Capitulo 1
Capítulo Um
Vila Velha, Espírito Santo, 2019
O Convento Nossa Senhora de Alexandria era uma construção decrépita e imponente, fundado no ano de 1860, pelo padre italiano Romeo Fiorezza, que migrou da Itália junto com os pais, por volta de 1849, quando ainda era um jovem de pouco mais de quinze anos. Chegou ao Brasil, e aos dezesseis anos de idade se dedicou ao seminário, à filosofia, à teologia, à história e também ao Latim. Aos 24 anos foi ordenado diácono e aos 25 tornou-se um honorável e respeitável padre da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária. Dedicando o restante de seus dias de vida na terra a atividades espirituais e de caridade.
A bela e primitiva fortaleza de pedras se erguia monumental sobre um penhasco de cento e sessenta metros de altitude. Ao seu redor ostentava uma vista panorâmica e privilegiada das majestosas águas do mar e de um suntuoso fragmento florestal de um verde belíssimo.
Ali, sobre aquele monumento arquitetônico, incrustado numa rocha íngreme, no recato dos olhares do restante da humanidade, enclausuradas no silêncio dos claustros, viviam madres, freiras, noviças e aspirantes à freira, que assumiam modos de vida discretos, despercebidos aos olhos da sociedade.
Envoltas numa aura de mistério, aquelas mulheres dedicavam suas vidas inteiramente a serviços do convento e religiosos.
Eram mulheres consagradas puramente à religião, e afastadas do pecado da carne, distantes do mundo exterior.
Mulheres devotas à obediência, à castidade e à solidariedade ao próximo.
Em um esparso salão em que eram feitas as sagradas orações, a jovem Maria Clara Spitzner estava de joelhos, diante de um dos bancos marrons, de madeira italiana, que decorava o local. Ao seu redor havia algumas outras aspirantes à freira, assim como ela, atreladas a uma vida de caridade, castidade, crucifixos, terços e rezas.
Assim que terminou o último ciclo de oração daquela manhã, Maria Clara regressou ao seu aposento, um quarto de pouco mais de um dois metros quadrados, mobiliado apenas por uma cama antiga, de solteiro, um guarda-roupa de duas portas, no qual guardava suas vestes santas, e um criado-mudo com um abajur surrado. As paredes brancas tinham como adorno apenas uma pequena cruz de madeira, em que estava esculpida a imagem de Jesus crucificado. Um minúsculo espelho de moldura vermelha completava o restante da nada rebuscada decoração. Um cabideiro trabalhado em madeira, em que pendurava suas vestes e uma penteadeira que viera de Roma, também mobiliavam o pequeno cômodo.
24 anos!
Vinte e quatro anos enclausurada dentro das paredes frias daquele convento.
Suspirou!
Seus pais? Jamais os conhecera, porém, a velha irmã Bárbara costumava, sadicamente, dizer que nascera do meio das pernas de uma prostituta. De uma vagabunda que vivia a vender o corpo pelas esquinas e bares da cidade. Então, quando engravidara, abandonara a cria nas portas do convento. Desde aquele dia, a irmã Bárbara dissera que ela e a Madre Constança nunca mais viram sua mãe outra vez.
Uma mulher da vida.
Uma mulher que vendia o corpo na esquina em troca de alguns míseros centavos.
Uma mulher que abandonara a filha à própria sorte!
A jovem sentia o peito sangrar, e sabia que mesmo frias as paredes daquele convento e os braços afetuosos e calorosas da Madre Superiora Constança eram o seu único refúgio para as dores inomináveis que assolavam sua alma ferida.
Madre Constança era como uma mãe para si, a mãe que nunca tivera. Ela sempre lhe apoiava em tudo, até no momento mais difícil de sua vida, que fora quando ela lhe revelara um grande segredo de sangue: HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana.
Já nascera com o HIV, desde a gestação fora contaminada por sua mãe, que era pessoa com AIDS, segundo relatórios médicos. Porém, somente aos 6 anos de idade, quando fora acometida por uma pneumonia grave, é que veio o diagnóstico de que estava com o vírus.
