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Pecado (EM BREVE NO AMAZON) por Thaa

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Palavras: 3795
Acessos: 1689   |  Postado em: 08/10/2022

Capitulo 3

 

 

Capítulo 3

 

5:00 h da manhã!

Clara já estava de pé, tomada banho e vestida em seu hábito vermelho e branco. Não conseguira dormir durante toda a noite. Então, decidira se ajoelhar aos pés da pequena cruz impregnada numa das paredes de seu quarto e orar a noite inteira, até o sino da primeira chamada do ciclo de oração bater num despertar estridente.

Ela deixou o quarto e seguiu em silêncio para a capela em que, rotineiramente, as irmãs faziam o primeiro ciclo de oração do dia. Observou que Ester, por um milagre dos céus, já estava ajoelhada junto as outras 27 irmãs. Apressou-se e também se ajoelhou ao lado delas.

Ester aproveitou que a Madre Constança e a irmã Bárbara não tinham chegado para fazer algumas perguntas a Clara.

— O que houve ontem, Clara? Por que saiu correndo e desesperada daquela forma? — Perguntava, preocupada.

— Nada, Ester. Não houve nada.

— Ninguém sai tão desesperado como você saiu ontem, sem ser nada, Clarinha. Mas se não quiser falar sobre, eu entendo. Só quero que você saiba que pode contar comigo sempre que precisar. Não esqueça de que sou sua amiga e de que adoro você.

Ester sorriu e beijou as bochechas de Clara com carinho.

— Eu também, Ester. — Sorriu docemente e bem mais calma do que na noite anterior.

— Amanhã almoçarei com os meus pais. Pedi o consentimento da Madre Constança e ela deixou. Disse que você poderia ir comigo também, caso deseje. Assim aproveitamos e falamos sobre a nossa bolsa com papai, mais apropriadamente. O que você acha, Clarinha?

— Eu...eu...não sei. Não gosto de sair do convento.

— Deixe de besteiras, Clara, permita-se, ao menos uma vez em sua vida se permita.

— Está bem, Ester. Mas por favor, prometa que não vamos demorar.

— Sim, amiga, eu prometo, não se preocupa. Até porque papai não vai parar de encher meus ouvidos com a mesma conversa de sempre, aquela de que eu não deveria ter desistido da faculdade e coisas afins. Só besteira.

 

***

Luciana se olhou no espelho e, como sempre, estava impecável em suas roupas de executivas e que a deixavam ainda mais elegante do que já era. Estava feliz pela presença de Angélica e das filhas em sua casa. Adorava-as. Precisava tirar um tempo para passear com elas pelas praias paradisíacas de Vila Velha. As meninas de Angélica eram um amor. Educadas e carismáticas.

Uma batida soou fraca à porta do quarto.

— Sim?

Luciana olhava para a porta fechada.

— Dona Luciana?

— Pode falar, Zete.

— Dona Patrícia está lá embaixo. Mandou-me avisar que precisa falar com a senhora.

Luciana fechou os olhos por um instante e suspirou. As conversas com a sua ex-sogra eram sempre muito complicadas, porque em algum momento ela sempre voltava à estaca zero, ou seja, sempre achava uma maneira de continuar a lhe culpar pela morte de Sérgio. Nada poderia ser mais desagradável aos ouvidos e ao estômago.

— Por favor, Zete, avise-a que já desço.

— Certo, Dona Luciana.

***

Patrícia olhava para cada lugar da mansão de Luciana. Aquele lugar já não guardava mais a alegria da presença de seu filho. Alegria esta que ele parecia ter levado para o túmulo quando se foi desta vida. Naquela casa somente imperava a rigidez e a frieza de Luciana Ferrazza. Parecia um mausoléu sem sopro de vida. Aquela mulher nunca amara seu filho. Ela fora a única culpada pela morte de Sérgio. Se tivesse sido uma mulher de verdade ele jamais teria ido procurar na rua o que não achava em casa. Luciana não amava ninguém além de si mesma. Isto é, se é que ela tinha amor-próprio. Mas isso tudo também era culpa sua e de Agnello, que decidiram um destino cruel para seu único filho antes mesmo de ele nascer. Hoje não lhe restava nada que pudesse lembrar Sérgio, a não ser o seu sorriso alegre e seu jeito meio torto de amar. Seu peito doía ao pensar na partida tão precoce de mais um pedaço de sua vida.

