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Ela será amada por Bruna 27

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Palavras: 3860
Acessos: 1208   |  Postado em: 28/09/2022

Capitulo 40

 ELISA

 

Mamãe pediu a Roberto para nos levar a um restaurante. Tivemos um jantar agradável no qual conversamos sobre diversos assuntos. Ela, embora trabalhasse muitas horas durante a semana, costumava dedicar grande parte de seu tempo livre na leitura de livros de ficção científica. Autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Aldous Huxley eram seus grandes ídolos. Assim como Júlio Verne. Como meu pai não era muito fã de nada que ele considerasse distante da realidade, minha mãe preferia compartilhar comigo toda a excitação que as aquelas histórias lhe proporcionavam. Empolgada, ela falava sem parar e eu absorvia todo a sua paixão por histórias sobre galáxias distantes no espaço, extraterrestres bizarros e robôs inteligentes. Mas suas histórias favoritas eram aquelas que envolviam viagens no tempo. O assunto também sempre me fascinava.

 

Fiquei pensando o quanto aquilo seria útil para mim naquele momento. Afinal, quem nunca quis voltar no tempo e reparar seus erros. Mas como mamãe e eu sabíamos pelas histórias de ficção científica, quando se tenta muda o passado pode-se alterar o futuro de modo desastroso. Na verdade, não se pode fugir da dura lição de aprender com os erros. O que resta é seguir em frente e tentar repará-los da melhor maneira possível.

 

Demoramos muito no restaurante. Fiquei feliz ao constatar que tinha a melhor mãe do mundo. Ela estava sendo incrível. Em vez de tentar me passar algum sermão, mamãe ajudava a atenuar meu sofrimento, distraindo-me de minhas preocupações. Sabiamente, ela me mostrava que existe um mundo vasto de possibilidades para além do que nossa visão estreita nos mostra. Principalmente, quando estamos confusos com nossos sofrimentos individuais que não percebemos que existem outras pessoas ao nosso lado, pessoas que querem, acima de tudo, nossa felicidade.

 

Mamãe não queria que a noite acabasse. Meu pai ficaria trabalhando até tarde. Ele era muito metódico e queria que tudo relativo ao colégio estivesse em ordem. Por isso, só iria para casa quando fosse vencido pelo cansaço. Nisso meus pais eram iguais. Mas esta era a folga de mamãe e ela queria aproveitar ao máximo. Além disso, eu sabia que ela estava se esforçando para que eu também pudesse ter um bom momento de diversão. Sendo assim, minha mãe decidiu conhecer um barzinho que tinha aberto há pouco tempo. Segundo ela, alguns colegas de trabalho já haviam frequentado o local e adoraram. Ela já havia convidado meu pai, mas como ele andava muito ocupado sempre adiava. Mamãe pediu a Roberto para se juntar a nós. No começo, ele recusou com educação, mas ela insistiu e o motorista com seu jeito sempre sério sentou-se a mesa conosco.

 

-- Hoje estou a fim de tomar uma cerveja bem gelada. -- Falou minha mãe, com grande empolgação.

-- Cerveja? -- Perguntei, confusa -- Nunca vi você tomar cerveja, mãe.

-- Isso porque seu pai tem a mania de regular o que eu bebo. -- Esclareceu ela -- Se você tivesse me visto na faculdade. Aqueles sim eram bons tempos. Também topa uma cervejinha, Roberto?

 

Roberto concordou, tímido. Mamãe ficou muito satisfeita com sua resposta.

 

-- Espera aí, se os dois vão beber. Quem vai dirigir? -- Questionei.

-- Nós pensamos em algo -- Respondeu mamãe, com simplicidade. -- E você, filha. O que vai beber?

-- Você quer que eu beba, mamãe?

-- E por que você acha que estamos aqui? Você já é maior de idade, querida. E nunca fizemos um programa assim. Fique à vontade.

