Diga meu nome por Leticia Petra e Tany
Capitulo 5 - Que se inicie os jogos.
Antonella e Rafaela não facilitavam e eu nem me atrevi a revidar, pois seria muito pior, só as divertiria mais. Yasmin estava calada, se portava como uma pessoa acima daquilo tudo. Ela estava diferente, menos irritante. Ao menos naquele momento. Ela estava vestida com um short folgadinho preto, curto, de cintura alta e a barriga estava levemente a mostra por do top também preto. Um blazer vermelho longo e um salto alto completavam o visual.
Uma coisa não se podia negar, ela é uma mulher muito linda e atraente, e descobri agora que quando assume uma postura tão séria, fica mais ainda.
“Espera... eu acabei mesmo de pensar isso? Não. Calma, Lara. Você só está dizendo o obvio, afinal, basta olhar para ela. Não gosto dela, mas não posso ser hipócrita e dizer que a mulher extremamente cheirosa ao meu lado não é o tipo de qualquer homem ou mulher.”
— Aff...
— Disse alguma coisa? – Pisquei várias vezes.
— Não, não. – Merda!
— Ativem as atrizes que há dentro de vocês, meninas. – Chegamos ao condomínio. — Estou louca pra ver isso mais uma vez e dessa vez na frente da vaca da sua mãe, Lara.
Iria encarar a minha mãe pela primeira vez depois de ontem.
— Vamos estar lá, meninas. – Rafaela, que virou para nos encarar, falou. — Não se preocupem.
Chegamos em frente à casa dos meus pais e havia muitos carros estacionados tomando quase toda a rua. E pensar que foi tão difícil passar vinte e nove anos me escondendo e agora, vou assumir perante a todos e para piorar com uma namorada falsa que não me suporta e que eu não suporto.
Bravo!
Entretanto, eu estaria livre para ser quem sou. É nessa parte que tenho me agarrado com unhas e dentes.
— Vamos? – Nem havia percebido que o carro já estava parado, nem que a Yasmin abriu a porta para mim.
Olhei para a mão estendidas para mim.
— Vamos.
As nossas mãos se encontraram, mas não pude dar muita atenção a isso, pois a Ana Clara vinha em nossa direção toda sorridente, era a primeira vez que via a minha irmã com roupas que mostravam um pouco mais do seu corpo, mais segura de si.
Ela deixou a barriga levemente de fora.
— Vocês formam um casal bonito, dá até gosto de ver. – Rolei os olhos. — Acho que agora começa a diversão, estava muito chato ouvir sobre o hospital e política.
— A gente também acha o mesmo. – Antonella falou. — Um casal lindo.
Ignorei.
— Estamos combinando. – Yasmin apontou para as roupas de ambas.
Incrível como as duas se deram bem.
— Bom gosto que chama? – Ana brincou.
— Você tá muito gatinha. Aposto que deve tá cheio de menininha atrás. - Ela abraçou a Antonella.
— Tô esperando ser maior de idade pra você, Antonella. – As duas riram. — Minha nutricionista, você é uma surpresa.
— Meio que não me deram muita chance de negar. – Rafa olhou feio para Yasmin, que apenas deu de ombros.
Eu pude ver o olhar de encantamento de Ana para a loira e isso me preocupou.
— Então que bom que a Yas te convenceu, assim terá mais gente pra azucrinar o casal. – Bufei.
Ana, Antonella e Rafaela riram.
— Vamos pela lateral, chegaremos mais rápido aos fundos. – Falei.
Ana saiu a frente com Antonella e Rafa.
Novamente pude sentir aquele frio na barriga e tentei me manter no controle, respirar profundamente quantas vezes fossem necessárias. Apertei um pouco mais forte a mão de Yasmin, que não falou nada, apenas deixou. Talvez tenha percebido o meu estado e foi solicita. Imediatamente, os meus olhos se encontraram com os da minha mãe. Eu vi o ódio que eles transbordavam e doeu, aquele olhar de repulsa doeu como nenhuma ferida conseguiria. O meu pai também nos viu, então os dois se aproximaram e para o meu alivio, os meus “sogros” também.
— Aqui estão as minhas meninas. – O meu pai abraçou Yasmin demoradamente e depois a mim. — Minha filha e a minha nora, que grata surpresa.
Ele é tão maravilhoso.
