• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Ela será amada
  • Capitulo 13

Info

Membros ativos: 9502
Membros inativos: 1631
Histórias: 1948
Capítulos: 20,235
Palavras: 51,302,523
Autores: 775
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: jazzjess

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • RECOMEÇAR
    RECOMEÇAR
    Por EriOli
  • Horrores, delirios e delicias
    Horrores, delirios e delicias
    Por caribu

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Entre o Céu e o Inferno
    Entre o Céu e o Inferno
    Por Marcia P
  • Luana: as várias faces da Lua
    Luana: as várias faces da Lua
    Por Ana Pizani

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (849)
  • Contos (476)
  • Poemas (232)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (183)
  • Degustações (30)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Ela será amada por Bruna 27

Ver comentários: 0

Ver lista de capítulos

Palavras: 3470
Acessos: 1625   |  Postado em: 17/09/2022

Notas iniciais:

“Todo ponto de vista é a vista de um ponto”, Leonardo Boff.

Capitulo 13

ÁGATA

 

Meu nome é Ágata Hoffman. Hoffman é o sobrenome da família de meu pai. Ele era um homem bom, trabalhava muito para dar o melhor a mim e meu irmão. Minha mãe também era bastante dedicada ao trabalho e à família. Os dois eram jornalistas, se conheceram na faculdade. Há muito tempo atrás, antes de eles morrerem, adorava ouvi-los contarem a sua história, sobre o amor que cresceu entre os dois. Nasci nesse ambiente amoroso.

 

Meu irmão mais velho era meu herói, meu protetor. Costumava me carregar para qualquer lugar em suas costas. Às vezes, quando meus pais permitiam era na garupa de sua moto que ele me levava. Por sua causa adquiri o gosto por motocicletas. Meus pais achavam perigoso que ele pilotasse, imaginem o que diriam se pudessem me ver hoje. Eu os amava muito e desde que os perdi me fechei totalmente para o mundo. Quase perdi a vontade de viver. Sabe quando você olha para as coisas ao redor e nada faz sentido?

 

Ainda era muito pequena quando aconteceu e por algum tempo enquanto ainda me recuperava dos ferimentos do acidente não entendi muito bem o que se passava. Eu recebia muitas visitas, principalmente de meu tio Bóris e da tia Viviane. Demorou um tempo para me contarem o que realmente tinha acontecido, mas no fundo eu já sabia, só não queria aceitar, eu nunca poderia aceitar. Mas apesar de tudo, não fui capaz de chorar, de derramar uma lágrima. Guardei a dor só para mim. Isso foi motivo de preocupação de todos, eles esperavam uma reação diferente, esperavam meu grito, meu desespero. Mas a alma humana é um labirinto de difícil compreensão. E no labirinto da minha alma, as lágrimas se perderam, mas a dor estava lá. Firme, forte, sufocante.

 

Após o acidente, passei a ter comportamentos estranhos. Diziam serem sintomas psicológicos comuns após vivenciar uma situação traumática. Eu era pequena e não entendia para que tantos médicos, tantos remédios e pessoas tentando arrancar alguma palavra de mim. Eu só queria ficar sozinha.

O luto é uma coisa engraçada. A gente olha ao redor para as coisas que as pessoas que amamos deixaram, mas elas não estão lá. É como se tudo ficasse suspenso no tempo e no espaço.

 

Seguiu-se à minha recuperação, uma disputa judicial pela minha guarda. Quando o juiz me perguntou com quem eu queria ficar, escolhi meu tio Bóris em vez de meus avós maternos. Eles nunca quiseram saber nada de mim ou de meu irmão, eles rejeitaram a escolha de minha mãe de viver com meu pai. Para eles, papai nunca estaria à altura dela. Eles achavam que minha mãe estava destruindo seu futuro ao se apegar a um rapaz que não tinha nada a não ser um lápis na mão e um monte de ideias na cabeça.

 

Depois da tragédia, nunca mais fui a mesma. A vida pode mudar tão de repente, basta um simples deslize, uma curva na estrada para que tudo o que você tem seja tomado de você. Assim, apeguei-me a solidão, à tristeza. Descobri que a felicidade é fugaz, mas a tristeza fica por mais tempo.

