*Atenção este capítulo contém conteúdo sensível relacionado a violência física!*
Capitulo 51
ELISA
-- O... o que? -- Falou Ágata num fio de voz.
-- Isso mesmo que você ouviu, Ágata -- Disse, com animação crescente -- Eu nunca pensei em ir para tão longe. Como você sabe minhas ambições sempre envolveram estar mais próxima do Yves Freitas. Assim como meu pai eu amo aquele colégio. Mas, se eu quiser estudar em outro lugar, expandir meus horizontes, meus pais não fariam objeção. Talvez eles fiquem com saudades. Eu também vou morrer de saudades deles, mas é preciso cortar o cordão umbilical.
-- Elisa, é sério? Você viria mesmo comigo?
-- Sim. Com toda certeza do mundo. Sabe, acho que vai ser no mínimo interessante descobrir outra cultura, além do mais, o melhor de tudo é que você vai estar ao meu lado.
Ágata não pode se conter e correu para meus braços.
-- Isso é maravilhoso, meu amor -- Comemorou -- Sabe, eu já estava quase desistindo de ir também.
-- Mais e a sua promessa?
-- Eu sei que não se deve quebrar uma promessa, mas se nossa felicidade dependesse disso, então eu faria.
-- Quebraria sua promessa por mim, Ágata?
-- Eu faria qualquer coisa por você.
Sorri para ela e não pude evitar beijá-la. Estávamos visivelmente emocionadas. Em meio ao beijo, busquei abrir o zíper da calça de Ágata que não pareceu surpresa com minha ousadia, ela estava começando a se acostumar com minha recente falta de pudor. Ágata também não ficou atrás, com destreza arrancou minha blusa e logo estava acariciando meus seios, me arrancando suspiros. Eu já estava gem*ndo em seus lábios como efeito de suas carícias. Logo estávamos nuas e Ágata assumiu o controle me tomando para si, me devorando com voracidade. Eu estava totalmente entregue. Me movimentava enfurecidamente buscando aumentar o contato com seus dedos. Tê-la dentro de mim havia se transformado em meu novo vício. Mesmo entorpecida, busquei também tomá-la para mim, buscando o prazer compartilhado. Atingimos o ápice juntas, consumando nosso amor.
Passamos o resto do dia a traçar planos sobre o futuro e embora eu ainda não tivesse dito nada a meus pais, acreditava que eles não seriam empecilho.
***
Os tios de Ágata contrataram um novo vigia para cuidar do prédio. Seu Inácio era um conhecido da família Hoffman, era um homem bem mais jovem que seu Antônio, alto e musculoso, meio carrancudo, mas nos tratou com cordialidade. Fiquei mais tranquila com a segurança de Ágata ao saber que alguém estaria cuidando do prédio.
Já era noite quando algo inesperado aconteceu. Gabriela que prometera não aparecer tão cedo retornou ao apartamento de Ágata. E estava arrasada.
-- Desculpem -- Disse ela, abatida -- Eu não sabia mais para onde ir.
-- Qual o drama? -- Perguntou Ágata, sem se compadecer muito do estado apático de Gabriela. Mas, talvez Ágata a conhecesse melhor do que eu.
-- Levei um fora -- Constatou Gabriela.
Ágata não pode conter o riso.
-- Qual a graça? -- Gabi quis saber.
-- Thaís te deu um fora? -- Perguntei, me mostrando interessada em entender a situação de Gabriela.
-- Fui vê-la hoje como eu tinha combinado. Aí ela disse que não podia mais sair comigo porque ia sair com aquela garota irritante do shopping.
-- Sabe, comecei a dá mais valor àquela garota -- Disse Ágata -- Precisa de muito peito para encarar a temível Gabriela.
-- Não pisa mais Ágata. -- Pediu Gabi -- Desde você eu nunca tinha levado fora de ninguém.
-- Então, talvez esteja na hora de você se acostumar com isso. -- Falei, sem me conter. Se Ágata podia implicar com a morena, por que eu não?
Gabriela me fuzilou com o olhar.
-- Só pode ser um complô. Quer saber, eu vou embora, vim buscar apoio e vocês só me deixam mais para baixo.
