativo. Estou há dias só acordando, comendo, vindo pra cá, saindo já tarde da noite e indo pra casa só pra dormir. Divido meu tempo entre ficar com Camille e na sala com os roteiristas adjuntos, que são um rapaz e uma moça. Nos reunimos e debatemos cada parte elencada e, para nossa sorte, nenhuma discussão até agora. Nossas divergências são debatidas até chegar a um acordo, e não gosto da ideia de dar a palavra final. É um trabalho colaborativo embasado no que fiz, não a satisfação de minhas vontades... Eu sou só parte de um trabalho, não ele inteiro.

E Camille diz que é justamente meu jeito de pensar que faz com que trabalhar comigo seja mais fácil. Passamos o dia juntas no mesmo espaço, então é necessário que nossa relação seja boa. Além do mais, temos ideias em comum que facilitam o processo.

— Ainda faltam mais cinco – ela diz olhando pro tablet – eu espero que pelo menos um desses seja ideal pro personagem...

Afundo na cadeira, cansada. Ela está no terceiro copo de café, e ela suspira exausta. Estamos o dia inteiro nisso...

Mas os quatro posteriores que entram são o mesmo que todo o resto que vimos, e antes de entrar o último, ela pressiona as têmporas, exasperando.

— Ainda falta mais um – digo tentando reconforta-la – vai que seja ele.

— Tomara, porque não sei se tenho cabeça pra esticar isso até amanhã... – ela passa o indicador pelo tablet, falando em direção a porta – O próximo, por favor.

Então ele entra. Um rapaz que deve ter mais ou menos minha altura, cabelos na altura das orelhas, mas penteado pra trás, arrumado. Também usa uma camisa social preta de mangas compridas enroladas até seu cotovelo, calças jeans e um tênis gasto. O que mais me chama atenção são seus olhos, de uma maquiagem pesada, lápis de olhos malpassados, uma cruz que pende em seu pescoço... Ele encarnou o personagem em nossa frente, exatamente como eu o imagino.

Camille pergunta qual seu nome e a cena ele vai atuar das que selecionamos, e ele escolhe a sete, que considero a mais complexa por ser uma das mais delicadas. Se ele já tinha me prendido a atenção pelo visual, agora a tomou por inteiro.

E sua atuação, eu...

Não consigo tirar os olhos de seus gestos, da sua fala, dos seus olhos tão expressivos, como se ele tivesse encarnado o personagem sem mesmo o conhecer por inteiro. Camille me olha de relance enquanto sequer consigo desviar o olhar dos gestos dele.

Quando termina, ele agradece pela oportunidade e sai. Ela, ainda acessando o tablet, começa a falar.

— Você gostou dele?

— Eu o acho perfeito pro papel – dou com os ombros – mas, e você?

— A atuação dele é meio crua... – Ela vira pra mim – mas é o mais expressivo de todos. Orna bem com o papel.

— Então fechamos com ele?

— Por mim, sim – diz Camille se levantando – só queria o seu aval pra repassarmos logo isso pro jurídico.

Nem acredito que conseguimos fechar isso hoje...

Nos levantamos, arrumamos a sala e saímos. Demoramos mais alguns longos minutos repassando os dados para o jurídico...

— Agora é torcer pro núcleo se entrosar bem, e cruzar os dedos para o casal ter uma boa química... – comenta Camille enquanto saímos – Por que se tiverem... Vai se preparando pras entrevistas dos prêmios que vamos ganhar.

Ela não estava mentindo quando disse que entrou nessa de cabeça. Eu queria ter essa convicção, porque eu acho que a cada momento, vai dar tudo errado, principalmente quando isso for lançado. É melhor não ter expectativas do que tê-las e as verem ser totalmente quebradas.

— Ei, meninas – a recepcionista chama nossa atenção – uma produtora deixou uns ingressos, está aqui o de vocês – e entrega os respectivos ingressos em nossas mãos.

Um par de cada para uma peça de teatro. Agradeço assim como Camille e descemos o elevador. Olho para os ingressos, e vejo que é um musical bem conhecido, datado pra hoje.