Olhou para uma foto de Sérgio presa num porta retrato que residia sobre um móvel moderno da sala de Luciana. Aquela era a única foto de seu filho que tinha em toda a casa. Na fotografia, apenas um homem alto, de 1,80 m de altura, pele bronzeada, cabelos negros, olhos verdes e um corpo atlético, como daqueles jogadores de vôlei —esporte que Sérgio amava muito mais do que a futebol. Ele sorria para a câmera, enquanto um céu azul e um mar exuberante se exibiam majestosos atrás de si. Aquele sorriso era inesquecível.

Aquele olhar sereno e sempre tão alegre também...

 

***

“Você nunca me amou de verdade. Todas as vezes que se deitou em minha cama nunca demonstrou gostar de estar lá ou em meus braços. Eu te amo, Luciana, mas sei que nunca sentiu o mesmo por mim!”

As palavras de Sérgio Ricci ecoavam na mente de Luciana.

Era assim todas as vezes que Patrícia aparecia em sua casa. Ela fazia questão de nunca lhe deixar em paz e também de deixar claro que jamais lhe deixaria esquecer do filho dela.

Num sacolejado negativo de cabeça, Luciana pegou a bolsa e deixou o quarto. Desceu a escadaria a passos apressados e seguiu até o escritório em que Patrícia costumava lhe aguardar para suas longas e extenuantes conversas, para não dizer estressantes.

Luciana adentrou o escritório e viu Patrícia esperando por ela pacientemente sentada numa cadeira de couro.

— Bom dia, Patrícia. — Disse, sempre tão ética e imparcial. Era tão articulada e elegante que chegava a ser fria.

— Bom dia.

— Como você está? — Perguntou se sentando.

— Bem.

A resposta carrancuda nunca mudava.

— Bom, o que deseja tão cedo?

— Ora, o que mais haveria de ser senão os relatórios mensais do Instituto, já que queira você ou não, também sou dona daquele lugar. — Fez questão de lembrar num gesto hostil. Sempre parecia pronta para uma possível guerra contra Luciana.

— Sim, claro que sim. Porém, amanhã ainda é o penúltimo dia do mês, você sabe muito bem que os relatórios somete são entregues pela gerência administrativa no dia primeiro de cada mês.

Patrícia sorriu sem vontade.

— Sim, claro, você fez questão de mudar cada coisa do Instituto e deixar do seu jeito, sem nem ao menos me consultar. Foi sempre assim, não, Luciana? Tudo conforme seus ditames. — Falou de maneira sarcástica. — Francamente!

— Faço o que é melhor para o Instituto, Patrícia. Não me abstenho a assuntos pessoais ou parciais.

— Sempre foi tudo do seu jeito. Uma mulher capaz de qualquer coisa, exceto de me dar um neto.

“A mesma tecla.”

Luciana suspirou impaciente.

— Como já lhe disse, não pretendo discutir o passado. Este não vai mudar de lugar. — Falou de maneira séria.

— Claro, não é você quem está debaixo do chão. Sérgio deveria estar vivo. Era um bom homem, mas infelizmente teve o azar de se casar com uma mulher que jamais o amou. Sérgio morreu por sua culpa! — Escarneceu.

— Não pretendo passar o resto de minha vida ouvindo seus julgamentos infundados, Patrícia. Nós duas bem sabemos por que Sérgio faleceu.

— É mesmo? E aposto que você amou a morte de meu filho. — Disparou sem precedentes.

— Pense como quiser, todos temos liberdade de pensamento, mas tenha cuidado ao externá-los. — Levantou e caminhou para a porta. — Dia 1 encaminharei os relatórios. Agora preciso ir trabalhar. — E saiu deixando a ex-sogra furiosa.

 

***

 

Clara e Ester tomavam café junto das outras freiras, após o ciclo de oração.

Naquela manhã Clara também iria para o médico, sempre em companhia da Madre Constança, que fazia esses acompanhamentos com ela desde os seus seis anos de idade, quando fora diagnosticada com o vírus.

Clara sempre ficava muito apreensiva naquelas consultas há muito tempo rotineiras em sua vida.

Era um segredo entre ela e a Madre, porém, a irmã Bárbara também tinha conhecimento de seu segredo de sangue.

Sua vida era atormentada por aquela enfermidade tão atrelada a si.

Tinha horas que era muito difícil evitar o choro.

O sangue que corria em suas veias estava infectado.

Era impossível não pensar nisso.

Era quase impossível conviver com isso.