 

Ela não estava mesmo para brincadeira. Mamãe parecia achar muito divertido aquele programa não planejado. Como quando se é jovem e as coisas acontecem naturalmente. Você está em sua casa ou em qualquer outro lugar e um amigo te liga. Você não tinha planos para aquela noite. De repente, está no outro lado da cidade, se divertindo com seus amigos e com pessoas que você acabou de conhecer. Não que alguma vez eu tenha me deixado levar por meus amigos, mas Becca era assim. Eu conhecia todas as suas histórias de noites de bebedeira na cidade. Ela adorava a imprevisibilidade daquelas ocasiões. Enquanto eu ficava com medo só de pensar em estar em um lugar no qual não desejava ir. Eu nunca me deixava levar. Talvez eu não tivesse o espírito aventureiro da juventude. Meu bom senso sempre me impediu de fazer coisas imprevisíveis. Ou talvez o medo do desconhecido fosse maior. De qualquer modo, minha personalidade me impedia de querer fazer coisas imprudentes que eu pudesse vir a me arrepender futuramente.

 

Mas não apenas um jovem que anseia aproveitar a vida comete suas imprudências. As pessoas apaixonadas também costumam ser assim. Mas no meu caso quando me apaixonei por Ágata, tudo o que fiz por ela foi com bom senso, pois tinha a certeza de ser correspondida e Ágata também sempre foi uma pessoa muito sensata. Meu erro foi levar meu bom senso aos extremos e esquecer o amor. Amor nada tem a ver com razão. Como diz a canção, “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração”. Amor tem a ver com sentir com o mais profundo de nosso ser. Só dá para sentir o amor com plenitude quando deixamos de lado não apenas nossos preconceitos e o orgulho, mas também o medo. Eu sabia disso agora mais do que nunca, pois meu medo e prudência em excesso me afastaram da pessoa que amo.

 

Mamãe pediu as cervejas e alguns petiscos. Preferi pedir um suco de frutas.

 

-- Não vai beber, Elisabete? -- Perguntou ela quando fiz meu pedido.

-- Hoje não, mãe -- Respondi -- E, afinal, alguém aqui tem que permanecer sóbrio.

 

Ela sorriu. Roberto também esboçou um sorriso.

 

-- Tudo bem. -- Concordou minha mãe -- Então vamos lá, como dizem: “começar os trabalhos”.

 

Ela propôs um brinde. Roberto estendeu seu copo de cerveja e eu, meu suco de laranja.

 

-- Gostaria de brindar ao meu bebezinho que está crescendo. -- Falou minha mãe para meu embaraço -- E agora está iniciando uma nova fase da vida. Estou muito orgulhosa de você, querida. Saúde!

-- Saúde! -- Dissemos eu e Roberto em uníssono, dando um gole em nossas respectivas bebidas.

 

Fiquei emocionada pelas palavras de minha mãe. Ela conseguia me fazer sentir cada vez melhor e mais agradecida pelos pais sensacionais que eu tinha.

 

Mamãe e Roberto logo engataram uma conversa sobre política. Prestei atenção apenas em alguns trechos da conversa. Observei o ambiente agradável no qual um cantor solitário tocava MPB com uma voz suave. As mesas não ficavam muito distantes umas das outras, certamente para dá a sensação de proximidade entre as pessoas. Era só se concentrar um pouco que seria possível ouvir o que conversavam. Mas minha atenção flutuava entre o ambiente ao meu redor e meus próprios pensamentos.

 

Sentia saudades de Ágata. Se as coisas tivessem sido diferentes, poderíamos está desfrutando de uma noite romântica, jogando conversa fora e namorando como costumávamos fazer, mas agora aquilo parecia uma realidade distante.

 

Ágata com toda certeza estava me odiando. E embora eu estivesse arrependida e quisesse correr para ela, eu sabia que ia me deparar com um muro intransponível. Ágata era muito teimosa, difícil de mudar de ideia. Ela sempre fora mais forte e mais corajosa do que eu. Já havia enfrentado muita coisa sozinha. Eu sabia que ela estava sofrendo por minha causa, mas cedo ou tarde, ela daria a volta por cima. Ágata ficaria bem.