— Você vai? – ela pergunta para mim de relance – Vou dar eles pra minha irmã, ela que gosta dessas coisas...

— Sério que não vai? – digo de relance – Acho que vou dar uma passada por lá, faz anos que não vejo uma peça... – oito anos pra ser mais exata em um teatro, mas a última que assisti foi a que roteirizei na minha antiga casa.

— Sim, e agora só quero aproveitar que saímos mais cedo e ir pra casa tomar um banho e assistir alguma coisa, de preferência uma alienação bem vagabunda... – diz ela suspirando. Quando chegamos no térreo, nos despedimos e olho para os ingressos mais uma vez antes de guarda-los na carteira.

Acho que já tenho a programação em mãos.

Vou para casa, e quando chego, para minha felicidade, encontro minha irmã em casa fazendo a janta. Pelo cheiro, deve ser fricassê de frango, ou pelo menos algo parecido.

Faz dias que não encontro minha irmã assim. Quando saio de casa ela está dormindo e quando chego, ela não está. Claro que esses sumiços dela me deixam desconfiadas, mas ela diz que é por conta do trabalho que arranjou. Pelo menos, aparentemente, ela está bem, e não encontrei nada de suspeito em casa, mesmo procurando.

— Que milagre é esse você em casa? – digo me atirando no sofá.

— Não tenho nada pra fazer hoje à noite e também não estou a fim de sair... – diz ela de costas pra mim – Olha ali na mesa. Comprei um negócio pra ti.

Tem uma caixa embrulhada na mesa. Vou até lá e a abro com cuidado, e quando levanto a tampa, vejo que é um desses telefones de última geração. Pego o aparelho leve, fino e o encaro como se fosse um objeto alienígena.

— Tá bom de dar uma de diferente e começar a se adequar ao seu trabalho.

— Ah, obrigada, Isolda – digo tentando expressar alguma reação, mas nada. Esse tipo de coisa é indiferente pra mim – já mexo nele, só preciso fazer uma ligação...

Pego e ligo para o número. Se não fosse algo tão em cima da hora, eu mandaria mensagem.

— Alô? Sim, eu mesmo, estou atrapalhando? – começo a falar andando para os lados, e vejo o olhar da minha irmã me seguindo – É que... Eu ganhei umas cortesias pro teatro e quero saber se gostaria de ir. Sim, é hoje. Ah, entendo não poder ir... Sério? Umas oito e meia então. Até mais tarde então.

Desligo e com isso, o aparelho. Sento na cadeira e começo a desbravar o smartphone.

— Vai sair com a tenista?

— Sim, eu... – digo lendo as instruções – Ganhei os ingressos pro Fantasma da Ópera – e desmontando o aparelho conforme indicado – e sei que você não gosta.

— Prefiro que quebrem minhas duas pernas do que perder meu tempo em uma chatice dessa – ela revira os olhos, olhando pro forno.

— Pelo menos é teatro – digo já colocando o chip no celular novo – se fosse entre ver balé clássico e levar um tiro, ia logo perguntar qual é o calibre da arma.

Estranho ver a casa vizinha em silêncio, mas sei que é porque Isabela está passando os últimos dias mais na faculdade e no trabalho do que em casa. Segundo suas palavras, ela não tem maturidade o suficiente pra ficar em casa sem se distrair batendo na porta da nossa pra gente fazer alguma coisa juntas.

Depois de ligar o telefone, vou tomar um banho e trocar de roupa. Esse tipo de lugar pede uma vestimenta mais formal, então pego minha calça social preta, camisa de botão azul claro e tênis porque não uso outro calçado além disso e chinelos. Uso um dos perfumes de Isolda atrás da orelha, no pulso e nas dobras dos cotovelos – assim como ela me ensinou – e volto para a cozinha. Espero-a tomar banho para comermos juntas, e enquanto isso mexo nesse telefone vendo o que tenho que baixar. Por ora, só um aplicativo de mensagens mesmo que sempre perguntam se eu tenho e pronto. Só tenho seis contatos na minha agenda mesmo...