— Trouxe um presente. O meu papai disse que são os seus preferidos. – Ela entregou uma caixa azul com um laço preto ao meu pai. — Feliz aniversário, Joaquim. Minha família e eu somos gratos por tantos anos de amizade.
— Viu isso, Telma, o primeiro presente da minha nora. – A minha mãe sorriu forçada. — Obrigada, querida. É uma honra, o seu pai é o meu melhor amigo e você, agora a minha nora.
O meu rosto esquentou tanto que achei que estava com febre.
— Joaquim, esse é a minha melhor amiga, Rafaela. – A loira foi abraçada por meu pai.
— A Rafa é a nutricionista da Ana, papai. – Ele sorriu mais ainda.
Ele é um homem singular.
— Cuide bem da minha caçula, Rafaela, e seja muito bem-vinda a nossa casa. Venha sempre que desejar...
— Vem cá, querida. – A minha mãe me puxou para um abraço. — Você tem muito a me explicar, garotinha. Ah, Lara, isso não vai ficar assim...
Sussurrou em meu ouvido. Me forcei a sorrir.
— Querida, vamos beber algo? Estou com sede. – Yasmin tocou a minha face, aproximando a sua e por um instante, achei que ela teria ousadia de me beijar. — Relaxa, estamos aqui. Ok?
— Tá bom... – Yasmin tomou o meu lugar, ficando entre minha mãe e eu.
Ufa!
Eu me sentia um pouco mais aliviada, mas não sai nem por um momento da presença delas. Antonella e meu pai se abraçaram, ela entregou o presente dele e combinaram de jogar tênis.
— Filha, leve a Yasmin com a gente. Modéstia a parte e o seu pai bem sabe, se eu não fosse médico, seria um jogador excepcional. – Ele sempre dizia isso.
— Com toda certeza irei, Joaquim. Basta marcar o dia e estarei lá, mas não prometo ser lá aquelas coisas. – Yasmin falou. — Não sou boa em esportes.
Ela parecia realmente relaxada e até aquele momento, não havia soltado a minha mão.
— A sua namorada é, Yas, então ela te ensina. – Antonella colocando lenha na fogueira.
Conversamos por vários minutos, até que o meu pai foi receber os outros convidados que haviam chego e levou a minha mãe junto. Os pais de Yasmin passaram a conversar com Antonella, Rafa e a Ana, mas sempre nos incluindo em tudo. Hugo estava um pouco mais afastado, conversava com algumas garotas.
— Olha quem chegou. – Yasmin sussurrou.
Olhei para a porta da varanda e se tratava de Nicole e a família.
— Agora sim vai começar a vingança. – Bebi um gole do meu champanhe. — Vem comigo?
Ela sorriu e isso arrepiou minha espinha.
— Com toda a certeza. – Yasmin segurou a minha mão.
E novamente ela assumiu a pose de mulher fatal, o que combinava muito com ela, eu tenho que confessar. Balancei a cabeça de um lado para o outro, mandando para longe aqueles pensamentos estranhos e totalmente fora de hora.
Não que tivesse hora para pensar nela dessa forma, ok?
Paramos em frente a Nicole, que ergueu a sobrancelha de forma debochada.
— Minhas concorrentes. – Ela usou um tom divertido, pois havia outras pessoas por perto.
— Na verdade, a Lara... – Yasmin segurou firme em minha cintura. Foi um aperto que me assustou. — Só a minha linda namorada será a sua concorrente e terá todo o meu apoio.
A reação de Nicole e os que estavam presentes foi indescritivelmente satisfatória, um deleite sem igual.
— Na-namorada? – Abri o meu melhor sorriso. — Que história é essa agora?
— Boa noite, Patrick, Paola, quanto tempo? – Yasmin distribuiu sorrisos.
— Nossa, eu lembro de você. – Kevin, o filho mais novo de Patrick, apontou para a Yasmin. — Você tá uma gata.
Ele me lembrava a Ana.
— Meus parabéns pelo relacionamento de vocês. – Paola pareceu sincera. — A sociedade precisa mudar seus preconceitos sobre os relacionamentos alheios. Corajosas, meninas.
Patrick olhou rapidamente para a esposa, pareceu não gostar nada do que ouviu.
— Patrick, as nossas famílias estão se unindo mais ainda. – O meu pai veio para coroar o momento. — A Yasmin é a minha nora agora.