 

Quanto a mim, restava encontrar o melhor modo de lidar com a situação. Naquele momento, só podia esperar que Ágata se acalmasse, depois poderia tentar uma aproximação após nossa despedida brusca e dolorosa. Mas, apesar do orgulho de Ágata, eu tinha certeza que ela ainda me amava e afinal, nosso amor que era também nossa fraqueza era a arma mais poderosa que eu tinha a meu favor se quisesse voltar a tê-la a meu lado, talvez a única que eu dispunha para tentar amenizar a amargura que eu causara em seu coração.

 

***

 

 

Quando voltei minha concentração novamente para o mundo ao meu redor, Dona Marta e Roberto já colecionavam garrafas vazias de cerveja. Mamãe já estava um pouco embriagada e nosso motorista carrancudo parecia até quase feliz. A conversa já havia evoluído para assuntos mais pessoais, mamãe falava alegremente sobre suas peripécias quando era caloura na universidade. Ela e as amigas com que dividia um quarto numa república de estudantes elegiam uma noite no mês para extravasar o estresse das aulas. Geralmente, era uma sexta-feira, noite em que tudo era permitido. Elas saíam para beber e dançar. O ponto alto da noite era o que elas chamavam de “desafio”. A proposta devia ser devidamente acatada sob a pena de não poder mais fazer parte do grupo. O negócio era levado muito a sério e as maiores loucuras eram propostas.

 

-- E qual foi a maior loucura que você fez mamãe? -- Perguntei, curiosa.

-- Foram tantas. -- Respondeu ela -- Mas com certeza a mais marcante foi uma vez em que fui desafiada a entrar em um dos restaurantes mais tradicionais da cidade e tirar quase toda a roupa em frente a todos.

-- E você fez mesmo isso? -- Falei, chocada.

-- Acredite, eu fiz. E quase fui presa por atentado ao pudor. Mas aconteceu que naquela noite seu pai estava no restaurante jantando com seus avós. Já nos conhecíamos da faculdade e por alguns amigos em comum. Ele fazia administração e eu, medicina, mas eu não costumava falar com ele. Roger sempre teve uma aparência circunspecta e eu o achava boçal. Além do mais, eu preferia os tipos rebeldes e aventureiros. Mas naquela noite, seu pai me defendeu e evitou que chamassem a polícia. Eu estava bêbada e não tinha muita noção do que estava se passando. Quando me dei conta do que tinha acontecido morri de vergonha, fiquei me sentindo tão culpada que decidi deixar de lado aquelas sextas-feiras malucas até porque daquele dia em diante, eu só tinha olhos para o seu pai.

-- Eu nunca soube dessa história. -- Falei, impressionada -- Vocês sempre contaram que se apaixonaram na universidade, mas eu nunca pensei que houvesse sido desse modo.

-- Preferimos poupá-la de alguns detalhes constrangedores -- Revelou mamãe.

-- Não deviam ter feito isso. Eu teria adorado saber. É uma grande história a se contar.

-- Amo seu pai, Elisa. Ele é e sempre foi o único para mim. Desde o começo se mostrou um cavalheiro, mesmo diante da minha falta de pudor naquela noite, ele nunca pensou mal de mim. Foi paciente com meus erros e meu jeito meio maluco. Como dizem, ele “me aguentou”.

 

Eu estava cada vez mais encantada com o rumo daquela conversa. Queria saber mais sobre o relacionamento de meus pais, afinal, eu era o resultado daquela história. Acho que nem todo mundo tem o privilégio de ser fruto de um amor verdadeiro.

 

-- Mãe, quer dizer que se você nunca tivesse tirado a roupa naquele restaurante, eu não estaria aqui nesse momento? -- Perguntei, evocando uma situação hipotética. Como minha adorava histórias sobre viagem no tempo, ela gostava de refletir sobre os desdobramentos que os acontecimentos podiam levar. Tal como os McFlys no baile de “De volta para o futuro”.

-- Provavelmente -- Falou ela, tomando mais um gole de sua cerveja gelada. -- Acho difícil ter notado seu pai de outra maneira. Pensando bem, teria sido quase impossível, afinal como disse, Roger não fazia o meu tipo. Eu era tão distraída que não consegui enxergá-lo até aquela noite. Ele foi meu herói.