Jantamos e assistimos a um desses programas que ela adora de encontro de casais, que se resume a mulheres e homens todos parecidos um com os outros se pegando e se xingando depois dentro de uma casa. Acho que é esse tipo de coisa que Camille chamaria de alienação vagabunda, porque você sabe que é ruim, mas não consegue deixar de assistir.

Meu telefone vibra na hora que uma das mulheres pega a outra pelo cabelo. É Raquel dizendo que está embaixo me esperando.

— Divirta-se – Isolda diz beijando meu rosto assim que me levanto.

Ela me espera no carro – o mesmo da última vez – e assim que desço, ela abre a porta do carona pra mim. Sento ao seu lado, e dessa vez ela não está ouvindo nada com uma guitarra pesada e gritos temerosos. É uma coisa que tenho a impressão de ter ouvido em algum momento da vida... Olho pro painel e vejo que é Led Zeppelin. Ah, é isso!

— Tinha um colega que amava essa banda – digo apontando para o painel. Lembrei porque já vi ele usando uma camiseta com esse nome escrito.

— Jura? – diz ela levantando as sobrancelhas – Um homem de bom gosto então.

Bom gosto eu não sei responder, mas que tinha um TOC terrível, ele tinha. Nossa, às vezes eu até esqueço do teor do lugar onde eu morava. Com o tempo, começamos a relativizar o que não consideram normal...

Às vezes a pessoa não estava lá por causar risco a si ou aos outros, e sim só por não quererem lidar com o que a pessoa tem. No caso dele, seu TOC tinha sido agravado depois de uma rotina de maus-tratos pelo pai, que o considerou inapto e o levou para lá, deixando-o pior... Infelizmente não era diferente da realidade de muito de nós ali. Suspiro pesarosa ao lembrar dessas coisas, e Raquel percebe, olhando de relance.

— O que foi? – diz ela voltando o olhar pra frente – Ficou calada de repente.

— Nada, só estava... – cerro os olhos – pensando em umas coisas.

Ela usa o cabelo preso atrás das orelhas, solto. Usa uma camisa de botão estampada aberta e pelo que dá pra ver de onde estou, uma regata lisa por baixo. Um cinto e jeans de cintura alta se prendem na regata também.

Ela fala um pouco da sua rotina familiar conflitante no caminho: com suas irmãs chegando nesse final de semana, está cada dia mais difícil pra ela manter seu bom humor. Seu pai pede calma, mas ela nega, e sua mãe fala que ela tem que ser mais tolerável, e ela nega ainda mais, falando que são duas babacas detestáveis, então começa a discussão que envolve respeito à figura paterna e não conseguir engolir ter que aguentá-las por tanto tempo.

Chegamos na portaria e descobrimos que os lugares marcados são no camarote, então seguimos para o terceiro andar, parando em um espaço com vista privilegiada da peça com mais outras pessoas. Sentamos e esperamos. Esse tipo de evento é necessário que se chegue com antecedência como respeito aos atores. Sim, infelizmente devo essas etiquetas a minha mãe.

A última vez que vi Fantasma da Ópera eu era criança, então vai ser como assistir pela primeira vez. Raquel cruza os braços, olhando séria ao redor.

— Como foi hoje?

— Conseguimos fechar o núcleo de atores – digo em um sussurro, mais outra etiqueta incrustada no meu inconsciente – agora é entrosamento e gravação.

— Deve estar puxado mesmo, porque desde semana passada te mando mensagem e você só responde no outro dia de manhã... – ela diz rindo – Até estranhei quando me ligou.

— Eu passo o dia todo migrando de um lugar pro outro, conversando com os outros roteiristas, tendo que decidir coisa junto com a diretora... – dou um riso desanimado – Não sei de onde tirei disposição pra vir.

A peça começa, e ficamos em silêncio. Mesmo passando o dia lidando com isso, assistir e apreciar do lado de fora é uma experiência diferente, ainda mais no teatro.