 

Vi o esforço de meus tios tentando me ajudar, deram-me tudo o que podiam. Meu tio tentava me fazer voltar a ter gosto pela matemática. Sempre tive muita facilidade em aprender qualquer tipo de coisa, me dava bem principalmente com números. Diziam que minha inteligência era acima da média, eu era uma criança superdotada com grande potencial em várias habilidades intelectuais, principalmente para matemática. Com os números, tudo era sempre claro e simples. Perdi um pouco o interesse por minhas habilidades, embora parecesse ter sempre algo me puxando de volta para elas, eu resistia.

 

 A escola tornou-se um tormento a parte. Eu sentia os olhos em mim, sentiam pena da garota que tinha perdido os pais e o irmão. Para que eu não abandonasse os estudos, meus tios tomaram uma decisão drástica. Queriam me afastar por um tempo de toda a exposição que eu estava tendo. Fui morar por uns tempos com meus avós maternos. Senti que meus tios não queriam me deixar ir, que foi a única alternativa que encontraram. Assim, fui passar uns tempos longe. Acabei descobrindo que meus avós não eram tão ruins e que estavam realmente arrependidos por seus erros. Com eles, aprendi mais sobre a vida de minha mãe. Diziam que eu era muito parecida com ela. Vivi com eles durante um tempo antes de retornar para meus tios.

 

Eu não queria retornar à escola, foi minha época mais obscura. Passava mais tempo na rua do que em casa. Assim que completei dezoito anos, consegui convencer meus tios a me deixarem comprar uma motocicleta com parte do dinheiro que meus pais me deixaram. É incrível o que você pode conseguir quando se é uma órfã triste que não quer fazer nada de útil com a própria vida. Qualquer coisa que eu quisesse de meus tios, eles me davam. Não apenas eles, qualquer um que conhecia minha história queria me recompensar de alguma forma. Como se isso pudesse mudar alguma coisa, eu acordaria no dia seguinte e eles continuariam mortos.

 

A motocicleta me deu uma sensação de liberdade que há muito não sentia. Tudo bem, eu não achava certo o que estava fazendo com meus tios, eles estavam enlouquecidos. Tive pena deles, porque ainda acreditavam em mim e achavam que eu poderia ser feliz. O problema era que eu não acreditava mais em mim mesma. Meus tios me levaram a médicos e psicólogos. Mas todos são unânimes em constatar que não se pode ajudar alguém que não quer ser ajudado. Se eu estava fixada em uma das fases do luto, esta seria a raiva. Sentia raiva do mundo, dos outros, de mim mesma, não sei.

 

Na rua fiz amigos, não que pudesse realmente chamá-los de amigos. Meus tios ficaram ainda mais preocupados, diziam que eram más companhias. Nessa época, posso dizer que quase experimentei vícios que poderiam ter me levado para o fundo do poço. Mas pensei que não poderia fazer isso comigo mesma, meus pais não iriam querer, eles tinham tantos planos para mim. Seja lá qual fosse o lugar em que eles estavam agora eu ainda queria que tivessem orgulho de mim. E foi por amor a eles que decidi tentar me desviar daquele caminho de autodestruição. Mamãe não era religiosa, mas gostava de ler a bíblia para mim, lembro especialmente de um trecho que diz: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte”. 

 

A meu favor, eu ainda tinha minha inteligência. Já dizia Freud, “A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos, nossas pulsões”. Eu quis mudar meu destino, queria começar a fazer algo bom com minha vida. Meu tio Bóris me chamou para uma conversa séria, muito séria mesmo, segundo ele. Foi então que fizemos um acordo. Eu voltaria a estudar na escola que ele quisesse desde que eu pudesse morar onde eu quisesse.

 

Um dia meu tio havia me levado para conhecer o apartamento em que meus pais haviam vivido quando jovens. O prédio havia pertencido a meu falecido avô, Franco Hoffman. O lugar não estava em seu melhor estado, mesmo assim achei-o maravilhoso. Mesmo a contragosto, tio Bóris aceitou o acordo e me ajudou na mudança.

 

-- Ágata, tem certeza disso, querida? -- Perguntou ele, com um olhar desolador.

-- Tio, não se preocupe, eu ficarei bem. Sei me cuidar sozinha.

 

Nos primeiros dias, meus tios me visitavam quase todos os dias, quando não era Bóris, era sua esposa, tia Viviane. Só faltou meu primo, mas ele não podia vir, estava trabalhando em outra cidade.

 

O primeiro semestre letivo já havia terminado, mesmo assim meu tio tinha dado um jeito de me matricular de onde eu tinha parado. Por sorte, eu estava bem adiantada e iria para o último ano do ensino médio.