Ele falava com tanta naturalidade, que o meu peito inflava em uma mistura de sentimentos.
— Sim, acabamos de saber da novidade, amigo – Patrick olhou demoradamente para nós. — Por essa eu não esperava.
Era um show de falsidade.
— Querida, vamos até a cozinha? – Yasmin me chamou. — Com licença, pessoal. Foi um prazer rever vocês.
— Foi um prazer, queridas.
— Curtam a festa. – Pisquei para Nicole.
Caminhamos lentamente para dentro de casa, ainda de mãos grudadas e assim que saímos das vistas dos outros, não conseguimos controlar o riso. Yasmin sentou no chão, encostando no balcão, rindo que não suportou o peso do próprio corpo. Foi uma sincronia estranha.
— Desculpe, Lara, mas eu precisava disso. – O riso aos poucos foi diminuindo.
— Você viu a cara do Patrick? E a Nicole? – Gargalhei, abafando com a mão.
— O seu pai, mesmo sem saber, foi fantástico. – Nos encaramos e caímos na gargalhada outra vez.
Era a primeira vez desde que isso tudo começou que eu me sentia verdadeiramente leve.
— Acho que se fossemos desenho animado, a cabeça da Nicole estaria saindo fumaça. – Imaginei a cena.
— Eu estou me sentido ótima, foi revigorante. – Yasmin concordou com um acenar de cabeça.
— Vamos voltar? Ainda temos algumas horas de atuação. – Ela falou, esticando os braços para que eu a ajudasse.
— Não se acostuma com isso...
— Uma vez chatinha, sempre chatinha. – Ela balançou as mãos. — Vai, não seja má.
— Já disse, não sou chata.
Segurei as suas mãos, colocando um pouco de força para ajuda-la a ficar de pé, mas acho que exagerei, pois Yasmin levantou rápido demais e os nossos corpos se trombaram e para que eu não caísse, ela segurou por minha cintura tão firme que senti seus dedos em minha carne.
Podia sentir a sua respiração contra o meu rosto.
A observei com mais atenção, os lábios que estavam cobertos por um batom discreto eram levemente mais menores que os meus, mais fino e muito atrativos, bonitos. Principalmente porque o superior é um pouco mais cheio que o inferior.
“Qual seria o sabor deles?”
Yasmin olhava diretamente para a minha boca.
— Você já pode me soltar. – A minha voz saiu quase que em um sussurro.
— Não disse antes, mas você está incrível. – O ar ficou sufocante. — Tão linda...
Que porr* é essa?
Yasmin apertou a minha cintura ainda mais, eu podia sentir a temperatura dos longos dedos, eles queimavam mesmo sobre o tecido da minha roupa. Eu não conseguia me mover, queria empurra-la, mas a única coisa que fiz foi esperar, enquanto a sua boca se aproximava da minha em uma lentidão torturante.
Pude sentir uma estranha pressão no meu ventre.
— Acham mesmo que acreditei nisso. – Yasmin me soltou.
Aspirei o ar, agradecendo mentalmente a Nicole pela interrupção.
— O que você quer? – A minha voz saiu bem mais agressiva do que desejei.
— Eu não acredito nessa palhaçada de vocês. – Apertei o punho, aliviando em seguida.
— A que palhaçada se refere, Nicole? – Yasmin me abraçou por trás, colocando o queixo sobre o meu ombro.
Suas mãos rodearam a minha cintura. Eu precisava sair daquela situação.
— Você deveria ver a sua cara agora, Nicole. – O tom baixo de Yasmin estava me causando vertigem. — Achou que a sua chantagem iria funcionar? A Lara vai ser a diretora.
— É o que vamos ver, Yasmin. Uma duplinha de lésbicas não serão empecilho. O conselho não vai permitir que duas aberrações representem um hospital tão importante, de renome.
— Sim, a de caráter duvidoso com toda a certeza é uma melhor opção. Você não vai ser diretora, vai se acostumando. A aberração aqui vai. – Bati no peito. Eu podia ver uma veia pulsando em sua testa.
— Vamos garantir isso, Nick. – O meu autocontrole, ele estava indo com Deus.
O que estava acontecendo comigo?
— Pra você é Nicole... não pense que não vou encontrar nada a seu respeito, Yasmin. Isso tá longe de acabar...
