Capitulo 36
ELISA
Acordei me sentindo um pouco tonta. Meus pais haviam me levado para casa de meus tios onde todos comemoraram meu mérito de passar de ano com louvor. Acabei exagerando um pouco na bebida. Tio Carlos era um grande apreciador de vinhos. Era sempre assim, onde tio Carlos estava havia sempre a possibilidade de provar as melhores safras.
Foi uma noite divertida. Quase completa. O único vazio em meu peito era não está com Ágata ao meu lado. Ultimamente, estávamos sempre na presença uma da outra. Tínhamos uma sintonia perfeita, conseguíamos até mesmo completar as frases uma da outra.
Eu estava tomando meu café da manhã quando Becca apareceu.
-- Bom dia, Becca. -- Falei -- Como você está?
Becca me olhou com gravidade.
-- Infelizmente, acho que não será um bom dia Elisa. -- Prenunciou Becca, sombria.
-- Por que diz isso? O que aconteceu, Becca? -- Perguntei, exaltada.
Ela respirou fundo.
-- Eu nem sei por onde começar. -- Falou ela.
-- Becca, você está me assustando.
-- Olha, Lisa, eu sou sua amiga por isso eu não posso deixar de te contar isso. Ontem à noite eu estava em uma boate com o Marquinhos e eu presenciei algo bastante desagradável. Como sei que você não vai acreditar somente em minhas palavras é melhor que você veja com seus próprios olhos...
De repente, fui tomada por um mau pressentimento. Senti um aperto no peito.
Becca tirou um celular da bolsa e me mostrou fotos que me chocaram. Mesmo na pouco luz consegui visualizar claramente Ágata e Gabriela se beijando.
-- Isso não pode ser verdade. -- Falei sem acreditar.
De repente, senti uma vontade quase incontrolável de chorar. A dor e a raiva cresciam em mim. Meu corpo inteiro tremia.
-- Becca, não pode ser... Ágata não faria isso. -- Disse, tentando recorrer a razão -- Talvez, talvez Gabi tenha agarrado ela...
-- Lisa, pensa bem. Você estava com sua família ontem à noite e Ágata foi para uma boate com a Gabi. O que acha que ela estava fazendo lá? -- Questionou Becca.
Fiquei em silêncio tentando ordenar meus pensamentos. Ainda segurava o celular de Becca entre as mãos, quando minha mãe apareceu. Tive que controlar a vontade de chorar e fingir que nada estava acontecendo.
Becca me ajudou distraindo a atenção de minha mãe para ela.
-- Como vai o Marquinhos, Becca? -- Perguntava minha mãe enquanto tomava café.
-- Ele está ótimo, tia Marta.
Becca de vez em quando lançava um olhar apreensivo para mim. Eu tentava me absorver na conversa delas, mas era quase impossível, eu só conseguia pensar em Ágata.
-- Que bom querida que você encontrou um rapaz interessante para namorar -- Disse minha mãe -- Mal posso esperar para ver minha Elisabete namorando.
Não tive forças para responder aquilo. Fui salva por Becca que falou:
-- Tia, você conhece a Lisa. Só pensa nos estudos. Não é, Lisa?
-- Sim -- Respondi -- Não quero saber de namorar agora mamãe.
-- Mas em breve surgirá alguém. Tenho certeza. -- Falou mamãe, convicta -- Sabe, quando seu pai surgiu na minha vida...
-- Mamãe, desculpe interrompê-la -- Falei -- Mas Becca e eu estamos de saída.
Mamãe olhou para mim, confusa.
-- Tia Marta. Foi um prazer -- Becca apressou-se em dizer levantando-se e estalando um beijo na bochecha de minha mãe.
Também me despedi de mamãe com um beijo. Tenho certeza que ela estranhou nossa saída repentina, mas eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem. Ocultar sentimentos e impressões das pessoas que amamos é sempre desconfortável. Naquele momento, eu me sentia sem chão, mas ao mesmo tempo determinada em tirar aquela história a limpo com Ágata.
-- Aonde vamos? -- Perguntou Becca, quando nos acomodamos em seu carro.
-- Ao apartamento de Ágata -- Falei, sem hesitar -- Eu te ensino a chegar lá.
Durante todo o percurso eu estava tensa, confusa e com medo. E se fosse verdade? E se Ágata tivesse me traindo com Gabi?