 

Eu nunca havia entrado no colégio em que tio Bóris trabalhava. A estrutura me impressionou, já tinha ouvido falar que aquele era o colégio mais caro da cidade e que os filhinhos de papai iam todos para lá. Em meu primeiro dia, tive uma entrevista com o diretor Roger Freitas. Era um homem simpático, de sorriso fácil, dessas pessoas que a gente gosta logo de cara. Era bom saber que um colégio tão tradicional como aquele tinha um espírito jovem à frente. A conversa com o diretor foi tão boa que não vi o tempo passar. Tem coisa pior que chegar atrasada em seu primeiro dia de aula? E ainda por cima quando seu tio coruja é o professor de sua primeira aula do dia.

 

Quando entrei naquela sala de aula, eu parecia confiante por fora, mas por dentro acho que eu tremia. Logo chamei atenção dos olhares de todos. Consegui lançar um olhar rápido para turma e constatei que alguns pareciam espantados. Acho que nunca viram alguém com uma aparência igual a minha antes, uma garota estranha, alta, desengonçada e com um piercing no nariz.

 

Quando meu tio Bóris, ou melhor, professor Bóris percebeu minha presença não deixou de constatar meu atraso, desculpei-me por isso. Tudo o que eu queria era me sentar e ficar na minha, mas ele fez com que eu me apresentasse para a turma. Respirei fundo e reuni coragem para falar:

 

- Me chamo Ágata Hoffman.

 

Foi tudo o que disse, mas foi o suficiente para tio Bóris começar um sermão que me fez ser alvo de risadinhas e cochichos daqueles esnobes. “Onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso”, pensei. Foi então que reparei na garota sentada bem à frente. Ela se destacava dentre os demais, tinha uma aparência irretocável. A pele era muito branca, os cabelos loiros e olhos claros. Vestia-se com elegância, sem ser vulgar. Parecia uma princesa saída de um conto de fadas. Tinha esquecido que pessoas assim existiam. Eu nunca havia visto uma garota tão bonita em toda minha vida. Ela parecia discreta, sisuda. Ao contrário da garota que estava ao seu lado que parecia bem espalhafatosa e me olhava feio. A loirinha sisuda prestava atenção a meu tio e às vezes arriscava um olhar em minha direção como os outros faziam. Tentei ignorar que ela me olhava. De repente, me senti tão envergonhada de minha aparência, ela deveria está me achando horrível. “Por que diabos eu iria me importar com o que ela pensava? Com certeza devia ser mais uma dessas garotas bobas e esnobes desse colégio”.

 

Consegui que tio Bóris me deixasse sentar, mas não demorou muito tempo me chamou novamente à frente. Aquela tortura durou o resto de sua aula. A sirene para o intervalo soou, seria minha deixa para sair dali o mais rápido possível. Comprei um lanche e procurei um lugar tranquilo em que eu pudesse ficar sozinha. Acabei encontrando o ginásio poliesportivo, estava vazio. Quando eu estava voltando para o segundo tempo de aula, vi um cartaz que me chamou atenção de imediato. Estavam selecionando novas garotas para o time de vôlei. Esbocei um sorriso, sempre fui boa em esportes, minha estatura ajudava bastante em alguns deles. Joguei vôlei no colégio que meus avós haviam me matriculado, no ano anterior, eu era boa e aprendi bastante lá. Talvez o Yves Freitas tivesse algo a me oferecer. Decidi tentar aquela seleção.

 

O resto do dia passou tranquilo, o professor de história não me notou e deu sua aula normalmente. Sentei com a turma do fundão, através daquele bando de fofoqueiros, fiquei sabendo tudo sobre o Yves Freitas, suas celebridades, seus escândalos. Quem pegava quem. Enfim, tudo mesmo. Interessei-me principalmente pelo que me contaram sobre a loira sisuda. Chamava-se Elisabete Freitas, fiquei surpresa ao saber que era filha do diretor Roger. Havia muitos boatos sobre ela, diziam que era sempre séria e vivia apenas para os estudos. Não reparava na existência de mais ninguém, reinava absoluta. Todos eram unânimes em constatar sua beleza. Alguns mais maldosos levantavam hipóteses de sua vida sexual, diziam que ela era uma virgem recatada, que não dava atenção aos garotos que queriam namorá-la.

 

-- Aquela lá tem cara de quem nunca gozou -- Comentou um rapaz atrevido e de rosto repleto de espinhas.