— O que foi, Clarinha, por que está tão pensativa?

Ester indagou de maneira preocupada.

— Hã? Ah...oi...não é nada, Ester. Só estou pensando na vida. — Falou saindo de seus pensamentos absortos.

Ester gargalhou sem nem ao menos ter ideia da revolução angustiante que se passava na cabeça de Clara.

— Pensando na vida, amiga? Se a gente parar para pensar na vida a gente vai é enlouquecer.

— Não acho, pensar na vida é sempre necessário. É pensando na vida que percebemos a nós mesmos. Vemos como somos, como são as coisas.

— Você dava para ser uma filósofa, amiga.

Ester ria ao passo que também comia seu pão com café.

— A filosofia é belíssima. Faz a gente estudar a nós mesmos e faz com que ajudemos outras pessoas a se encontrarem e a estudarem a si próprias. A filosofia nos torna mais éticos e moralmente inteligentes.

— É, amiga, mas a gente precisa querer também.

 

***

Patrícia respirou fundo.

Jamais perdoaria aquela maldita Luciana, pensou furiosamente e deixou o escritório.

 

***

Clara andava apressada na direção da saída do convento. Sua consulta estava marcada para 9:30 h da manhã. Já passava das 8:47 h. Já nos degraus que davam acesso ao terraço do convento, em que havia uma fonte de pedras com a estátua de Nossa Senhora de Alexandria derramando água de suas mãos e pés, olhou para o carro cor de prata, que pertencia a Madre Constança e avistou a irmã Bárbara conversando em Particular com a Madre. Suspirou meio frustrada. Não era que tivesse raiva da irmã Bárbara, só não gostava do olhar recriminar dela para si. Como se tivesse cometido algum grande pecado, tanto era que ela fazia questão de lhe chamar apenas de “pecado”. Talvez lhe chamasse assim por causa do vírus quase mortal que corria em suas veias. Suspirou mais uma vez de maneira triste e ouviu a voz anosa da Madre lhe chamando de longe.

— Maria Clara! Vamos, criança, apresse-se!

Constança acenava já entrando no carro e sentando no banco do motorista, mas jamais perdia sua bondade e serenidade.

— Já estou indo, Madre!

Clara apressou ainda mais os passos e logo alcançou o veículo, um Gol prata de duas portas, ano 2007.

— Vamos, Pecado, apresse-se para não perder a consulta. Já basta todo esse trabalho que tem dado ao convento. Você tem custado muito caro para nós. Tem sido uma despesa das grandes. O Estado, o poder público, é uma desgraça neste país. A classe política tem sido uma vergonha, um descaso, quando o assunto é Saúde Pública de qualidade, é educação, é a fome que assola miseravelmente milhares de brasileiros, é a moradia precária...você tem custado caro para o nosso convento, Pecado. Em breve não teremos como manter seu tratamento caríssimo...

— Bárbara!

Constança repreendeu veementemente a fazendo parar com o discurso hostil em relação a Clara.

— Nunca pedi por isso, irmã Bárbara! A senhora é cruel e ruim! — Clara gritou com os olhos marejados de lágrimas. — Não sei por que me odeia tanto! Não fiz nada a senhora! Eu não pedi para vir a este mundo! Não pedi para nascer assim! — Bateu os dois pés no chão, com toda força, na intenção de apalpar sua dor.

— Chega, Clara. Apenas entre no carro. Não dê ouvidos às amarguras da irmã Bárbara.

Chorando, Clara entrou no carro e olhou de cara feia para Bárbara, que logo lhe deu as costas e andou de volta para dentro do convento.

— Não entendo por que a irmã Bárbara me trata dessa maneira, Madre. O que fiz para ela?

Serena e afetuosa, Constança puxou Clara para um abraço.

— Não ligue para as maquinações de Bárbara, Clara. Há muito tempo nós a conhecemos. Bárbara é assim mesmo rabugenta.

Clara riu das palavras engraçadas da Madre.

— Mas eu não fiz nada para ela, Madre...— Suspirou frustrada.

— Há pessoas que nos odeiam só pelo fato de ser quem somos, só pelo fato de existirmos, criança, você ainda tem muitas coisas para aprender com as pessoas e com o mundo.

— O meu mundo é o convento, Madre.

— O tempo dirá, Clara. Só o tempo dirá, minha doce criança.

Constança colocou o cinto de segurança e pediu para que Clara fizesse o mesmo. Deu partida no automóvel e desceu a rocha íngreme sob a qual repousava majestosamente o convento Nossa Senhora de Alexandria.