Eu e Ágata acabamos com a brincadeira e tentamos acalmar Gabriela que pareceu mais tranquila após ser muito mimada por nós.
-- Gabi, talvez a Thaís esteja fazendo isso de propósito -- Especulou Ágata.
-- É, Thaís é uma garota esperta -- Falei -- Ela se deu muito fácil para você, mesmo depois do que você fez com ela. Não vê, ela está se fazendo de difícil para você correr atrás. Cabe a você dá o passo seguinte.
-- Quer dizer que eu tenho que tomar a iniciativa de novo?
-- Óbvio. -- Respondeu Ágata.
-- Sabe, eu gostei de ficar com ela -- Revelou Gabi -- Foi diferente de outras pessoas que fiquei...
-- Então, vá em frente -- Encorajei.
Gabriela ficou pensativa.
-- Vocês tem razão -- Sentenciou ela, por fim. -- Amanhã vejo isso, mas hoje estou meio desanimada. Posso dormir aqui com vocês? Olha, eu juro que me comporto e faço um café da manhã maravilhoso para nós.
Gabriela nos lançou um olhar suplicante. Eu estava conhecendo essa Gabriela carente, diferente da morena sempre debochada e com uma confiança inabalável. Ágata já a conhecia assim e tive certeza que ela cederia aquele olhar de cão pidão, eu mesma estava disposta a ceder. Gabriela havia baixado a guarda para mim, isso significava que ela não tinha mágoas de nossos desentendimentos na disputa pelo amor de Ágata. Ela se revelava ser uma boa pessoa e eu já estava gostando dela de verdade, e ela também parecia gostar de mim a seu modo.
Ágata olhou para mim, percebi que ela esperava meu consentimento.
-- Tudo bem, Gabi. Você pode dormir aqui com a gente.
Oferecemos o sofá para Gabriela. Eu e Ágata já estávamos deitadas para dormir quando Gabriela apareceu no quarto, e reclamou:
-- Esse sofá é muito duro. Posso dormir aí com vocês?
-- O que? -- Perguntou Ágata.
Mas Gabriela não esperou convite. Deu um chega para lá em nós e se deitou entre mim e Ágata. A cama de Ágata era uma cama de casal espaçosa, mesmo assim para três pessoas ficava apertado.
-- Gabi, se vai mesmo dormir aqui melhor ir para ponta. -- Sugeriu Ágata.
-- Nada disso, não quero acordar no meio da noite e me deparar com vocês duas se agarrando. Eu ficando no meio não tem perigo.
-- Você é muito folgada, Gabi -- Falei.
-- Ei, não se preocupem eu não vou sugerir um ménage a trois.
-- Bem que você gostaria disso -- Retruquei, indignada.
-- Vai sonhando, Gabi. -- Cortou Ágata.
-- Vocês não sabem o que estão perdendo...
-- O que? Gabi, você já fez? -- Perguntei, curiosa.
-- Já. Duas vezes. E vou dizer é muito bom.
-- Pois eu estou fora dessa. Só eu e Elisa já somos o bastante. -- Ágata falou.
-- Esperava que vocês dissessem isso. Afinal, vocês duas não tem o que é preciso para isso -- Provocou Gabriela.
-- E nem queremos ter -- Me apressei em dizer. -- É melhor a gente dormir. Essa conversa está ficando muito estranha.
-- É mesmo. Dorme, Gabi! -- Concordou Ágata.
-- Tudo bem, boa noite para vocês, puritanas.
Gabriela não tinha mesmo limites. Sugerir um ménage a trois? Era maluca mesmo. O pior foi ela dormir entre nós e eu não poder ficar abraçada a Ágata. Gabriela se mexia muito e nos acotovelávamos o tempo todo. Quando ela adormeceu, ouvi Ágata sussurrar chamando meu nome, por cima de Gabriela nossas mãos se tocaram.
-- Como tá aí? -- Perguntou ela num sussurro.
-- Estamos só a uma Gabriela de distância e eu estou morrendo de saudades de você.
Ágata riu.
-- Amanhã a gente a põe para correr -- Sussurrou Ágata.
-- Com certeza.