Sua mãe talvez sequer soubesse que era pessoa com AIDS.
Algo tão escandalosamente perigoso e fatal! Senão tratada poderia levar à morte. Era uma enfermidade ainda incurável para a época, em que os antirretrovirais eram quase inexistentes.
Daquele dia em diante sua vida mudou de maneira radical. Nunca mais fora a mesma.
Ninguém no convento, além da Madre Constança e da irmã Bárbara, sabia sobre sua enfermidade involuntária. As pessoas teriam preconceito e medo de chegar perto de si.
O HIV e a AIDS ainda eram muito estigmatizados na sociedade.
Fora o HIV a única herança que sua mãe lhe deixara.
Um fatídico legado de dor e destruição de uma vida.
Tirou o hábito vermelho e branco, usado pelas aspirantes à freira, colocou-o sobre um cabideiro de madeira, recatado a uma das quinas das paredes e ficou apenas de calcinha e sutiã, ambos de cor rosa bebê. Precisava tomar um banho rápido, tomar café e seguir para o orfanato, localizado a poucos metros do convento.
Assim que terminara o ensino médio, a Madre Constança insistira para que ingressasse em um curso de nível superior. Ela parecia saber melhor do que si mesma, qual seria o seu destino.
Por razão de demasiada insistência da Madre, aos 17 anos de idade acabara por ingressar em um curso de biotecnologia barato e o concluíra aos 21 anos de idade.
Lançou um olhar inexpressivo para o hábito e suspirou.
Aproximou-se da veste santificada e a tocou com delicadeza como se estivesse a tocar a mais delicada pétala de rosa de um valioso jardim.
Mesmo depois de 24 anos enclausurada nas paredes do convento não estava bem certa qual caminho seguiria. Era como se seu passado fosse uma sombra que tornara sua existência esquecida do resto do mundo.
A única vida que conhecera fora aquela, a qual se entregava de corpo e alma a exercícios de oração e penitência.
Porém, dentro de si ainda gritava o desejo de procurar por seus pais, no mundo lá fora.
Sentou no banco de madeira diante da velha penteadeira e olhou sua fisionomia no espelho. A pele branca e sensível já exibia algumas olheiras, era perceptível assim como as finas veias esverdeadas sob a pele fina ao redor de seus olhos.
Há algumas noites vinha tendo terríveis insônias. Todas as vezes que a irmã Bárbara tocava no assunto de sua mãe tinha insônias horríveis.
Era uma noite de tormento que vivia.
Suspirou mirando sua imagem no espelho.
Os olhos de uma exótica cor verde-água não exibiam qualquer brilho, além do brilho da tristeza que lhe afugentava a alma.
Esticou a mão sobre a penteadeira e pegou uma escova. Devagar começou a escovar as longas madeixas loiro avermelhada.
Quando era criança, Madre Constança costumava escovar seus cabelos. Ela dizia que eles eram lindos, como uma cascata ruiva, lisos no início e encaracolados nas pontas. Mas eles precisavam de um corte, pois já estavam muito longos.
Levantou e seguiu para o banheiro, com uma toalha em mãos.
Tomou uma ducha rápida e logo regressou ao seu quarto.
Vestiu as roupas íntimas e logo colocou por cima o hábito e o véu que escondia seus cabelos.
Passou uma lavanda floral no corpo e rollon nas axilas.
De segunda à sexta-feira lecionava aula de artes para as crianças do orfanato.
Sorriu!
Sentia-se muito feliz quando estava na companhia daqueles seres inofensivos e abandonados à própria sorte.
Eram crianças e adolescentes sem passado.
Em muitos deles vislumbrava a sua triste história, que se repetia em sua mente dia após dia.
Fechou os olhos a agradeceu a Deus por mais um dia de vida.
Tinha fé que um dia se curaria daquela doença. Era angustiante, pois mesmo com o tratamento que fazia desde os seis anos de idade, quando fora diagnosticada com o vírus, tinha muito medo de chegar perto de alguém. Achava que se o fizesse poderia passar aquele mal para outra pessoa.