Ela sorriu, dando as costas para nós e deixou a cozinha. Eu me afastei em imediato, puxando o ar discretamente. Não consegui virar para olha-la e quando ouvi as vozes das meninas, me senti em segurança.
Em segurança de mim mesma.
— A Nicole passou por nós igual uma louca. – Ana falou. — Por que tá vermelha, Lara?
— Só é... raiva. – Não, não era só aquilo.
— A gente a viu vindo, decidimos vir ajudar. – Antonella ficou ao meu lado, me abraçando pelos ombros. — Mas pelo visto, nem foi necessário.
— Yas, você tá bem? – Rafa perguntou a ela. A olhei de canto.
Ela sorriu com naturalidade.
— Estou sim. Ver a Nicole puta não tem preço. – Ela beijou a bochecha da Rafa. — Vamos pra festa?
— Que o seu pai me perdoe, Lara, mas eu prefiro as festas da minha família. – Rafaela fez uma expressão que me divertiu.
— Vocês precisam ir a uma festa da família da Rafa. – Yasmin falou. — E cada coisa que acontece.
Parece que somente eu fiquei afetada com o que quase aconteceu minutos atrás.
“Esqueça isso.”
Eu só poderia ter perdido a cabeça, sim, era isso. Faz algum tempo desde que transei e com toda a certeza era a minha libido quem estava no comando naquele momento. A Lara é uma mulher bonita, gostosa e...
“Pensamentos imbecis, me deixem em paz.”
Quando que voltei no tempo e a Yasmin de quinze anos assumiu? Eu sou uma mulher de vinte e nove anos, por Deus, eu sei me controlar. Aquilo não foi nada demais, então será esquecido. Jogado nas profundezas das minhas memorias.
— Filha, venha aqui... – O meu pai me chamou.
— Vamos sentar ali, Yas. – Rafa apontou para um lugar próximo onde a banda de música clássica tocava.
Apenas acenei em concordância, sem olhar para Lara, a minha pele queimava.
— Oi, papai. – Ele me abraçou de lado.
— Esse é o doutor Felipe, ele queria muito te conhecer. – Olhei para o homem alto e muito elegante.
— O seu pai fala muito a seu respeito. É um grande prazer. – Ele apertou a minha mão. — Essa é a minha filha, Letícia. Ela tá fazendo residência, logo vai seguir os meus passos.
Olhei para a mulher ao seu lado.
— É um prazer Letícia. – Sorri. — Yasmin.
— O prazer é meu. Já a vi pelo hospital, então seja bem-vinda. – A menina era simpática e muito bonita.
— Vou precisar de pessoas conhecidas ali. Não sei nem onde fica o refeitório...
Ela sorriu.
— Poderei ser a sua guia turística então. – Acenei em positivo.
Continuamos a conversar os quatro, sobre o hospital, é claro, porém a minha cabeça estava vagando, foram várias as vezes que os meus olhos procuraram por Lara. Eu precisava me desculpar pelo ocorrido. Não era dessa forma que eu queria que as coisas fossem. Ela conversava com as meninas e em algum momento, nossos olhos se encontraram.
O que eu achei que estava fazendo? Eu deveria ter só me afastado, ficando calada, mas não, precisei deixar as coisas estranhas.
— Pessoal! Um minuto da atenção de vocês. – Joaquim chamou a nossa atenção. — Queria agradecer a todos que vieram comemorar os meus cinquenta e sete anos.
Houve breves aplausos.
— Eu queria compartilhar uma novidade com vocês. – Ah, não, Joaquim. Por tudo que é mais sagrado. — Como todos sabem, eu tenho duas filhas maravilhosas e agora tenho uma nora.
Ah, meu Deus.
Procurei Lara, que entendeu o meu pedido silencioso, vindo até a mim.
— Um brinde a minha nora. Alonso, agora viramos mais que grandes amigos, somos uma família. – Joaquim levantou a taça.
Os olhares, até mesmo os cochichos, eu já havia me acostumado, porém por um momento me preocupei com a Lara. Muitos não estavam dando a mínima, entretanto, outros mascaravam a insatisfação, o preconceito, aquele seria o assunto de alguns nas rodas de amigos.
— Obrigada, meu sogro. – Falei um pouco mais alto. — Feliz aniversário.
Levantei a minha taça com suco, segurei a mão tremula de Lara.
— Sua filha é a melhor mulher do mundo, depois da minha mãe. – Tentei quebrar o clima e funcionou.