Faz tanto tempo que não me vejo nessa posição que até esqueço como é prazeroso, ainda mais com o conhecimento que tenho agora sobre os bastidores, sem contar que esse espaço é confortável. A iluminação está ótima, dando o drama perfeito, o cenário também é coisa de primeira classe, e o ambiente climatizado...

Talvez esteja me deixando sonolenta. Meus olhos pesam, mas pisco, me mexo, me ajeitando na cadeira pra me distrair, mas o cansaço continua presente, até que encosto minha cabeça no encosto da cadeira, mesmo relutante. Mas, no final das contas acabo pendendo para o ombro da minha acompanhante, que nada diz. Com meu corpo encostado no dela, sinto que tenho o apoio que queria...

Estou me sentindo sonolenta demais, mas balanço a cabeça na tentativa de me despertar, e ela dá um riso breve, contido ao ver essa situação, mas continua em silêncio. Deve estar já na metade da peça quando tento ajeitar minha postura que desliza na cadeira e minha mão toca algo macio...

Que é sua coxa esquerda, coberta pelo jeans grossos de sua calça.

Quando abro os lábios lentamente pra pedir desculpas pelo gesto, ela segura minha mão, deslizando a sua por baixo da palma da minha, e fechando devagar com os dedos. Olho para ela de relance, mas ela continua olhando pra frente, séria.

Sim, ela está com a mão dada com a minha, e... Eu deveria fazer alguma objeção a isso? Porque, se for errado, então admito que, pelo menos agora, continuarei errando.

Sua mão traz um calor afável na minha, e acabo procurando por mais disso colando meu corpo no seu, voltando a apoiar minha cabeça em seu ombro, assistindo à peça...

Quando percebo, já estou abrindo os olhos, desperta com o barulho dos aplausos. Levanto a cabeça, olhando ao redor, assustada. Olho para o lado, e lá está Raquel, aplaudindo também, e rindo ao me ver assim. Com certeza ela deve estar pensando que eventos sociais me animam tanto que acabo dormindo em todos que vou, mas como álibi, estava exausta em todos.

Minha mão ainda está morna, suada pelo toque que não era só um sonho ou delírio. Foi bem real.

Na hora que descemos, há muita gente saindo ao mesmo tempo, então acabo segurando em seu braço esquerdo com receio de sair do seu lado. Ela também não faz nenhuma objeção a isso.

Sei que tenho ressalvas em relação a contato físico, mas agora eu mais me questiono se estou fazendo certo em estar assim do que realmente com receio disso acontecer.

Entramos em seu carro, ela dá a partida e deixa a música baixa. Passamos alguns minutos em silêncio até que decido quebrar o gelo.

— Desculpe, eu acabei perdendo parte da peça...

— Relaxa, você mesmo disse que estava exausta.

— Você gostou?

— Acho que sim, achei umas partes meio chatas, depois não consegui prestar muita atenção...- ela dá com os ombros – Mas o final é legal.

Ela para no sinal, e deslizo no banco, olhando pela janela.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Qual? – Raquel pergunta já saindo do ponto morto e descendo a rua.

— O que você acha de mim? – apoio minha cabeça no vidro, voltando meu olhar para ela.

— O que acho de você? – ela dá um riso breve – Como assim?

— Você não me acha estranha, nem nada do tipo?

— Não – ela diz mais como uma interrogação do que uma afirmação, e volto a olhar para a rua.

— Porque às vezes, sinto que não me encaixo em lugar nenhum...

— Se isso for ser estranha – Raquel prossegue dobrando a rua – acho que todos nós somos, mas... Por que está me perguntando isso?

— Porque estou me questionando se é estranho da minha parte querer te ver mais vezes.

Posso culpar o sono, o cansaço, o meio diverso em que vivo, as atuações tocantes que vi no decorrer dos dias, mas a verdade é que disse isso porque faz dias que penso nisso. Desde nosso último encontro, tenho pensado em um meio de poder chama-la para sair com o único pretexto que eu queria a ver, e por isso eu saí de casa hoje, mesmo cansada.