A última coisa que queria no mundo era prejudicar o próximo.
Nunca se aproximava demais de ninguém, sempre tratava de manter uma certa e discreta distância.
Tinha seus motivos, suas razões, para agir assim.
***
Luciana Ferrazza estava em sua sala, no edifício espelhado em que se situava o Instituto de Infectologia Agnello Ferrazza, cujo nome homenageava os seus fundadores, Agnello Ricci e Lorenzo Ferraza, dois importantes empresários italianos, falecidos na década de 60, mas que deixaram um grande legado para toda a sociedade brasileira.
O Instituto era uma entidade privada, que funcionava, também, como um Hospital Privado, tinha como principal objetivo a especialização em infectologia, ocupando o segundo lugar no ranking nacional de tratamentos para doenças como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), dentre outros.
O Agnello Ferrazza se localizava numa região privilegiada de Vila Velha.
Em quase cem anos de existência se tornara uma instituição de renome e muito bem recomendada, até mesmo internacionalmente.
Agnello e Lorenzo sempre foram muito unidos, desde suas tenras idades. Eram bons amigos que se tratavam como irmãos. Casaram-se ainda jovens, com as mulheres de suas vidas: Patrícia e Renata, respectivamente. Não demoraram a constituir uma família. De ambos matrimônios resultaram dois herdeiros, um menino, Sérgio Ricci, e uma menina, Luciana Ferrazza, que mesmo antes do nascimento já tiveram seus destinos traçados por um acordo entre as duas famílias: Sérgio e Luciana se casariam para manter sólida a sociedade e o legado criado por seus pais.
Grandes empresas, sociedades e casamentos sem amor há muito faziam parte da burguesia, que tinha o intuito único de dominar a sociopolítica e, economicamente, outras classes sociais.
E, assim como seus pais haviam decidido, ao completarem 18 anos, os herdeiros se uniram num enlace matrimonial de pura conveniência, jamais de amor.
Os anos se passaram e Luciana se tornara uma mulher cada vez mais fria, infeliz e amargurada, por vezes até egoísta. Com o decorrer do imperdoável tempo, o casamento de conveniência foi se desgastando cada vez mais, foi se tornando mormo, nunca houvera amor e, no fim, mágoas e ressentimentos foi o que restou. Enquanto Luciana se formava em medicina, fazia mestrado e doutorado, pela ambição de um dia assumir a liderança do instituto e de toda a riqueza das duas famílias, Sérgio se dedicava a uma vida de tiranias e soberbas. Gastava dinheiro à torta e à direita, com prostitutas, cigarros e bebidas. Era um homem garboso, charmoso, de bom coração, mas que levava uma vida totalmente desregrada, vida esta que o levou a uma morte precoce e fatídica.
Ninguém, além da família, soube o real motivo da morte de Sérgio Ricci.
A mídia vasculhou como carniceiros, alguma razão, no entanto, Luciana concentrava em suas mãos uma grandiosa fonte de poder, assim como a sogra Patrícia, que a odiava e a culpava pela morte do filho e fazia questão de dizer que Sérgio morrera de alcoolismo por causa de Luciana. As duas jamais deixaram que ninguém soubesse a infame razão que ceifou tão tragicamente a vida de Sérgio.
Luciana suspirou pesadamente. Um cansaço excessivo se abatia sobre ela. Todos os dias era mesma rotina laboral, reuniões sobre finanças, reuniões sobre colaboradores, reuniões com o Conselho Societário do Instituto, reuniões com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, reuniões com a cúpula administrativa, reuniões e mais reuniões. Nada em sua vida parecia fazer sentido. Sentia-se como um corpo ambulante vegetando inconscientemente pelas ruas da vida.
Todos os dias tinha de lidar com aquele bando de gente que não largava do seu pé, puxando seu saco, gente de todo tipo, inclusive homens inconvenientes jogando charme barato para cima de si. Homens. Desde o único que tivera no decorrer de seus 39 anos de vida, não confiava em nenhum daquela espécie. Eles não lhe inspiravam a menor confiança, interesse ou desejo.