Nos demos boa noite. Demorou um tempo até eu adormecer, estava ficando mal-acostumada e precisava dos afagos e carinhos de Ágata para dormir relaxada. Lembro-me de ter tido alguns sonhos confusos aquela noite. Tinha quase certeza que Becca estava em um deles, eu não conseguia visualizar seu rosto, mas algo me dizia que era ela. Eu podia sentir.
Quando acordei de vez foi com um sonho ainda mais confuso, pois este me provocou sensações que me fizeram sentir no mínimo culpada. Acho que fiquei impressionada com a proposta de Gabriela de uma experiência sexual a três, pois no meu sonho, eu, Ágata e a morena estávamos na cama, fazendo coisas que nem mesmo a imaginação mais fértil poderia supor. Acordei sobressaltada e suando. Respirei aliviada que aquilo fosse apenas sonho ou talvez um pesadelo. Se Freud tinha razão e os sonhos representavam mesmo a realização de desejos inconscientes, preferia que aquilo permanecesse inconsciente já que era humilhante demais para mim e uma grande fonte de culpa. Dormindo eu poderia ter algum desejo inconsciente por Gabriela, mas acordada eu não tinha o mínimo tesão por ela. Eu só queria Ágata, era só nela que eu pensava.
Como prometido Gabriela fez um café da manhã maravilhoso. Enquanto ela e Ágata conversavam e riam, eu ficava calada olhando para as duas ainda sentindo culpa por meu sonho e muito envergonhada só em imaginar Ágata lendo meus pensamentos. Em determinado momento, Ágata me vendo tão quieta, falou:
-- O que foi, amor?
-- Nada. Só estava pensando que mais tarde tenho que passar em casa para falar com meus pais. Mamãe não está de plantão.
-- Vai dá tudo certo. Você vai ver -- Incentivou Ágata.
-- O que vai dá certo? -- Perguntou Gabriela.
-- Vou pedir a meus pais para ir para o Canadá com a Ágata. -- Expliquei.
-- Finalmente. -- Comemorou Gabi -- Agora, vocês serão internacionais.
-- E você vai ser uma jogadora de vôlei famosa -- Disse Ágata.
Gabriela sorriu.
De repente, o rosto de Ágata ficou sério.
-- Lembrei-me de um sonho que tive -- Contou ela.
-- Eu também tive um sonho essa noite -- Interrompeu Gabi -- Foi quente!
Ágata e Gabriela também tiveram sonhos. O bicho do sonho estava mesmo à solta.
-- O meu foi triste -- Ágata falou -- Eu não lembro o que acontecia, mas lembro da sensação de tristeza.
-- Eu também tive sonhos. -- Confessei.
-- Sério? E com o que você sonhou? -- Perguntou Ágata, curiosa.
-- Foi meio vergonhoso sabe.
-- Não vá dizer que você também teve um sonho molhado. -- Insinuou Gabriela, com um sorriso ansioso.
-- Eu não devia ter falado nada -- Disse, arrependida.
-- Então quer dizer que é verdade -- Falou Gabriela -- E por acaso eu estava nesse sonho?
-- Você não devia está, Gabi. Mas eu com certeza estava, não é, amor?
-- Sim, você estava. -- Falei, encerrando o assunto. Preferia não dar aquela vitória a Gabriela.
Gabriela acabou ficando mais tempo do que havia prometido. Depois de um banho, ela apareceu andando pelo apartamento muito a vontade vestindo apenas sutiã e calcinha, exibindo aquelas suas curvas perfeitas. Segundo ela fazia muito calor. Foi à gota d’água. Eu e Ágata a fizemos ir para casa.
-- Qual é, meninas. Eu não estou fazendo mal nenhum. -- Ela protestou veementemente.
-- Você está muito sem noção, Gabi. -- Ágata acusou.
-- Desculpe, meninas, mas é que eu estou tão triste.
-- Essa não cola mais, Gabi. Deixa de bancar a carente. -- Falei.
Só então Gabriela assumiu sua postura habitual de arrogância. Nunca pensei que ficaria tão feliz em vê-la assim.
-- Certo. Vocês venceram. -- Disse ela, com dignidade. -- Quando precisarem de mim, sabem onde me encontrar.