Mas, acho que isso não surpreenderia a ninguém se eu contasse.

Ela fica em silêncio, mas ele não me incomoda. Tem certas coisas que nos sentimos bem em só compartilhar, não necessariamente esperando uma resposta. Para o carro na vaga de frente do prédio, mas, diferente das outras vezes, ela desliga o carro logo que destravo o cinto.

— Bem, boa noite – digo tentando sorrir, mas na verdade, por dentro estou uma pilha de nervos porque sinto que falei alguma besteira, mas não tenho coragem de pedir desculpas.

Ela está me olhando muito séria. Sequer me responde, o que deve ser um sinal evidente que realmente falei besteira.

Meu corpo está entrando em alerta vermelho. Meu ventre é tomado por um frio que sobe pelo meu corpo, chegando até meu pescoço e se alocando na boca do meu estômago. Minha cabeça está confundindo tudo.

Abaixo meu olhar e, suspirante, coloco a mão na trava, mas a sua mão encontra a minha, e olho pra trás pelo ombro. Suas mãos deslizam por minha cintura e me abraçam.

Eu estou tremendo dos pés a cabeça de nervosismo, e sinto seus lábios tocarem meus ombros, assim como sua cabeça antes de apoiar seu queixo no meu ombro direito a ponto que posso ouvir sua respiração.

Fecho os olhos. Meus lábios estão trêmulos, assim como minha respiração ofegante. Minhas mãos encontram as delas, ainda assim, e deslizo as unhas recém cortadas pela superfície antes de pousar minhas mãos nas delas. Eu gosto do seu toque mais do que penso que posso admitir.

Eu não posso olhar pra trás. Eu não devo olhar pra trás.

Eu não quero sair daqui...O que está acontecendo?

Só que, depois de um período de tempo ao qual não consigo contar, suas mãos se desvencilham de mim e ouço a porta destravar. Não tenho coragem de olhar pra trás e me despedir, e assim saio.

Escuto o carro dar a partida, e parece que só quando ela vai embora consigo respirar. Minhas pernas tremem demais, e meu corpo é tomado por um intenso frio. Tenho dificuldade de dar o primeiro passo e o seguinte até chegar a portaria e subir para minha casa.

Meu cérebro não consegue digerir o que acabou de acontecer. Não consigo acompanhar a sequência de fatos. Minha cabeça pesa, e a apoio para trás, no elevador. Minha linha de pensamentos se tornaram um emaranhado de fios sem conexão. Meu estômago começa a revirar, e isso me causa um breve enjoo.

Sinto como se tivesse adoecido do caminho de casa pra cá. Mal consigo respirar ao abrir a porta e me sentar no sofá. Com exceção da luz da sala, está tudo desligado.

— Isolda? – chamo por ela, mas nada.

O calafrio volta a tomar conta do meu corpo, mais intenso daquela primeira vez, vindo a galopadas. Coloco minhas mãos contra o rosto, pressentindo que vou ter uma crise, temendo que ela vá aparecer...

Mas, quando abro os olhos, não tem ninguém além de mim mesmo. Pisco mais algumas vezes, sem acreditar nisso. Como... Como isso aconteceu?

Meu novo telefone vibra em cima da mesa. Pego e vejo que é uma mensagem dela. Abro e vejo a seguinte frase.

“Eu também.”

Acho que vou vomitar, e isso me deixa ainda mais nervosa.

Coloco a mão no peito, respirando lentamente, tentando entender o que está acontecendo comigo. Não, não faz sentido nenhum.

Escuto música vindo do lado, e bato na porta. Isabela logo me recepciona com o cabelo preso, um pincel atrás da orelha, uma camiseta velha com respingos de tintas por toda ela e uma bermuda já cinza. Quando ela olha pra minha cara, franze a sobrancelha.

— Nossa, Morgana, tu tá bem?

— Não... – sinto mais uma vez aquela sensação invadindo meu corpo – eu... Acho que estou morrendo.

Fim do capítulo


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Comentários para 18 - Pílulas de dopamina:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 02/11/2022

Eita!

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