 

Acho que meus olhos brilhavam de tanta emoção naquele momento. Eu quase podia sentir o amor dos dois crescendo a cada ano. Sempre admirei meus pais como um exemplo de casal apaixonado, agora mais do que nunca.

 

-- Mas não pense que foi tão fácil assim -- Continuou ela -- Roger estava quase comprometido com uma garota de uma família muito amiga da família dele. Seus seus faziam muito gosto que os dois namorassem. Imaginem a cara deles quando Roger trocou a garota perfeita pela menina pelada do restaurante? Num primeiro momento, foi um choque total, mas eles logo superaram. Eles eram pessoas muito boas, seus avós. Muito educados e solícitos. Acabaram me acolhendo, não só porque eu fosse uma estudante de medicina, profissão pela qual eles tinham muita admiração, mas eles realmente gostaram de mim. Nos demos muito bem. Poderíamos discorrer sobre qualquer assunto por horas. Logo passei a me sentir parte da família.

 

Mamãe lembrava o passado com alegria. Fiquei pensando em quanto minha família era especial.

 

Logo, ela mudou de assunto e voltou sua atenção a Roberto que estava até então calado ouvindo nossa conversa. Meus pais consideravam o motorista como da família, ele estava conosco há muitos anos. Roberto não tinha ninguém na capital, sua mãe morava no interior com dois irmãos seus.

 

A noite avançou. Quando o cantor de MPB encerrou sua apresentação começou a programação mais esperada da noite: karaokê. Desde que chegamos, mamãe ficou empolgada e havia esperado com ansiedade por aquele momento. Foi uma das primeiras a se candidatar a aquela humilhação pública voluntária. E para meu constrangimento, ela me arrastou junto.

 

Mamãe já estava alta, mas mesmo que não estivesse, ela tinha desinibição suficiente para tirar de letra aquele momento. Já eu desejei ter tomado algo para ganhar mais coragem. A canção escolhida foi “Girls just wanna have fun”, clássico dos anos oitenta, uma música alto-astral sobre diversão.

 

Quando a melodia começou, mamãe soltou um gritinho animado. Ela estava radiante. Cantou o primeiro trecho da música numa imitação mais empolgada do que correta de Cindy Lauper. “I come home in the morning light. My mother says when you gonna live your life right”. Foi o bastante para contagiar o barzinho, todos cantaram juntos. Aos poucos, também me deixei levar pela música e fiz jus ao segundo microfone, acompanhando mamãe na canção. Afinal, garotas só querem se divertir, diz a música, e por que não?

 

Quando descemos do palco fomos bastante aplaudidas. Para nossa surpresa, quando chegamos a nossa mesa, meu pai estava lá. Mamãe se jogou em seus braços. Havíamos ligado para avisá-lo onde estávamos, mas não tínhamos certeza que ele viria. Pelo visto, papai não queria ser deixado de lado naquele momento de diversão. Seja lá o que ele tivesse que fazer, ficou outro dia. Fiquei feliz em vê-lo priorizar a família em vez do trabalho.

 

-- Você veio? Viu-nos no palco, papai? -- Perguntei, animada.

-- Vocês estavam maravilhosas minhas princesas. -- Comentou ele, sorrindo

-- Que bom que veio, querido. Amei a surpresa -- Falou mamãe, dando um beijo na bochecha dele.

-- E perder toda a diversão? -- Respondeu – E por falar em diversão. Vejo que vocês estão já beberam bastante.

-- Eu não, papai. Não provei uma gota de álcool. -- Falei, divertida

 

Papai lançou um olhar fingindo irritação para mamãe que pareceu culpada.

 

-- Bebemos pouco -- Defendeu-se ela. Embora o contrário fosse óbvio.

-- E você, Beto? Também não ficou atrás.

-- Desculpe, Roger. Mas elas insistiram bastante.

-- Relaxa, amigo e obrigada por fazer companhia a minhas meninas.