-- Finalmente ela se foi -- Falei, aliviada quando Gabriela nos deixou.
Ágata veio para cima de mim, e me jogou no sofá. Puxando minha nuca, ela me beijou com fúria. Retribui imediatamente, feliz com a atitude dela. Era como estar vivendo em uma eterna lua de mel.
Nem chegamos ao quarto e nos despimos ali mesmo na sala, consumando nosso amor.
***
Pela tarde fui para casa conversar com meus pais. Ágata ia ver os tios e depois tinha consulta com o médico para finalmente tirar o tensor do braço.
A conversa com mamãe a pai começou tensa, pois eu estava nervosa para lhes contar sobre minha decisão. Como eu imaginava foi um baque para eles que demoraram a assimilar aquilo. Quando perguntaram o motivo para eu querer ir para o Canadá, abri meu coração e falei sobre Ágata e meu desejo de não me separar dela. Meu pai ficou surpreso quando revelei para ele minha orientação sexual, ele não estava com raiva, mas totalmente chocado.
-- Elisabete... -- Disse ele -- E quanto... quanto a netos. Você vai me dá netos?
-- Claro, pai. -- Falei -- O fato de eu ser lésbica não me impede de ter meus próprios filhos. Há meios para isso.
Papai ficou um pouco mais tranquilo. A questão da hereditariedade parecia ser de grande importância para ele.
Mais tarde, mamãe me chamou para uma conversa a sós. Ela me perguntou como estavam as coisas com Ágata. Contei que havíamos nos acertado de vez. Mas, como logo fiquei sabendo era outra coisa que incomodava minha mãe.
-- Querida, precisamos ter uma conversa séria sobre sex*.
-- Mãe, por favor -- Falei, constrangida. -- Eu já tenho dezoito anos, já passamos por essa conversa. Você me explicou tudo sobre esse assunto quando eu ainda era uma criança.
-- Eu sei, mas naquela ocasião você ainda não tinha idade para namorar.
-- Então, você quer saber se eu e Ágata estamos...
Embora confortador, era também intimidante ter uma mãe médica. Ela sempre precisava saber sobre todos os aspectos do meu corpo. Com uma regularidade obsessiva, eu me submetia a todo tipo de exames, para todos os tipos de coisas imagináveis. Era como ser a paciente em um episódio de Dr. House.
-- Vocês estão fazendo sex*? -- Perguntou ela sem rodeios.
-- Mãe! -- Exclamei, enrubescendo.
-- Eu preciso saber para ajudá-la a cuidar de sua saúde -- Argumentou ela.
-- Mãe, sabe quanto isso é constrangedor. Você deve saber que sex* entre mulheres não é a mesma coisa que sex* entre uma mulher e um homem...
-- Por isso mesmo eu preciso entender o que acontece para saber como ajudá-las a se prevenirem de doenças.
-- Você quer que eu explique como acontece? -- Questionei, aquilo estava ficando cada vez pior.
-- Não precisa dá detalhes, só preciso saber se você ou Ágata já tiveram outros parceiros?
-- Tudo bem. Isso eu posso responder. Eu nunca estive com mais ninguém. Ágata já teve uma experiência com um cara anos atrás. Mas ela faz exames com frequência e está tudo bem com ela. E, antes, que você me pergunte novamente e só para ficar claro de vez. Não, não tivemos ou temos outros parceiros.
Mamãe ficou aliviada com minha declaração e me poupou de outro interrogatório como aquele.
Um pouco depois Becca apareceu. Ela e minha mãe estavam passando um tempo juntos. Becca estava um pouco pálida. Não parecia a mesma garota que me colocava para cima quando eu estava desanimada.
***
Quando retornei ao apartamento de Ágata, ela já havia chegado do médico e sem o tensor ortopédico. Mais algumas sessões de fisioterapia e ela estaria pronta para voltar a praticar esportes ou pilotar sua motocicleta.
Para sua felicidade ficar ainda mais completa, contei-lhe sobre como meus pais haviam reagido a minha decisão de estudar em outro país. Estávamos tão felizes que dava até medo pensar que algo poderia dá errado. Quando as coisas parecem boas demais para ser verdade, costumamos ter medo de perder. Tentei afastar esses pensamentos.