Com a cabeça apoiada no banco do carro Clara observava em silêncio a belíssima vista. O mar em um tom de azul e verde turquesa. O sol intenso já brilhava no firmamento. Um aglomerado de florestas bucólicas se harmonizavam à bela vista. Tudo era tão bonito. A vida parecia tão bela. Suspirou e de repente fitou a Madre.

— Madre Constança...

— Sim, Clara? — Falou sem deixar de prestar atenção na estrada. Ora e outra alguns carros passavam do outro lado da via.

— É verdade o que a irmã Bárbara falou? — Perguntou sem deixar de demonstrar sua aflição, que era imensa.

— Sobre o quê, Clara?

— Sobre o meu tratamento, Madre.

— Ora, criança...

— Por favor, não minta para mim. — Pediu já angustiada.

Constança apenas ficou em silêncio durante muito tempo, só então disse:

— Você não é um fardo, Clara, para mim, nunca foi.

— Mas...e para o convento, Madre? — Mordiscou o lábio inferior enquanto ainda olhava Constança incisivamente.

— Não há um fundo de verdade nas palavras ditas por irmã Bárbara, Clara. Preocupe-se apenas em viver intensamente todos os dias de sua vida, hum? — Fez um ar de riso e Clara sorriu balançando a cabeça positivamente, mas seus olhos tristes eram inegáveis.

— Eu não tenho muito pelo que viver, Madre. Talvez eu devesse ter morrido quando nasci…talvez eu seja mesmo um fardo.

— Nunca mais quero que você repita isso outra vez, Maria Clara. Entendeu?

— […]

— Entendeu?

— Sim, Madre, entendi.

 

***

 

Ricardo conversava sobre Ester, com a sua esposa, Keila.

Ambos eram médicos e estavam muito felizes com o retorno da única filha para fora daquele convento.

Não fora aquele, definitivamente, o sonho que haviam sonhado para ela.

— Ester só tem nos dado dor de cabeça nos últimos meses, Keila. Aquela menina precisa de limites. Não sei onde errei na criação daquela menina. Dei uma mão ela queria meus braços inteiros.

Ele reclamava, enquanto andava pelos corredores do Instituto, ao lado dela.

— Não seja tão metódico, Ricardo. Em breve Ester enjoará daquele lugar e voltará para a faculdade.

O homem sacolejou a cabeça, impassível.

— Assim espero, Keila, assim espero. Falei com Luciana sobre as bolsas que Ester me pediu.

— E ela o que disse?

— Aceitou apenas conceder a bolsa de Ester, já a bolsa da coleguinha dela terá de ser conseguida conforme todas as outras.

— Bem, nós dois conhecemos Luciana, Ricardo.

— Ela deixou claro que somente cederia a bolsa por consideração a nós dois. O que não tiro a razão dela.

— Claro que não, isto aqui não é brincadeira. Luciana preside este instituto com mãos de ferro. Não há espaço para brincadeiras aqui. Não enquanto este lugar tiver como dona e presidente Luciana Ferrazza.

Ricardo passou as mãos pelo cavanhaque, preocupado. Respirou fundo. O sonho da vida dele era ver a única filha formada em medicina. Tornando-se uma grande médica.

— Se essa tal amiga da Ester não passar na prova para conseguir a bolsa, prevejo que ela também desistirá. É isso que não tolero naquela menina. Ela não leva nada a sério. Ester é uma garota impulsiva, Keila.

— Calma, meu amor, não se estresse. Uma hora ou outra nossa filha acordará para a vida.

 

***

Beirava uma da tarde quando Clara e Constança deixaram a clínica médica, em que Clara fora atendida pelo doutor Rômulo Domingues.

Pelos exames médicos, estava tudo bem com a jovem, ela só precisava ser mais atenta à dose certa e à hora certa de tomar seu coquetel diário, assim evitaria que o vírus se fortificasse em seu organismo e se tornasse um alicerce ainda maior para outras doenças.

A terapia antirretroviral requeria muita dedicação da parte de Clara, tanto alimentar, quanto física e psicológica.

 

***

 

— Hã?! Como assim, papai? Como assim a Clara terá de fazer uma prova?!

Ester indagou num grito fazendo os tímpanos do pai sentirem um certo incômodo.

— Infelizmente, Ester. A dona deste Instituto é Luciana, não eu, sou apenas um simples empregado que deve obediência à sua chefe.