Becca dirigia com o olhar sério. Ela também entendia a gravidade de minha situação. Quando chegamos ao prédio de Ágata e descemos do carro, Becca segurou meu braço e alertou:
-- Lisa, tem certeza que quer subir. E se elas estiverem juntas?
Olhei para Becca, nervosa.
-- É o que vamos descobrir agora -- Falei, mais corajosa do que na verdade me sentia.
Cumprimentei seu Antônio na recepção. Subi as escadas, Becca seguia em minha cola.
-- Nossa, ela mora nesse lugar?
Não respondi a esse comentário nem a tantos outros que Becca fez sobre o prédio. Ela estava horrorizada com a perspectiva de alguém morar ali.
Quando parei em frente a porta de Ágata, vacilei por um momento.
-- Não vai tocar a campainha? -- Perguntou Becca diante de minha hesitação.
-- Não -- Respondi -- Tenho a chave.
Abri a porta com as mãos trêmulas. Adentrei a sala e observei tudo no mais completo silêncio. Dirige-me ao quarto de Ágata a passos lentos. Becca seguia atrás de mim, ouvia sua respiração tão descompassada quanto a minha. Ela sentia o suspense no ar, a apreensão de não saber o que estava atrás de uma porta fechada.
A curiosidade humana é algo tão poderoso que mesmo quando não queremos saber, precisamos saber.
Com cuidado, empurrei a porta do quarto de Ágata e me deparei com a cena que tanto temia. Eu não acreditaria se não estivesse vendo com meus próprios olhos. Gabriela dormia tranquilamente ao lado de Ágata em sua cama.
Não consegui dizer nada de tão chocada que estava. Foi Becca que as acordou dizendo quase gritando:
-- Que pouco vergonha!
Ágata atordoada olhava de mim para Becca, confusa.
-- Elisa? -- Disse ela.
Olhei para ela, decepcionada e com as lágrimas já descendo indiscriminadamente pelo meu rosto. Sai correndo, Ágata veio atrás de mim. Alcançou-me quase a porta.
-- Meu amor, posso explicar. Não é nada do que você está pensando. -- Disse ela, suplicante.
Encarei seus olhos negros. Os olhos que tanto amava.
Becca que veio em nosso encalço, falou, dirigindo-se a Ágata:
-- Deixa a Lisa, não está satisfeita com o que você fez?
-- Não se mete. Eu não fiz nada e você sabe disso. -- Falou Ágata dirigindo-se seu ódio a Becca.
-- Não fez nada? -- Questionou Becca -- Como pode negar? Pegamos você juntas.
Dessa vez, Ágata ignorou Becca e dirigiu-se a mim:
-- Elisa, é só um mal-entendido. Por favor, acredite em mim.
-- Como pode pedir para acreditar em você -- Consegui enfim falar -- Nunca pensei que fosse capaz disso, Ágata.
Com lágrimas nos olhos, Ágata ainda tentou argumentar:
-- Elisa, não aconteceu nada entre mim e Gabi.
Gabriela que se mantinha um pouco distante observando a cena, decidiu intervir:
-- Ela está falando a verdade, Elisa. Não aconteceu nada. Ágata só estava cuidando de mim.
-- Cínica! -- Falou Becca para a morena.
-- Vadia! -- Rebateu Gabriela.
Observei que Gabriela vestia roupas de dormir que pertenciam à Ágata.
-- Parem de mentir para mim -- Falei, quase gritando -- Vocês pensam que sou idiota. Já tenho mais do que provas suficientes para acreditar no que aconteceu aqui. E você ainda tem coragem de negar, Ágata?
-- Elisa...
-- Para, Ágata! -- Gritei -- Como pude ser tão idiota. Nesse tempo que ficamos juntas, você... você não dormiu comigo, mas para se jogar na cama dessa safada foi num instante, não é? Quer saber, vocês se merecem.
-- Elisa, isso não é verdade. Não fiquei com Gabriela, é você que amo.
-- Mentirosa! -- Gritei.
Ágata engoliu em seco, vi mágoa e confusão em seus olhos incrédulos.
Num gesto brusco, arranquei o colar que ela me dera de presente em meu aniversário e joguei a seus pés.
-- Adeus, Ágata. -- Falei entre lágrimas.
Sai pelo corredor com Becca. Ágata me seguiu até o carro e tentou insistir, mas eu não ouvia o que ela falava. Eu só queria sair dali.
Quando Becca acelerou ainda pude visualizar Ágata pelo retrovisor do carro. Meu coração estava partido e não sabia se algum dia ele voltaria a ser como antes.
Fim do capítulo
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