 

-- E daí, você também -- Retruquei, foi o suficiente para que a turma do fundão logo me excluísse de seu seleto grupo. Fato que não lamentei nem um pouco.

 

Eu não sabia por que estava defendendo Elisabete, eu nem ao menos a conhecia, mas achei o comentário muito machista. Como mulher, eu me sentia ofendida com aquilo. E, não sei, acho que de algum modo simpatizei com a garota, assim como tinha gostado de seu pai. Alguém criada por um homem tão gentil não poderia ser de todo mal, poderia? Mas isso não importava, a “rainha do Yves Freitas” nunca seria minha amiga. Éramos diferentes demais.

 

***

 

 

Na terça-feira, meu tio insistiu que eu deveria participar de um tal clube de matemática do colégio. Eu tinha esquecido a promessa de participar dessa bobagem. Acabei me perdendo e cheguei atrasada mais uma vez, aquilo já estava virando rotina. O “clubinho” já estava reunido. Eram eles: tio Bóris, uma garota oriental, um rapaz musculoso e Elisabete, a rainha em pessoa. Pedi desculpas pelo atraso, o rapaz me lançou um olhar estranho, mas não dei atenção a ele. Tio Bóris me apresentou aos demais, assim fiquei conhecendo Érica, Renato e... 

 

-- Sou Elisa -- Disse a garota me estendendo sua mão com gentileza. Apertei-a com firmeza, senti que ela esperava algo assim de mim. Um aperto firme, sem hesitação. Não pude deixar de reparar na maciez do contato de sua pele.

 

Eu estava tão constrangida de estar entre aqueles desconhecidos que passei o resto da reunião em silêncio. Sem dúvidas, eu era socialmente inábil.

A quarta-feira enfim chegou, eu estava muito ansiosa para entrar no time. Apesar de fazer um tempo que não treinava, tentaria dá o melhor de mim. Amarrei meu cabelo, vesti short e camiseta, ainda bem que eu já estava acostumada a usar esses shortinhos colados, minhas pernas eram muito compridas e sempre ficavam a mostra nessas ocasiões, o que me deixava bastante envergonhada. Como já devem ter notado, eu era a timidez em pessoa. Talvez quem não me conhecesse achasse que era arrogância de minha parte, mas a verdade era que me sentia muito deslocada no meio das outras pessoas. Eu preferia o anonimato. Por isso, a decisão de voltar a jogar por um time significava ter que me expor.

 

Observei com atenção as outras candidatas, pelo visto nenhuma delas seria escolhida. Avistei nas arquibancadas as meninas que já estavam no time assistirem à seleção. Elisa estava entre elas. Pelo visto, além de super aluna, Elisa também era atleta no Yves Freitas. Eu não podia fazer feio com elas me observando, por isso caprichei bastante nas jogadas e não deixei dúvidas de que faria parte daquele time.

 

***

 

Mais tarde quando eu estava deixando o colégio, um rapaz alto chamou minha atenção. Era o tal Renato do clube de matemática. Admirou minha motocicleta e me pediu uma carona.

 

-- Eu estava indo para casa -- Respondi.

-- Escuta, você já comeu alguma coisa?

-- Na verdade, não.

-- Aqui perto tem uma lanchonete, estava indo pra lá. Vem comigo? -- Convidou ele com um sorriso sedutor.

 

Eu disse que era melhor não, mas o rapaz insistiu bastante. Ou ele estava dando em cima de mim ou devia estar com muita fome mesmo. Por fim, decide não recusar. Afinal eu precisava de uma vida social, dispensar convites não estava nos meus planos.

 

-- Eu tenho outro capacete, sobe aí.

-- Com todo prazer -- Disse ele, com malícia. - Posso segurar em você, gata?

-- Nem em seus melhores sonhos, gato.

-- Tudo bem. -- Respondeu ele -- Você quem manda.

Quando chegamos à tal lanchonete, encontramos Elisa em uma mesa conversando com a garota espalhafatosa que sentava ao seu lado na sala de aula, segundo haviam me dito chamava Becca, ela e Elisa eram inseparáveis. Renato pareceu feliz ao encontrá-las ali. Acabou me puxando para a mesa delas. Eu me metia em cada situação, acho que mereci isso por aceitar sair com Renato.

 

-- Então, o que estava fazendo Renato? -- Perguntou a amiga de Elisa, Becca. Percebi uma certa insinuação em sua voz.

-- Estava no colégio. Meu treino já havia acabado quando encontrei a Ágata saindo e pedi uma carona na moto dela.