— Essa sua chefe é muito ruim. É uma peste! — Soltou um palavrão que lhe era tão característico. — Por isso é uma mulher infeliz e amargurada da vida!

Ricardo suspirou, estarrecido.

— Essa não foi a educação que eu e a sua mãe lhe demos, Ester. — Repreendeu. — Respeite Luciana, ela já tem sido boa demais cedendo uma bolsa para você sem que precise pagar ou fazer a prova.

— Não custava nada, papai, ela ter dado uma bolsa também a coitada da Clarinha. — Reclamava inconformada. — Pelo menos veja se o senhor consegue roubar o gabarito dessa bendita prova. — Sugeriu fazendo o pai quase ter um infarto de tão passado que ficou.

— Como pode me sugerir um absurdo desses, Ester?! Não seja malcriada, menina! Em três dias venha ao Instituto fazer sua inscrição para o curso.

— Mas papai...

— Assunto encerrado!

— O senhor é um monstro! Um muquirana sem coração! — Exclamou e desligou o telefone na cara do pai.

Ricardo colocou a mão sobre o peito esquerdo e a outra na parede. Fechou os olhos e respirou muito fundo.

Qualquer dia desses aquela menina lhe mataria.

 

***

Três dias depois...

Desde a Reforma Conciliar, há mais de quarenta anos, as freiras, fora do convento, poderiam se vestir sem o hábito, porém, Clara não gostava muito daquela ideia. Sempre gostara das vestes eclesiásticas, talvez porque escondiam seu corpo quase inteiro.

Ela se olhou no espelho.

Naquele dia, usava saia longa, em tons de rosa, azul e amarelo claros, blusa branca, baby look, um suéter da mesma cor da blusa, e tênis modelo All Star, branco. Os cabelos flamejantes foram prendidos em um rabo-de-cavalo, meio frouxo. Não usava qualquer tipo de maquiagem, apesar das reclamações da amiga Ester, que sempre a julgava uma recatada extremista.

Olhar fixo no espelho de sua velha penteadeira amadeirada, sentiu um aperto incômodo no peito. Odiava mais do que tudo sair do convento. Só iria mesmo por consideração a Ester, gostava muito da amiga e não a queria magoar por culpa de sua tristeza particular. Em muitos dias difíceis Ester havia sido sua tábua de salvação. Ela e Madre Constança. Eram elas que lhe salvavam quando a tristeza e a angústia tão recorrentes em sua vida se abatiam com a força de um furacão sobre si.

Um suspiro frustrado escapou de seus lábios.

Baixou a cabeça e olhou para os próprios pés, já sentindo o peso do mundo esmagando seus ombros.

Tinha manhãs que era tão absolutamente difícil levantar da cama e enfrentar mais um dia.

— Clara? Vamos, Clarinha! Papai já nos espera.

— Estou indo, Ester. — Falou nada animada e Ester percebeu.

— O que passa, amiga? Você parece apreensiva. Até parece que está indo se encontrar com o capeta. — Gargalhou.

— Ora, Ester, não fale essas coisas feias dentro deste convento. Você parece que não tem juízo.

Ester abraçou Clara pelos ombros e soltou outra gargalhada.

— Não seja ranzinza, amiga, a vida é tão breve.

— E essa prova? Como será? Não sei de nada. Certamente, não passarei. — Dizia realista.

Ester a olhou com cara de quem acabara de ter uma grande ideia e não demorou até expor seus pensamentos mesmo sabendo que Clara jamais concordaria com tamanha loucura.

— Quem te falou que você precisará estudar?

— Como assim? — Interrogou já esperando o pior.

Ester riu, maquinando seu plano.

— Vamos furtar os gabaritos, amiga! Os gabaritos ficam no computador da chefe de papai, a doutora Luciana. Não gosto daquela mulher. Ela é muito chata e insuportável — Fez uma careta de desagrado. — Só precisamos chegar até lá sem sermos vistas!

Clara encarava Ester de maneira perplexa.

Estarrecida.

Não queria acreditar na loucura que ouvira.

— Você, por acaso, enlouqueceu, Ester?

 

***

Dois carros pretos, de luxo, pararam diante da entrada do cemitério da Cruz.

O motorista desceu rapidamente e abriu uma das portas traseiras de onde surgiu a figura alta e elegante de Luciana.

Aquele era um dos dias mais difíceis para ela.

Faziam exatos quatro anos desde a partida repentina de seu marido Sérgio Ricci.