 

Meu pai entrou no clima e não reclamou do estado de embriaguez de mamãe. Ele até arriscou uma cerveja. Os mais ousados ou bêbados da noite maltratavam nossos ouvidos no karaokê. Mas a maior surpresa foi quando meu pai decidiu cantar.

-- Tem certeza disso, meu amor? -- Perguntou minha mãe, alarmada.

-- Absoluta. -- Respondeu ele, convicto.

 

Papai caminhou solenemente até o palco. Enquanto eu, mamãe e Roberto observávamos boquiabertos. O vimos pegar o microfone e falar:

 

-- Boa noite. Me chamo Roger e essa canção é para minha linda esposa, Marta que está sentada logo ali.

 

Ele indicou nossa mesa, e todos voltaram sua atenção para nós. Alguns assobiavam. Minha mãe que estivera tão desinibida na sua vez de cantar, tentou esconder a cara. Ela, assim como eu não acreditava que aquele ali no palco era mesmo o papai.

 

A melodia era lenta e a letra dizia coisas lindas. Ele não fez feio e cantou bastante afinado, “You make me feel Brand new”, do Simply Red.

 

My love
I'll never find the words, my love
To tell you how I feel, my love
Mere words could not explain

 

 

Mamãe foi as lágrimas. Eu já estava bastante sensível, lembrando-me de Ágata que também não pude segurar a emoção.

 

Without you
Life has no meaning or rhyme
Like notes to a song out of time
How can I repay
You for having faith in me

 

Quando a música acabou, obedecendo aos pedidos de todos os presentes que exigiam: Beija, Beija. Papai deu um beijão de cinema em minha mãe. Era incrível perceber que mesmo após mais de vinte anos juntos o amor entre ambos continuava o mesmo.

 

Voltamos para casa já de madrugada. Dona Marta estava cambaleante e precisou da ajuda de meu pai para subir as escadas. Desejei boa noite a ambos e fui para meu quarto. Após um bom banho, deitei em minha cama e apesar da hora avançada peguei o telefone e tentei ligar para Ágata, mas seu celular estava desligado. Eu estava otimista demais se pensasse que ela realmente iria me atender depois de eu pedir que ela fosse embora. Lembrei-me da canção:

 

Without you
Life has no meaning or rhyme
Like notes to a song out of time.

 

 

***

 

Não vi minha mãe até o início da tarde do dia seguinte. Como ela não havia saído do quarto até então, fui procurá-la e a encontrei com uma tremenda ressaca. Sentei ao seu lado na cama e ela me olhou envergonhada.

 

-- Como você está?

-- Pronta para reconhecer que exagerei -- Disse ela, fazendo careta. -- Mas apesar de tudo, estou bem. Foi bom trazer a velha Marta de volta.

-- Queria agradecê-la por ontem, mamãe. Você conseguiu o impossível que era levantar meu astral.

-- Fico feliz em saber disso. Não gosto de vê-la sofrendo pelos cantos. -- Falou ela fazendo carinho em meu rosto -- Se gosta mesmo dessa garota, por que não se acerta com ela?

-- Gostaria que fosse assim tão simples, mas eu compliquei as coisas demais. Não sei o que fazer. -- Confessei.

-- Tenho certeza que você encontrará uma maneira -- Assegurou ela -- Mas como diz Rubem Alves: enquanto se espera é preciso viver. Você não pode parar sua vida só porque as coisas não estão saindo como você quer, querida.

-- Tem razão. Melhor eu me preparar para mais tarde.

-- Hoje é o grande dia, como se sente?

-- Não estou tão animada. -- Falei, sincera.

-- De qualquer modo, você precisa ir.  Estaremos lá, eu e seu pai. -- Confirmou ela -- Aliás, seu pai já esta lá organizando tudo no colégio. E conhecendo-o como eu conheço só vai voltar de lá para trocar de roupa.

-- Mamãe, alguma vez você pensou em trair o papai?

 

Minha pergunta a pegou de surpresa. Eu estivera matutando sobre isso e esperava que ela pudesse me dar uma resposta sincera.