Suspirou profundamente. Sentia que precisava de novos ares. Uma viagem para algum lugar distante, onde pudesse degustar o doce sabor da solidão em sua inteira e íntegra paz.
Precisava de algum lugar para lavar sua alma e preencher seu coração vazio.
A África quem sabe...Indonésia...Romenia...
Em alguma esquina, talvez, tivesse perdido o prazer pela vida. E, para completar, como se já não bastasse toda a carga pesada que carregava sobre as costas, sua sogra achava de lhe culpar pela morte do filho raparigueiro, alcoólatra e irresponsável, mas aos olhos da mãe, um “anjo”. Dizia que Sérgio havia morrido de desgosto, de alcoolismo e por sua causa.
Luciana meneou a cabeça negativamente e fitou a tela de seu computador branco, incrustado na sua escrivaninha bege e abarrotada de papéis. Os olhos negros, escondidos atrás de seus óculos de grau, eram um só deslumbre de beleza rara, mas sempre tristes.
Ela mantinha todo o monopólio do Instituto, haja vista que sua sogra, Patrícia Ricci, havia se distanciado do labor um ano após a morte do filho amado. Para Patrícia, perder Sérgio, foi como perder uma parte do seu coração. Sua vida nunca mais foi a mesma.
Só uma mãe de verdade sabia definir a dor de perder um filho.
Uma batida soou na porta da sala de Luciana, despertando-a de seus pensamentos recônditos.
— Entre. — Disse, com a voz desprovida de qualquer sentimento ou emoção.
A porta logo foi aberta e uma mulher negra, elegante, de seus quarenta e tantos anos, adentrou a sala.
— Lu, bom dia. — Sorriu. — Você vai almoçar agora? Ricardo, Herbert e eu já estamos de saída para o Oreo.
O Oreo era um sofisticado restaurante criado e pensado para atrair a alta sociedade da cidade, grandes empresários e fazendeiros ricaços
O Oreo era um só deslumbre.
Luciana fitou a amiga, Natália, uma das poucas pessoas que ainda lhe inspirava alguma confiança. Ricardo e Herbert eram dois amigos próximos, casados, excelentes pais, e apaixonados pelas esposas. Não era à toa que apreciava a companhia de ambos.
— Sim, Nat, estou indo. Deixa eu somente fechar essas abas e colocar a senha. São coisas de fundamental importância, não posso deixar à toa.
Natália sorriu, compreensiva.
— Claro, claro, Lu, sem pressa, amiga. A gente te espera.
— Claro que vão esperar, receio que não estejam famintos como leões, para deixarem a chefe almoçar sozinha.
Luciana falou, em tom de brincadeira. Desligou o computador, pegou a bolsa, as chaves de seu esportivo e deixou a sala, na companhia de Natália, que não parava de tagarelar e falar das vidas alheias, coisa que Luciana, particularmente, detestava.
***
Clara regressava do orfanato ao lado da grande amiga e confidente: Ester.
As duas jovenzinhas tinham a mesma idade.
Ambas aspirantes à freira, todavia, vinham de mundos completamente diferentes, porém, a amizade forte as tornava em comum.
Ester era uma jovem de família rica, acostumada ao luxo, à riqueza e a festas badaladas, que esse pessoal adolescente costuma frequentar para suprir o vazio e a solidão de suas vidas mórbidas. Decidira ingressar no convento após a morte repentina de um rapaz por quem era apaixonara. Achava que dentro daquelas paredes de pedras frias e nas orações diárias encontraria algum refúgio para sua dolorosa perda. E, assim, já contava com onze meses dentro do convento e da Ordem das Freiras Carmelitas.
Clara ria aos montes com as loucuras que Ester contava sobre a vida mundana que levava antes de entrar no convento. Ria igual uma criança. Ria tanto que sentia a barriga doer. Adorava demais a amiga e as loucuras dela. Ester tornava seus dias bem menos cinzentos.
— Sorriam mais baixo, meninas, por favor. — Repreendeu, a irmã Larissa, que passava pelo corredor a passos largos, como se estivesse com bastante pressa. Levava em mãos uma bíblia dourada um rosário marrom.