E, por alguma razão desconhecida, ela jamais o esquecera.

A lembrança dos olhos dele ainda estava muito viva em sua vida, talvez por sentir certa parcela de culpa pela morte dele. Por não ter sido uma boa esposa. Culpa por nunca ter sido capaz de o amar de verdade, como uma boa esposa deve amar o seu marido.

Fitou, por trás das pretas e radiantes lentes de seus óculos de sol, as lápides de mármore espalhadas na grama verde.

Um suspiro profundo escapou de seus lábios.

— Daqui a senhora irá para casa ou para o Instituto, doutora Luciana?

Perguntou o motorista.

— O Instituto. — Respondeu de maneira seca, quase gélida.

O homem vestido em um terno preto, usando óculos de sol escuro, assim como seus outros dois colegas de trabalho ali presentes, cruzou as duas mãos na frente do corpo e apenas assentiu.

Em silêncio, sob os olhares atentos e sérios de seus seguranças e do motorista, começou a caminhar de maneira articulada, na direção da lápide do falecido marido.

Luciana Ferrazza era sempre tão elegante, ética, competente.

Os seus cabelos negros e brilhantes, cuidadosamente cortados na altura dos ombros, num corte ultramoderno, eram uma afronta harmônica aos trajes brancos e sociais que molduravam seu corpo esbelto de maneira elegante e atraente.

Aquele era um dia triste...

Um dia difícil para ela.

Algumas árvores plantadas na grama plana do cemitério balançam com o rufar do vento.

Folhas se desprendiam de seus galhos e voavam numa calmaria encantadora, para Deus sabe onde.

Pássaros voavam e faziam um cântico quase litúrgico naquele lugar sereno, pacífico, silencioso e, por vezes, esquecido pelo tempo.

Ali...acabava-se todo o orgulho, toda a riqueza, acabava-se a existência humana que, no fim, somente permaneceria viva apenas na memória de algumas pessoas.

Fim do capítulo

Notas finais:

Instagram: @dicaldarelli

Wattpad: @DiCaldarelli

Leia mais histórias da autora em>> https://www.amazon.com.br/s?i=digital-text&rh=p_27%3AThaa+Di+Caldarelli&s=relevancerank&text=Thaa+Di+Caldarelli&ref=dp_byline_sr_ebooks_1


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Comentários para 3 - Capitulo 3:
line7
line7

Em: 13/10/2022

Amando a historia como sempre maravilhosa com sua escrita impecável:) voltando aos romances, espero que você atualize  mais breve possível.


Resposta do autor:

Oi, Line. :)

Muito otbigada, meu bem. Fico muito feliz que tenha gostado. 

Bjssss

Responder

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 12/10/2022

Realmente só a saudade e as lembranças.


Resposta do autor:

Oi, meu bem. :)

Realmente, muitas saudades e lembranças. 

Bjsss

Responder

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Anny Grazielly
Anny Grazielly

Em: 08/10/2022

Caracaaaaaa… eu estou achando que Sergio eh o pai da Clarinha… e se for… kkkk… vai ser loucura loucura…. 


Estou pensando que Luciana vai encontrar uma situação nada boa em sua sala... misericórdia!!! Ester eh louca mesmo... kkk

 

Volte logo com mais capítulos 


Resposta do autor:

Oi, Anny. :)

kkkk vamos ver se sua teoria e a de Mille se concretizam, será?rsrs

Humm, será que Luciana chega a tempo de fazer um flagrante? kkk

Bjssss

Responder

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Mille
Mille

Em: 08/10/2022

Oi querida Thaa 

Clarinha enfrenta muito preconceito e mesmo assim não pede seu jeito humilde. 

Olha tenho um palpite não sei a idade dela mais acho que seja filha do Sérgio ou da própria irmã rabugenta kkk

Bjus e até o próximo capítulo 


Resposta do autor:

Oi, Mille, meu bem. :)

A Clara é uma menina bastante sofrida, mas não perde jamais sua essência gentil, humana, humilde. 

Hummm, vamos aguardar paa ver se a teoria se concretiza...kkk 

Bjssss

Responder

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Dressa007
Dressa007

Em: 08/10/2022

Mais um capítulo maravilhoso... essa Patrícia já vi que é uma pedra no sapato.
Resposta do autor:

Muito obrigada, meu bem. :)

Realmente, a Patrícia é, literalmente, uma pedra no sapato da Luciana. rsrs 

Bjssss

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