-- Você tem uma moto?

 

Foi a pergunta que Elisa dirigiu a mim, com espontaneidade. Becca não pareceu aprovar o interesse da amiga.

 

-- Tenho sim. Gosto de motocicletas -- Respondi -- Se um dia quiser, podemos dar uma volta...

 

“Se um dia quiser, podemos dar uma volta”. Que coisa idiota para se dizer, quem visse poderia pensar que eu estava flertando com ela.

 

-- Eu? Quem dera, meu pai me mataria. -- Respondeu Elisa.

 

Depois disso, mudaram de assunto e perdi o interesse pela conversa. As meninas foram embora e fiquei a sós com Renato. Ele começou a falar sobre ele mesmo, de quanto era maravilhoso e inteligente. Enfim, um papo chatíssimo. Só me livrei do tipo quando o deixei em casa. Fiquei pensando o que uma garota precisaria ter na cabeça para se interessar por um narcisista como Renato.

 

Cheguei em casa finalmente. Após tomar um bom banho, me estendi no pequeno sofá na sala, peguei um refrigerante e liguei a TV. Estava na hora de meu cine-cult favorito. Precisava relaxar após passar o dia todo no colégio. Pensei em Elisa, eu queria poder conhecê-la melhor, ela parecia ser uma garota interessante, diferente dos outros. Talvez um observador menos treinado a achasse fútil, mas eu via a diferença. Becca sim, essa era fútil.

O sono logo chegou e não consegui terminar de ver o filme. Passava Casablanca, um de meus favoritos. Eu sempre chorava no final. Hoje eu não iria chorar, o sono me venceu.

 

           

***

 

 

Os dias passaram-se, eu sempre esquecia onde ficava a bendita sala do clube de matemática, por isso chegava atrasada. Um dia, Elisa chamou minha atenção para isso. Senti que ela queria que eu fosse mais participativa. Passei a encontrar com ela também nos treinos de vôlei. Notei que Elisa parecia incomodada com minha presença. Eu precisava falar com ela, explicar que eu não era uma ameaça para seu clube. Finalmente surgiu uma oportunidade, depois de um treino, Elisa estava se preparando para deixar o vestiário. Tomei coragem e pedi para falar com ela, com uma confiança que na verdade eu não tinha. Disse-lhe para não se preocupar comigo, que eu não estava ali para roubar algo dela. Elisa parecia curiosa sobre mim, sobre minha falta de interesse pelo Clube.

 

- Sem entrar em tantos detalhes, eu e meu tio temos uma espécie de acordo. Mas essa é uma longa história... - Disse eu - Prefiro evitar dá explicações sobre porque estou desperdiçando meu dom e tal. Já ouvi sermões demais na minha vida.

 

Pela primeira vez, estávamos tendo uma conversa franca e sincera. E eu estava gostando daquilo. Contei a Elisa o que as pessoas diziam sobre ela. Vi-a enrubescer quando elogiei sua inteligência. Ela era tão sensível.

 

-- E quanto ao vôlei? Você também se candidatou ao time porque foi obrigada? - Quis saber ela.

-- Oh, não. Isso eu faço por prazer.

 

Encarei-a. Ela sustentou meu olhar, quando falou parecia um pouco nervosa:

 

-- Q-Que bom! Seja bem-vinda ao time.

 

Mantive o olhar por mais um tempo, não por que queria intimidá-la. Acho que eu a vi de verdade pela primeira vez e gostei dela. Pensando bem, não havia como alguém não gostar daquela garota.

 

-- Obrigada. Melhor eu ir logo.

Eu já estava de saída quando ela me chamou.

 

-- Gostei muito de conversar com você, obrigada por se abrir comigo -- Disse ela, tímida - acho que devíamos fazer mais isso, quer dizer, conversar mais...

-- Também gostei de conversar com você.

 

Ela então sorriu para mim e senti meu coração aquecer por dentro, há muito tempo não me sentia assim.

 

-- Foi um ótimo ponto de saque aquele seu -- Elogiou Elisa. Senti que ela estava sendo sincera.

-- Que nada! -- Falei, sem graça - Aquele seu levantamento para a Gabriela foi impressionante...

-- Sabe, Ágata, acho que esse é o começo de uma bela amizade...

 

Elisa citava uma das frases mais famosas do filme Casablanca, ela tinha razão, esse seria o começo de uma bela amizade.

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 13 - Capitulo 13:

Sem comentários

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web