— Está bem, irmã Larissa!
As duas responderam de uma só vez e logo depois voltaram a sorrir baixinho, enquanto andavam pelo corredor longo e estreito, de braços dadas.
— E então, Ester, já decidiu se vai mesmo se tornar freira?
Clara perguntou, parando de rir.
— Ainda não sei, amiga, se é realmente este o caminho que desejo seguir. Não posso negar que o convento foi o meu refúgio, quando perdi o meu amor. E ainda está sendo.
Clara assentiu, comprimindo os lábios em compaixão à dor da amiga.
— O tempo costuma corromper as dores de nossa alma, Ester.
— Mas o tempo não corrompe as nossas lembranças, Clarinha. — Olhou para os próprios pés, de um jeito meio triste.
— Sim, um dia essa saudade será apenas uma lembrança boa, mas não mais dolorida. Não fique assim, Ester. Aposto que um dia quando você se sentir preparada para sair daqui encontrará um lindo rapaz, e este, sim, será o amor de sua vida. — Massageou a amiga no ombro.
Ester sorriu e abraçou a cintura de Clara, que sempre tratava de se manter meio distante. Tinha muito medo de infectar alguém, mesmo que o médico tivesse lhe dito como se davam as formas de infecções do HIV. Mesmo assim tinha receio.
— Não entendo por que esse medo de chegar perto das pessoas, Clarinha, até parece que você tem uma doença mortal. — Ester disse, inocentemente, e gargalhou, mas logo ficou séria ao ver o olhar triste da amiga. — Não fica assim, sua boba, estou apenas brincando com você. Como poderia ter alguma doença mortal se passou sua vida inteira dentro deste convento? — Sorriu outra vez e beijou a bochecha de Clara com imenso carinho.
— Não é medo, Ester, não seja boba, menina! — Sorriu, tentando disfarçar o desconforto e a angústia que sentia por dentro.
— E você, amiga, já decidiu se também quer se tornar uma noiva de Cristo?
Clara ficou em silêncio por alguns minutos, mordiscou o lábio, depois falou, fitando o vazio do corredor de estreitas paredes de pedras medievais, decorado com cuidado e paixão por quadros litúrgicos dos séculos XV e XVI.
— Não conheço outro caminho a não ser este. Fui criada para ser uma freira, então, é somente isso que sei ser, de resto, Deus é quem decidirá minha sina.
— O mundo é imenso, Clarinha, há tantas coisas interessantes e incríveis lá fora. Qualquer dia desses quero te levar para jantar na casa de meus pais. Eles são muito gente boa. Você gostará deles. De papai principalmente.
— É...quem sabe um dia desses a gente vai, Ester.
Clara não acreditava que pudesse haver nada de interessante para uma pessoa como ela, do lado de fora das paredes do convento.
***
— Este restaurante é dos deuses. Em toda minha vida, em todas as viagens que fiz, nenhuma culinária se compara à do Oreo.
Elogiava Natália, enquanto cortava um pedaço de salmão com a faca, para logo em seguida levar à boca.
— Sim, definitivamente, a comida daqui é maravilhosa.
Luciana concordou.
— E tua filha, Ricardo, ainda no convento? — Natália olhava o amigo, ao passo que degustava da comida.
Ricardo sacudiu a cabeça e sorriu.
— Ainda no convento, Natália. Aquela menina precisa de uma boa surra.
Os dois riram.
— Uns corretivos. — Natália disse.
— Exatamente! — Ricardo concordou.
— Quantos anos ela tem?
— 24 anos, mas às vezes penso que tem bem menos. — Sorveu um longo gole de água.
— Ela é muito jovem, ainda, logo amadurece. É uma menina.
— Uma menina que só faz besteiras. No último ano da faculdade de medicina ela achou de trancar o semestre. — Meneou a cabeça em negativa, renegado. Decepcionado.
Enquanto Natália batia altos papos com Ricardo, Luciana falava assuntos de negócios, com Herbert, que era um completo devoto da chefe.