Algumas pessoas riram, outras apenas fingiram.
— Obrigada, Yasmin. – Nos encaramos.
— Você vai me dever essa pra sempre, chatinha. – Pisquei para ela.
Lara rolou os olhos.
— Já disse que não sou chatinha. – Era melhor quando ela estava assim, me olhando com cara de quem queria me matar.
Eu sabia lidar melhor com essa sua versão.
— Tem razão, é chatona. – Falei baixinho, somente para ela ouvir.
— Chatona é você. – Ela beliscou a minha mão.
— Au...
Aos poucos, as pessoas estavam indo embora. Não tive mais o desprazer de falar com a Nicole e o pai. Quando restou apenas nós, vi que era a hora de irmos embora, pois no dia seguinte começaria o trabalho de fato no hospital. Precisava estar totalmente presente de corpo e mente.
— Precisamos ir. – Os meus pais e o Hugo se aproximaram.
— Rafa, dorme em casa, minha filha. A essas horas, você não vai pra sua casa de forma alguma. – Minha mãe falou. — É muito longe.
— Te levo no trabalho pela manhã, Rafa. – Ela sorriu, concordando.
— Obrigada, tia Amanda.
— A Antonella também vai ficar, não é querida? – Joaquim deu dois tapinhas no ombro da morena. — Não é bom dirigir a essa hora.
— Irei de carona com o chefe, que chique. – Os dois tinham um relacionamento de pai e filha, da mesma forma que a Rafa com os meus pais.
— Joaquim, nos vemos no hospital amanhã. – Meu pai e ele se abraçaram.
Eles olharam para mim e depois para Lara.
— Meu amor... – Eu nem sabia onde tocar, então me atrevi apenas a segurar sua face e lhe beijar a testa. — Te vejo no trabalho amanhã.
Ela olhou para o lado e depois de volta para mim.
— Tudo bem, meu amor. Avisa quando chegar e cuidado na volta. – Eu tive uma vontade quase que incontrolável de rir.
— Bem, até amanhã e a festa estava ótima. – Olhamos para Rafaela, que apenas nos olhou com um “que foi?”.
Não era ela que havia dito que festa de rico é chata?
Quando entrei no carro do meu pai e Rafaela sentou ao meu lado, pude respirar de forma regular. Passei a mão sobre a cabeça ainda não acreditando em toda a confusão em que me meti.
— Filha, você e a Lara, não tiveram nenhum problema com ninguém na festa? – Meu pai dirigia.
— Ninguém veio fazer qualquer gracinha? – Hugo perguntou.
— Não, acho que não se atreveriam. – Eles estavam preocupados e isso me encheu de orgulho.
— Isso me alivia, nesse mundo maluco, ainda existes pessoas da idade da pedra. – Minha mãe falou. — Você já deve ter passado muito por isso, mas acho que a sua namorada não.
Hugo e Rafa me olharam discretamente.
— Ela é uma mulher muito forte e de bom coração, sei que vai tirar de letra. – E eu realmente achava isso.
Ela foi capaz de se assumir de um dia para o outro, mesmo com medo, ela encarou.
— Nada no mundo é capaz de corromper pessoas assim, nem mesmo a maldade dos outros...
— E você é a prova viva disso, Yas. – O meu pai falou, me fazendo lacrimejar.
— Obrigada, pai...
Assim que chegamos em casa, tomei um banho rápido e deitei, esperando pela loira. Rafaela logo apareceu, voltava com um copo de leite. Ela o bebeu, deitando ao meu lado depois.
— Quando vai começar a contar o que se passou na cozinha antes da gente chegar? – O lado ruim de ter amigos que te conhecem bem é que eles te conhecem bem.
Cobri os meus olhos com os braços.
— Eu quase cometi uma tremenda loucura, Rafaela. – Mordi o meu lábio inferior. — Eu quase beijei a Lara. Eu quis beijar a Lara...
— OK. Me conta exatamente como tudo isso aconteceu. Sem deixar nada de fora. – Ela se remexeu na cama.
Aspirei o ar com calma e passei a contar todos os detalhes. Externar tudo só fez parecer ainda mais louco.
— Caramba... – Ela ficou em silencio por um longo tempo. — Então, qual é exatamente o problema? Ela te rejeitou ou te afastou em algum momento?
— Não, ela não... me rejeitou. – Isso me fez refletir.