À noite, convenci Ágata a irmos dançar em uma boate. Tive que insisti um pouco, pois ela ainda não se sentia à vontade para dançar.
-- Você vai estar comigo. Não vai passar vergonha. -- Insisti.
-- Tudo bem -- Ela cedeu.
Foi uma noite divertida. Chegamos em casa com o dia quase amanhecendo.
No dia seguinte, convidei Ágata para ir até minha casa pegar algumas roupas e objetos pessoais.
-- Seu pai vai estar lá? -- Perguntou ela, com receio.
-- Não, só a minha mãe. Ágata, por acaso, você está com medo de encontrar com meu pai?
-- Morrendo de medo -- Confessou ela -- Tenho vergonha do diretor Roger agora que ele sabe de nós.
-- Ágata, relaxa. Meu pai não é um bicho de sete cabeças. Ele aceitou nosso namoro.
-- Mesmo assim. Estou tensa.
-- Relaxa. Vou segurar sua mão o tempo todo.
Ágata sorriu e concordou em me acompanhar.
Quando chegamos, encontrei mamãe na piscina, relaxando. Ela estava se dando cada vez mais tempo para se divertir já que o trabalho a estava deixando exausta e estressada. Ágata estava muito nervosa na presença de minha mãe, não sabia nem onde por as mãos e se atrapalhou toda quando foi cumprimentá-la. Mamãe, sua futura sogra, tratou Ágata muito bem.
Quando chamei Ágata para subir até meu quarto, ela ficou gelada. Com certeza, com vergonha do que minha mãe poderia pensar que estávamos fazendo. Diante de seu constrangimento mudei de ideia e pedi para ela esperar na piscina com minha mãe.
Deixei as duas conversando e subi ao meu quarto que estava cada vez mais abandonado. Assim que entrei tomei um susto com a figura parada num canto. Era Becca como constatei sem muito surpresa. Ultimamente, ela aparecia sorrateiramente. Andando por aí como se fosse um zumbi.
-- Becca! O que... O que você está fazendo aqui?
-- Esperando por você -- Disse ela com a voz séria.
-- Mamãe sabe que você está aqui? Ela não me avisou...
-- Ela não me viu subir.
Becca estava estranha. Senti um arrepio percorrer a espinha. Quem era aquela garota que estava diante de mim?
-- Becca, vim só pegar umas coisas. Você precisa de algo de mim?
Ela não respondeu enquanto eu me movia pelo quarto, recolhendo minhas coisas.
-- É verdade? -- Perguntou ela com uma frieza que me assustou -- É verdade o que sua mãe me contou que você vai para fora do país com aquela garota?
Fazia tempo que não ouvia Becca se referir a Ágata como “aquela garota”. Algo estava errado.
-- Becca... eu não estou entendendo...
-- Você não pode ir! -- Bradou ela, de repente, me assustando.
-- Calma, Becca!
-- Você a escolheu, não é? Eu sempre estive ao seu lado. Eu te amava... mas você nunca me escolheu. Afinal, você sempre foi a senhorita perfeição, a queridinha de todos, enquanto eu só ficava com as sobras. Eu nunca fui nada.
-- Becca, isso não é verdade. Meus pais amam você, eu também sempre amei você.
-- Mentira! -- Ela acusou com ódio. -- Eu só tive migalhas, você nunca soube como eu me sentia de verdade, a inveja que eu tinha de você.
Arregalei os olhos sem conseguir balbuciar uma palavra. Becca tinha inveja de mim? Como eu nunca soube disso.
-- Você é uma vadia, Elisabete Freitas.
-- Becca, por favor. Para com isso. -- Supliquei.
-- Eu te amava, Lisa. -- Disse ela aproximando-se de mim. Estávamos cara a cara -- Mas agora isso não importa mais porque você não vai ser de mais de ninguém.
Só então percebi tarde demais que ela trazia algo escondido no bolso de trás de seu jeans. Num movimento rápido, ela cravou a lâmina em mim e puxou-a de volta banhada em sangue. Ela manteve seus olhos nos meus, e mesmo diante de tanta dor e desespero eu pude ver que seus olhos eram puro ódio.
Fim do capítulo
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