 

Ela olhou-me com curiosidade e respondeu:

 

-- Sim, uma vez.

-- Sério? Mas vocês se amam...

-- Isso é incontestável, querida. -- Respondeu ela -- Mas eu não posso me prender numa redoma de vidro e esquecer que existem outras pessoas ao redor. Cedo ou tarde, alguém nos chama a atenção.

-- Então, você já se interessou por outro homem, mamãe, mesmo estando com o papai?

-- Conheci um cara no hospital uma vez, um colega de profissão, ele era charmoso, inteligente. Senti-me atraída por ele. E acho que ele também estava interessado. Mas, flertar é uma coisa. Eu nunca passaria do limite, meu bem. Não vale a pena perder o que eu e seu pai temos, nosso amor, nossa família. Por que eu iria destruir tudo isso por uma aventura qualquer? O desejo é algo perigoso e se você não colocar seus valores em primeiro lugar, você acaba cedendo. É preciso ser bastante forte, é uma pena que nem todo mundo mantenha suas convicções.

 

Pensei em Ágata. Ela era, como minha mãe falou, uma dessas pessoas fortes. Tinha suas convicções. Agora, eu tinha certeza que ela não me trairia com Gabriela ou com qualquer outra pessoa. Talvez se eu tivesse certeza disso antes, não teria me deixado enganar pelas evidências. Mas como nos mostra Foucault, há muito mais para além das evidências. Um de meus filmes favoritos chamava-se “12 homens e uma sentença”. Neste filme, vemos como aos poucos as “e-vidências” são desconstruídas até se chegar à verdade. Podemos montar uma história falsa a partir de evidências verdadeiras. Eu poderia ter pensando nisso eu ver Ágata com Gabi na cama, mas eu estava tão irritada com a situação que eu só consegui ver o que eu queria ver ou o que Becca queria que eu visse.

 

Mas agora que Ágata estava sozinha e tinha Gabriela ao seu lado como uma amiga fiel, a morena tinha uma chance de conquistá-la.

 

-- Não vai dizer nada, querida. Sobre o que eu disse? -- Perguntou minha mãe me arrancando de meus pensamentos.

-- Eu entendi bem o que você falou mamãe. -- Respondi -- Acho melhor eu ir me arrumar logo.

-- Agora? Mas ainda está cedo querida.

-- Ainda tenho que ir ao salão, mamãe. – Justifiquei.

-- Eu também tenho. Vamos juntas, lembra? Mas o salão está marcado para só daqui há uma hora? Por que a pressa?

-- Porque ela está com ela, mamãe. E dessa vez pode ser para valer. Você não vê? -- Perguntei, quase desesperada.

-- Espera, espera. Acalme-se e explique isso direito. -- Pediu mamãe -- Quem está com quem?

-- Ágata. Ela está com a Gabi.

 

Mamãe me olhou confusa.

 

-- Eu tô meio perdida, filha. Mas pelo que você me contou antes, a Ágata é a garota que você gosta. E essa Gabi é a que você encontrou na casa dela?

-- É isso mesmo. -- Confirmei -- Você não vê?

-- O que eu não vejo?

-- Que agora as duas podem ficar juntas. -- Expliquei -- Isso é tudo culpa minha. Eu a joguei nos braços da Gabi. Eu a dei de bandeja. Como eu fui burra, idiota, tapada...

-- Elisa, acalma-se. Você não é idiota. -- Repreendeu mamãe -- E, afinal, onde pensa que vai saindo daqui assim. Não é sendo impulsiva que você vai resolver essa situação.

-- Ok, mamãe. Você está certa -- Falei -- No fim das contas, foi sendo impulsiva que eu acabei me colocando nessa situação.

-- Agora você está falando como a filha que tenho. Vem cá!

 

Voltei a me sentar ao lado de mamãe. E ela voltou a me fazer carinho. Apesar de mais calma, eu sabia que aquela inquietação não passaria. Afinal, eu tinha que reconhecer que não estava em uma situação nada confortável.

Fim do capítulo


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