— Então, não vejo qual o problema. Vocês duas são duas mulheres adultas, bem sucedidas. Ela é oficialmente assumida e todos já acham que vocês namoram, então por que não se divertem no processo?
Fiquei totalmente surpresa.
— Eu não tô acreditando que você realmente acabou de sugerir isso. Logo você, Rafa...
— Eu gosto da Lara, ela é uma pessoa bem legal. Quem sabe assim vocês não resolvem logo essa briguinha de adolescente. Se não virarem amantes, que sejam amigas...
Decidi ficar em silencio, pois não havia nada a ser dito da minha parte. Fechei os meus olhos, dormindo poucos minutos depois.
— Achou mesmo que iria fugir de mim, minha doce Yasmin? – Tentava me mover, mas os meus pulsos estavam presos. — Não, meu amor, não se mova assim... vai machucar o seu delicado pulso. Tá vendo ali?
Olhei para onde ela apontava e senti o desespero tomar conta.
— Aquela vagabunda não vai mais ficar entre nós, meu amor.
Lara estava jogada no chão, os lábios roxos e a pele pálida.
— Será somente você e eu agora, minha linda...
“Não, não, não.”
— NÃO!
Levei a mão ao peito, respirando rapidamente. Olhei ao redor e Rafaela dormia tranquilamente. O sonho pareceu tão real, tão assustador. Camille, mesmo longe, ainda me perturbava.
— Só um pesadelo...
Deitei, demorando pegar no sono.
Segunda.
Passei a manhã inteira com o diretor Claudio, ele pacientemente me explicou tudo o que estaria sob o meu domínio. Além deste, havia mais dois hospitais frutos da sociedade do meu pai, Joaquim e Patrick. Mais especificamente no Pará e em Santa Catarina.
O do Pará era ainda maior e com mais especialidades que o de SC e MG. Havia um prédio inteiro somente para o tratamento de câncer.
— Soube por alguns fofoqueiros sobre você e a senhorita Lara. – Estava verificando os nomes dos clientes mais antigos. — Nem sei dizer o quanto foram corajosas. Queria ter sido um pouco mais ousado na minha vida.
O encarei, deixando os óculos de leitura de lado.
— Você ainda tem tempo, diretor. Nunca é tarde pra começar a viver. – Ele sorriu.
— Eu sou um grande covarde, senhorita, tenho muito a perder. Os meus filhos, eu não suportaria ser rejeitado por eles. – Eu o entendia. — Mas quem sabe um dia isso não seja possível.
— Desejo que possa viver esse momento, posso lhe garantir, é maravilhoso demais. – Claudio ficou aéreo por uns minutos.
— Sabe, eu me recordo do primeiro homem que beijei. Ele foi o meu primeiro amor, era um colega da escola. Lembro de como me sentia livre quando estava com ele. – O seu sorriso foi genuíno.
— Vai voltar a sentir, diretor Claudio, eu sei que sim. Vai poder amar quem o seu coração escolher e anote o que estou dizendo, ainda vamos sentar pra tomar café e o senhor dizer que deu certo. – Sorri para ele.
— Você vai pagar. – Ele piscou para mim.
Ouvimos duas batidas na porta.
— Entre... – O diretor permitiu.
— Bom dia. – Letícia abriu a porta. — Espero não estar interrompendo.
— Não, querida, entre. – Ela me olhou rapidamente.
— Desculpe aparecer assim, diretor, mas aproveitei as minhas horinhas de descanso pra chamar a nova funcionaria do hospital pra um tour. O meu pai me pediu...
— Oh, já é hora do almoço. Yasmin, eu posso continuar aqui, ainda tenho algumas coisas para fazer. Você pode ir, se desejar.
— Tudo bem. – Fiquei de pé, coloquei o meu blazer. — Vê se come algo.
— Farei isso assim que terminar aqui.
Saímos da sala do diretor e pude perceber alguns olhares. Pelo o que parecia, todos estavam sabendo do meu namoro falso. Lara estaria lidando bem com isso? Espero que sim. Certamente, Antonella deveria estar com ela.
— São muitos andares, tem certeza que vai sacrificar o seu descanso? – Letícia me olhou e depois sorriu.
— Não vai ser nenhum incomodo. Estava precisando de um pouco de distração e por que não uma boa companhia? – Um alerta soou em minha cabeça.