***
— Clara?
— Sim, Ester? — Clara parou de limpar o banco da capela, com uma flanela bege, e fitou a amiga, que também limpava outro banco.
— Semana que vem abrirá um curso no Instituto onde papai trabalha. Estou pensando em fazer. É um curso tecnólogo. Por que não vem comigo? A gente pode se inscrever juntas.
— Que tipo de curso?
— É um curso sobre Infectologia Viral. Você sabe que fiz quatro anos de medicina, sim?
— Sim, sei. Mas minha área de atuação não tem absolutamente nada a ver com a medicina, Ester. Eu fiz biotecnologia, lembra? — Falou, já impaciente.
— Claro que lembro, amiga. Mas conhecimento nunca é demais, você sabe, ninguém pode tirar da gente.
— Sei. Pensarei no assunto e depois te falo. Para essas coisas você sabe, tem que ter dinheiro.
— Ah, amore, dinheiro não é problema para mim. E outra, o Instituto oferta algumas bolsas, posso falar com o meu pai, para que ele consiga duas bolsas com a doutora Luciana, pra gente. — Sorriu, convicta.
— Eu disse que ia pensar, Ester. E quem é essa dra. Luciana?
— É a ricaça, a chefe de papai e dona do Instituto. Aquela mulher dá medo, cruzes. — Gargalhou se benzendo. — Ela é muito séria e muito fria também. Deve ter ficado assim depois da morte do marido...
— Certo! Vamos terminar de limpar aqui e depois te dou uma resposta.
Se tinha coisa que Clara detestava na vida era falar das vidas alheias.
Detestava gente mexeriqueira.
— Amiga, depois, não, agora. Preciso de uma resposta imediata pra ontem. Se não decidirmos logo as bolsas acabarão e ficaremos sem o curso. Muitas pessoas dariam um rim, para conseguir um emprego naquele lugar. Além de pagar bem pra caramba, ainda é um lugar de renome. Com esse curso a gente pode até se tornar assistente de um dos médicos infectologistas, amiga.
Clara havia saído poucas vezes para o lado exterior do convento. O interior lhe parecia bem mais acolhedor e seguro. Tinha receio do mundo lá fora. Tinha medo do novo. Medo de cruzar seu caminho com o de outras pessoas. Não se sentia preparada para lidar com o mundo exterior, muito menos com outras pessoas. Fizera a faculdade num esforço sobrehumano.
— E então, Clarinha, já pensou?
Ester insistia com veemência.
Clara mordiscou o lábio inferior, indecisa.
— Acho melhor não, Ester. Cursei biotecnologia. Minha área não tem nada a ver com a área médica. Conforme já te falei. Não seja teimosa, menina.
Ester revirou os olhos e sacudiu os braços de Clara.
— Ai, Clarinha, mulher, não seja boba, menina, esse seria um curso a mais no seu currículo. E biotecnologia tem a ver com medicina, sim senhora.
Insistia a jovem, com veemência.
— Eu sei, criatura, mas o problema...
— O problema nada, a gente irá. Hoje mesmo ligarei para papai requisitando nossas bolsas. Tenho certeza de que ele irá conseguir essa proeza pra gente. Tudo o que ele mais quer é que eu volte para a faculdade e termine o curso de medicina. — Revirou o olhos outra vez. — E você sabe né, amiga? Os pais sempre achando que os filhos são seus troféus. Um saco só! Mas bom! Vamos terminar de limpar logo esses bancos, porque estou faminta e morrendo de vontade de tomar um banho!
Clara não gostara nada da ideia maluca de Ester.
Nada mesmo.
A amiga só podia ser doida.
Pensava consigo mesma, enquanto balançava a cabeça negativamente.
Aquela menina precisava de juízo.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 23/09/2022
Oi Thaa, demorei um pouquinho mas já estou aqui, feliz por poder acompanhar mais essa aventura
Bjos minha querida
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Rita Dlazare
Em: 21/09/2022
Já tá entre minhas favoritas
Resposta do autor:
Oi, Rita, fico feliz.
:)
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