Ela não estaria interessada em mim, estaria? Espero mesmo que não.
Passamos a caminhar por alguns corredores, até que chegamos à ala pediátrica. Vi Antonella conversando com um pequeno grupo, certamente deveriam ser residentes. Como ainda vivíamos em meio a uma pandemia, usávamos mascaras.
— Letícia, um jogador muito famoso acabou de chegar. – Uma garota baixinha e de óculos, nos parou. — Aquela doutora bonitona vai opera-lo. E o quinto que...
Então ela olhou para mim e ficou muito constrangida.
— Me desculpe, eu fui muito mal educada. – Não contive o humor.
— Continue, eu também adoro uma boa fofoca. Quem é a doutora bonitona? – Ela pareceu relaxar.
— A doutora Lara, a filha do dono, ela é muito boa no que faz. Muitos jogadores e artistas já passaram pelas mãos dela.
Aspirei o ar com calma.
— Preciso voltar pro plantão. Vejo vocês outra hora...
A garota saiu correndo.
— A doutora Lara é bem popular. – Continuamos a caminhar. — Você deve ter muito orgulho da sua namorada.
Pelo visto a chatinha era popular e exibida.
— A Lara é uma mulher muito admirável. – Chegamos ao refeitório. — Vamos almoçar? Estou faminta.
Escolhi uma mesa, fugindo do tópico Lara. Eu não queria pensar nela, falar dela ou nem nada parecido. Manter aquela distancia segura seria o melhor a se fazer. Só me aproximaria o necessário para que as pessoas não desconfiassem da nossa mentira. Não seria nada inteligente misturar as coisas.
Como quase fiz ontem a noite...
Fim do capítulo
Boa madrugada. :)
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JeeOli
Em: 31/10/2022
Sinto que vamos ter confusão com Ana e Rafa pela diferença de idade, mas tenho medo da Ana se apaixonar pela Rafa e a Rafa se apaixonar pela Antonella e isso virar confusão...
Yas já está sentindo algo pela Lara só não sabe e vice versa, vamos ver qual das duas admite primeiro
Resposta do autor:
Ana já está dando sinais de interesse, Só falta a Rafa perceber melhor. Esse triângulo amoroso em?? kkkk, uma delas teria que dar certo.
Em algum momento uma não vai se segurar a vontade que tá da outra.. e aí quem vai tomar atitude primeiro???
Fico feliz por Ta acompanhando a estória.
Ps. Tany
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patty-321
Em: 31/10/2022
Eita, a festa foi ótima,quero ver o lado da Lara com a mãe bruxa. As duas já estão próximas de um beijo,
Resposta do autor:
A Dona Telma é uma mulher difícil mesmo, coitada da Lara, ainda vai ter que aguentar muito a mãe que tem. Mas ela foi bem corajosa.
Elas estão sim, só estão com medo de admitir essa vontade haha.
obrigada pelo comentário.
Um abraço..
Ps. Tany
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Lea
Em: 31/10/2022
Vejo um futuro para esse grupo,espero que realmente vire uma grande família!
Yasmin, Lara, Antonella, Rafaela e Ana Clara.
*
Dona Telma quase que,fuzila a filha e a "nora", só com um olhar.
*
Doutor Joaquim não sabe de nada,vai ser a Ana Clara a querer "cuidar" da Doutora Rafaela.
*
Nicole vai descobrir sobre o envolvimento da Yasmin com a Camille,e vai usar isso contra ela. E quem saber até,se juntar a Camille para levar a Yasmin para longe. ( Por experiência própria,se envolver com mulher casada é uma "roubada")
Os dias de Lara e Yasmin não serão fáceis!
"
Bom dia, Letícia! Bom dia, Tany !
*
Uma curiosidade!
Letícia você assinava aqui no Lettera,como Sonhos loucos?
Resposta do autor:
Elas formam um grupo bom, com suas particularidades.
Telma tá surtando. Família tradicional brasileira hahaha
A Ana tá interessada, mas será que a Rafa vai ceder?
Novamente uma ótima teoria, Nicole tá apostando todas as fichas. Kkkkk então você já pegou mulher casada huuuuuummmm
Bom dia, querida.
Sim, antigamente era Sonhos loucos, fiz este perfil quando ainda não era totalmente assumida e por isso usava um codinome, mas recentemente pedi para a dona do site mudar.
:)
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